segunda-feira, maio 09, 2005

O PROVEITO PRÓPRIO ENVIESADO


O major Valentim Loureiro é um filantropo.

Não que reste a mais pequena dúvida, de todo o modo, vejamos. Poderiam ser muitos (dizem uns, porque os conhecem;insinuam outros, porque sabem ler nos “astros”), mas vamos só a dois exemplos:

“O concurso [para fazer uma revista, na Câmara de Gondomar] tinha vários concorrentes e um deles – a proposta mais alta mas também com melhores condições técnicas – estava ligado a um amigo do major”.

“Outro caso é o do terreno, em zona protegida, em que Sousa Sintra pretendia construir uma casa. Há escutas de Valentim a falar com os então secretários de Estado Taveira de Sousa e Miguel Relvas, e com o ministro Arnaut a pedir o empenho para resolver o problema”.

Contra factos são difíceis, por vezes, os argumentos.
É o caso.

“As ‘cunhas’ são justificadas por Valentim Loureiro como costume da sociedade portuguesa, para além de nunca serem em proveito próprio”.

Tudo afirmado – não consta da crónica, mas adivinha-se – sem pestanejar e sem um sorriso. Com ar sério, por um lado; e talvez um tanto ofendido, por outro.

Claro que - qual guardião dos bons costumes - o major não perde a oportunidade, se tanto lhe permitirem as circunstâncias, de praticar e, provavelmente, promover a prática, de tão nobre e louvável bom costume - não vá ele cair no esquecimento… e no desuso…

Mas mais (e aí o filantropismo do cavalheiro): “nunca em proveito próprio”. [Só para não provocar a gargalhada descarada dos jornalistas (Luís Lopes e Joaquim Gomes [CM, SB 07MAI05]), é que não acrescentou: “directo”].

Então nós não sabemos, sr major, como são essas coisas? Fique tranquilo. Primeiro, ninguém tem dúvida: os bons costumes são para se manterem. Depois, toda a gente, todo o mundo sabe, que essas pessoas que fazem esses jeitos, não é nunca [é evidente, ó sr major, fique sossegado] para agradecer outros favores ou para antecipar outros jeitos!...

Repito, sr major: fique tranquilo com a sua consciência. Toda a gente entendeu.

(Ó sr major, o sr é mesmo bem apanhado e levado da breca: estou a lembrar-me daquela dos dois tostõezitos ganhos, em parceria com um camarada seu, lá na tropa, em Luanda, nos “saudosos” tempos, com o arroz ou o feijão… E de a sociedade se ter desfeito porque o seu colega lhe ficou com mais meio tostão… Eh! Eh! Eh! Eh! É realmente levado dos diabos… Tenho até a vaga ideia de que foi por essa e por outras que a tropa dispensou os seus serviços… Ou estarei equivocado? Sabe, sr major, este mundo é um mundo de injustiças, é o que é. Mas olhe, sempre lhe digo: se quiser, encoste a sua nívea cabeleira no meu ombro e chore um pouco. Chore à vontade, não se coíba e diga que eles são todos uns maus e que o sr é um incompreendido! Eu cá estou para o consolar, como puder.)

Ao fim e ao cabo, o sr major tem razão: aquilo que lhe ficou na memória foi que nós somos “um país de brandos costumes”…

E bons, faltava completar.

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Nota de SB 07 MAI 05

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