Não resisto. E porque não posso remeter para lá (Público), trago-o para cá.
Tem peso (substância), leveza (forma) e mordacidade qb.
«Crer para Ver
Mr. John Perkins
Joaquim Fidalgo
"Ladies and gentlemen, my name is Perkins, John Perkins, and I"m an economic hit man - EHM for my friends."
Que raio de profissão se lembrou de arranjar o senhor Perkins, "economic hit man", assim uma espécie de "assassino económico a soldo" - AES, para os amigos. A exemplo do que se fazia no velho Oeste, quando a tarefa de matar umas pessoas a troco de dinheiro era uma das mais bem pagas, agora contrata-se gente para dar cabo economicamente - e não de pessoas, mas de países. Profissão altamente especializada, como prova o senhor Perkins, que trabalhou na "especialidade" durante dezenas de anos, e em muita banda: Irão, Arábia Saudita, Equador, Somália, Panamá - tudo sítios onde mais ou menos (mais mais do que menos) têm "estado" os americanos.
Em tempo: isto que digo, não sou eu que digo, é o próprio senhor Perkins. Se fosse eu a dizer, às tantas ninguém acreditava, acusavam-me de esquerdista e propagandista antiamericano. Mas não. Eu só li. Porque o senhor John Perkins resolveu escrever um livro autobiográfico, chamado precisamente Confissões de Um Assassino Económico a Soldo.
Numa entrevista recente, o senhor Perkins explica a sua profissão. Em síntese, revela como, desde há décadas, a Agência Nacional de Segurança dos EUA contrata economistas, a quem dá formação "especializada" e que depois coloca, como "consultores", em grandes corporações americanas. O seu trabalho, no essencial, é ir para países pobres mas interessantes do ponto de vista geoestratégico ou económico (petróleo...) e oferecer-se para emprestar dinheiro, muito dinheiro, a esses países. Tanto dinheiro que eles depois não podem pagar - é a história da escalada da dívida externa dos países menos desenvolvidos. E como não podem pagar, ficam na mão dos credores para tudo o que for necessário: desde logo, para usar boa parte do dinheiro dos empréstimos em contratos com as mesmas corporações americanas que, no meio deste processo, acabam "naturalmente" por ganhar todas as grandes adjudicações de infra-estruturas, de explorações de recursos naturais, de reconstrução, de armamento, o que quer que seja que dê lucro. Depois, exercendo uma permanente chantagem (que leva à concessão de favores e ao alinhamento político), uma vez que os países estão sempre "com a corda na garganta", graças à generosidade sistemática dos AES que por ali andam a oferecer crédito. Quando treme a colaboração, há outros meios suplementares, que podem ir de um pequeno golpe de Estado ao assassinato de um governante teimoso ou, no limite, a uma guerrazita. Mas só em último caso!
"Basicamente, fomos treinados para construir o império norte-americano, para criar situações em que o mais possível de recursos fluam para o nosso país, para as nossas corporações, para o nosso governo. De facto, temos tido muito êxito: construímos o maior império da história do mundo, e só raramente precisámos de usar o poderio militar; ele foi construído essencialmente através da manipulação económica." Senhoras e senhores, eis John Perkins, AES de profissão. Ele o disse, não eu. Jornalista»
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