segunda-feira, novembro 02, 2009

A PESCA DO BACALHAU NOS IDOS DE 60

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o lugre Santa Maria Manuela.


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O vídeo abaixo foi enviado como anexo a um mail por F. Sousa Marques (SM), há já algum tempo. Trata-se de um filme produzido no Canadá acerca da pesca do bacalhau à linha pelos portugueses, neste caso com o lugre Santa Maria Manuela, em 1966, que um amigo americano lhe enviara.
No texto da mensagem que SM dirigia, em inglês, a amigos americanos e portugueses residentes nos EUA, ele recordava os tempos que então se viviam em Portugal: decorria (1926/1974) o regime de Salazar (o amigo e confrade ideológico de Hitler, Franco e Mossulini), a ditadura cerceadora das liberdades democráticas, sustentada por um partido único e defendida por uma polícia política que perseguia feroz e implacavelmente os democratas que se lhe opunham, prendendo-os e torturando-os já que os considerava “inimigos” e “traidores”. E mais lembrava aí, SM, que o povo era pobre e estava condenado a trabalhar, a emigrar e a sofrer, com a complacência da Igreja que estava aliada ao regime.

A música do filme é o “fado”, a canção tipicamente nacional que se prende com a alma e o destino dos portugueses. E sublinha que o filme glorifica “os nossos antepassados ilhavenses”, região essa, nortenha, das cercanias do Porto, donde provinha a maioria das tripulações dos bacalhoeiros.




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um velho "lobo do mar" consertando as redes,
caricatura de Zé Penicheiro

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“Hoje somos um país diferente, embora nem por isso um diferente povo. Contudo, esforçamo-nos por algo de melhor: melhor liderança, melhor ensino, melhor saúde, melhor nível de vida” – prosseguia SM, que rematava: “Estou certo de que vão gostar deste filme: ele trata de sobrevivência…”

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Recordo-me, como todos os que nasceram até meados da década de 40 do século passado, sobretudo os que viviam em Lisboa, do cerimonial religioso de grande pompa e circunstância que era a bênção dos bacalhoeiros e respectivas tripulações, nos Jerónimos (de que o pequeno vídeo abaixo mostra imagens), nos idos de 60. O que demonstra, uma vez mais, o importante esteio que a Igreja representava para o regime.

É um documento histórico que eu gostei de ver.

Mas antes, vejamos um resumo da história e da dura faina da pesca do bacalhau contada na 1ª pessoa pelo “Gaspar”, o bacalhau mascote do museu marítimo de Ílhavo.

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a captura do "fiel amigo"
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Melhor do que quaisquer palavras que eu pretendesse acrescentar para sintetizar a história da pesca do bacalhau pelos portugueses, ao longo da sua longa História, e para descrever essa dura faina, é esse documentário que precede o filme.
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Documentário de uns 7 minutos para um vídeo de cerca de um quarto de hora.

Ouçamos então, primeiro, o “Gaspar”


Depois vejamos o vídeo

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sexta-feira, outubro 16, 2009

COLÓNIA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

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planta histórica de Colónia do Santíssimo Sacramento




Está um pouco esquecida, mas faz parte da gesta nacional a fundação da Colónia do Santíssimo Sacramento por Manuel Lobo, a mando superior, por razões de estratégia: a sua localização e papel defensivo, face a Buenos Aires, então nas mãos dos espanhóis e seu reduto.




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mapa político do Uruguai (depois de 1777)


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Colónia do Sacramento, no Sudoeste do Uruguai, é banhada e envolvida pelas águas serenas do Rio da Prata e embalada pelos acordes “picados” do bandoneón, trazidos pela brisa das bandas do Sul.


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Actualmente, Colónia do Sacramento é uma pequena cidade do Uruguai, capital do departamento de Colónia que, recordo, foi fundada pelo português Manuel Lobo, em 1680, com o nome de Colónia do Santíssimo Sacramento.
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Dista 177 Km de Montevideu e 45 de Buenos Aires, que lhe fica em frente, do outro lado do rio da Prata.
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Em 1995 foi declarada património histórico e cultural da humanidade pela UNESCO.






o remanso do porto de abrigo





como do colorido da cidade…


… e dos seus pitorescos cantos…

… e recantos




e ainda da amálgama de estilos e materiais de construção…


como esta janela…


e acolhedores recônditos como este … A cidade surpreende-nos a cada instante.


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O, hoje, departamento de Colónia do Sacramento passou do domínio espanhol ao português, sucessiva e alternadamente, durante perto de 100 anos. Donde a mescla, por exemplo, de tipos arquitectónicos de origem lusa ou espanhola.

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mais recantos…



ruas…



esquinas…



calçadas em suaves degraus…



ou a direito, com edifícios pintados…



ou em pedra


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Colónia do Sacramento é a capital do distrito de Colónia que tem uma área de pouco mais do que 6000 Km2 e uma população de pouco mais de 119 000 habitantes (uma área equivalente ao nosso distrito de Portalegre e, curiosamente, o mesmo número de habitantes).


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Faz parte “obrigatória” dum roteiro cultural ou meramente turístico da cidade, um passeio pelo "casco antiguo" (zona histórica), a cuja particularidade acresce a exuberância da sua flora, de cujo périplo se destacam a visita à Igreja Matriz, a mais antiga do Uruguai, hoje reconstruída e convertida em Basílica da Santíssima Trindade, em cujo interior se diz poder apreciar-se o que é descrito como um show de luz e som


vista do centro histórico desde o cimo do farol: entre frondosa e luxuriante vegetação e, ao fundo, ligeiramente sobre a direita…



... entre denso arvoredo, as duas torres da matriz…



… hoje Basílica do Santíssimo Sacramento



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e um passeio pelo ex-libris da cidade, a celebrada Calle de los Suspiros, uma rua tipicamente portuguesa (com um manifesto toque de ruralidade das habitações).

Há muitas lendas sobre o nome desta rua. Uma delas diz que havia ali um bordel famoso, cujas moças arrancavam suspiros dos homens que passavam. Outra diz que era para esta rua que os militares levavam os condenados a morte para que, quando a maré do Rio da Prata subisse, eles se afogassem.
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várias vistas da célebre Calle de los Suspiros, um dos postais mais vistos da cidade


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Fundada em 1680, a cidade foi «tomada de assalto pelo governador de Buenos Aires nesse mesmo ano e restituída pelos espanhóis em 1681. (…) Em 1705, durante a Guerra da Sucessão de Espanha, Sacramento foi abandonada, para ser devolvida mais tarde, em 1715, de acordo com o Tratado de Utreque. (…) Entregue à Espanha em 1750, nos termos do Tratado de Madrid. Em 1753, com a assinatura do Tratado de Paris, a colónia foi restituída à Coroa portuguesa, regressando à posse espanhola com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso em 1777» – cfr Colónia do Sacramento. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-08-10].
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o arco de S. Pedro e a ponte levadiça, entrada da antiga cidadela






o que resta da antiga muralha da cidadela




o farol (ainda em funcionamento e visitado) e as ruínas do convento de S. Francisco




o farol e as ruínas, vistas de outro ângulo


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As suas principais atracções são, para além do referido Bairro Histórico, a bela orla fluvio-marítima da cidade, o porto, o Real de San Carlos (antiga praça de touros), e ainda as suas ancestrais ruas e alegres moradores.


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a beleza da orla fluvio-marítima, com a ilha de S. Gabriel ao fundo


a mesma vista de outra perspectiva



mais um ângulo do enorme estuário



... e outro ainda



o porto, ao fundo



vista da fachada, reconstruída, da Praça de Touros (o Real de S. Carlos)...



... e das ruínas do seu interior (diz-se que só usado duas vezes)


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A Praça de Touros, hoje em ruínas, fazia parte de um projecto turístico do milionário argentino Nicolás Mihanovich que visava atrair turistas de Buenos Aires, que ficava na outra margem do Rio da Prata, durante os fins-de-semana.
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Inaugurada em 9 de Janeiro de 1910 diz-se que apenas funcionou duas vezes, até que em Fevereiro de 1912 as corridas de touros foram proibidas no Uruguai.


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as ancestrais ruas: um convite ao convívio, à diversão e ao enamoramento


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E são ainda de visita obrigatória os museus português e espanhol.


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fachada do museu português



fachada do museu espanhol


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Outra das características de Colónia do Sacramento (e de todo o Uruguai) é a presença de carros antigos, verdadeiras relíquias, ainda rodando.








rodam ainda por toda a cidade (e todo o país) estas raridades…





... e quando não rodam, posam para a posteridade transformadas em floreiras


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O rio da Prata proporciona paisagens e praias belíssimas que se situam nas suas margens.
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Esclareça-se que as águas do Rio da Prata, numa enorme extensão, até às proximidades do Atlântico, são doces, serenas, tépidas e de um colorido castanho avermelhado em razão dos sedimentos que aí chegam trazidos pelos rios Paraná e Uruguai.







um mar imenso, o Rio da Prata



e as suas características águas castanhas



o Sol poente sobre o Rio da Prata é uma imagem de rara beleza
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O Rio da Prata é o estuário criado pelo encontro do Rio Paraná e do Rio Uruguai. Corre de noroeste a sudeste e mede 2 km de largura no ponto que se toma como origem (local onde desaguam aqueles dois rios). No ponto onde as águas se misturam com as do mar, deixando de ser doces para se converterem no Oceano Atlântico, a sua largura é de 219 km. Por sua vez, a extensão do Rio da Prata, correndo entre o Uruguai e a Argentina, é de cerca de 270 Km.

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Complementarmente, veja-se um pequeno vídeo de uma reportagem incluída num programa recentemente (já no decurso deste ano) realizado pela RTP2 acerca de AS MARAVILHAS DE PORTUGAL NO MUNDO, neste caso, sobre Colónia do Santíssimo Sacramento, no Uruguai:


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segunda-feira, outubro 12, 2009

«NOBEL DA PAZ PARA OBAMA?»

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Apoiantes de Obama em frente à Casa Branca na ressaca do anúncio do prémio

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Fernando Sousa Marques, há anos radicado nos EUA, enviou-nos por mail, a uns tantos amigos, o seguinte texto, autorizando-nos a divulgá-lo, se assim entendêssemos. Texto, aliás, que é a transcrição de uma sua postagem no blogue de que é autor, desde recentemente, e que se intitula O MUNDO AQUI TÃO PERTO
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As reflexões acerca da atribuição do Nobel - do nosso enviado especial às presidenciais dos EEUU (como por graça eu dizia, então) aqui, nas páginas deste blogue - são as que seguem:
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Acabo de ouvir a curta e significativa intervenção que Obama fez a propósito do prémio Nobel da Paz. Para quem tinha dúvidas, basta reflectir sobre este curto e importantíssimo discurso. É impressionante ouvir falar no "meu período de vida"..., dito por quem tem a vida em risco. Que o mundo bom proteja Obama!
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2
Quando Guantanamo for encerrada e a invasão do Iraque terminar, ainda faltará resolver a embrulhada do Paquistão/Afeganistão... Entretanto o complexo industrial/militar/político quer mais guerras: Irão e o que mais "estiver a dar"... Obama, que tem, permanentemente, a vida em risco, neste país onde é tão fácil matar, merece o Nobel... que mais poderá fazer o mundo para o apoiar?...
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3
As pessoas que põem em causa esta decisão e acham que é cedo porque Obama nada fez ainda não perceberam a importância de ter eleito Obama para Presidente dos EUA. Orgulho-me de ter participado na campanha, de ter andado na rua a inscrever cidadãos, que nunca tinham votado, nos cadernos eleitorais. A paz faz-se de muitas pequenas/grandes acções...

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Associo-me aos que se regozijaram com a atribuição do Nobel da Paz a Obama. Considerando, igualmente, que é mais um prémio do volte face extraordinário verificado nos EUA, da tenaz vontade do novo presidente em se comprometer com novas medidas tendentes à paz efectiva e às cada vez mais instantes preocupações sociais (a pobreza cada vez mais crescente) e ambientais.
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Certo que alguns, mais friamente não estarão tão entusiasmados assim com este Nobel porque ele se pode transformar num muito embaraçoso problema para o aliado cada vez mais importante do Ocidente: o cariz de bondade do contemplado que lhe está na origem, pode comprometer a eficácia e a persuasão da sua política.
Mas nós os menos dotados de espírito belicista e menos dados a tão frios raciocínios… Qual de nós é que se lembra que Obama é, antes de tudo, o Presidente da maior potência do mundo?
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Porém, e por outro lado, não me sai da cabeça a justificação (conhecida ontem) do Presidente do Comité do Nobel dessa atribuição:
“Num comentário à reacção do polaco Lech Walesa, Nobel da Paz em 1983, que considerou ser demasiado cedo para a distinção ser atribuída a Obama, Jagland, que dirige o comité desde Fevereiro, disse que o Presidente dos EUA poderia recebê-lo "demasiado tarde". "Acompanhamos o espírito do tempo, a necessidade da época", justificou.”
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No fundo é muito isso que a mensagem do Fernando S Marques nos quer transmitir. Atitude que partilho igualmente. Com enorme esperança.



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terça-feira, setembro 15, 2009

O ANIVERSÁRIO DA CRISE

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O traço de Oisel acerca da crise
(folheto que preconiza uma alternativa,
em matéria de investimentos, proposta pelo seu país, o Brasil, para a enfrentar)
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O sinal mais próximo do desencadeamento da actual crise financeira foi a apresentação à falência do 4º maior banco de investimentos dos EU, o “selecto e até então insuspeito Lehman Brothers – um dos mais tradicionais bancos de investimento de Wall Street”, faz hoje um ano, em 15 de Setembro de 2008. Foi o rebentar, digamos, da grande bolha.
Mas estão ainda, igualmente, na base do tremendo terramoto verificado nas bolsas de valores do mundo a compra, pouco antes, do Merrill Lynch pelo Bank of America, por 50 mil milhões de dólares, assim como o pedido de empréstimo de 40 mil milhões de dólares pela maior seguradora dos EU, AIG, ao banco Central Americano. Apesar dos valores envolvidos, estas foram como que o rebentar de pequenas borbulhas que, no entanto, foram objecto de cautelas que seriam recusadas ao Lehman Brothers.

A surpresa foi geral.

Os gestores e financeiros “atrevidos” e “irresponsáveis” teriam uma percepção das razões do próximo descalabro. Mas nenhum dos conceituados e mais rigorosos especialistas conseguiu prever até onde poderia levar uma desregulação que ultrapassava limites de que nem eles suspeitavam. E então, aí temos uma gravíssima crise que não vitimou, apenas, os vorazes investidores apologistas do mais selvagem (desregrado) capitalismo, mas todos os contribuintes, desencadeando uma crise social sem precedentes.

Os comuns cidadãos, que nada devemos a especulações ousadas, se não estivemos, mesmo, à beira da insolvência (que acabou por atingir muitos), fomos, e continuamos a ser, fortemente penalizados com uma insuportável carga fiscal e com custos de bens e serviços que ultrapassam o razoável.
Alguns foram mesmo contaminados pelos “activos tóxicos” e pelas consequentes fortes depreciações, em razão da iliquidez em que se traduziram os investimentos baseados nos subprimes.
E outras variantes da crise social trouxeram o espectro do desemprego, da fome e da deterioração das condições de vida.

«Bernard Leon Madoff (1938) foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Esta sociedade foi uma das mais importantes de Wall Street. Madoff também foi uma das principais figuras da filantropia judaica. Em Dezembro de 2008 Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. O juiz federal Louis L. Stanton congelou os activos de Madoff. Suspeita-se que a fraude tenha alcançado mais de 50 000 milhões de dólares, o que a torna numa das maiores fraudes financeiras levadas a cabo por uma só pessoa.
Em 29 de Junho de 2009, Madoff foi condenado a 150 anos de prisão».
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imagem publicada no Público

"MAAAaaaais..."
Os gestores e financeiros “atrevidos” e “irresponsáveis” teriam uma percepção das razões do próximo descalabro
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Em Portugal surgem, mais sintomáticos e chocantes, os casos do BPN e do BPP.
Cada qual com cinco arguidos constituídos até agora.
Mas enquanto que no BPP apenas sobressai o nome de João Rendeiro, no BPP já encontramos nomes sonantes de ex-governantes e, um deles, até ex-conselheiro de Estado: respectivamente, Oliveira e Costa, Arlindo de Carvalho e Dias Loureiro.

A gravidade da situação, e o sentimento generalizado de impunidade são transmitidos pela célebre afirmação de Rendeiro (BPP) de que, se os accionistas concordassem transformaria, num ápice, e por artes contabilísticas, um banco falido numa instituição próspera…
Poderão subsistir dúvidas sobre o jaez tenebroso e sem escrúpulos do despudorado superfinanceiro?
Não o deve assustar ser acusado, por esta afirmação, de crime de lesa economia na forma tentada.

A confirmar-se a prática de tais crimes por parte deste elenco de luxo, eu não pediria a pesada pena a que as instâncias judiciais americanas condenaram Madoff. Para o caso dos portugueses, se os seus crimes fossem confirmados, eu não pediria tão desumana e violenta pena. Pediria, tão só, 130 anos (generosidade maior que a dos americanos que pouparam aquele à prisão perpétua…)

Ainda que, durante mais de 20 anos, B Madoff tenha sido um dos mais bem sucedidos gestores de Wall Street e tenha enganado milhares de investidores, sempre terá tido um rebate de consciência para lastimar o sucedido (ainda que incontornável) e pedir desculpa pela sua criminosa acção.

Nenhum de nós é capaz é de imaginar semelhante atitude por parte dos nossos madoffs.

Depois há uma outra equiparação impossível de fazer-se: a necessária celeridade de um processo judicial destes…

A morosidade e flacidez da nossa Justiça não deixam prever uma sanção exemplar aos prevaricadores domésticos. Donde uma confrangedora ineficácia da mesma Justiça e a previsão de situações análogas no futuro.

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