Não caiu redondo, fulminado; mas quase isso. Ainda foi ao hospital, mas acabou-se. Finou-se: um enfarte do miocárdio. Contava 56 anos. Faria este ano os 57.
Quem andasse por perto da rádio, do mundo (mas do, ainda, respirável) do futebol: por certo que o conhecia. Vibrante, de estilo único, nos relatos.
Foi no Lobito, em Angola, ao tempo ainda à sombra da bandeira portuguesa: em 1948 nasce o homem. Jorge Perestrelo, é o nome. (Talvez mais, mas estes chegam para o identificar).
Ainda no Lobito, aí por 1967/8, nasceu o profissional. Da rádio. Também no relato do futebol.
Recordo-me de um dia lho ter ouvido contar:
“nem os nomes sabia bem de todos os jogadores…
Mas tudo se resolveu. Correu bem”
– mais ou menos isto, por estas ou parecidas palavras.
E penso que logo terá nascido, também, o estilo: inconfundível, esfusiante, contagioso, vivo.
Que alguns terão querido repetir. Mas irrepetível, confirma Fernando Correia, no seu depoimento, em que acrescenta: “não se cultiva [o estilo], nasceu espontaneamente com ele”.
“Chegado ontem de uma viagem, muito, muito cansado”, não resistiu.
Acabou-se. “Desaparece , a voz, fica a memória” – repetia esta manhã, hora a hora, nos noticiários, a TSF (onde ele trabalhou desde que ela nasceu, em 1988).
E fica a memória do último golo por ele relatado, nos seus 37 ou 38 anos de carreira, aquele que colocou o Sporting na final da taça da UEFA, em que ele gritou: “golo! Golo! Goooolo! Goooooolo! É do Sporting! É do Sporting! Eu te amo, te amo Sporting!” - exultou daquela forma que era tão dele.
Mas antes terá dito, no seu jeito tão próprio, que nem dava para considerar presságio de coisa nenhuma: “eu não sei se o meu coração aguenta”…
Que não aguentaria mesmo, não muito depois.
A mesma estação de rádio passou várias vezes um genérico dum jogo internacional de Portugal em que ele, naquele crescendo que lhe era habitual nos momentos cruciais do jogo, dizia “… E vai! E avança! E é o Figo! E eu não quero ver! E eu tapo os olhos! E… E é gooooooolo! Golo, golo, golo! E é golo! E é golo! De Poooor…tuuuuu…galllllll!”
E todos nos recordamos daquela sua tão característica expressão, nem sempre, mas muitas vezes repetida: “… E ripa na rapaqueca”.
Ou esta, quando nem queria acreditar no que os seus olhos viam: “mas o que é que é isso, ó meu!”
Único. Só dele.
Morreu, afinal, ao serviço da sua paixão: o futebol.
Como disse a jornalista: fica a memória.
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(Nota de SB 07 MAI 05)
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