terça-feira, maio 24, 2005

“SÍTIO” DO SIM, DO NÃO E DO TALVEZ

A achega de hoje é da jornalista Teresa de Sousa, do Público.

Na sua coluna SEM FRONTEIRAS, hoje com o título A Europa e "os gafanhotos" alemães, a jornalista aborda mais a convulsão que na Alemanha se seguiu à derrota do SPD de Schroeder na Renânia, a favor dos democratas-cristãos de Ângela Merkel.

Quanto à questão que se prende com este “sitio”, apenas faz um zaping por outras paragens, fazendo uma súmula do que se passa por lá.

Transcrevo, pois, apenas alguns excertos. Aqueles que mais têm a ver com o propósito desta coluna.

«Há dias, num debate sobre a Europa, um amigo, federalista de convicção, dizia com um vago olhar de esperança que nem tudo ainda está perdido. Na sua perspectiva, desta crise de rejeição do novo tratado constitucional que lavra um pouco por toda a parte, ainda pode emergir uma União mais forte e mais unida. Perante a minha incredulidade, recorreu ao mais forte dos argumentos: um Churchill e dois Delors e tudo seria possível.
Supremo argumento. Que tem, pelo menos, o mérito de sublinhar até que ponto esta crise europeia se deve à falta de visão e de coragem - à mediocridade, para dizer a verdade - da maioria dos líderes europeus.»

«O melhor que há a fazer, portanto, é olhar para esta crise europeia, com epicentro em Paris e que parece alastrar como uma nódoa de azeite, sem grandes ilusões e tentar perceber para onde ela nos pode ou não levar.»

«As notícias são desanimadoras, mas também clarificadoras. Os analistas consideram que já não é possível inverter a tendência crescente dos holandeses para rejeitar a Constituição no referendo que realizam três dias depois da França. Portanto, a UE não tem apenas o problema do "não" francês. Tem também o problema do holandês, com a particularidade de ser muito mais inesperado.
Da Alemanha, os sinais são no mínimo inquietantes. Não porque o SPD do chanceler Schroeder tenha perdido as eleições na Renânia do Norte-Westefália(…)mas pela forma como perdeu, depois de 39 anos de poder consecutivo, fazendo campanha "anticapitalista", como se tivesse regressado aos anos 50.»

«Perante a derrota, Schroeder resolveu convocar eleições antecipadas para o Outono. Isso quer dizer, em primeiro lugar, que a Europa, que já está em suspenso com o referendo francês, vai ficar em suspenso até às eleições alemãs.»

«Com a convocação das eleições gerais a questão torna-se vital. O que vai fazer Schroeder? Apresentar-se ao eleitorado de novo como o reformista da "via do meio" de 1998, quando destronou Kohl? Ou seguir a "brecha" (infrutífera) do presidente do SPD e guinar à esquerda, penitenciando-se das acusações de "deriva liberal" feitas pela ala esquerda do seu partido ao seu Governo de coligação com os "verdes"?»

«Uma Alemanha avessa às reformas e... ao capitalismo somada a uma França em depressão pós-referendo é tudo o que a Europa não precisa neste momento. À falta de Churchills e de Delors, espera-se que algum bom senso entre os seus líderes acabe por prevalecer. Porque nada está pré-determinado à partida. E por isso tudo pode ainda correr muito mal para os europeus.»

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Temos depois, agora n’ A Capital, e na edição de hoje, um artigo de Jacinto Lucas Pires. O título diz tudo. (Como não é possível fazer o link para o artigo, transcrevo-o)

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O lugar do meu «sim»

Jacinto Lucas Pires

Os defensores do «não» à Constituição Europeia tocam a reunir. Do lado do «contra» - um ponto de vista, convenhamos, mais «interessante» à luz dos actuais critérios mediáticos (ao contrário do que tenta vender certo discurso «pobrezinho» do «não») -, falam de uma indefinida «Europa das nações» em oposição a qualquer construção «supranacional». Na União actual, encontram défices democráticos, lógicas «burocráticas» desligadas dos problemas reais e impreparação para os alargamentos.
Este «não» português - que junta pessimismos profissionais e nacionalismos perigosos, o gosto por um suposto «politicamente incorrecto» e todos os conservadorismos à esquerda e à direita - é, claro, perfeitamente legítimo e compreensível. É, além disso, muito útil que todas as pessoas sérias (sabendo-se que há oportunismos baratos dos dois lados) ajudem ao debate. Um «sim» só se esclarece como deve ser frente a um «não» (mas a vice-versa talvez seja ainda mais verdade!). No entanto, sob todas essas racionalizações do «não», é difícil não perceber uma atitude mais geral e profunda de pura recusa. Uma portuguesíssima velhice do Restelo.
A Constituição é precisamente a resposta - a «preencher» como em todas as constituições - a esses problemas que alguns eurocépticos identificam, e a outros. Aumentando a eficácia e a transparência, reforçando os mecanismos de uma democracia europeia, procurando as formas de a União ter «cara e palavra» no novo mundo «global».
A questão de fundo é a de sempre: ficar a ver navios ou ser a caravela. É esse o lugar do meu «sim».

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