Muito se tem dito e escrito sobre Isaltino Morais (IM).
Para muitos, nem é preciso lavar-lhe os pés para o pôr no altar. Já lá está.
E para muitos, também, já fez doutrina a sua leitura e a sua acção no que respeita à perspectiva ética e política do sentido de estado no serviço público.
Veja-se, por exemplo (é a síntese da cartilha dos acérrimos defensores de IM), o longo artigo – a que João Marcelino concedeu o privilégio de editorial – de E. Rangel, no CORREIO DA MANHÃ de SB 30 ABR 05: uma apologia de Isaltino, que toca o endeusamento mais explícito do homem e do autarca.
Diz Rangel que IM transformou Oeiras de couto de marginais em autarquia modelo de eficiência e progresso.
Na sua opinião, “só os que têm memória curta é que esqueceram o que era Oeiras antes e depois de Isaltino”.
Em suma, e com muitos encómios à mistura, é esta a única realidade que interessa abordar, no seu entender (e de tantos).
(Neste particular, este “Correio da Manhã” fez-me lembrar o seu homónimo [antecessor?] doutras eras, que era vulgarmente conhecido pelo “correio da manha”).
Aliás, sei – já o ouvi várias vezes (e até da parte de pessoas que me surpreenderam com tão inesperada posição) – que muitos dizem: “que me importa que o homem seja corrupto? O que me interessa é a obra feita…” E quando eu, na minha, insisto: “então, isso significa que qualquer meio serve para atingir o fim...?!” “Bom… não é bem… e tal…” (engasgam-se um bocado. A contradição enreda-os. Inevitavelmente).
No mesmo sentido aponta a reflexão de José Manuel Fernandes no PÚBLICO de DM 01 MAI 05: «um dos sintomas do nosso atraso é que ainda há eleitores dispostos a eleger políticos de acordo com a máxima terceiro-mundista "talvez roube, mas o que importa é que faz"».
Acontece, porém, que para muitos outros (que não recusam meças em sensatez e isenta serenidade) a questão não se prende com a memória, mas antes com a dignidade do serviço público. O que parece ser, para Rangel, e outras isaltinas personalidades, coisa de somenos.
Mas que o não é para muitos mais.
Curiosamente, na mesma edição que vem sendo mencionada, na secção “Frases da Semana”, encontramos uma citação de José Seabra, que pondera: “Isaltino em nada dignifica a política e os políticos sérios”; ou, no mesmo registo, mas noutro tom, Fernando Martins, que adianta: “sugestão para o sr. Isaltino: convide a secretária e o sobrinho para vereadores…”
Não se iludam as questões: enalteça-se a competência, mas preserve-se a seriedade. A ética é um código que tem de estar sempre presente em qualquer actividade, mesmo (talvez sobretudo) no servidor público.
Falamos na elevação e na dignidade de uma conduta.
Aliás, não há assim tanto tempo, eu escrevia nestas páginas (em fins de Março, suponho):
“O caso Isaltino de Morais é bem revelador de uma incoerência e de um estado de alma colectivamente assumidos: ignora-se, esquece-se, ultrapassa-se a conhecida ou eventual corrupção, a indiciação de crimes de vária ordem, para se apoiar a realização de empreendimentos e do bem-estar. Não interessa mais o impoluto - o que vale é o empreendedor. O que conta é a obra feita, não importa a que preço.
Instalou-se a indiferença, a abulia, a apatia e a postergação dos valores - o que importa é a realização material.
Os fins, sim – esses é que interessam. Os meios? Quaisquer servem. Todos valem.”
É assim: quer-se uma política séria… mas por vezes (admitindo [!] que) feita por gente que de séria tem pouco. Ou nada.
Incoerências.
Fatais.
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