Tirando o Quim Barreiros, o Tony Carreira, o Roberto Leal e o Marco Paulo, que mais me pode interessar no plano musical?
Sim que não vão ser os Madredeus, o Keith Jarrett ou o Carlos Paredes que me vão fazer perder um minuto que seja.
Que importa o jazz e a Mahalia Jackson ou a clássica e o Má Vlast (My Country) de Bedrich Smetana? Que gozo dá, ou que prazer, uma qualquer sinfonia de Beethoven?
Há lá alguma coisa que se compare às Doce e às Spice Girl? Que mais posso ambicionar?
Fazem lá parte do mundo das minhas preocupações questões como as debatidas na Visão ou no Expresso, pois se tenho O Diabo, o 24 Horas,
Que m’importam Isaltino, Loureiro, Pinto da Costa, Santana e Jardim?
Quero lá saber que um seja “corrupto” e populista, outro “vigarista” e Chico esperto, outro “vígaro” mas morcão, outro “incompetente e irresponsável” e outro “o baronete de um regime autoritário” e “bobo da corte”? Isso alguma vez vai ser coisa que me preocupe? Pois se já tenho que chegue para me consumir a Joana, de Portimão, que foi esquartejada e deitada aos porcos pela mãe e pelo tio, e tantas outras coisas de que, discretamente, me informa o Correio da Manhã!...
E desde quando me diz respeito ou me pode interessar o pacto de estabilidade, o deficit democrático de algumas baronias, os 500 mil desempregados, a fome de umas tantas centenas de milhares de portugueses, ou o deficit orçamental?
(Tudo coisas, ninharias, que oiço referir quando, por engano, e de raspão, passo pelos canais 1 ou 2, antes de me fixar no meu, que não dispenso por nada deste mundo: a TVI).
Que me pode preocupar o panorama cultural se tenho tudo nas Selecções do Reader’s Digest?
Como posso dar um segundo da minha atenção a um Rui de Carvalho se tenho um Castelo Branco tão louco e tão excitante?
Como é possível alguma vez interessarem-me os debates da Fátima Campos Ferreira e as entrevistas da Ana Sousa Dias se o Moniz e a TVI me dão o Big Brother e a Quinta das Celebridades?
Quero cá bem saber que o Papa seja mais conservador (até reaccionário) ou mais progressista, se o meu prior não muda, nem muda o seu discurso morno e incentivador da caridadezinha de que nós sempre tanto gostamos?
Solidariedade? Mas isso é lá coisa praticável fora da nossa tribo, de alguns amigos e de raros apologistas dos nossos valores?
Estou-me borrifando para o que diz ou escreve o Frei Bento Domingues. Pois se o meu prior não me “agride” nada, não me desperta para questões difíceis, graves, complicadas e me sossega e me “adormece”, como eu gosto!...
Não, meus amigos: podem dizer, se quiserem, que só o rasteirinho me interessa!
Seja! Não estou para me chatear. Vivo feliz. Tenho as minhas exigências. Que chegam.
Quero cá bem saber que ganhe o PS ou o PPD?
Mais depressa me desperta interesse e paixão uma trica entre duas vizinhas que os problemas inter ou intra-partidários.
Perceberam agora?
Mas eu explico melhor. Querem saber que notícia li hoje e que me embalou de imediato? Que provocou a minha reflexão?
Oiçam:
“Aos 59 anos, Goldie Hawn continua a viver intensamente o seu amor por Kurt Russel, de 54. O segredo? Perfuma-se antes de ir para a cama.”
Quem são?
Mas isso interessa-me, porventura? Sei lá bem eu quem são!
Só sei que são o meu ideal. Pronto.
Duas linhas, apenas: mas está tudo, tudo lá! Quanto de ternura! Que exemplo! Que enlevo! Que sobriedade de palavras! Quão elevado estímulo! Que profundidade de pensamento!
É deste alimento que eu vivo! Dêem-me deste “pasto” para a minha alma.
Não interessa o resto.
Chega-me.
Não quero mais nada.
É tudo.
Maria (Simplesmente).
.
PS: com o Manuel passa-se o mesmo. Com uma diferença: ele também lê (geralmente quase só lê) o Record e A Bola. E O Jogo.
E quando lhe abordam a questão, ele repete o que um lucotor da bola (que acabou de morrer, parece-me) dizia muitas vezes: “é disto que o meu povo gosta”…
Já agora: sabem que mais: razão tinha o outro, e o Cerejeira:
Nada de altos voos. O futebol, a Senhora de Fátima e o fado chegam.
Pensar, faz mal. É perigoso. Eles sabiam. Eles o diziam.
Concordo.
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