segunda-feira, dezembro 26, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
DECORRE O 11º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 26 DE DEZEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS




“Todos os Seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamadas na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania” Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): Art.º 2º

Símbolo da igualdade de género

Não foi assim há tanto tempo como isso. Imaginar-se-ia que tinha sido lá para os primórdios do século passado, ou antes... Não: foi apenas há uns escassos 43 anos, na QA 26DEZ1968: é publicada, em Portugal, a lei da igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres, seja qual for o seu estado civil (sim, que até então o direito de igualdade das mulheres dependia do seu estado civil), salvo quanto às eleições para as juntas de freguesia, relativamente às quais permanecem, apenas, como eleitores, os chefes de família. Ou seja, era reconhecida uma igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres mas ainda não plena. Essa só viria com a Revolução dos Cravos, em Abril de 1974 (há 37 anos).


Em Portugal decorria o mandato (em princípio vitalício, mas que o 25 de Abril veio desfeitear) do almirante Américo Tomás, mas o Presidente do Conselho (também vitalício), Salazar, atenta a sua declarada incapacidade permanente, já fora substituído, em 26 de Setembro anterior, por Marcelo Caetano.
Rainha (66ª) do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda continuava a ser Isabel II, da Casa de Windsor, desde 06.02.1952, e Primeiro-ministro era Harold Wilson, do Partido Trabalhista.
O general Charles de Gaulle (2º Presidente da Quinta República Francesa) estava no penúltimo ano do seu consulado de 10.
Nos EUA era (36º) presidente Lyndon B. Johnson, que sucedera a John F. Kennedy, assassinado em 22.11.1963, em Dallas, de quem fora Vice-presidente, ambos do Partido Democrata.
Presidente da República de Itália era Giuseppe Saragat, do Partido Socialista Democrático Italiano e Primeiro-ministro era Mariano Rumor, que iniciara dias antes (12.12) o 1º dos seus 5 mandatos.
Em Espanha decorria a longa ditadura de Francisco Franco, como Chefe de Estado e Regente do Reino, iniciada em 1939, 29 anos antes.
Presidente da República Federal da Alemanha (2º) era Karl Heinrich Lübke e Chanceler era Kurt Georg Kiesinger, do Partido Democrata Cristão (CDU).
Na Grécia decorria o governo ditatorial do coronel Geórgios Papadópulos.
Era rei da Bélgica Balduino I, da Casa dos Saxe-Coburgo-Gota e decorria o 3º mandato não consecutivo do primeiro-ministro Gaston Eyskens.
Leonid Brejnev era o Presidente da União Soviética e Secretário-geral do PCUS.
Pontificava Paulo VI (262º)


1968 foi o ano em que, nomeadamente:
- Foram assassinados Martin Luther King (4 de Abril) e Robert Kennedy (5 de Junho);
- Foi eleito Richard Nixon para presidente norte-americano (Novembro), mas que só seria empossado em Janeiro de 1969;
- Se realizou a união aduaneira da CEE, com a eliminação total dos direitos entre os Seis e o estabelecimento de uma taxa aduaneira comum (1 de Julho), enquanto se institui o princípio da liberdade de circulação de trabalhadores (8 de Novembro);
- Rebentou a crise estudantil parisiense do “Maio de 1968”;
- Se deu a ascensão e queda da chamada Primavera de Praga.
- Mais: foi o ano em que, a 19 de Agosto, já depois da queda (3 de Agosto), mas com Salazar ainda na direcção efectiva do Governo, se efectua uma remodelação ministerial: Gonçalves Rapazote no interior; José Hermano Saraiva, na educação; João Dias Rosas, nas finanças; Bettencourt Rodrigues no exército; Pereira Crespo na marinha; Jesus dos Santos na saúde. Como subsecretário de Estado da educação, Elmano Alves e como CEMGFA, Venâncio Deslandes. “Os últimos conselheiros da remodelação foram Mário de Figueiredo, Luís Supico Pinto, Soares da Fonseca e Castro Fernandes que tiveram uma reunião com o supremo seleccionador [Salazar] em 10 de Agosto.
Portanto, a remodelação acontece ainda “antes de surgirem os primeiros sinais de desconexão mental do presidente do conselho que passa a sofrer de doença incapacitante (4 de Setembro). Operado de urgência ao cérebro por Vasconcelos Marques (6 de Setembro), é, depois, acometido de trombose (16 de Setembro). É neste contexto que surge a inevitável reunião do Conselho de Estado (17 de Setembro), onde se discute a substituição do omnipotente cônsul, sendo consensual a opinião sobre a nomeação imediata de um novo Presidente do Conselho”como se pode ler num dos inúmeros trabalhos do Prof José Adelino Maltez publicados na net.

Portugal não tinha outro remédio que “parecer” ser um país moderno.

Porque só parecia. Continuava longe de o ser.

Quem se debruçasse sobre as nossas leis encontrava surpresas, relativamente ao que se proclamava em todo o mundo. Coisas interessantes, havia-as. Mas só no papel. Recorde-se que até tínhamos um artigo 8º da nossa Constituição de 1933 (de 1933, sublinho) que nos reconhecia importantes direitos, liberdades e garantias… Mas sabemos todos bem (os que não têm memória curta) como é que a lei era aplicada pelo poder e respeitada pelos seus algozes, e pelos tribunais, sobretudo pelos tribunais especiais, os Plenários…
Todo o aparelho estatal – não esqueçamos -, TODO, obedecia cega e zelosamente aos ditames do todo-poderoso “salvador” da Pátria… Que já não liderava o governo, embora cuidasse que sim.

Mais de um mês depois da ocorrência, a 7 de Setembro de 1968 o Telejornal informava o país que o Prof. Salazar tinha sofrido uma queda, na sua casa de férias no Estoril. A respiração dos portugueses por todo o lado (e por motivos diametralmente opostos) ficou suspensa. Seguiu-se uma operação ao ditador, no hospital da Cruz Vermelha e, sobre os resultados da mesma, pouco ou vago era o que se sabia. Mas a evidência não podia ser ocultada para sempre: deu-se a recaída e Salazar passou a um estado gravíssimo, que o obrigou, então definitivamente, ao abandono da vida política. Sem que disso se desse conta.

A avançada idade e os recentes e graves problemas de saúde ditaram o afastamento do ditador, que ainda tentou uma última comunicação ao país. Mas era tal a aparência e o estado crítico do antigo chefe do governo que a comunicação nunca chegou a ser autorizada a ir para o ar.
Cerca de dois anos depois, já em 1970, a 27 de Julho, Salazar morria.  

Os factos e as notícias aconteciam em rápida catadupa. E todos os portugueses – conquanto por razões opostas – incrédulos, aguardavam o desenrolar dos acontecimentos. Os próprios repórteres da estação oficial (e única, então) foram chamados "de urgência" para realizar a cobertura da cerimónia de posse do novo chefe do governo. Isto, aos 17 de Setembro de 1968. E para o edifício da Assembleia Nacional deslocou-se uma grossa coluna de profissionais da comunicação, para além da turba multa de curiosos. “Entre todos, uns mais positivos acreditavam na mudança, os mais incrédulos viam tudo como apenas a passagem de um mesmo testemunho, de ferro e aço pesado.”
(site da RTP/Factos)

O Decreto da Presidência da República (Américo Tomás) 48 597, 27SET1968, “exonera o Doutor António de oliveira Salazar do cargo de Presidente do Conselho, do qual manterá todas as honras a ele inerentes, e nomeia, para o substituir, o Doutor Marcelo José das Neves Alves Caetano.”

Foi, pois, ainda não há muito, e neste contexto, que Portugal deu um passo, medroso, no sentido da definitiva igualdade de direitos entre todos os cidadãos, de qualquer sexo ou condição. Que esta só viria mais tarde.

De direitos políticos, sublinho. Porque a efectiva igualdade não se esgota aí.

Vejamos.

Em 1973 - estava o antigo regime agonizante e no seu estertor - é fundada a Comissão da Condição Feminina que, em 1991, seria substituída pela Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, que tem por objectivo a prevenção da discriminação, particularmente nos campos sexual, conjugal e laboral, e o auxílio às mulheres que são discriminadas e maltratadas.

“Os sistemas de estrutura social que vigoraram ao longo dos tempos em muitas sociedades, entre as quais as ocidentais, fizeram com que o papel das mulheres se estereotipasse e mantivesse cristalizado no tempo, sem actualização de acordo com a evolução cronológica e social das comunidades. Mulheres como a egípcia Hoda Shaarawi (1879-1947), a inglesa Dora Russell (1894-1986), a porto-riquenha Luisa Capetillo (1879-1922) e a notável feminista islâmica e jornalista sul-africana Shamima Shaikh (1960-1998), lutaram ao longo da sua vida contra a discriminação feminina e pelo reconhecimento de direitos e liberdades negados às mulheres ou socialmente censurados quando deles faziam uso” – é recordado na História dos Direitos da Mulher na Infopédia, a Enciclopédia online da Porto Editora.

Como logo se vê, tratava-se de mulheres (as acima referidas) em geral vivendo em regimes políticos altamente repressivos e contrários a tais direitos fundamentais.
O terror e a repressão foram sempre os maiores aliados dos conflitos étnicos, de género, separatistas e de nacionalidade – conclui o mesmo texto que vimos seguindo. Que prossegue:
“Por outro lado, verificou-se um acentuado desrespeito pela integridade da mulher em sociedades que têm a prática de costumes (embora culturalmente enraizados, na maior parte das vezes) como a mutilação sexual e a penalização excessiva - por vezes, a morte - por as mulheres vestirem calças, apresentarem alguma parte do corpo descoberta ou praticarem [elas, note-se] adultério.”
É que, não podemos esquecer, até muito tarde do séc. XIX, o papel da mulher restringia-se às lides caseiras (ou sua coordenação), à reclusão monástica ou às festas mundanas. Era impensável que se arrogassem outras tarefas e outros direitos.

“Kate Sheppard (1847-1934), na Nova Zelândia, a partir de 1893, foi a pioneira da luta pelo sufrágio feminino, seguida depois na Inglaterra por Millicent Fawcett (1847-1929) e, mais tarde, por Emmeline Pankhurst (1858-1928), alimentando o chamado movimento das "sufragistas", que ganhou foros de internacionalidade e também de manifestação pública, por vezes, com alguma violência. A luta continuaria até massivamente se ter expandido o voto feminino em quase todo o mundo. O acesso ao ensino superior foi também outra batalha das mulheres no século XX, como o acesso a cargos públicos e principalmente de direcção”pode ainda ler-se no mesmo texto acima referido.

Estamos em pleno séc. XXI, mas subsistem em muitas paragens do mundo países que não respeitam os Direitos do Homem na sua vertente direitos de igualdade das mulheres, ainda que possam estar consagrados em leis ou convenções que os respectivos governos subscreveram.

Uma das situações que ilustram os factos acabados de aduzir, é a que resulta da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Descriminação contra as Mulheres, adoptada pelas Nações Unidas em 1979. Convenção esta em que se tomaram medidas “relativas à eliminação da exploração das mulheres, à igualdade de participação nas vidas política e pública nacional e internacional, à igualdade perante as leis, na educação, no emprego e no trabalho, no acesso aos serviços de saúde, na segurança social e no financiamento, nas matérias civis e jurídicas, no direito dentro da família e nos direitos das mulheres que vivem em zonas rurais” esclarece ainda o texto que vimos seguindo.

Demais, esta Convenção também criou o Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres. A Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 25 de Junho de 1993) veio, exactamente, preconizar e sublinhar, ainda, a igualdade de direito das mulheres nos âmbitos culturais, económicos, civis, políticos e sociais.
No final do século XX, o mundo não vivia, ainda, todo ele, na observância dos direitos acabados de referir, mas as excepções quase só se limitavam aos continentes asiático e africano.
Em Portugal, só com a República, em 1910, as mulheres deixaram, perante a lei, de dever obediência ao marido e, em 1931, passaram a poder votar, desde que tivessem instrução secundária ou superior. Só em 1968 obtiveram direitos políticos iguais aos dos homens, com a assinalada ressalva da eleição para as juntas de freguesia, e, apenas no ano seguinte, salário equivalente ao masculino. Com a revolução de Abril caminhou-se no sentido da total igualdade de género. Em 1990 passou a ser proibida a publicidade com discriminação sexual e, em 1999, foi criado o Ministério da Igualdade.

Outro símbolo da igualdade de género

Na verdade, a diferença de género referindo-se a diferenças biológicas entre homens e mulheres, é irrefutável.
Já politicamente o conceito é polémico nalgumas sociedades (ou em alguns dos seus estádios). Assim, o antónimo do conceito de igualdade de género (politicamente falando) não é diferença de género (biologicamente falando), mas sim o de desigualdade de género, dado que esta é que pressupõe estatutos, direitos e dignidade hierarquizados e diferenciados entre homens e mulheres. Isto é, desigualdade de género é que tem como consequência um tratamento desigual e desfavorável a uma pessoa em função do seu sexo biológico.

Alguns distinguem ainda entre igualitarismo e igualdade: igualitarismo, para esses, é um conceito diferente de igualdade (politicamente falando). Para esses, igualitarismo consiste numa igualdade social.
Para as sociedades mais avançadas os conceitos não se equivalem, já que para elas igualdade não se confunde com igualitarismo: proclamam a igualdade mas não o igualitarismo.

Entre várias outras, destacaram-se na defesa dos direitos das mulheres em Portugal Maria Lamas (1893-1983), que foi presidente da direcção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, além de ter participado em diversos congressos sobre a condição feminina, e que também fez parte da direcção do MUD onde combateu o regime de Salazar, o que a levou por três vezes à prisão, a professora universitária Isabel Aboim Inglez (1902-1963), democrata consequente que foi membro da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática/MU D, e que sempre se bateu pelos direitos e liberdades e contra o despotismo do regime salazarista, o que lhe valeu ser várias vezes presa arbitrariamente, Elina Guimarães (1904-1991), a escritora e jurista que além de outras actividades que desenvolveu em prol da liberdade foi directora do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), e as escritoras a que soe chamar-se “as três Marias”, Maria Velho da Costa (1938), Maria Isabel Barreno (1939) e Maria Teresa Horta (1937), que, em 1971, escreveram em conjunto "As Novas Cartas Portuguesas", obra proibida pelo regime de então. A todas unia o objectivo de questionar o lugar ocupado pelas mulheres na sociedade e a reivindicação de direitos e liberdades que socialmente lhes estavam vedados.
Ainda também em Portugal, no início do século XX, Adelaide Cabete surgiu como a pioneira do sufragismo.
Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete (1867-1935), ou apenas Adelaide Cabete, «republicana convicta, foi médica obstetra, ginecologista, professora, maçom, publicista, benemérita, pacifista, abolicionista, defensora dos animais e humanista portuguesa. Pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, durante mais de vinte anos presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, qualidade em que, em 1912 reivindicou também o direito ao voto feminino, sendo em 1933, a primeira e única mulher a votar, em Luanda, onde viveu, a nova Constituição Portuguesa. De origem social modesta, em 1889, aos vinte e dois anos, fez o exame da instrução primária, em 1894 concluiu o curso liceal e concluiu o curso de medicina em 1900 com a tese "Protecção às Mulheres grávidas Pobres como meio de promover o Desenvolvimento físico das novas gerações"» - esclarece a respectiva entrada da Wikipédia.
Adelaide Cabete, entre outras actividades, fomentou a criação das Ligas da Bondade, dirigiu a Cruzada Nacional das Mulheres Portuguesas e organizou, em 1924, o I Congresso Feminista e de Educação.

Por alguma razão (porque a situação nesta matéria ainda não era a ideal) a ONU instituiu a data de 8 de Março para comemorar o Dia dos Direitos das Mulheres e da Paz Internacional, ou, meramente, Dia Internacional da Mulher. (Acompanhada, sempre de perto, a mencionada História Dos Direitos da Mulher, apud, como já referido, Infopédia)

Segundo uns, o Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de Março, tem como origem as manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada do seu país na Primeira Guerra Mundial. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917.
Segundo outros, o porquê dessa celebração e da data é a seguinte: no dia 8 de Março de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Mais: estas operárias, nas suas 16 horas de trabalho, recebiam menos de um terço do salário dos homens. Em greve declarada, essas mulheres foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 delas morreram queimadas.

Entretanto a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido desde os primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto. E em Dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adoptado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.

As raízes da luta travada pela igualdade de direitos de as mulheres poderem intervir activamente na política – o chamado Movimento das Sufragistas – remonta a tempos bem remotos. Já na Antiguidade Clássica tais direitos eram reclamados, como o viriam a ser na Idade Média. Com uma diferença, porém: é que nestes tempos até os homens se viam confrontados com os múltiplos impedimentos que lhes coarctavam, designadamente a eles, quanto mais à maioria da população, o direito de votar.
O movimento sufragista começou a ganhar forma na América pós-revolucionária, quando as mulheres americanas, ao contrário do que acontecia com as europeias, cada vez mais intervinham na vida colectiva, como acontecia, entre 1691 e 1780, em que as mulheres de Massachusetts podiam votar, desde que fossem proprietárias.
Em tais movimentos distinguiram-se Lucretia Coffin Mott (1793-1880), Elizabeth Cady Stanton (1815-1902) e Wendell Philips (1811-1884), designadamente com a promoção de uma Convenção, em 1848, dos Direitos das Mulheres (caso de Lucretia Coffin Mott e  Elizabeth Cady Stanton), para além da criação de associações com tal objectivo, como a National Woman Suffrage Association, a American Woman Suffrage Association ou a National American Woman Association.
O facto é que, o direito de voto das mulheres foi concedido nos Estados do Colorado (1893), no Utah e em Idaho (1896) e em Washington (1910).
Culminando este movimento com a aprovação pelo Congresso Americano, em 1919, da Emenda à Constituição que concedia o direito de voto a todos os cidadãos nacionais independentemente da raça e do sexo.

Um facto, também, é que, tirando as ditaduras e as democracias musculadas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948) é respeitada, em geral, em quase todo o mundo.
Reza, na verdade – recordo -, o respectivo artº 2º que “Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

O antepassado mais próximo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Onu, de 1948, é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa de 1789 aos Representantes do Povo Francês, que consta de preâmbulo e de 17 artigos onde aquela se inspirou. A declaração francesa, por sua vez, bebeu os pensamentos dos iluministas, bem as declarações da Revolução Americana (1776).

Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão
de 1789

Na cena político-partidária, detenhamo-nos, brevemente e apenas, num exemplo, por certo um dos mais antigos partidos da Europa: o SPD/Partido Social-Democrata Alemão. Fundado em 1875, em resultado da fusão de duas instituições, o "Allgemeiner Deutscher Arbeiter" fundado em 1863 por Ferdinand Lasalle (1825-1864), em Leipzig, e o "Sozialdemokratische Arbeiterpartei", organização surgida em 1869 sob a direcção de August Bebel.
O SPD, que começara por ser um partido de ideologia socialista, viria a manter uma orientação marxista até ao final dos anos 50 de 1900.
No ano de 1878, três anos, apenas, depois de fundado, o partido começa a atravessar uma fase difícil: Bismarck, um chanceler conservador (liderou o governo de 1871 a 1890), aproveita duas tentativas de assassinato de Guilherme I (1797-1888), Imperador da Alemanha e rei da Prússia, da Casa de Hohenzollern, para eliminar adversários. Na sequência desses atentados fez aprovar diversas leis "antissocialistas", ainda que nunca se tenha provado qualquer ligação dos “socialistas” com esses acontecimentos. Até 1890 (data da morte do chanceler, o Príncipe Otto von Bismarck) a clandestinidade é o campo onde se movem os activistas partidários de esquerda. Entre essa data e os anos 30 o partido teve uma acção preponderante na evolução positiva sociopolítica.
É assim que em 12 de Novembro de 1918 o governo social-democrata aprova o direito de voto das mulheres.
Com a ascensão dos nazis, voltaram as grandes perturbações: o SPD foi das únicas vozes que se levantou contra o totalitarismo hitleriano e sofreu as consequências dessa atitude, com a prisão, a tortura e a morte de muitos dos seus membros.

Nos 12 anos compreendidos entre 1933 e 1945, a história do partido, e da própria social-democracia caracterizou-se pela emigração, clandestinidade e resistência. Após a guerra 39-45 o SPD surgiu com um papel de liderança na reconstrução do país, numa linha de actuação já claramente oposta à dos comunistas. Situação que se iria agravando e colocando o SPD em situação subalterna e de crescente conservadorismo.
Em 1969 o SPD ganha as eleições, com a nomeação de Willy Brandt para chanceler, cargo que ocupará até 1974, altura em que é substituído pelo também social-democrata Helmut Schmidt.
A partir de 1982 a Alemanha vira à direita e o SPD voltou à oposição e conheceu uma nova fase de apagamento.

Por fim, refira-se o sexismo, uma forma de discriminação, que conduz à subalternização, à marginalização ou mesmo à exclusão de pessoas ou grupos com base no seu sexo. Seu objecto é, como se sabe, a mulher. Daí que se tenha desenvolvido um discurso, o discurso dominante, androcêntrico, “que situa o homem (varão) no plano do ser humano por excelência (o que, em muitas línguas ocidentais, se exprime mesmo na utilização da mesma palavra para homem no sentido masculino do termo e homem enquanto ser humano).”
“A negação do acesso das mulheres aos direitos essenciais (voto, participação na vida política, acesso aos graus de instrução e às profissões mais elevadas, acesso à propriedade ou à decisão sobre ela, decisão sobre a educação dos filhos) tem sido superada, sendo hoje considerada como algo atentatório aos direitos humanos e à ordem democrática” – cfr respectiva entrada na Infopédia

Para além do artº 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) transcrito no proémio desta memória, VEJA ainda os diversos artigos da Nossa Constituição de 1976, ora vigente, onde a matéria de direito de igualdade (designadamente de género) é abordada.










(Para além das fontes referenciadas, foram consultados, também, vários sites da internet)










quarta-feira, dezembro 21, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA



Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

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DECORRE O 11º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 21 DE DEZEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS





"É antidemocrático um Parlamento ter poderes para fazer as leis."
Muamar Kadafi


Kadhafi, de Leibholz

Foi na QA 21.12.1988, há 23 anos: Na Escócia, um Jumbo da Pan-American explode no ar e despenha-se sobre a aldeia de Lockerbie, matando 270 pessoas: 259 que seguiam a bordo e 11 em terra; o atentado terrorista teve origem numa bomba escondida num rádio.

No Reino Unido reinava a actual rainha, Isabel II, e primeiro-ministro era Margaret Thatcher, do Partido Conservador.
Em França decorria a Quinta República com François Mitterrand na chefia do Estado.
Em Itália era Francesco Cossiga, do Partido da Democracia Cristã, o presidente em exercício, na qualidade de presidente do Senado, por demissão de Alessandro Pertini, do PS italiano, e o Primeiro-ministro era Ciriaco De Mita.
Nos EUA decorria o segundo mandato do 40º Presidente, Ronald Reagan.
Na Grécia decorria o mandato do 4º Presidente da Terceira República Helénica, Christos Sartzetakis, apoiado pelo PASOC, confirmada a abolição da monarquia e o estabelecimento da actual república parlamentar em 1974, e chefe do Governo era Andréas Papandréu, também do PASOK (partido socalista/social-democrata da Grécia).
Presidente da República Federal da Alemanha era Richard von Weizsäcker, e Chanceler era o democrata cristão (CDU), Helmut Kohl.
O trono espanhol era ocupado pelo rei Juan Carlos e (primeiro-ministro) Presidente do Governo era Felipe González.
Em Portugal tínhamos Mário Soares na presidência da República (17º) (4º depois da revolução de Abril), e era primeiro-ministro Cavaco Silva.
Na Bélgica reinava Balduíno I, da Casa de Saxe-Coburgo-Gota e primeiro-ministro era Wilfried Martens, no seu segundo mandato.
Mikhail Gorbachev era o Secretário-geral do PCUS, que viria a ser pouco depois presidente do país (15.03.1990), cargo a que renunciaria a 25.12.1991, um dia antes da formal dissolução da União Soviética. Gorbachev foi,assim, o último líder soviético.
Decorria o longo pontificado (o terceiro mais longo da história da Igreja) de João Paulo II (264º).

O ano de 1988 foi aquele em que, designadamente:
- Vítor Constâncio foi reeleito secretário-geral do PS – decorria o VII Congresso do partido (19FEV);
- Foi editado um conto inédito de Fernando Pessoa: A Hora do Diabo (14MAI);
- Começou a circular o semanário O Independente (20MAI);
- Vergílio Ferreira ganhou o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (26MAI);
- Os Lusíadas foram traduzidos e editados na Rússia (18JUN);
- Um violento incêndio deflagrou no Chiado, em Lisboa, destruindo grande parte da sua zona comercial, designadamente, os Grandes Armazéns do Chiado e os Armazéns do Grandela (25AGO);
- Rosa Mota recebeu a medalha de ouro na maratona feminina, nos Jogos Olímpicos de Seul (23SET);
- Siza Vieira, arquitecto portuense, foi distinguido com o Prémio Europa da Arquitectura (29NOV);
- Morreu o retratista Henrique Medina (30NOV).




Memorial às vítimas do atentado,
no cemitério de Lockerbie

O atentado de Lockerbie foi um ataque terrorista ao voo 103 da, então, Pan American World Airways, em 21 de Dezembro de 1988. O avião Boeing 747-121 partira do Aeroporto de Londres, Heathrow, com destino a Nova Iorque, e explodiu no ar sobre a localidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas (259 no avião e 11 em terra) de 21 nacionalidades diferentes. Deste total, 189 vítimas eram cidadãos dos Estados Unidos da América.
O voo 103 da Pan Am foi o terceiro voo transatlântico da Pan Am daquele dia. O Clipper Maid of the Seas vinha do Aeroporto de Frankfurt, fez escala no Aeroporto de Londres Heathrow e dirigia-se para o Aeroporto Internacional John F. Kennedy. 

Nada melhor que trazer o testemunho dos jornalistas, os cronistas da actualidade.
A memória do homem é curta, sem dúvida, mas a de certos políticos parece esfumar-se, quando muito, em escassos anos, quando não em breves semanas ou meses.
Em 17.05.2006, pouco mais de 17 anos depois do bárbaro atentado em que o maior número de vítimas era de nacionalidade norte-americana, um artigo de Jorge de Almeida Fernandes no Público constatava: “A democracia já não é a máxima prioridade de Bush”, transcrevendo o Washington Post, numa clara alusão à normalização das relações dos EUA com a Líbia de Muammar Kadhafi, como prenúncio dessa “pragmática viragem na política” dos States. Na verdade, salienta o Los Angeles Times, "a expiação de uma nação pelo seu passado terrorista mostra que a dura diplomacia dos EUA pode funcionar no mundo árabe". E de seguida vem a explicação: «"A normalização das relações EUA-Líbia é o casamento natural de uma Administração americana desesperada por amigos e petróleo no Médio Oriente e um Governo que precisa de abrir a sua economia ao mundo exterior", observam no Cairo árabes e líbios exilados a Daniel Williams, correspondente do Washington Post.» Ou seja, o interesse pelo petróleo líbio sobrepôs-se ao clamor das vítimas do atentado.
A Líbia indemnizou as vítimas da sua acção terrorista no caso Lockerbie, o que parece traduzir a suprema contradição de uma observância dos direitos humanos por parte de uma ditadura. Donde que as famílias das vítimas do atentado estejam divididas: «uns saúdam a conversão da Líbia. Outros denunciam: "Kadhafi ganhou."»
Tudo isto acontece, já neste milénio, porque “o susto do 11 de Setembro levou Kadhafi a uma viragem política, não à mudança do regime.” E a verdade é que Kadhafi conseguiu ficar bem na fotografia, nesta pirueta de obra-prima de sobrevivência, e ficar de fora do “Eixo do Mal”, com uma significativa ajuda da diplomacia britânica.
Ainda não há muito (em Dezembro de 2007) o sanguinário ditador Muammar Khadafi conseguia o feito de ser recebido, com pompa e circunstância, e de posar, em Lisboa, num retrato de família dos dirigentes políticos ocidentais, aquando da assinatura do Tratado de Lisboa [tratado que altera o Tratado da União Europeia (TUE, Maastricht; 1992) e o Tratado que estabelece a Comunidade Europeia (TCE, Roma; 1957)].

Quem entende bem estas variações bruscas na “cotação” dos regimes e dos seu líderes é o nosso velho amigo Alfredo. Senão, veja:

Luís Afonso/Bartoon/Opinião/Público SG 12.09.2011

Entretanto, Almeida Fernandes explica: «Há quem olhe o precedente líbio como uma mensagem aos iranianos, diz ao Washington Post Edward Walker, presidente do Middle East Institute. "Tão longe quanto posso ver, a mensagem é que [o modelo] funcionou porque houve conversações directas com os líbios."»
De facto, nesses idos de 2006 eram muitos os que propendiam a defender que, a exemplo do processo líbio, “a Administração Bush deve explorar a possibilidade de conversações directas com Teerão.”
«O caso do Irão é muito mais complicado e de outra dimensão estratégica que o da Líbia. Mas ontem o secretário de Estado assistente David Welch admitiu que a Líbia possa ser um "modelo" para tratar o Irão» - rematava Almeida Fernandes na mesma coluna.

 Público 17.05.2006/P2/Cartoon/Pancho

Mas voltemos ao atentado, em si.
A Líbia foi, desde logo, acusada da introdução de uma bomba no Jumbo da Pan American World Airways que fazia o voo 103, quando, a caminho dos EUA, sobrevoava a aldeia escocesa de Lockerbie, nesse dia 21.12.1988, fazendo-o explodir e despenhar-se vitimando mortalmente 270 pessoas.
Assim, Em Fevereiro de 1990 foi descoberto um fragmento do detonador nos escombros do avião que o inquérito atribuía a acção terrorista da Líbia. E em Novembro de 1991, foram acusados dois agentes dos serviços de informações líbios, com o posterior pedido de extradição. Logo em 1992, a ONU, mediante a Resolução 731, condenou a explosão do voo da Pan AM, pedindo à Líbia para colaborar nas investigações. Mas a Líbia recusou-se a extraditar os dois suspeitos e a ONU decretou um embargo aéreo e militar à Líbia. Depois, em Setembro de 1998, foi assinado, em Haia, um acordo entre Holanda e a Grã-Bretanha, onde ficou decidido que o processo deveria decorrer num tribunal escocês, mas em território neutro, na Holanda. Em Março de 1999 é anunciado, em Tripoli, que os dois suspeitos seriam entregues à ONU. O que realmente aconteceu, sendo, depois transferidos para a Holanda. E assim, as sanções impostas pela ONU, em 1992, para forçar Tripoli a entregar à justiça os dois suspeitos, foram, consequentemente, suspensas, assim como foram reatadas as relações diplomáticas com o Reino Unido. Em Junho, ainda de 1999, o tribunal escocês adiou o processo por seis meses, a pedido dos advogados. E em Outubro, os dois suspeitos líbios foram formalmente acusados de assassínio, conspiração e violação da legislação sobre a segurança aérea. Em Fevereiro de 2000, os dois suspeitos declararam-se inocentes e, em Maio, pouco mais de onze anos depois do atentado, teve início o processo. A defesa rejeitou a responsabilidade de grupos palestinianos.
Em Janeiro de 2001, a acusação apelou aos juízes para considerarem os suspeitos como culpados de homicídio - o que implicaria pena de prisão perpétua.
No mesmo mês, o tribunal escocês reunido em Camp Zeist, na Holanda, condenou o líbio Abdel al-Megrahi e absolveu Al Amin Fhimah, ambos suspeitos do atentado. Os EUA e o Reino Unido exigiram à Líbia que reconhecesse a sua responsabilidade no atentado de Lockerbie e indemnizasse as famílias das vítimas, mas a Líbia considerou que, como Estado, não tinha qualquer responsabilidade no atentado. Porém, em Agosto de 2003, a Líbia assinou um acordo com os advogados das famílias das vítimas do atentado, onde se obriga a pagar uma indemnização milionária pelas mortes ocorridas em 1988, tal como assumiu a responsabilidade pelo atentado numa carta ao Conselho de Segurança da ONU. Face a esta atitude da Líbia, aquele Conselho votou a favor do levantamento das sanções impostas ao país de Khaddhafi. Em Dezembro de 2003, a Líbia anunciou o abandono do seu programa de desenvolvimento de armas de destruição maciça. Um mês depois, concordou em compensar as famílias das vítimas de mais um atentado perpetrado por líbios - o abate de um avião comercial francês, da UTA, no deserto do Sara em 1989.

Entretanto, um recente telegrama da Associated Press informava que o governo escocês libertou Abdel al-Megrahi em 2009, dado ele encontrar-se entre a vida e a morte, vítima de cancro. Mas ao voltar para a Líbia, o terrorista foi recebido como herói e encontrou-se com Muammar Kadhafi.
Em 22 de Agosto último, senadores de Nova York subscreveram o pedido de muitas entidades de que Abdel Baset al-Megrahi voltasse à prisão, no Ocidente. Mas um irmão do terrorista líbio responsável pelo atentado de Lockerbie, disse na recente segunda-feira, 29.08.11, que ele está em coma e não pode mais comunicar com ninguém.




Nota final: Os encontros, os desencontros e os recontros (de que resultam aqueles) da História:
De inimigos figadais a Líbia de Kadhafi e os Estados Unidos de Bush (filho) passaram a ser amigos cordiais. E o mesmo Muammar Kadhafi, no Ocidente, passou igualmente de terrorista confesso a respeitável líder, ombreando com os mais, inclusive na cimeira de Lisboa, em 2007.
Mas o ignominioso ditador teve a sorte que alguns dos sanguinários ditadores tiveram: após uma guerra civil de oito meses entre as suas milícias e as de forças rebeldes (Conselho Nacional de Transição/CNT) que pretendiam pôr termo à sua longa ditadura, com o apoio aéreo da NATO, Kadhafi foi capturado, num esgoto, e foi bárbara e sumariamente executado pelas forças revoltosas, em Sirte, sua cidade natal, na QI 20.10.11.







(Fontes: para além das referidas no texto, ainda várias entradas da Wikipédia, da Infopédia e da Biblioteca Universal)






segunda-feira, dezembro 12, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
DECORRE O 11º ANO DO 3º MILÉNIO.
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o
ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO
ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA
ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS



Há 189 anos, na QI 12.12.1822, os Estados Unidos reconhecem a independência do México.



Pirâmide de Kukulkán, em Chichén Itzá, México
Templo maia na cidade pré-colombiana de Chichén Itzá, no Norte da península Iucatão, no México
                                                                                                
(apud WIKIPÉDIA)


Figura esculpida na rocha na cidade sagrada pré-colombiana de Chichén Itzá, no Norte da península Iucatão, no México


O 5º presidente norte-americano, James Monroe, cumpria, na altura, o seu mandato.
No Reino Unido reinava Jorge IV, tio da rainha Vitória, da dinastia de Hanôver, logo, tio-tetravô de Isabel II. A linha directa de sucessão ao trono britânico foi subitamente extinta com Jorge III. Este tinha 15 filhos, mas nenhum neto legítimo que pudesse herdar a coroa, por morte de seu filho e sucessor Jorge IV. As suas seis filhas eram solteiras ou estéreis e nenhum dos seus 9 filhos era casado, à excepção do segundo, que também não tinha filhos. Posta a questão da sucessão, os filhos lá se resolveram a casar. Tardiamente. Assim, e às pressas, Eduardo Augusto, Duque de Kent, o quinto filho de Jorge III, irmão dos reis Jorge IV e Guilherme IV, decidiu casar um ou dois anos antes de morrer, nascendo em 1819, no ano anterior ao da sua morte, sua filha, a futura rainha Vitória, que era trisavó de Isabel II, já numa nova ordem de sucessão directa.
Em França vivia-se a conturbada época da revolução de 1789: caída a monarquia, com a execução de Luís XVI, na guilhotina (e Maria Antonieta meses depois), segue-se a República, a que se sucede o Império. Com a queda do Império e a abdicação de Napoleão (1814), sobe ao trono francês, restaurada a dinastia de Bourbon, Luís XVIII, irmão de Luís XVI.
Em Espanha reinava, então, Fernando VII (que pelo baptismo tinha 27 nomes próprios), uma vez deposto José Bonaparte, depois do curto reinado fantoche que fora imposto por seu irmão Napoleão.
Em Portugal reinava D. João VI (27º), Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Isto, no ano em que foi aprovada (em 23.09) a nossa primeira constituição, a Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822.
No Vaticano pontificava Pio VII (251º). Quando Napoleão Bonaparte se fez proclamar imperador, Pio VII foi a Paris, a seu pedido, para o sagrar (Dezembro de 1804), e prolongou a sua visita à capital francesa por uns meses. Mas a estes favores, Napoleão não retribuiu com mais que "minúsculas concessões", primeiro, para depois esquecer tudo quanto tinha acordado e perseguir impiedosamente o sumo pontífice, chegando a mandá-lo prender por mais de uma vez, coagindo-o a assinar degradantes concordatas, apoderando-se dos Estados pontifícios.
A revolução (francesa) de 1814 forçou Napoleão a soltar o papa e a restituir-lhe os Estados da Igreja. Assim, nesse ano saía de Savona, onde estava preso às ordens do imperador, e era festivamente recebido em Roma. Donde voltou a ser expulso, por curto lapso de tempo, em consequência da invasão de Murat, mas depois da guerra dos Cem-Dias regressou a Roma onde foi recebido triunfalmente.
Pio VII assistiu à queda de Napoleão, cuja família acolheu em Roma. Intercedeu junto das cortes de toda a Europa pelo desterrado de Sta Helena, e recusou toda a represália política.
Mostrou-se desfavorável ao rigor das penas aplicadas pela Inquisição, atribuindo-se-lhe, a propósito, as seguintes palavras: "A lei de Deus não é como a lei dos homens; traz consigo suavidade e persuasão. A perseguição, o desterro, os cárceres são os meios de que se valem os falsos profetas e os falsos doutores".
Foi um generoso e corajoso papa, sublinham alguns registos.

1822 foi ainda o ano em que:
07SET: D. Pedro soltou o "grito do Ipiranga" ("Independência ou morte!"), nas margens do rio Ipiranga, arredores de S Paulo. É a independência do Brasil.
23SET: foi assinada a I Constituição Portuguesa [Constituição de 1822] (elaborada pelas Cortes Constituintes em 1821).
01OUT: D. João VI jura a Constituição (D. Carlota Joaquina negou-se sistematicamente a jurá-la).
12OUT: D. Pedro foi aclamado imperador do Brasil (até 1831).
Foi fundada a Sociedade Promotora da Indústria Nacional.
Nasceu Luís Augusto Rebelo da Silva (jornalista, historiador, romancista e político português); morreram Manuel Fernandes Tomás (um magistrado e político vintista que se destacou na organização dos primeiros movimentos pró-liberalismo) e Machado de Castro (um dos maiores e mais renomados escultores portugueses).
Libertação do Equador.
Jean François Champollion foi um linguista e egiptólogo francês. Considerado o pai da egiptologia, a ele se deve a decifração dos hieróglifos egípcios.
Beethoven compõs a Missa em Ré.
Schubert compõs a Sinfonia Incompleta.


O México foi, por certo, das regiões do Novo Mundo onde se desenvolveram mais civilizações, sempre (ou quase) em regiões geográficas diferentes dentro do México – algumas, com ramificações para o exterior deste país: olmecas (1200 a.C. a 400 a.C.), maias (de cerca de 2000 a. C - 250 d. C), toltecas (entre o século X e o século XII), mixtecas (do século IX ao início do XVI – que influenciaram o declínio da civilização maia no Sul, e permaneceram independentes dos Azetecas no Norte), zapotecas (a partir do século IV, ocuparam a região do México situada entre Tehuantepec e Acapulco, fixando-se posteriormente em Oaxaca) e os astecas - ou azetecas, num português mais exigente – (1325 até 1521), que se fixaram, todas elas, no planalto central.
Os azetecas eram o povo que dominava política e culturalmente o México aquando da conquista espanhola no séc. XVI, mas que ainda hoje subsiste.

Todas estas civilizações e culturas constituídas por povos ameríndios (erradamente ditos índios, como se sabe) e também todas elas civilizações mesoamericanas, pré-colombianas
.

Mesoamérica é o termo com que se denomina a região do continente americano que inclui aproximadamente o sul do México e os territórios da Guatemala, El Salvador, Belize bem como parte da Nicarágua, Honduras e Costa Rica. “Trata-se de uma macrorregião cultural de grande diversidade étnica e linguística, cuja unidade cultural está baseada no que Paul Kirchhoff definiu como o complexo mesoamericano”.
Entre outras coisas, o chamado complexo mesoamericano inclui a agricultura do milho, o uso de dois calendários (um deles ritual com 260 dias e outro civil, com 365 dias), os sacrifícios humanos e a organização estatal das sociedades. O complexo mesoamericano serviu como ferramenta teórica para distinguir os povos desta região relativamente a outras macrorregiões culturais que os circundavam
[Wikipédia]


Recuando, apenas um pouco, vejamos: o último imperador azeteca (eleito em 1503, por morte do antigo imperador, seu tio), Montezuma II, foi morto em 1520 quando se dá a invasão espanhola. E com a chegada dos europeus, a população indígena foi quase completamente dizimada, não só em consequência da guerra como por efeito de doenças trazidas do Velho Mundo, para as quais os indígenas não apresentavam resistências nem cura. Daí que dos 21 milhões de habitantes, em 1519, se tivesse passado para 1 milhão em 1607!

Em 1535, o México passou a ser o vice-reino da Nova Espanha. A cultura espanhola e a religião católica foram impostas pelo colonizador, que também iniciou a exploração dos seus recursos naturais. O governo colonial foi-se tornando cada vez mais opressivo e a luta pela independência iniciou-se em 1810, tendo o domínio espanhol terminado em 1821. E logo em 1822-23 foi instituído o Império Mexicano.

O México (hoje, Estados Unidos Mexicanos, oficialmente), uma vez independente, passou por sucessivas e desgastantes guerras civis. Com os EU em 1835 e de 1846 a 1848 e, internamente, com a ditadura Antonio López de Santa Anna, que foi derrubado em 1855 por Benito Juárez.
Um acaso (uma dívida astronómica de um antigo presidente mexicano, Miramon, a um banco suíço), leva o Habsburgo Maximiliano, irmão do imperador da Áustria, Francisco José, ao poder, em 1864, apoiado pelos conservadores, opositores de Benito Juárez. Mas por escasso tempo: três anos depois dá-se o derrube da monarquia e a execução de Maximiliano.
De então para cá, o México tem sofrido as contingências normais por que passa um país independente.

O México é um extenso museu, que se estende da costa do Pacífico à atlântica.
Inúmeros monumentos, bem conservados, que recordam aquelas (mais ou menos) remotas civilizações e culturas, deixam o visitante interessado quase em êxtase.
(O encanto cresce se o visitante tiver a sorte de encontrar guias de grande qualidade e talento – como me aconteceu, sobretudo, na cidade do México e em Oaxaca, onde um era sociólogo e outro antropólogo...)

Pirâmides enormes (diferentes na forma e na primitiva finalidade das egípcias) podem ser apreciadas desde o Noroeste, junto à costa do Pacífico, passando por Acapulco, Cidade do México, Oaxaca, Mérida, até à costa do Atlântico, ao Caribe mexicano (Cancun, celebrada, mas desinteressante).

A capital, Cidade do México, tem mais de 22 milhões de habitantes, e está situada 2400m acima do nível do mar.
Ao ser fundada, em 1345, tomou o nome de Tenochtitlán, sendo arrasada em 1521 por Hermán Cortes. Foi a capital do Vice-Reino da Nova Espanha até à independência.
A zona central do centro histórico da cidade – Praça da Constituição, mas que ninguém refere por esse nome, mas sim por Zócalo - assenta sobre o que foi outrora um pântano. (Daí que a catedral, aí localizada, esteja desde há anos em permanentes obras, inundada de andaimes e estacas, pois que se está continuamente afundando...).

O Zócalo – uma das maiores praças do mundo – é o barómetro de popularidade para os políticos que aí discursem

Além da Catedral, e de alguns edifícios da Administração Pública, situam-se no Zócalo o Palácio Nacional, com os célebres e magníficos murais de Diego Rivera (1886-1957) e com evocações de sua mulher, Frida Kahlo (1907-1954).

“Em 1938 André Breton qualifica sua obra de surrealista num ensaio que escreve para a exposição de Kahlo na galeria Julien Levy de Nova Iorque. Não obstante, ela mesma declara mais tarde: "Acreditavam que eu era surrealista, mas não o era. Nunca pintei meus sonhos. Pintei minha própria realidade".
[Wikipédia]


Algumas das famosas pirâmides pré-hispânicas do México podem ser encontradas a cerca de 50 km ao norte da capital, em Teotihuacán: a pirâmide do Sol, e, ligeiramente mais pequena, ao lado, a da Lua.
Teotihuacán (significando “o local onde os homens se tornam deuses”) é considerada uma das cidades mais impressionantes do mundo antigo. Foi fundada antes da era cristã e chegou a ter mais de 125 mil habitantes.


Em diversos pontos do país se podem observar pirâmides - cujas técnicas de construção deviam ser apuradíssimas - e outros monumentos dos povos primitivos que antecederam os actuais mexicanos.

Assim, por exemplo:

Em OAXACA pode visitar-se Montealbán – cidade religiosa única no género do povoado Zapoteco. Abandonado pelos zapotecos, os mixtecas apoderaram-se desse complexo monumental, e transformaram-no num cemitério, enriqueceram notavelmente seus monumentos funerários e “adoptaram conceitos arquitectónicos evoluídos como as gregas geométricas de pedras encaixadas que adornam os palácios”.
No vale de Oaxaca, os zapotecas, em 300 d.c., desenvolveram uma das civilizações mesoamericanas clássicas. Seis séculos depois decaíram sob pressão dos mixtecas, até às conquistas espanholas de 1530.

Próximo de MERIDA pode apreciar-se a zona arqueológica UXMAL, um dos mais extraordinários testemunhos da arquitectura maia.

CHICHEN ITZA – por certo o ex-libris (ou um deles) do México, que se encontra, no Estado do Iucatão, a 120 Km de Mérida, é uma das melhores mostras dos restos da civilização maia. Destaque para a Pirâmide de Kukulkan e para o Templo dos Guerreiros.
A cidade arqueológica Chichen Itza está inscrita desde 1988 como Património Mundial da UNESCO.
É uma das raras belezas que se pode apreciar de perto e que nunca mais se apagam da retina do visitante, como eu próprio, também por sorte, pude constatar.

Acho que foi com todo o merecimento que CHICHEN ITZA fez parte dos 21 candidatos às 7 maravilhas do mundo, e foi, com inteira justiça, um dos vencedores...
.
Pensava o mesmo acerca do Taj Mahal em Agra, na Índia... Não só pelo palácio, em si, a sua cripta, o seu significado, o seu enquadramento...
Só quem teve a sorte de ver o amanhecer, junto desse belo palácio todo ele de mármore branco, e assistiu ao deslumbrante e inesquecível espectáculo que é a cambiante de cores por que ele passa durante a aurora... pode compreender, na verdade, a sua extraordinária beleza! Para mim foi uma experiência inesquecível!

Pois também foi, realmente, um dos sete vencedores.


E muito, muito mais fica por dizer acerca do México.




[Fontes várias, basicamente a BU/Biblioteca Universal]

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