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Folheando a imprensa de hoje…
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UE recusa abandonar ou renegociar Constituição
Os argumentos dos opositores franceses são de tal forma contraditórios entre os que defendem mais Europa e os que consideram que a integração europeia já foi longe demais que "é impossível renegociar o Tratado nestas condições", declarou ontem
a presidência da União Europeia. E garantiu que o "Tratado não está morto". Por Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas (PÚBLICO)
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"Não" provoca tempestade política em França
Mais de 55 por cento dos franceses disseram "não" ao tratado constitucional europeu. A situação económica e social motivou 62 por cento deste voto, o texto da Constituição 40 por cento, e a contestação ao governo francês apenas 24 por cento. Chirac diz que vai ser mais difícil defender os interesses da França na Europa. Ana Navarro Pedro, Paris (PÚBLICO)
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"Parar tudo" é "precipitado", diz Freitas
O "não" francês "é um problema sério, que obriga a reflexão", mas não pode paralisar os outros Estados da União Europeia, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, ontem à noite.
E.L./M.J.O. (PÚBLICO)
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Na Holanda debate-se tudo menos o Tratado
A subida dos preços, a imigração, o descontentamento com
o Governo, tudo são razões para que o "não" continue à frente nas sondagens
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REACÇÕES
"Estamos desiludidos, mas o processo de ratificação continua e este resultado em França dá mais uma razão aos holandeses para votarem "sim". Os holandeses não devem receber lições dos franceses, devem sim fazer a sua prórpia escolha."
Jan Peter Balkenende
primeiro-ministro holandês
"Este resultado levanta questões profundas para todos nós sobre a direcção futura da Europa. Aquilo que nós queremos agora é um período de reflexão. (...) A decisão sobre o futuro da constituição deve ser a do Conselho europeu, dos 25 Estados membros, e não de um único Estado membro."
Jack Straw
Ministro britânico dos Negócios Estrangeiros
"O resultado do referendo é um golpe para o processo constitucional mas não representa o seu fim. Também não representa o fim da parceria franco-alemã na Europa e para a Europa."
Gerhard Schroeder
chanceler alemão
"O não francês é lamentável e e coloca a Europa perante grandes desafios"
Joschka Fischer
ministro alemão dos Negócios Estrangeiros
"Este resultado não é uma boa notícia mas não é uma catástrofe. O processo [de ratificações] deve continuar. O tratado já foi aprovado por nove países, incluindo Alemanha, Espanha e Itália e deve por isso ser submetido ao voto dos outros países da União."
Rodriguez Zapatero
primeiro-ministro espanhol
"[O resultado do referendo francês] não tem nada que ver com a Turquia. O início das negociações não será afectado"
Abdullah Gul
ministro turco dos negócios estrangeiros
"Não devemos ler o "não" francês como um "não" à Europa. Não é a ultima palavra sobre a Constituição europeia"
Poul Nyrup Rasmussen
Presidente do Partido Socialista europeu
(PÚBLICO)
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Depois do terramoto anunciado
José Manuel Fernandes / PÚBLICO
Impõe-se parar para pensar e ter a coragem de encontrar um caminho explicando-o aos eleitorados.
(…) o que se passou em França mostra que existe um divórcio entre as elites e os eleitorados que, se não for tida em conta, pode conduzir a Europa como um todo à implosão. (…)
Neste momento de iniludível crise a Europa terá de continuar a trabalhar com base no medíocre Tratado de Nice e esperar que os seus líderes não só encontrem um novo consenso como, sobretudo, tenham a coragem de enfrentar as opiniões públicas e de lhes explicar as escolhas difíceis.
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Os novos pobres
Luís Salgado Matos / PÚBLICO
(…) A França está partida entre uma elite que quer o aprofundamento da União Europeia e uma massa que o recusa. Para a elite, uma Europa mais unida vencerá a globalização. Para a massa, a Europa ameaça-lhe o emprego e o Estado-nação garante-lho. (…)
A elite tem agora que consultar a massa - que hoje segue os seus dirigentes menos do que ontem porque vê o célebre Modelo Social Europeu a desfazer-se sob as marteladas globalizadoras.
É a globalização que acentua aquela cisão entre a elite e a massa. A globalização é o aumento do comércio livre. É um novo passo na infindável revolução burguesa.
Se gera novos ricos, faz nascer novos pobres. É a eles que por certo se refere D. José Policarpo quando no sermão do Corpo de Deus salientou as "condições sociais aviltantes e a pobreza envergonhada" existentes
Esta miséria material é envolta numa miséria moral bem mais terrível. A Europa tem medo. Medo dos imigrantes, do desemprego, do crime, do vizinho, do futuro.
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FRANCESES MATAM O SONHO EUROPEU
MAGALHÃES AFONSO /
A maioria dos franceses, com uma taxa de abstenção muito reduzida, escolheu rejeitar a Constituição europeia, e, desse modo, lançou uma enorme indefinição sobre o futuro comum do Velho Continente. A França, abalada por um enorme descontentamento social, mostrou ter medo dos estrangeiros, do mercado, da América, dos burocratas de Bruxelas e da perda de soberania. Nos corredores do poder de toda a Europa discute-se o que fazer a seguir.
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ORGULHOSAMENTE SÓS E PATÉTICOS
EDITORIAL n. a. /
A maioria dos franceses, com uma taxa de abstenção muito reduzida, escolheu rejeitar a Constituição europeia e, desse modo, lançou uma enorme indefinição sobre o futuro comum do velho continente.
O forte descontentamento social, a desconfiança em relação aos políticos, uma detestável e crescente xenofobia, a arrogância nacionalista dos sectores mais extremistas do quadro partidário (à direita e à esquerda), a pouca vontade de pagar as contas dos novos países aderentes e o medo da perda de soberania, o medo da perda de regalias dos corporativos sectores agrícolas e industriais, o medo do liberalismo, o medo da América e do seu aliado Durão Barroso, o medo das deslocalizações e o medo da própria sombra, foram alguns dos motivos que levaram a maioria dos franceses a escolher dizer «não».
A França matou o sonho europeu ou, pelo menos, adiou--o por largos anos.
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Uma pausa na Europa?
Miguel Romão /
Pegar na História com as mãos e tentar moldá-la exactamente ao gosto de uma época pode ser mais difícil do que poderia parecer à primeira vista.
(…) a construção de um novo espaço político, que recria conceitos velhos de séculos e inventa emoções solidárias entre velhos desconhecidos e velhos inimigos, continua a ser uma exigência séria, do mesmo modo que o foi no final dos anos 40. Sem ódios internos para remir, mas com o imperativo agora de acompanhar o aumento significativo de escala do próprio Mundo, em que as nações europeias, solitárias, sem impérios coloniais e sem exércitos, nada seriam.
Ironicamente, as tentativas da União para acelerar artificialmente a História fazem-se precisamente para proteger essa mesma História. Alongando-se excessivamente a pausa, perder-se-á vontade.
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Os franceses têm razão
João Morgado Fernandes / Diário de Notícias
O "não" francês resulta de uma amálgama de posições, que percorrem todo o leque partidário e em que as motivações internas se sobreporão às razões europeias.
O "não" terá sido um protesto pela incapacidade dos políticos franceses face aos enormes problemas - e até a uma certa decadência, é verdade - que assolam a França. Mas será meter a cabeça na areia ignorar que também está em causa a falta de elã e de respostas do "projecto europeu".
Para sair desta terrível crise, Bruxelas vai ter de fazer muito mais que reafirmar a sua fé no "projecto europeu" plasmado numa Constituição que ontem ficou moribunda.
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Irredutíveis gauleses
Luísa Bessa / Jornal de Negócios on line
A crescente adesão dos franceses à rejeição do tratado, contra a corrente dos grandes partidos de poder, já foi multiplamente glosada. Voto de contestação ao governo, ao mau estado da economia e ao crescimento do desemprego. Voto de protesto contra o «ultra-liberalismo» que em sua opinião sopra de Bruxelas (e para o qual nosso compatriota Barroso também contribuiu) e à globalização que põem em questão os «direitos adquiridos» do Estado social. Uma espécie de cartão amarelo à Europa pela sua incapacidade em proteger os seus.
A União Europeia não acaba com o fim do Tratado, por muito que isso custe a quem defende as suas vantagens. Mas abre caminho a tempos necessariamente difíceis e nos quais nada pode ser dado como garantido. Tentando ser optimista pode ser o tempo para reinventar a Europa. Qualquer que ela seja.
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