quarta-feira, março 16, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

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Recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos,
revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Relembro datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
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ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 16 DE MARÇO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO

e

é, também, o ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

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Alguns dos eventos que hoje se comemoram

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Foi há 37 anos (1974), um SB: tentativa frustrada de golpe militar, desencadeado por uma coluna que saiu do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, sob o comando do capitão Armando Marques Ramos, e que foi neutralizada pelas forças governamentais. Américo Tomás era o PR. Marcelo Caetano o PM. Paulo VI (262º), o papa reinante.


A primeira reunião do embrionário movimento que havia de derrubar a ditadura deu-se em Bissau na TR dia 21 de Agosto de 1973.
Menos de três semanas (20 dias) depois, e já em Portugal, numa reunião de oficiais das Forças Armadas, realizada no DM dia 9 de Setembro de 1973, certo que a partir dum pretexto reivindicativo de carácter corporativista, nasceu o Movimento de Capitães, embrião do MFA, com a assinatura de 400 oficiais do quadro no activo.
Ao cabo e ao resto o que se pretendia, mesmo, era dar o safanão final que deitasse por terra um regime em ruínas, contrariando as teses integracionistas da direita radical do que se autodenominou Congresso dos Combatentes do Ultramar. (Passe a blague: a única e mais importante coisa com que aquele congresso se não preocupou foi com as suas vítimas: os “ultramados”, quer entre a população indígena, quer entre a população branca!)

Um toque dos exageros em que a direita mais radical se envolveu e do desnorte cada vez mais evidente do Governo está no ataque da população branca da Beira (Moçambique) aos militares aí estacionados em Janeiro de 1974.

De realçar é o tão curto lapso de tempo decorrido entre o despoletar da magna ideia (o derrube do regime, nos tais idos de Agosto de 73) e a execução do golpe, (na festiva QI 25.04.74): cerca de oito meses, apenas, depois. Mas oito meses de muita discussão, de alguns sacrifícios, de muito risco, de grande e impressionante amadurecimento de tão responsável e histórica decisão.

Passemos uma sintética vista de olhos pelos acontecimentos que, nesse ano de 74, precederam o glorioso dia 25 de Abril, onde se falará, como é evidente, com mais algum desenvolvimento, da data que hoje se comemora:
- SX 22.02.74: ia a gestação do fenómeno com seis meses decorridos e é publicado o livro de Spínola, “Portugal e o Futuro”que, conquanto não envolvesse qualquer arrojado projecto foi o suficiente para abanar o regime, particularmente o seu líder, Marcelo Caetano.
- 12 dias depois, na TR 05.03.74, numa reunião de cerca de 200 oficiais dos três ramos das Forças Armadas, em Cascais, no atelier do arq. Braula Reis, é pela primeira vez abordada a possibilidade do fim da guerra colonial e o estabelecimento de um regime democrático, mediante o derrube da ditadura. Nessa reunião é aprovado o documento programático «O "Movimento" das Forças Armadas e a Nação», apresentado pelo Major Melo Antunes.
Outra novidade dessa reunião de Cascais é a participação, pela primeira vez, de ex-oficiais milicianos que aderiram ao Movimento.
- decorridos três dias, na SX 08.03.74, e na sequência da reunião de Cascais (não esqueçamos que a PIDE já estava a par do que se passava, embora eu creia que não muito profundamente) algumas das figuras de proa do Movimento são transferidas pelo Governo, com o óbvio objectivo de enfraquecer o Movimento: os capitães Vasco Lourenço e Carlos Clemente para os Açores, Antero Ribeiro da Silva para a Madeira e David Martelo para Bragança. Dois apontamentos de curiosidade: o Capitão Clemente é levado à força para o aeroporto, mas elementos do Movimento conseguem raptar e esconder os capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva.
No dia imediato,
- SB 09.03.74, os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva decidem apresentar-se no Quartel-general da Região Militar de Lisboa, na companhia do Capitão Pinto Soares: são os três detidos e enviados para a Casa de Reclusão Militar da Trafaria.
- Dois dias depois, na SG 09.03.74, Marcelo Caetano, num golpe de teatro, pede a demissão em carta dirigida a Américo Tomás, como que assumindo responsabilidade pelo livro de Spínola acabado de sair nas bancas. É claro que teve a manifestação de confiança do Presidente que não aceitou a demissão.
Mais: numa encenação própria de qualquer ditadura, três dias depois, na QI 14.03.74, Marcelo recebe Oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas, acção com que se pretendia mostrar ao Mundo (que tanto o contrariava) lealdade e apoio ao Governo; e que, ao fim e ao cabo, tudo estava sob controlo. Marcelo Caetano afirmou em agradecimento, talvez com pouca convicção: «O país está seguro de que conta com as suas Forças Armadas e em todos os escalões destas não poderão restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos»(!). Foi a chamada manifestação da “Brigada do Reumático”.
Mas a essa “chamada” não responderam os então chefe e vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, respectivamente generais Costa Gomes e Spínola. Donde, obviamente,
- a respectiva demissão, no dia imediato, na SX 15.03.74.
A reacção do Movimento (e agora somos chegados ao evento que hoje se comemora) não se fez esperar, e no dia seguinte, no SB 16.03.74 dá-se uma tentativa de golpe militar contra a situação. Mas a que só respondeu o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha, que marcha sobre Lisboa. Há quem afirme ter sido a ala afecta ao General Spínola que, em reacção às demissões e transferências levadas a cabo, levou por diante esta acção de forma precipitada e sem planificação adequada.
Melhor: há, de facto, duas versões sobre esta acção do 16 de Março: «Numa das versões, terá sido uma tentativa de os seguidores do general Spínola assumirem o controlo do Movimento das Forças Armadas, impedindo os capitães de o liderarem e evitando radicalismos com que não concordavam. Noutra versão, teria sido, pelo contrário, uma manobra para afastar os spinolistas.»
Não sei. E até pode acontecer que tudo se deva a uma terceira hipótese…
A verdade é que os capitães do RI 5 tomaram, nessa madrugada, o comando do quartel e decidiram avançar sobre Lisboa, sob o comando do capitão Armando Ramos.
Mas era evidente que o golpe iria falhar, por falta de coordenação ou por outra razão, conduzindo à prisão de 200 militares, de entre os mais envolvidos no Movimento e no derrube do regime.

Relativamente a este assunto as agências noticiosas distribuíram a seguinte nota: «Na madrugada de sexta-feira para sábado, alguns oficiais em serviço no Regimento de Infantaria 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insubordinaram-se, prendendo o comandante, o segundo comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma Companhia auto transportada que tomou a direcção de Lisboa.
O Governo tinha já conhecimento de que se preparava um movimento de características e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras Unidades não tinham tido êxito.
Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da GNR. Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por Unidades da Região Militar de Tomar».
“Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo. Reina a ordem em todo o País».
“O coronel Ferreira da Silva, na altura do golpe o principal instigador da saída dos militares do Regimento de Infantaria 5 (actualmente, Escola de Sargentos das Caldas da Rainha), admitiu ter telefonado para o R15 (Tomar) informando que a sua unidade iria avançar sobre Lisboa, com ou sem outras adesões, provocando a saída precipitada da unidade em direcção a Lisboa.”
Já em Lisboa, foi mesmo um elemento do MFA, o coronel, digo Capitão Monge, quem, percebendo inequivocamente que o golpe iria fracassar (tal o aparato de forças que a aguardavam), foi ao encontro da coluna militar mandando-a dar meia volta e regressar à base. O que aconteceu.

“Ainda quanto ao 16 de Março, Otelo revelou que o major Casanova Ferreira procurou aliciar unidades militares, sobretudo, os pára-quedistas e a Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Contudo, estas recusaram participar face à fragilidade do plano. Casanova Ferreira não desarmou, acreditando que, mesmo sem plano, “basta sair uma unidade para saírem todas as outras atrás.”
O adiamento da revolta proposto por Otelo e aceite por Casanova, seria, contudo, contrariado pelo capitão Virgílio Varela que não acatou a ordem de desmobilização. Os militares do RI 5, apesar das dúvidas que os assaltavam, como foi testemunhado nesta conferência, neutralizaram o seu comandante e saíram em direcção a Lisboa. O 16 de Março estava na rua. Uma aparente derrota, mas um excelente ensaio para a grande vitória do mês seguinte.”
Perante o fracasso desta operação ficaram incumbidos o Major Otelo e os capitães Vasco Lourenço e Vítor Alves (uma das mais proeminentes figuras do MFA) da direcção do Movimento e de uma acção convenientemente planificada.
- Oito dias após, no DM 24.03.74, reúne-se pela derradeira e decisiva vez, clandestinamente, a Comissão Coordenadora do MFA, em casa do Capitão Candeias Valente, onde se decide que o golpe militar derrubador do regime se verificasse entre 22 e 29 de Abril seguinte e que o responsável pelo “Plano Geral das Operações” fosse o Major Otelo Saraiva de Carvalho.
- Quatro dias depois, na QI 28.03.74, e manifestando indisfarçável mal estar, Marcelo aparece na RTP fazendo a última “Conversa em Família”, de que deixo uma nota do seu esclarecimento, de que ele sabia que o Mundo o não aceitava, mas em que esperava (?!) que os portugueses acreditassem:

Derradeira Conversa em Família


- Menos de um mês depois, no DM 21.04.74 é aprovada a versão definitiva do Programa do MFA; e
- no dia seguinte, na SG 22.04.74, concluído o "Plano Geral das Operações: Viragem Histórica", as unidades militares afectas ao MFA ficam à espera do início da operação. Por decisão de Otelo é escolhido o Regimento de Engenharia N.º 1 na Pontinha, para instalar o Posto de Comando das operações.
- No dia imediato, TR 23.04.74, “Otelo Saraiva de Carvalho comunica que as operações militares se iniciariam às 03.00h do dia 25 de Abril e entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25, com a senha "Coragem" e contra-senha "Pela Vitória" e um exemplar do jornal Época, como identificação, para as Unidades participantes.”
- Enfim, na QA 24.04.74, “o jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa "Limite" dessa noite, na Rádio Renascença.”
Na mesma data Otelo Saraiva de Carvalho faz chegar às mãos do General Spínola a “Proclamação ao País do Movimento das Forças Armadas Portuguesas” para ser lido no dia seguinte.
Ainda na QA dia 24.04, pelas 22 horas começam a reunir-se os elementos do MFA no Posto de Comando, instalado no Regimento de Engenharia N.º 1, na Pontinha: os Tenentes-Coronéis Lopes Pires e Garcia dos Santos, os Majores Otelo Saraiva de Carvalho, Sanches Osório e Hugo dos Santos, o Capitão-Tenente Victor Crespo e o Capitão Luís Macedo.
Quase uma hora depois, às 22:55, Os Emissores Associados de Lisboa transmitem a canção "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, primeiro sinal do MFA, confirmando que tudo corria bem.
Por fim, às 00:25 da QI 25 de Abril de 1974, a canção "Grândola, Vila Morena", composta e interpretada por Zeca Afonso, era transmitida na Rádio Renascença, a emissora católica portuguesa, como segunda senha de sinalização da Revolução dos Cravos e como sinal para confirmar o desencadeamento, já verificado, das operações da revolução.

Vítor Alves – uma das mais eminentes figuras do MFA foi quem substituiu Otelo Saraiva de Carvalho no comando das Operações no Quartel da Pontinha, cerca das 16 horas do dia da revolução e foi ainda o redactor do primeiro comunicado do MFA, divulgado à população, no 25 de Abril.

(fontes: diversas, designadamente o blog Aventar, CITI/Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e um trabalho de “Mapa das Ideias” para a CM de Odivelas)
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Foi há 18 anos (1993), uma TR: morreu em Lisboa, aos 69 anos, Natália Correia (1923-1993), açoreana, poetisa, romancista, ensaísta e pintora. Era Mário Soares o PR. Pontificava João Paulo II (264º).
Foi directora da revista “Vida Mundial”.
Entre outras, refira-se a sua obra “Dimensão Encontrada”, 1º edição, Edição da Autora, 1957. E também “O Sol nas Noites e o Luar nos Dias”, nºs I e II, Edição Projornal, 1ª edição, 1993.
Foi, também, deputada. Pelo PSD.
Natália Correia era um espírito franco, aberto, alegre, nada conservador, liberal. E a propósito trago à colação uma das suas pertinentes e bem-humoradas “intervenções” na Assembleia da República quando se discutia a legalização do aborto. Numa dessas sessões o infeliz deputado do CDS João Morgado teve uma não menos feliz e polémica intervenção ao afirmar que, em abono da sua tese de proibição do aborto, o acto sexual visava apenas a procriação.
Claro que Natália Correia não ia deixar escapar um momento destes sem o pôr em causa e sem o cobrir de ridículo. E, pouco depois, já circulava pelas bancadas da Assembleia, para gáudio de todos, o seguinte

“«O acto sexual é para ter filhos»
- disse ele
Um poema de Natália Correia
a João Morgado (CDS)


«O acto sexual é para ter filhos – disse com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate anteontem sobre a legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fazia rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:

«Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado.»


In Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982”
(e transcrito no II daqueles volumes de “O Sol nas Noites e o Luar nos Dias”, a págs 195)

quarta-feira, março 09, 2011

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos,
revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades.
Relembro datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.
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ESTAMOS NA QUARTA-FEIRA DIA 09 DE MARÇO DE 2011 (MMXI) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2764 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4707 a 4708 do calendário chinês
Ano 5771 a 5772 do calendário hebraico
Ano 1432 a 1433 do calendário islâmico

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2011 é o ANO EUROPEU DO VOLUNTARIADO

e

é, também, o ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA

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Sublinhemos três efemérides que hoje se comemoram:

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Foi há 932 anos (09.03.1074), um DM: O papa Gregório VII (157º na sucessão a contar com S. Pedro), eleito em meados do ano anterior, excomungou todos os padres casados.
Gregório VII fora frade beneditino. Foi, por excelência, o representante das pretensões temporais do papado medieval. Deu os primeiros passos para a codificação da legislação eclesiástica e foi por insistência sua que o celibato dos padres se tornou COSTUME (ao cabo e ao resto nada mais que isso) na Igreja católica.
Portugal, por essa época, ainda não existia. Cerca de onze anos depois, "por notável coincidência, no mesmo dia em que S. Gregório VII agonizava em Salerno, o rei Afonso VI de Leão conquistava aos mouros a cidade de Toledo (25.05.1085)" (Pe Miguel Oliveira, História Eclesiástica, pág 69).
Ora, Afonso VI era não só rei de Leão como também de Castela – donde a designação de Imperador - e foi o pai de D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques), logo, avô do nosso primeiro rei.
E, já agora, esse mesmo Afonso VI era neto de Afonso V, rei de Leão (m. 1027), porque filho de sua filha D. Sancha, que casou com Fernando de Castela (Fernando Magno - que morreu em 1065) e que levou como dote exactamente o reino de Leão.
Portanto, o nosso primeiro monarca, D. Afonso Henriques, era neto de Afonso VI e trineto de Afonso V. Explicando melhor, temos a seguinte ordem genealógica (mais próxima do início da nacionalidade portuguesa): Afonso V » D. Sancha » Afonso VI » D. Teresa » D. Afonso Henriques.
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Decorreram 555 anos, foi a 9 de Março de 1451, uma TR: nasceu Américo Vespúcio, navegador italiano ao serviço da Espanha. Em Portugal reinava D. Afonso V (12º). Na cátedra de Pedro sentava-se Nicolau V (208º).
Américo Vespúcio nasceu no mesmo ano em que se crê que tenha nascido Cristóvão Colombo e um ano antes de ter nascido Leonardo da Vinci.
Seu nome foi dado ao novo continente descoberto por Cristóvão Colombo, a América.
Em 1505, o rei Fernando, o Católico, concedeu-lhe a cidadania castelhana.

Recapitulando a matéria – e porque vem a propósito: Cristóvão Colombo partiu do porto andaluz de Palos, a 3 de Agosto de 1492, com três pequenos navios, o Niña, o Pinta, e o navio almirante, por ele comandado, o Santa Maria, com a intenção de chegar à Índia (que ele pensava atingir rumando a Ocidente, atravessando o Atlântico). Mas a viagem terminaria na América… (A equipa de assessores de D. João II, nesta matéria, é que tinha razão).

«Ao cair a noite de 11 de Outubro
D. Cristóvão pensa ter visto ao longe uma luzinha.
Mas cala, ajoelha-se e reza.
Amanhã será o fim do prazo prometido.
Possa ele ser amparado pelo que seu Anjo da Guarda...
Às duas da madrugada de 12 de Outubro,
mas a lua a cintilar sobre as ondas, do alto da Pinta um gajeiro grita:
- Terra, aleluia, agora é terra, é mesmo terra!
Realmente a palidez de um areal.
Mais ao longe colinas e montes, sombreado.
Trinta e três dias de viagem. Chega a alvorada e desembarcam.
Ajoelham-se na praia. Benzem-se, oram, contrição.
Um povo desnudo e pacífico contempla-os. Os corpos cor do cobre, os olhos rasgados. Não será Cipângu. Não será Catai ainda.
Mas certamente a Ásia, certamente a Índia.
D. Cristóvão aponta, define: - Índios ! São índios !
O Anjo assopra-lhe que tem razão.
(…)
Primeira ilha da Ásia recém descoberta por Ocidente!
Como se chama ? O Anjo assopra e D. Cristóvão dá-lhe o nome de S. Salvador.
Está perto do continente [um novo continente que virá a ser chamado América, porque será Américo Vespúcio o primeiro a divulgar as aventuras que nele viveu – esclarece o autor], sabe disso. Irá pisá-lo mais tarde, numa próxima viagem».
(Excertos de Vidas Lusófonas, Online, de Fernando Correia da Silva)
Índio, indígena ou nativo americano são nomes dados aos habitantes da América antes da chegada dos europeus, e os seus descendentes actuais. O termo "índio" provém do facto de que Cristóvão Colombo, quando chegou à América, estava convencido de que tinha chegado à Índia, haja em vista que o gentílico espanhol para a pessoa nativa da Índia é índio, e dessa maneira chamou os povos indígenas que ali encontrou. Por essa razão também, ainda hoje se refere às ilhas do Caribe como Índias Ocidentais.
Porém, a hipótese mais aceite e verosímil para a sua origem é que os primeiros habitantes da América tenham vindo da Ásia atravessando a pé o Estreito de Bering, no final da idade do gelo, há 12 mil anos.


Vê-se aqui a evolução do trecho de terra que ligava o nordeste asiático às Américas. A teoria mais aceite para a origem dos ancestrais dos povos ameríndios, é a de que eles seriam povos nómadas caçadores-colectores (logo, situando-se, no tempo, entre os 2,5 milhões de anos a.C. e 10 000 a.C.) que atravessaram a pé este trecho que ligava o continente asiático à América e uma vez na América, foram migrando em direcção ao sul. Uma das etnias ameríndias que tem mais parentesco com os povos do nordeste asiático são os esquimós.

Explicitando melhor, até recentemente, a interpretação mais largamente vencedora, baseada nos achados arqueológicos, era de que os primeiros humanos nas Américas teriam vindo numa série de migrações da Sibéria para o Alasca através de uma língua de terra chamada Beríngia, que se formou com a queda do nível dos mares durante a última idade do gelo, entre 24 e 9 mil anos atrás. (Imagem e anotação da Wikipédia)
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Estão decorridos 493 anos (09.03.1513), foi numa QA: Giovanni di Lorenzo de Medicis é eleito papa, escolhendo o nome de Leão X. Em Portugal reinava D. Manuel (14º).

A subida ao trono de D. Manuel I foi um
autêntico caso de pura e rara fortuna
para a qual contribuíram bem diferentes situações:
na realidade nada faria prever que, ao nascer em Alcochete no último de Maio de 1469,
D. Manuel viesse a ser Rei de Portugal.
Vejamos:
A linhagem normal sucessória (digamos assim) que começara no filho primogénito
(porque varão) de D. Duarte, D. Afonso V,
e se transmitira ao filho do Africano, o príncipe perfeito, D. João II,
foi aqui interrompida, por falta de sucessor legítimo.
Efectivamente, D. Afonso V, que ficara viúvo com menos de 24 anos,
morreu 25 anos depois sem ter casado de novo nem ter tido mais filhos.
D. João II teve, de facto um filho, D. Afonso, que morreria,
já casado mas sem filhos, muito novo, em 1491,
num desastre de cavalo na Ribeira de Santarém.
Por outro lado, D. João II morreu também muito novo (com 40 anos)
e tinha apenas uma irmã que seguira a vida religiosa (Santa Joana Princesa).
Ou seja, no momento da sucessão ao trono (Outubro de 1495)
houve necessidade, de recorrer a outra linhagem,
à do segundo filho de D. Duarte, D. Fernando, 2º duque de Viseu que,
porém, também perecera antes daquela data, em 1470.
Assim, seria na descendência de D. Fernando que recairia a herança do trono.
Mas, o mais curioso é que, da sua vasta prole masculina,
todos os filhos de D. Fernando, à excepção do mais novo, D. Manuel
(D. João, D. Diogo, D. Duarte, D. Simão e D. Dinis),
morreram até 1484.
Quem poderia, pois, prever na data do nascimento do duque de Beja
- o mesmo D. Manuel -
que ele, fora da linha normal sucessória
e, mesmo aventando a mais remota hipótese de sucessão da linha secundária,
ocupando um longínquo sétimo lugar, viria a ser rei de Portugal?
Tirando os casos de D. Afonso Henriques e de D. João IV,
D. Manuel viria, mesmo, a ser o único rei que não era filho de rei
(aliás, não contando com D. Sebastião,
que não sendo, também, filho de rei era, contudo, neto
– de D. João III, tal como D. Manuel era neto de D. Duarte –
com uma diferença entre ambos:
é que D. Sebastião sucedeu naturalmente ao avô, enquanto que o Venturoso, não.
Este sucedeu ao primo – e cunhado – D. João II)
- Colecção Reis de Portugal, do Círculo de Leitores, XIV, D Manuel I, de João Paulo Oliveira e Costa,2005, pág 25

Voltando ao fio da meada, curiosamente, quer o papa quer o monarca português morreram em datas muito próximas: Leão X a 01.12.1521, D. Manuel, onze dias depois, a 12.12.
Leão X (217º), era filho de Lourenço de Medicis, o Magnífico. E como sabemos, Lourenço reunia na sua corte uma notável plêiade de artistas, filósofos, humanistas, homens de letras e de ciências, tornando-se o mais generoso dos mecenas.
Os Médicis deram à Igreja 3 papas: o acabado de referir Giovanni L. de Medicis, Leão X (217º), que foi papa de 1513 a 1521; Júlio de Médicis, que adoptou Clemente VII (219º), contemporâneo do nosso rei D. João III, cujo pontificado decorreu de 1523 a 1534; por fim Leão XI (232º), Alexandre Otaviano de Médicis (1535–1605), cujo pontificado – no tempo em que reinava em Portugal Filipe II – apenas durou 26 dias, de 1 a 27 de Abril de 1605. Há, porém, quem considere um quarto papa Médicis, o Papa Pio IV (1559-1565), nascido Giovanni Angelo de Medicis, de pais modestos, que nem pertenceriam ao ramo principal da família, mas que adoptou o seu brasão.

Mas recuemos um pouco: em síntese diremos que Salvestro de Médicis (1331-1388), obscuro ditador de Florença, expulso e desterrado em 1382, assim como Averardo Bicci de Medicis, também pouco abastado, terão sido dois dos fundadores da que se tornaria famosa família de banqueiros de Florença.
João de Bicci de Médicis (1360–1429), filho daquele Averardo, banqueiro, foi quem restaurou a fortuna da família que se tornou a mais rica da Europa, e este é que é geralmente apontado como o fundador da poderosa e famosa família dos Médicis. Mas seu filho, Cosme de Médicis (Cosmo, o Velho (1389–1464), é que costuma ser considerado o fundador da dinastia política dos Médicis.
Poderemos, contudo, recordar outros Médicis renomados que ocuparam vários tronos na Europa, além dos mencionados que passaram pela cadeira pontifícia. Entre os primeiros contam-se Lourenço de Médicis (Lourenço, o Magnífico (1449–1492), governante de Florença durante a Idade de Ouro da Renascença; Cosme I de Médicis (Cosimo I, o Grande: 1519–1574), primeiro Grão-Duque das Toscana; Catarina de Médicis (1519–1589), Rainha de França, mulher de Henrique II; Maria de Médicis (1573–1642), Rainha e Regente de França e Francesco I de Medicis, Grão-Duque da Toscana, filho de Cosimo I, a quem sucedeu como regente em 1564 casou com Joana de Áustria de quem teve 7 filhos. Joana foi a filha mais nova de Fernando I, Sacro Imperador Romano e Ana da Boémia e da Hungria. Pelo casamento, ela era a princesa da Toscana Grande e mais tarde a Grã-Duquesa da Toscana. Uma de suas filhas foi a já mencionada e famosa Maria de Médicis , a segunda mulher do rei Henrique IV de França.


Assim, Médicis é o nome da mais célebre família ducal da república florentina. E recordo que foi principalmente Giovanni (de Bicci) de Médicis (falecido em 1429) – o banqueiro mais rico da Itália - o iniciador da grandeza da família, que deixou aos seus dois filhos - (Cósimo e Lourenço) uma herança de riqueza e honrarias nunca até então igualadas.
Com Cosme de Médicis (Cósimo de Medici: 1389-1464), a quem chamaram “Pai da Pátria”, começou a época gloriosa dos Médicis. E com o neto deste, Lourenço, o Magnífico (1449-1492), Florença atinge o apogeu, quer no poder político, como nas realizações artísticas, nas letras, nas artes plásticas.

Voltando aos papas da família Médicis, no dia 21 do mês anterior (Fevereiro de 1513) finara-se o antecessor de Leão X, o papa Júlio II.
Leão X nasceu em Florença, na família Medici, recordo de novo, (João de Médicis de seu nome, como vimos) em 11.12.1475. "Deram-lhe uma educação brilhante. Desde os sete anos recebera grandes benefícios eclesiásticos e aos 12 anos era cardeal." Por morte de Júlio II foi eleito papa, com apenas 37 anos de idade.
Tomou diversas providências em matéria religiosa.
Foi patrono das artes e das letras.
Em política, lutou pela independência da Itália do domínio estrangeiro.
Manteve relações amistosas com o nosso rei D. Manuel I, por mor dos empreendimentos missionários dos portugueses em África e na Ásia.

De início não se apercebeu de todo o perigo e toda a gravidade que envolvia o movimento de Martinho Lutero. Tentou, mesmo, o diálogo com ele, mas acabou por excomungá-lo, pedindo a Carlos V que o prendesse. Era mais um príncipe esclarecido e magnânimo, do que um homem de Igreja zeloso ou um asceta.

Foi a este papa que D. Manuel I enviou a célebre embaixada, em 1514, chefiada por Tristão da Cunha. E por esse motivo Leão X conferiu ao monarca português a Rosa de Ouro e um chapéu e uma espada benzidos por ele na noite de Natal.
Em 1514 criou o bispado do Funchal.

Em 15.04.1516, uma Terça, beatificou a Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, a instâncias de D. Manuel, por breve dessa data e “só para Coimbra e seu bispado”. (A mesma Isabel de Aragão seria canonizada em 25.05.1625, pelo papa Gregório XV (234º), no reinado de Filipe III)

Em 1517 elevou ao cardinalato o infante D. Afonso, que contava apenas 8 anos de idade.
Esmiuçando, porque curioso:
o Infante D. Afonso nasceu em 1509. Era filho de D. Manuel I,
que pretendera fazê-lo nomear cardeal aos 3 anos de idade!
Mas o pedido foi indeferido por inconstitucionalidade:
o concílio de Latrão estipulara que não podia ser “dada catedral a menores de 30 anos”.
D. Manuel I conseguiu, no entanto, que o Infante fosse investido no arcebispado de Braga, ainda criança.
E, pouco depois, tendo enviado ao Papa a famosa embaixada de Tristão da Cunha, em 1514,
com as primícias dos descobrimentos
(até um elefante, como nos recordamos todos, fazia parte dessa luxuriante embaixada)
e testemunho de obediência,
acabou por conseguir que o Papa Leão X elevasse a cardeal o Infante D. Afonso,
aos oito anos, em 1517.
Foi o 10º cardeal português.

Segundo Canaveira, Leão X (217º), para encher o Vaticano das obras de arte que tanto apreciava, abusou das indulgências e dividiu para sempre a "christianitas". Foi ele, e não o monge agostinho de Vitemberga (Martinho Lutero), que ele excomungou através da bula Exsurge, de 15.06.1520), o verdadeiro causador da Reforma protestante.

Voltando à arte, uma curiosidade:
diz-se que o qualificativo gótico/gótica, para designar o estilo ou a arte que nascera e se desenvolvera no Norte da França, teve origem numa comunicação de Rafael ao papa Leão X.
Aí era referida a arte gótica num sentido pejorativo, onde gótica equivalia a bárbara - o que se compreende se nos lembrarmos que se vivia, então, o apogeu da Renascença clássica.

A Leão X sucedeu Adriano VI (218º), que era holandês (em termos actuais) e foi o último papa não italiano até João Paulo II (264º), 456 anos depois, o polaco que o século, recentemente, conheceu como Karol Józef Wojtyła (1920–2005), Sumo Pontífice de 16 de Outubro de 1978 até a sua morte em 2.4.2005 (26 anos), a quem sucedeu o cardeal alemão Ratzinger (1927), o pontífice actual, Bento (ou Benedito) XVI.


Uma última nota:
“Leão X (1513-1521) [...] os registos de sua carreira resumem aquele tempo com todas as suas tendências. Ele tinha recebido o chapéu [cardinalício] do papa Inocêncio VIII, na idade de 13 anos – uma condição entre o papa e seu pai, Lourenço, o poderoso governante de Florença – até então contra os pontífices. Leão X, no seu 1° consistório, deu o chapéu a um neto de Inocêncio VIII, o qual era também seu próprio sobrinho, pois – segundo item do pacto – a irmã de João de Médici (Leão X) se tinha casado com o filho natural deste papa.”
(Fonte: HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. Dominus Editora S.A. São Paulo, 1962)
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