sábado, fevereiro 02, 2008

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


(Recordo)
Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.


CONJUGAÇÃO DO CALENDÁRIO GREGORIANO COM OUTROS
O ano 2008 [MMVIII] do calendário gregoriano corresponde ao:
. ano 2046 da era de César (ou hispânica), usada em Portugal até 1422.
. ano 1429/1430 dH do calendário islâmico (Hégira)
. ano 2761 Ab urbe condita (da fundação de Roma)
. ano 4645 da era chinesa (ano do rato), que começa no dia 07FEV
. ano 5768/5769 do calendário hebraico
. ano 7516/7517 da era bizantina
. ano 2668 da era japonesa
. ano 2319/2320 da era grega
. ano 1929/1930 da era Saka, do calendário indiano reformado



CALENDÁRIO DA ONU
2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.
2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.
2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.
2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".
2008 Ano Internacional do Planeta Terra

Bertrand Russell

Decorreram 38 anos: foi na SG, 02.02.1970, que morreu, aos 98 (!) anos, o filósofo e matemático britânico Bertrand Russel.
Em Inglaterra reinava já, de há bastante, a actual monarca, Isabel II; liderando o seu governo Harold Wilson (seu primeiro mandato), do partido Trabalhista.
Em Portugal ainda estávamos sob a Ditadura do Estado Novo, na chamada Primavera (?) marcelista: o vitalício (pensavam eles) Américo Tomás na PR, Marcelo Caetano na condução do Governo.


1970 foi ainda o ano em que, designadamente
- em comunicado ao País, a CNSPP/Comissão Nacional de Socorro aos presos políticos (recentemente constituída – fins de 1969) denuncia graves violações dos direitos humanos nas prisões portuguesas (Jan).
- a UN, durante o V Congresso, passa a denominar-se ANP (Acção Nacional Popular), mantendo, no entanto, praticamente, as mesmas competências que tinha enquanto UN, que era o partido único do regime (21FEV).
- manifestação em Lisboa, em protesto contra a guerra colonial e contra a guerra no Vietname (Fev).
- movimentos grevistas exigem liberdade de organização sindical, aumentos salariais e melhor segurança social (Fev-Mar).
- alguns presos políticos são violentamente espancados, no forte de Peniche, após terem liderado um protesto contra as condições existentes na prisão (Mar).
- o fim da censura prévia está incluído no projecto de lei de Imprensa apresentado na Assembleia Nacional pelos deputados, da chamada “ala liberal”, Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão (22ABR1970).
- numa clara “operação de charme”, o governo amnistia os estudantes da Universidade de Coimbra penalizados em 1969 (Abr).
- Ainda em ABR: um inquérito independente à morte de Humberto Delgado é o mobil de uma campanha de opinião promovida em Londres.
- morre o artista plástico e escritor Almada Negreiros (15JUN).
- morre o político e escritor Henrique Galvão (25JUN1970).
- 177 organizações de 64 países participam, em Roma, na Conferência Internacional de Solidariedade para com os Povos das Colónias Portuguesas (Jun-Jul).
- morre Salazar, com 81 anos (27JUL).
- contestação dos presos políticos em Caxias inclui greves de fome (Jul).
- pela primeira vez na história do Estado Novo, uma mulher ocupa um cargo no governo: Maria Teresa Lobo é nomeada subsecretária de Estado da Saúde e Assistência (21AGO).
- é criado, em Lisboa, o MRPP, movimento político de extrema-esquerda, maoísta (Set).
- é criada, clandestinamente, em Lisboa, a Comissão Organizadora Central da Intersindical (Out-Nov).
- morre o estadista francês general Charles de Gaulle (09NOV).

"Aquilo que os homens querem, de facto,
não é o conhecimento, mas a certeza."

- Bertrand Russel


Bertrand Arthur William Russell, em bom rigor, morreu a pouco mais de 3 meses de completar os 98 anos, já que nasceu em 18.05.1872.
Conquanto controverso, foi um respeitado filósofo, por muitos (milhões) considerado “uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade”. Foi também um eminente matemático.
B. Russel, que “era inquieto", “impôs-se pela sua autoridade moral, tendo sido um aberto e influente crítico do armamento nuclear e da intervenção dos EU no Vietname” [Wikipédia].
Não admira, pois, que em 1950, Russell tenha recebido o Prémio Nobel da Literatura "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele se bateu por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento" [Idem].

Era oriundo de uma família aristocrática: seu avô paterno John Russell, 1.º conde Russell (1792-1878), liberal, foi primeiro-ministro de 1846 a 1852 e em 1865-66.

Órfão de mãe aos 2 anos e de pai, aos 4, Bertrand foi educado por esse avô.
Figura histórica, também, o filósofo utilitarista John Stuart Mill foi seu padrinho.

“Russell conheceu inicialmente a Quaker americana, Alys Pearsall Smith, quando tinha 17 anos de idade. Apaixonou-se pela sua personalidade puritana e inteligente, ligada a vários activistas educacionais e religiosos, tendo casado com ela em Dezembro de 1894” [ainda cit. encicl.].

«Quaker é o nome dado a um membro de um grupo religioso
de tradição protestante,
chamado Sociedade dos Amigos.
Criada em 1652, pelo inglês George Fox,
a Sociedade dos Amigos reagiu contra os abusos da Igreja Anglicana, colocando-se sob a inspiração directa do Espírito Santo.
Os membros desta sociedade,
ridicularizados com o nome de quakers, ou tremedores,
rejeitam qualquer organização clerical, para viver no recolhimento,
na pureza moral e na prática activa do pacifismo,
da solidariedade e da filantropia.
Perseguidos na Inglaterra por Carlos II,
os quakers emigraram em massa para a América,
onde, em 1681,
criaram sob a égide de William Penn a colónia da Pensilvânia.
Em 1947, os comités ingleses e americanos do
Auxílio Quaker Internacional receberam o Prémio Nobel da Paz. (...) Organizações como o Greenpeace e a Anistia Internacional
foram fundadas pelos quaker
e são influenciadas pela ideologia da Sociedade dos Amigos».

Entre personalidades históricas conhecidas que eram quakers contam-se: Elizabeth Margaret Chandler (1807-1834),
uma escritora e poetisa dos Estados Unidos,
que se tornou a primeira mulher a abraçar publicamente
a causa da abolição da escravatura por meio de seus escritos,
antes de falecer aos vinte e seis anos de idade
(feminista americana, escritora e poeta abolicionista).
Também Lucretia Mott (1793–1880),
que foi a primeira activista americana do século XVII
e considerada a primeira feminista.
Igualmente Richard Nixon (1913-1994)
o 37° presidente dos Estados Unidos da América (1969-1974).
Por outro lado filho de quakers foi Walt Whitman (1819–1892),
poeta norte-americano autor de Leaves of Grass (1855)
– que teve 10 edições, a última delas póstuma.
Mais: "Introduziu uma nova subjectividade na concepção poética
e fez da sua poesia um hino à vida.
A técnica inovadora dos seus poemas,
nos quais a ideia de totalidade se traduziu no verso livre,
influenciou não apenas a literatura americana posterior,
mas todo o lirismo moderno,
incluindo o poeta e ensaísta português Fernando Pessoa."
Todos devem estar recordados das
muitas citações que dele eram feitas
nesse extraordinário filme que foi o
CLUBE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society)
de Peter Weir, com inesquecíveis desempenhos, entre eles de Robin Williams.
[Uma vez mais Wikipédia, a enciclopédia livre]

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imagem NGeographic
África,
o Continente onde não se conjuga o verbo no futuro (de esperança)

Há quatro anos, na SG 02.02.2004, morreu o general Kaúlza de Arriaga, com 89 anos.
Kaúlza de Arriaga foi um “ultra” da ditadura do Estado Novo, comandante das Forças Terrestres em Moçambique, responsável pela operação Nó Górdio e criador dos Grupos Especiais (onde havia muitos elementos da PIDE) que levaram aos massacres no Norte da colónia, em 1971-1973.



Não é verdade
que a morte transforme “todo o mundo” em boa gente.
Decidida e comprovadamente.



Decorre o segundo mandato presidencial de Jorge Sampaio. Durão Barroso ainda não tinha trocado a liderança do governo por um lugar ao sol, na UE. Continua o longo – e agora dramático – pontificado do polémico papa João Paulo II.

Esse ano do passamento de KA foi o ano em que, nomeadamente
- morreu repentinamente, em fim de campanha eleitoral para as Europeias, o Prof Sousa Franco, candidato pelo PS a deputado europeu, como cabeça de lista desse partido (JUN)
- morreu o deputado comunista Lino de Carvalho (JUN)
- morreu em Lisboa, com 84 anos, a escritora e poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (nascida no Porto a 06.11.1919) (02JUL2004)
- morreu a Engª Maria de Lurdes Pintasilgo, primeira (e única, até agora) mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro no nosso País (V Governo Constitucional, que vigorou de 31JUL1979 a 03JAN1980). (10JUL)
- tomou posse o XVI governo Constitucional, constituído e liderado por Santana Lopes, depois de indigitado (como nº 2 do respectivo partido) por Durão Barroso que, a meio da legislatura, se demite para exercer o cargo de presidente da comissão europeia, e depois de o Presidente da República, Jorge Sampaio, que tinha como alternativa dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas antecipadas, ter aceite essa indigitação. (17JUL)
- morreu, com 79 anos, Carlos Paredes, o grande virtuoso e mestre da guitarra portuguesa, que dedilhava como nenhum outro. (23JUL)
- o PR, Jorge Sampaio, dissolveu a AR, “por incapacidade de gerar novos governos”. Como reflexo dessa decisão, o 16º Governo Constitucional, dirigido por Pedro Santana Lopes, desde há quatro meses a atrás, ficará com a sua política diminuída. Aliás, foi a falta de competência e a falta de credibilidade demonstradas pelo referido governo que o levaram a tal decisão. (10DEZ2004)
- o PM, Santana Lopes, apresentou a demissão do 16º Governo Constitucional. (11DEZ) (Disse que ia “andar por aí...”)



De tão conhecida e recente, não é figura que exija grandes apresentações.
Veja-se o seguinte texto, da autoria de José Pedro Castanheira, na revista Única do semanário Expresso, de 07.02.2004, em que o autor traça, em síntese, a trajectória político-militar e o ideário racista do general que planeou e executou a célebre operação Nó Górdio e se tornou célebre com o massacre de Wiriamu. Massacre que trouxe amargos de boca a Marcelo Caetano, aquando da sua visita oficial a Londres, no dia imediato ao da denúncia da carnificina de Wiriamu no jornal Times de 10.07.1973.

Transcrevo algumas das suas passagens, com a devida consideração quer pelo semanário quer pelo seu autor, dado não ser livre o seu acesso.


«Kaúlza de Arriaga foi comandante militar em Moçambique, defendeu teses racistas e quis derrubar Marcelo Caetano, que via como “traidor”»
(...)

«O seu nome fica associado ao massacre de Wiriamu, ocorrido em 16 de Dezembro de 1972, quando era comandante-chefe das Forças Armadas de Moçambique. Considerado o maior crime de guerra cometido nas antigas colónias, Wiriamu foi denunciado pelo jornal «Times», na véspera da visita de Marcelo Caetano a Londres»
(...)
«No rescaldo de Wiriamu, Caetano perdeu a confiança em Kaúlza, que, assim, terminou a sua carreira.»
(...)
Na verdade, «a 9 de Julho de 1973, Caetano escreveu-lhe a carta fatal: «Reconheço a vantagem, para si, para Moçambique, para todos nós, em outra pessoa rever os conceitos e as tácticas da acção anti-subversiva em Moçambique». Contrafeito, e sempre acompanhado da mulher, regressou à metrópole no mês seguinte. Na sua página na Internet lê-se que «a partir do final do ano de 1973, deixou de crer nas possibilidades em decréscimo do Presidente Caetano, procurando a sua substituição». Com efeito, Kaúlza passou a liderar o que António de Spínola designa (em País sem Rumo) «a revolta dos generais», em ruptura à direita com a política de Caetano.»


Montagem copiada do Blog Arrastão

Marcelo "conversa em família"

Abortado um golpe de Estado que preparara, «Kaúlza, no entanto, não era homem para desistir e passou a assediar o próprio Presidente da República, Américo Thomaz, com a cumplicidade do cunhado, general Luz Cunha, novo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Nas suas memórias, Últimas Décadas de Portugal, Thomaz transcreve uma última carta de Kaúlza, exortando-o a que tomasse «em tempo útil, as grandes medidas» capazes de «sustar a evolução no sentido do abismo». Certamente informado do golpe [o 25 de Abril] em curso, Kaúlza fazia notar que «os prazos de acção são curtos».
(...)

«Hesitante e sem poder, Thomaz nada fez. A 25 de Abril de 1974, os capitães puseram termo à ditadura. Três semanas depois, Kaúlza foi passado à reserva. Acabou por ser preso na crise de 28 Setembro, ficando detido 16 meses. Sem culpa formada, foi libertado incondicionalmente em Janeiro de 1976 e processou o Estado português. Em 1977, lançou o Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN), uma pequeníssima formação de extrema-direita, a que presidiu.»

ARQUIVO EXPRESSO
O MIRN foi um dos movimentos
mais à direita de que há memória ("Expresso")

(EDIÇÃO 1632 do semanário EXPRESSO, SB 07.02.2004 / revista ÚNICA)


«Jaime Nogueira Pinto, que não poupa elogios à inteligência política do general, lamenta ainda que também ele tenha cometido a ingenuidade de conspirar com Thomaz para derrubar Caetano, nas vésperas do 25 de Abril, em vez de liderar o golpe que restituísse o regime à pureza do salazarismo.

«Já todos tínhamos percebido que o trunfo era espadas e que quem tomasse o poder ficava lá», observa o professor universitário.

Em seu entender, se tivesse actuado pela via armada, em vez de fazer lóbi e acreditar num certo legalismo, Kaúlza de Arriaga «poderia ter sido, num dado momento, a alternativa a Spínola» na conspiração que conduziu ao derrube de Marcello Caetano e à vitória do 25 de Abril» (lê-se no 1º caderno do mesmo número do Expresso, ainda a propósito da comemoração do “Nó Górdio”).

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