sexta-feira, novembro 21, 2008

À MARGEM/NO RESCALDO DAS US2008 - IV

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Na Super Terça-feira, a primeira de Novembro do ano da eleição do Presidente, que ocorre de 4 em 4 anos, os eleitores dirigem-se às assembleias de voto, onde lhes é entregue um “sui generis” boletim de voto, de 4 compactas páginas, com as mais variadas e surpreendentes questões que se põem ao cidadão eleitor, a principal das quais, estou em crer, se prende com a eleição dos candidatos a presidente e a vice-presidente dos EU para um próximo mandato.
Os eleitores nesta sua intervenção, escolhem os representantes do partido da sua preferência que irão integrar o Colégio Eleitoral para, esses sim, elegerem o Presidente e o Vice-presidente.
O colégio Eleitoral – melhor dizendo: os 51 colégios eleitorais (porque tudo ocorre na capital de cada um dos 50 Estados federados e na capital federal) – reunirão, pois, na Segunda-feira que se segue à segunda Quarta-feira de Dezembro seguinte para eleger aquele Chefe de Estado e simultaneamente Chefe do Executivo, além do correspondente Vice-presidente.
Esta, uma resumida síntese do acto eleitoral que deixa o mundo suspenso. Doutros pormenores nos dá o nosso amigo e “correspondente” informação em mais duas mensagens que se seguem, que dele recebi ontem.
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16 dias depois...
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finalmente...
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há fumo branco...

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Caros amigos,
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Imagine-se que nome do Presidente da República de Portugal só era sabido 16 dias depois das eleições. Seríamos uma República das Bananas, pelo menos...
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Falemos agora desta República...
Finalmente, sabe-se a composição do Colégio Eleitoral que elegerá o próximo Presidente dos EUA: 365-173.
Foi reconhecida a vitória a McCain no Estado de Missouri, tendo em conta que os votos que faltava contar são em número inferior à diferença de votos entre os dois principais candidatos. Quanto aos outros candidatos, continua a nada saber-se.
Outro assunto de que se não fala é do processo eleitoral no Estado do Nebraska, que elegeu 4 delegados de McCain e um de Obama. Ainda não sei a razão que leva este Estado a ser diferente de todos os outros. Certamente porque, um dia, assim decidiram. Mas, o que gostaria de saber (e ainda o virei a saber) é a razão porque é assim.
Feitas as contas, Obama terá 365 votos no Colégio Eleitoral e McCain terá 173. Isto é, Obama, que teve 53% dos votos a nível nacional, terá 68% dos votos no Colégio Eleitoral. McCain, que teve 46% dos votos, terá 32% na votação do Colégio Eleitoral. Argumentará muita gente "Isso que interessa... de qualquer forma Obama ganhou..." e é verdade. Pela simples razão que ganhou com margem suficiente para não haver dúvidas.
Mas recordemos 2000. Gore teve mais 500 mil votos do que Bush a nível nacional. E Bush ganhou, porque teve mais votos no Colégio Eleitoral...
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Fica a questão. Será possível que, um dia, a eleição do Presidente dos EUA seja directa e decidida pelos cidadãos que, de facto, votam?
Será possível haver uma reforma do sistema eleitoral?

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Colégio Eleitoral
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Caros amigos,
Um de vós perguntou-me se sabia como e quando se reunia o Colégio Eleitoral. Como não sabia tive de ir estudar o assunto.
Aqui vai a resposta que lhe enviei e que aproveito para enviar a todos.
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Já encontrei a resposta para a sua questão.
O Colégio Eleitoral reúne sempre na primeira segunda-feira depois da segunda quarta-feira de Dezembro.
A reunião é feita nas capitais de cada Estado! Isto é, o Colégio Eleitoral nunca se reúne como um todo. Há 51 reuniões distintas! As dos 50 Estados mais a da capital, Washington DC.
Nestas reuniões os eleitores votam (por voto secreto) no Presidente e no Vice-Presidente.
Findas as votações e as contagens de votos, as respectivas actas são enviadas para o Presidente do Senado (que é por inerência de funções o Vice-Presidente em funções, neste caso Dick Cheney) por correio registado.
À medida que as actas (Certificates of Votes) vão chegando são classificadas por ordem alfabética e guardadas em duas caixas especiais. Numa, ficarão os resultados de Alabama até Missouri, incluindo Washingtom DC. Noutra, ficarão os resultados dos restantes Estados, de Montana a Wyoming.
Todos estes documentos servirão para a contagem dos votos e a declaração do vencedor, o que ocorre sempre, numa sessão especial do Congresso a realizar no sexto dia do mês seguinte ao da votação no Colégio, isto é, em Janeiro.
Se se registar um empate na contagem de votos entre os candidatos a Presidente, será a House of Representatives que desempatará. Isto aconteceu duas vezes nas eleições americanas (em 1801 e em 1825).
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Espero que se tenham divertido.
Um abraço,
fernando
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PS: O Presidente toma posse no dia 20 de Janeiro (numa cerimónia chamada United States Presidential Inauguration, ou mais simplesmente Inauguration Day). Só a partir dessa data é que é o novo Presidente dos EUA. Fala-se que estarão presentes (nas ruas de Washington DC) 4 milhões de pessoas... Mais um record a juntar a outros em que estas eleições foram pródigas...
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domingo, novembro 16, 2008

À MARGEM/NO RESCALDO DAS US2008 - III

foto Jason Reed/Reuters
para um post em que
em dois textos se fala de lágrimas...
que imagem escolher?
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“E SE OBAMA FOSSE AFRICANO?”
“E SE OBAMA NÃO FOSSE DO PARTIDO DEMOCRÁTICO?”

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Aconteceu-me o mesmo: recebi de várias origens o belo texto de Mia Couto, em primeiro subtítulo e de que abaixo se fala... E tinha-o na calha para reenvio.
Esta coincidência de tão belas e tocantes miacoutianas palavras acerca de Obama, vindo de tantas procedências, travou-me um pouco o ímpeto de o reenviar, imaginando-o como que um “chover no molhado”. Para mais agora, com mais esta mensagem proveniente dos States, do nosso caro Fernando Almeida Sousa Marques, enviada hoje mesmo.
Mas, claro que segue o texto de Mia Couto, aqui em complemento a semelhante de Fernando Marques, paráfrase daquele do moçambicano escritor.

Já agora, e a propósito desta postagem: quem diz que um Homem não chora?


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um "pequeno" comício do Senador ora Presidente

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“E SE OBAMA NÃO FOSSE
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DO PARTIDO DEMOCRÁTICO?”
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Caros amigos,
Recebi, por várias vias, um lindíssimo texto de Mia Couto (mais um) chamado "E se Obama fosse africano?" que aqui vai para os que ainda não o leram.
Mas apeteceu-me, numa vontade avassaladora, escrever também um texto chamado "E se Obama não fosse do Partido Democrático?"
Trata-se apenas de acrescentar uma reflexão mais. Sobre a mitigada democracia americana. Particularmente para os que descobriram, agora, virtudes, onde, antes, só havia defeitos. E, também, para os que apenas acedem à informação vendida, nos intervalos da publicidade, por noticiários pré-formatados, por comentadores que repetem banalidades, por gente que precisa dessas actividades para sobreviver financeira ou politicamente.
Aqui vai.
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E SE OBAMA NÃO FOSSE DO PARTIDO DEMOCRÁTICO?

Também chorei na noite eleitoral. Por muitas razões, uma das quais por ter sentido a vitória de Obama como um pouco minha também. Fiz o que pude para ajudar.
Mas...
... a vida política americana é dominada por dois partidos e, tudo o resto, é chamado de "independente". Em todos os discursos dos políticos americanos (o próprio Obama), de jornalistas e comentadores, de gente bem ou mal pensante, o que se ouve é "Democratas, Republicanos e Independentes", ou "Republicanos, Democratas e Independentes", ou mais simplesmente "Republicanos e Democratas".
Se Obama não fosse do Partido Democrático, seria "independente", mesmo que estivesse filiado noutro partido. E, para além disso...
... Não teria falado na Convenção de 2004, a convite de Kerry, fazendo uma brilhante intervenção transmitida em directo pelos principais canais da televisão.
... Não teria sido eleito para o Senado de Illinois.
... Os seus livros talvez não tivessem sido publicados e, se o fossem, não teriam a aceitação que tiveram.
... Seria um entre milhares de activistas pelos direitos cívicos que ninguém conhece.
... Ainda estaria a pagar o empréstimo que lhe foi concedido para tirar o curso em Harvard.
... Dificilmente viria a ser candidato a qualquer coisa, a menos que se inscrevesse num dos muitos Partidos que existem nos EUA. Existem muitos Partidos nos EUA! Alguém sabe?
... Se conseguisse ser candidato a Presidente dos EUA não teria acesso aos meios de comunicação social, como aconteceu com mais de uma dúzia de candidatos (de outros Partidos) de que a maior parte das pessoas desconhece a existência.
... Quando se contassem os votos, deixaria positivamente de existir, porque, como quase toda a gente sabe só havia dois candidatos; tudo o resto não tinha interesse, nem jornalístico, nem cultural, nem social.
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Talvez estejam a ler com surpresa o que escrevo. No entanto, os que melhor me conhecem não estranharão.
Fez-se História ao eleger Obama.
Mas é bom que se tenha consciência das circunstâncias da História.
É bom, também, que não se considere esse acontecimento como um fim em si próprio, mas como uma etapa mais do processo histórico.
Será bom que a esperança que Obama despertou dê frutos e não estiole. Estarei presente. Mas...
O mundo aguarda. Os abutres também.
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Um grande abraço,
fernando

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E SE OBAMA FOSSE AFRICANO?

Por Mia Couto
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
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sábado, novembro 15, 2008

À MARGEM / NO RESCALDO DAS US2008 - II

NA HORA DA VITÓRIA E DA CONSAGRAÇÃO


Obama é eleito presidente dos EUA from Leandro Meireles Pinto on Vimeo.


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Depois deste pequeno vídeo sobre a hora da merecida vitória... Vejamos...
Números, análises comparativas, novelas, estórias da história...
Fernando Marques vai-nos pondo a par do “como” para melhor percebermos o “porquê”...
Teia deveras complicada a das eleições nos States.


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Euforia e emoção no Grant Park de Chicago na noite da vitória...

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Missouri e Portugal;
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Alaska, Minnesota e Georgia;
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quem ganhou?
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USA, Florida, 13 de Novembro de 2008



Caros amigos,

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Na noite das eleições costumamos ouvir os discursos de sempre.
Uns cumprimentam os vencedores, esquecendo os nomes que lhes chamaram.
Outros cumprimentam os vencidos e dizem-se representantes de todos.
Os mesmos todos que tecem loas à democracia.
Os jornalistas (quase todos) ajudam à festa.
E preparam-se para partir para outra porque esta já não tem "interesse jornalístico".

2
Dos cinquenta Estados Americanos só há 8 com mais população do que Portugal: California (mais de 36 milhões), Texas (>23), New York (>19), Florida (>18), Illinois e Pennsylvania (>12), Ohio (>11) e Michigan (>10).
Portugal seria, em número de habitantes, o nono Estado.
Agora imaginem que, passados nove dias das Eleições Presidenciais em Portugal, ainda não se soubesse quem era o futuro Presidente.
Aconteceu em 2000, entre Gore e Bush, no meio das trapalhadas das eleições na Florida.
Está a acontecer de novo, em 2008, no Estado de Missouri, onde ainda não se sabe quem ganhou!
Pelos vistos ninguém se incomoda. Não tem interesse jornalístico...

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Missouri tem, segundo o último censo, 5 878 415 habitantes. Pouco mais de metade de Portugal. Como não estão contados todos os votos e há dúvidas nos que foram contados, não se sabe quem ganhou! Neste momento, McCain tem mais 4 990 votos do que Obama. Em pouco mais de 2 milhões e oitocentos mil votos contados...
Se isto se passasse em Portugal o que se diria!
Por aqui, aguarda-se a contagem e recontagem e o anúncio do vencedor...

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O mais grave de tudo isto é que se provou, uma vez mais, que o sistema eleitoral americano não está preparado para resultados equilibrados. A margem de erro do sistema é superior a pequenas diferenças no número de votos. Se Obama não tem ganho claramente na Florida, no Ohio, na Virgínia, em Nevada, no Colorado, em New Mexico, na Pennsylvania, etc, estaríamos de dedo na boca à espera dos resultados.
Acham que é normal?
Aqui é!

5
Mas há mais. No dia 4 de Novembro houve eleições para alguns lugares no Senado, para alguns lugares na House of Representatives (câmara baixa do Congresso), para Sheriffs, para os mais diversos cargos e ainda para referendos às Constituições de vários Estados.
Um dos assuntos referendados era o da proibição de casamentos entre homossexuais, por exemplo.

6
Na Georgia paira um mistério. Parece que terão desaparecido votos! Nada se sabe.
Mas, meus amigos, depois de haver filas para votar, durante semanas, em que os eleitores esperavam mais de 4 ou 5 horas (havendo casos de esperas superiores a 8 horas!), parece que o número de votantes terá sido mais ou menos o mesmo de há 4 anos atrás!
Essa mesma Georgia onde se ergue, orgulhosa, à beira da auto-estrada principal que a atravessa, uma enorme bandeira dos Estados do Sul, racistas, do tempo da Guerra Civil...

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Na Georgia há já, no entanto, uma certeza. No dia 2 de Dezembro vai haver eleições novamente, desta vez para eleger um senador. É que, segundo as leis eleitorais deste Estado, para que um candidato seja eleito tem de ter mais de metade dos votos entrados nas urnas. Como o candidato do Partido Republicano não o conseguiu, haverá uma segunda volta.
Adivinhem quem anda pela Georgia a fazer campanha eleitoral...
McCain, Romney, Giuliani, Huckaby e montes de outras ilustres personalidades do Partido Republicano...
Andam de cabeça perdida...
A equipa de Obama está em força na Georgia, a fazer o trabalho de sapa que andámos, pelo país todo, a fazer durante dois anos.
Essa mesma Georgia onde se ergue, orgulhosa, à beira da auto-estrada principal que a atravessa, uma enorme bandeira dos Estados do Sul, racistas, do tempo da Guerra Civil...
Não é engano. Fui eu que repeti a frase. Vocês podem não compreender, mas eu vi, com os meus próprios olhos, a enorme bandeira desafiadora!

8
No Alaska a história é outra.
Foi anunciada a vitória do candidato Republicano ao Senado (aliás, o mais antigo Senador Republicano). Tinha uma vantagem de uns milhares de votos. Mas faltava contar dezenas de milhares de votos...
Eram votos que davam uma maioria a Obama e ao candidato do Partido Democrático e que, a partir de certa altura, deixaram de ser contados.
Por força do controlo democrático houve que recomeçar a contar votos.
Ontem foi anunciado que faltava contar ainda 35 mil votos e que o candidato do Partido Democrático estava com mais 3 votos que o velho Republicano.
Continuamos a aguardar!

9
Aliás há outra história dentro desta história.
O tal velho senador Republicano tem um processo às costas por corrupção e, mesmo que seja eleito, será expulso do Senado!
Se perder as eleições (parece que é o que vai acontecer) o assunto fica arrumado.
Mas se ganhasse e fosse expulso do Senado teria de ser substituído. A mais forte candidata ao lugar seria uma senhora que está em bicos dos pés para o conseguir, depois de afirmar que o cargo de Governadora do Alaska é o melhor emprego do mundo!
Sarah Palin, claro! A Sarah do Alaska, como ela gosta de se chamar!!!

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Em Minnesota a história é, ainda, outra.
Passa-se o mesmo que na Florida 2000! Há recontagem de votos.
Ontem dizia-se que se saberá o resultado final antes do Natal! Deste ano, penso eu...
O candidato do Partido Democrático está a 205 votos da vitória (votaram mais de 2 milhões e 800 mil pessoas). Ele tem 1 211 359 votos, enquanto o candidato do Partido Republicano tem 1 211 565 e um terceiro candidato tem 437 389.

11
A parte interessante deste romance eleitoral para o Senado é que, se os candidatos do Partido Democrático ganharem estas 3 eleições, passará a haver uma maioria qualificada no Senado (60 Senadores do Partido Democrático e 40 do Partido Republicano). Esta correlação de forças impedirá o Partido Republicano de travar processos legislativos que exijam uma maioria de 2/3 dos votos no Senado!
Aqui está, talvez, uma das explicações para tanta trafulhice...
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12
Por hoje é tudo.
A conversa vai longa e a crise não deixa de se aprofundar.
As previsões da OCDE e do FMI para as economias americana e europeia são dramáticas.
Teremos um próximo ano de recessão.
Sem fim à vista.
E há ainda muita gente que insiste em meter a cabeça na areia e esperar que a tempestade passe. O mais grave é que algumas destas avestruzes estão nos poleiros dos poderes...
...
Um abraço,
fernando
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À MARGEM / NO RESCALDO DAS US2008 - I



Hesitei em deixar aqui esta mensagem de 11 do corrente, do “nosso enviado especial” às presidenciais dos States 2008, na sua totalidade, por razões óbvias. (Isto – as tais óbvias razões -, claro, para os que me conheçam)
Mas deixá-la truncada, não correspondia ao desejo e intenção de Fernando A S Marques.
Assim, e embora com atraso, deixo o registo completo.



equipa de voluntários, da campanha de Obama, de que fazia parte
Fernando Almeida Sousa Marques (na foto, o último da nossa direita)



11 de Novembro de 2008 14:11

Caros amigos,
Surpreendentemente recebi uma carta de um amigo de um amigo, que agora amigo é, que dizia coisas como estas:
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Meu caro amigo Fernando S Marques
Não estranhe o tratamento. Mas sendo o Fernando amigo do CSP, que é meu amigo de bem longa data (uns 40 anos, ou por aí próximo), acho que somos amigos, eu e o Fernando, desde, pelo menos, que vocês o são. Pese, embora, não nos conhecermos ainda pessoalmente.
Apreciei, vivamente, as suas crónicas enviadas da Flórida, acerca desta explosiva e sensacional – e única, estou certo – campanha presidencial dos States. Foi um importante guia e um valioso complemento em relação ao que os media nos iam oferecendo.
Foi uma mais valia de que, uns tantos, pudemos beneficiar.
...
Não o quero desarmar, nesta minha abordagem, e devolver-lhe o "suspense" com que costumamos encarar um primeiro "encontro" com alguém, mas sempre lhe direi que achava difícil que um americano, fosse ele de que quadrante geográfico fosse, e tivesse ele a tez que tivesse - mas que nos EU, teria de ser, necessariamente, democrata -, repito, sempre me causou apreensão o receio de uma impossibilidade de qualquer alteração na política agressiva e de autoritário controlo geoestratégico do globo, entre outras maléficas influências e atitudes, por parte de um presidente americano... Achava-o (será que acho, ainda?) – o volte face – extraordinariamente difícil, senão impossível.
A realidade, muito crua, porém, é que Obama foi eleito pelo voto muito explícito e bem expresso dos americanos... Para prosseguir os interesses destes.
Na mais fria análise, matéria iniludível, objectivo inelutável.
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Na verdade, será pedir e expectar excessivamente, mas ainda me resta alguma esperança de que esse cavaleiro deste apocalipse em que nos encontramos, Barack Hussein Obama (não há ter medo dos nomes), possa dar um primeiro passo nessa direcção.
É que, por mais pessimismo que me revolva o íntimo e as entranhas, a verdade é que me parece impossível que o Mundo prossiga eternamente nesta rota de uma política destrutiva e assassina relativamente ao ambiente e à fome, miséria e toda a espécie de carências e marginalizações de que a grande maioria dos tristes e involuntários habitantes deste terráqueo planeta são vítimas.
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Há um interesse, nosso, nesta activa participação?
Mas ele é demasiado evidente para poder ser ignorado.
Sendo certo, contudo, que se trata de um interesse, não pessoal nem mesquinho, mas para bem de toda a Humanidade.
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Pelo interesse das questões e depois de reler a minha resposta, decidi partilhar convosco ambas as prosas...
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Caro amigo JLF,
A vida é feita de muitas coisas, entre elas descobrirmos um amigo numa esquina inesperada.
As mudanças históricas, grandes e pequenas, ajudam a que isso aconteça, seja num encontro de mulheres a lutar pelo direito ao voto (como aqui aconteceu, não há muito tempo, quando os homens brancos já votavam há mais de um século!), seja numa reunião de voluntários organizada num café para inscrever pessoas nos cadernos eleitorais, seja no dia de eleições em que o nosso próprio carro serve para transportar gente que sem ele não votaria, seja no espaço cibernético em que escrevemos uma mensagem mas nunca sabemos por onde ela voará...
Quanto às suas apreensões, são minhas também e de muita gente. Principalmente de pessoas que vivem fora dos EUA e que têm uma visão não alinhada com a dos interesses imperiais.
O complexo político-militar-industrial-financeiro não deixou de existir de um dia para o outro. Os interesses egoístas de uma super potência também não. Tudo isto alimentado por um provincianismo nacionalista e patrioteiro que dificulta ou impede o debate das questões e a reclusão de consciências.
Obama pode ser prisioneiro do seu tempo. Ou poderá dar algum passo mais.
Pode ter cumprido o seu papel. Ou poderá continuar a surpreender os que o menosprezaram.
Pode governar ao centro, em nome da grande América que repetidamente anunciou. Ou poderá não se espartilhar em acordos de conveniência, manobras de bastidores, falsos sorrisos de quem lhe chamou tudo e agora o bajula.
Isso não dependerá apenas dele. O movimento cívico que ajudou a criar terá de continuar a inovar, o que, afirmo-o desde já (até por experiência própria), é muito difícil que aconteça. Mas, para além deste e de outros factores endógenos, outros representarão um papel mais ou menos importante: a comunidade internacional e, principalmente, os mais de 80% que lhe deram o seu apoio e o consideraram o seu Presidente (espero que não adormeçam); a crise sistémica do capitalismo que está longe de ser ultrapassada (e como será?); os problemas concretos que há por resolver (a existência dos Estados da Palestina e Israel é um exemplo).
Thomas Jefferson disse, algures na Virgínia (Estado onde, agora, Obama ganhou e que não era ganho por qualquer candidato democrata há quase 50 anos), que a única utilidade de um negro era ser escravo. Era o que se pensava na altura, o que pensavam todos aqueles que tinham construído fortunas a comercializar escravos e a desenvolver os seus negócios com essa mão-de-obra tão útil e barata. Não é tempo de reescrever a história e de dizer que a Revolução Americana não foi dirigida por patriotas, maçons, democratas inspirados nos princípios e no exemplo da Revolução Francesa. Mas, durante muitos anos, pretos e mulheres não faziam parte dos que actuavam no palco da política. Tinham lugares reservados nos bastidores, donde era bom que não saíssem.
Um amigo meu escreveu-me ontem para sublinhar que os que por aí (e por quase todo o lado, penso eu) falavam da vitória de Obama (jornalistas, comentadores, políticos mais ou menos engravatados) apenas referiam os balões (a cor da sua pele, o sorriso ou a simpatia de Obama, o seu discurso apelativo, a sua mensagem precisa e repetida, a sua mulher educada e inteligente, etc) e desconheciam por completo a capacidade de organização e mobilização de uma equipa que trabalhou na sombra, mas foi a base estrutural da vitória da Esperança sobre o Medo. É o costume. O culto da personalidade é sempre mais fácil que a pesquisa da verdade. A verdadeira notícia, nestes tempos em que o seu tempo de vida é limitado, passageiro e volátil, tem de ser sensacionalista; meter sangue ou lágrimas; divulgar muita violência e mostrar pouca inteligência; tem que ser fácil; tem que responder às necessidades básicas de um público adormecido que não percebe que está apenas no intervalo entre anúncios; tem que ser substituível por outra qualquer notícia igualmente sensacional e falsa porque superficial. Qualquer outra coisa, em vez do lápis azul de outrora, tem uma outra forma de censura ainda mais condenável e largamente divulgada e praticada: a falta de interesse jornalístico! Declarada pelos próprios jornalistas!
Ai a invejazinha... doença infantil do provincianismo português e universal...
Assim estamos, caro amigo. E agora?
Não sei o que se irá passar. Todos sabemos, por experiência própria, que as desilusões só acontecem a quem tem ilusões. Mas também sabemos que houve e haverá figuras que se elevaram e elevarão acima da mediocridade que os rodeava, para marcarem um tempo e um espaço. E ficarem na História. Ficaram na História porque não era isso que os motivava!
Espero que Obama não venha a ser conhecido, apenas, por ter sido o primeiro Presidente de origem afro-americana. Se o for, mais uma vez, houve uma carne para canhão que serviu para ganhar uma batalha, mas foi traída pelo resultado da guerra...
Um abraço,
fernando


Meu caro amigo Fernando S Marques

Não estranhe o tratamento. Mas sendo o Fernando amigo do CSP, que é meu amigo de bem longa data (uns 40 anos, ou por aí próximo), acho que somos amigos, eu e o Fernando, desde, pelo menos, que vocês o são. Pese, embora, não nos conhecermos ainda pessoalmente.

Há entre mim e o C, além de uma grande estima, uma manifesta sintonia política, em termos genéricos, mas que nem um pequeno desajuste nos embaraça ou faz atrapalhar, em nada, um relacionamento de vera e velha amizade, na melhor harmonia, irmanados que estivemos, por exemplo, em lutas pela restauração da democracia e retorno das liberdades (que alguns afirmam e com, pelo menos, aparente razão, estarem de novo em perigo) no nosso país.

Não somos gémeos porque há, entre nós, duas grandes diferenças, tão importantes (!) e essenciais (!) como estas: o Carlos tem ainda menos cabelo que eu (embora eu já tenha pouco), o que significa que sou menos permeável às manifestações de inteligência e cultura que ele.
Por outro lado, e para cúmulo (hélas!), sou muito mais velho que o Carlos (5 meses... Imagine bem a enormérrima diferença) mas, infelizmente, muito menos sensato que ele, e em muito maior medida do que a abissal (!) distância, no tempo, que nos separa.

Apreciei, vivamente, as suas crónicas enviadas da Flórida, acerca desta explosiva e sensacional – e única, estou certo – campanha presidencial dos States. Foi um importante guia e um valioso complemento em relação ao que os media nos iam oferecendo.
Foi uma mais valia de que, uns tantos, pudemos beneficiar.

Apesar do entusiasmo e da dedicação que me mereceu a divulgação das suas crónicas, não posso esconder que me acompanhou sempre, durante esta parte final da campanha, sobretudo, uma certa apreensão...
Não o quero desarmar, nesta minha abordagem, e devolver-lhe o "suspense" com que costumamos encarar um primeiro "encontro" com alguém, mas sempre lhe direi que achava difícil que um americano, fosse ele de que quadrante geográfico fosse, e tivesse ele a tez que tivesse - mas que nos EU, teria de ser, necessariamente, democrata -, repito, sempre me causou apreensão o receio de uma impossibilidade de qualquer alteração na política agressiva e de autoritário controlo geoestratégico do globo, entre outras maléficas influências e atitudes, por parte de um presidente americano... Achava-o (será que acho, ainda?) – o volte face – extraordinariamente difícil, senão impossível.

Certo que a nossa (não americanos, mas democratas) tendência é para ver na (neste momento, e por ora, única) grande potência, melhor, no seu máximo representante, um papel de cidadão do mundo, na colaboração da vigilância, segurança e bem estar do planeta e a convergir nesse sentido com os mais líderes políticos mundiais.

A realidade, muito crua, porém, é que Obama foi eleito pelo voto muito explícito e bem expresso dos americanos... Para prosseguir os interesses destes.
Na mais fria análise, matéria iniludível, objectivo inelutável.

Na verdade, será pedir e expectar excessivamente, mas ainda me resta alguma esperança de que esse cavaleiro deste apocalipse em que nos encontramos, Barack Hussein Obama (não há ter medo dos nomes), possa dar um primeiro passo nessa direcção.
É que, por mais pessimismo que me revolva o íntimo e as entranhas, a verdade é que me parece impossível que o Mundo prossiga eternamente nesta rota de uma política destrutiva e assassina relativamente ao ambiente e à fome, miséria e toda a espécie de carências e marginalizações de que a grande maioria dos tristes e involuntários habitantes deste terráqueo planeta são vítimas.
Não se terão, já, apercebido os poderosos e ricos que tudo se encaminha, nomeadamente, para a sua própria ruína e eliminação?
A longo prazo, pensam eles? Mas, a este ritmo, quem o poderá, assim, perspectivar?

Bom, Caro Fernando, não tenho o direito de lhe roubar tanto do seu precioso tempo.
Tanto mais que terá bem melhores e interessantes, criativas e empreendedoras pessoas a quem dedicar a sua atenção do que a este modesto e apagado escrevinhador.

Mas deixe que lhe preste, desta vez em privado (porque no éter já o fiz), a minha homenagem pelo seus valiosos trabalho e empenho, que nos foi dado usufruir, fazendo-o por mim e pelos raros leitores a quem me foi dado divulgar as suas "Obama news", num despretensioso e ignorado contributo para a grande vitória do novel presidente americano.

Há um interesse, nosso, nesta activa participação?
Mas ele é demasiado evidente para poder ser ignorado.
Sendo certo, contudo, que se trata de um interesse, não pessoal nem mesquinho, mas para bem de toda a Humanidade.

O meu (estou seguro de que o nosso) muito obrigado, solidário apoio e apertado abraço
Jlf

PS: porque tanto falo dele, vou enviar cópia deste mail ao nosso C

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quinta-feira, novembro 06, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA – 30



O nosso amigo Fernando, nesta sua última crónica, deixa uma clara sensação de estar bem consigo próprio pela satisfação de um (especialíssimo) “dever” cumprido.

Fernando fala como cidadão do mundo que luta, sem concessões, por um ideal nobilíssimo, que não conhece limites nem fronteiras, que não pactua com discriminações baseadas na fé, no género, na origem e na etnia ou noutras diferenças ou opções.

Já aqui lhe deixei público agradecimento pela sua actuação e pela sua valiosa informação, aquela que vem de alguém que conhece os meandros e os bastidores da política americana. Ou de parte importante dela.
Mas vou-lhe deixar mensagem pessoal de agradecimento por email, em meu e em nome de todos.

Espero que estas crónicas tenham sido apreciadas e proveitosas para todos.

O meu (e do Fernando, como ele refere abaixo) muito obrigado pela atenção que lhes dispensaram.


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Obama News
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- 20081105 -
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ÚLTIMA!

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Caros amigos,

Desta vez é a última Obama News que vos envio. Outras oportunidades aparecerão para vos comunicar o que se passa por estas bandas.
Quero agradecer a todos a paciência com que receberam as minhas notas.
Quero agradecer, também, os contributos que me deram, as críticas, perguntas, comentários, esclarecimentos, opiniões. Sem vós estas Obama News não existiriam.
Comecei por enviá-las para os meus filhos, mãe e irmã. Depois incluí um reduzido número de amigos. Com os comentários que fui recebendo, fui alargando a lista. Amigos enviavam para outros amigos. Publicavam em blogs, os mais diversos. Enviavam para jornais. A comunicação
tornou-se biunívoca. Foi enriquecendo.
A certa altura comecei a ter o sonho de escrever um livro sobre tudo isto. Decidi não o fazer. Pelo menos, por agora. Pretendo recolher mais dados e aprender mais, aproveitar a minha presença aqui para estudar esta história que continua a fazer-se. Talvez um dia tenha força para concretizar esse projecto.
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Hoje, em resposta a um email que um de vós me enviou, escrevi:
Vivi intensamente este ano, como sabes. Era como se a minha vida, as minhas lutas, as minhas fantasias e romantismos, os meus disparates e erros, fossem a moldura do combate cívico que ajudei a travar.
Pela primeira vez, no "county" onde vivo (Pinellas County), aconteceu uma vitória do Partido Democrático. Isso deveu-se a muita coisa (um dia talvez escreva sobre isso) mas, fundamentalmente, a pessoas como eu que foram para a rua inscrever outras pessoas nos cadernos eleitorais, bater a portas, fazer telefonemas, dar 25 dólares para a campanha, oferecer uma parte da casa a quem vinha de longe para ajudar, o carro, comida, um sorriso, uma esperança.
Durante a noite eleitoral várias foram as alegrias. Mas posso dizer-te que, quando vi o meu County a azul no mapa eleitoral da Florida, foram lágrimas apenas as únicas coisas que aconteceram.
Como há muitos anos, apenas pelo sonho de ver o meu país viver em liberdade, me levantei por cima dos meus medos.
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Quando houver resultados finais, estou a pensar enviar-vos um documento com algumas observações.
Por agora, ficará encerrado este ciclo.
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Um abraço,
Fernando
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domingo, novembro 02, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA – 29



A hora aproxima-se...
Confessando um certo nervosismo, o “nosso enviado especial”, porém, é incansável na cobertura destas, sem dúvida, diferentes e peculiares eleições.
O nosso muito obrigado, Fernando.

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das profundezas de uma quase imperturbável realidade sociológica
emerge a grande revelação?

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Obama News
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- 20081102 -
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A noite eleitoral...

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Um guia
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Caros amigos,
Aqui vai um guia para a noite eleitoral.

1
Na costa leste (New York, etc), quando as urnas fecharem às 19h00 (24h00 em Portugal), serão mais 3 na costa oeste (Califórnia, etc).
Isto significa que os resultados finais (ou as previsões fundamentadas) se saberão mais cedo na costa leste.

2
Os resultados eleitorais saber-se-ão à medida que as urnas forem fechando, os votos forem sendo contados, até poder haver extrapolações fiáveis que permitam às diferentes televisões e meios de comunicação social anunciar o previsível vencedor (neste caso, o candidato que conseguir mais de 269 votos no Colégio Eleitoral).

3
Se ambos tiverem 269 votos e se, no Colégio Eleitoral, votarem de acordo com a sua anunciada posição, haverá um empate. Neste caso, o desempate será feito na House of Representatives (câmara baixa do Congresso, formado pelo Senado e pela House). Isso significará a vitória de Obama, tendo em conta que há uma clara maioria de democratas na House.

4
Há cinquenta actos eleitorais (um em cada Estado). Para efeito deste Guia vou considerar, apenas, 31 Estados: os 23 em que Obama tem praticamente assegurada a vitória (ver Anexo 1) e os 8 principais em que o resultado eleitoral ainda não é certo (3 em que parece haver uma vantagem confortável para Obama, 2 em que o mesmo se passa com McCain e 3 em que há um "empate técnico", isto é, em que as diferenças nas sondagens são inferiores ao erro).

5
O que mais interessa ter em conta, à medida que se forem sabendo resultados, é o que se passa nestes 8 Estados. Claro que poderá haver sempre uma ou outra surpresa em qualquer destes 31 Estados, ou nos 19 restantes (por exemplo, não é certo que McCain ganhe North Dakota, Montana, Arkansas, Alabama e, até, imagine-se, o "seu" Estado de Arizona, onde a família Goldwater - Barry Goldwater foi candidato presidencial em 1964 e um dos mais conhecidos senadores do Arizona - anunciou o seu apoio a Obama!).

6
Nos 23 Estados referidos no ponto 4 e enunciados no Anexo 1, Obama somará 257 Votos Eleitorais (precisa de 269 para empatar e 270 para ganhar).

7
Ficam a faltar-lhe 13 Votos Eleitorais para conseguir garantir a sua eleição.

8
Vejamos, então, quais os 8 Estados cujos resultados mais interessam para se saber, o mais cedo possível, quem vai ganhar estas eleições presidenciais.

9
Com urnas a fechar às 19h00: Pennsylvania (21 Votos Eleitorais), Virginia (13), North Carolina (15), Georgia (15) e Florida (27).
Uma hora mais tarde fecharão as urnas em: Ohio (20), Indiana (11) e Missouri (11).

10
Se Obama ganhar qualquer dos 5 primeiros Estados referidos no ponto anterior, terá assegurado a maioria no Colégio Eleitoral, às 19h00 (isto é, à hora em que for possível ter extrapolações fundamentadas).
Isto é, basta ganhar a Pennsylvania, ou a Virginia, ou North Carolina, ou a Georgia, ou a Florida.

11
Se McCain ganhar todos estes 5 Estados, Obama poderá ganhar as eleições se ganhar em Ohio, ou, perdendo Ohio, ganhar, simultaneamente, em Indiana e no Missouri.
Estes resultados saber-se-ão uma hora mais tarde.

12
Se Obama perder todos estes 8 Estados, McCain será, muito provavelmente, o vencedor.

13
Se Obama ganhar um destes 8 Estados, será, muito provavelmente, o vencedor.

14
Face a tudo isto, a noite eleitoral poderá ser curta: antes das 21h00 (costa leste), 1 da manhã em Portugal, poderá vir a ser anunciado o futuro Presidente dos EUA. Ou uma ou duas horas mais tarde.

15
Mas também poderá acontecer que tudo se prolongue pela noite dentro e, até, quem sabe, pelos dias e semanas seguintes. Recorde-se 2000 (Al Gore, versus Bush) e a embrulhada que foi a contagem de votos na Florida.

16
Uma das coisas que está a ser testada é o próprio processo eleitoral nos EUA. Sobre isto pronunciar-me-ei mais tarde, se conseguir dados que, até hoje, ainda não consegui recolher como, por exemplo, número de cidadãos com capacidade eleitoral, número de eleitores, número de votantes...
Pode parecer estranho não se saber isto. Mas para quem, como eu, anda a tentar recolher estes dados há mais de um ano, já nada espanta. O sistema foi feito para homens brancos com poder. Foi assim durante mais de um século. Foram necessárias muitas lutas e vontades para que pudessem votar, primeiro os pretos, depois as mulheres, ultimamente os mais desfavorecidos.
Se tiver vontade e força talvez um dia escreva, mais longa e ponderadamente, sobre tudo isto.
...

ANEXO 1
23 Estados com previsível vitória de Obama (257 Votos Eleitorais).
Indico-os por ordem de encerramento das urnas.
Costa Leste (96 Votos Eleitorais): Maine, New Hampshire, Vermont, New York, Massachusets, Rhode Island, Connecticut, New Jersey, Delaware, Maryland e Washington DC.
Uma hora mais tarde (65 Votos Eleitorais): Minnesota, Iowa, Wisconsin, Illinois e Michigan.
Duas horas mais tarde (14 Votos Eleitorais): Colorado e New Mexico.
Três horas mais tarde (82 Votos Eleitorais): Washington, Oregon,
California, Nevada e Hawaii.
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Não sei se enviarei outra Obama News antes das eleições.
Há um certo cansaço e alguma dose de nervoseira.
Mas se qualquer um de vós precisar de mais alguma "dica" ou se quiser comentar o que aqui envio, terei todo o gosto em responder ou em enviar para todos.
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Um grande abraço.
Boa noite e boa sorte,
fernando

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PRESIDENCIAIS NOS EUA – 28

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É interessante conhecer o que se passa nos bastidores.
O Fernando conta
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uma imagem inimaginável, há poucos anos atrás, nos EU
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Obama News
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- 20081102 –
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Algumas histórias...
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principalmente a número 4!...
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Caros amigos,
Na próxima Obama News enviarei a minha previsão para a noite do dia 4, altura em que se encerram as urnas. Chamo a atenção para o facto de as eleições já estarem a decorrer em 35 Estados com o chamado "earling voting". Nalguns deles já se está a verificar uma enorme afluência.
Por exemplo: em Nevada já votaram mais de metade dos eleitores
inscritos; no Colorado votou quase metade; na Florida já votaram mais de um milhão e meio de pessoas; na Georgia há quem espere horas (nalguns sítios, oito!) para votar...
Vamos às histórias. Sem comentários. Não deixem de ver a última, a número 4.

1. ARMAS...
O Presidente e principal accionista de um dos maiores fabricantes de armas de caça do Estado de Montana, decidiu, apoiar Obama.
Imediatamente se formou um movimento de clientes a apelar ao boicote a esta empresa.
O Conselho de Administração, por maioria, decidiu retirar o apoio ao Presidente.
Este acabou por demitir-se apresentando como razão fundamental o facto da sua presença na empresa pôr em risco os postos de trabalho.

2. HALLOWEEN...
O dia 31 de Outubro é um dos principais feriados nacionais dos EUA.
Festa religosa e pagã, herdeira de tradições celtas, foi o primeiro
feriado nacional a ser declarado neste país, desde o século XIX.
Um dos costumes ("trick-or-treating") consiste em grupos de miúdos mascarados baterem às portas das casas e receberem rebuçados e doces.
Na Carolina do Sul, uma criança com 12 anos, acompanhado pelos pais, foi bater à porta de uma moradia. Foram recebidos a tiro de arma automática. A criança foi assassinada. O autor dos disparos, de 22 anos, está preso a aguardar julgamento. Disse que tinha utilizado a arma porque pensava que se tratava de um assalto.
As televisões não falam das cores das peles dos intervenientes,
certamente para não agravarem mais a situação.

3. CARTA ANÓNIMA...
Durante a última semana não estive na Florida. Fui a Massachussets e andei pela zona de Boston.
Decidimos emprestar um dos nossos carros à campanha do Obama. O pedido tinha sido feito por um antigo Mayor de uma cidade do Texas, agora reformado e a viver em Minnesota (junto com a fronteira do Canadá), que, nas últimas eleições presidenciais (2000, 2004 e 2008), tem vindo para a Florida, durante o último mês, para ajudar.
É um dos 200 mil voluntários que, na Florida, têm estado a trabalhar para registar novos eleitores, organizar sessões de esclarecimento, transportar pessoas para votar (principalmente as que não têm meios próprios para o fazer).
Pedimos-lhe que nos deixasse um placard do Obama para o colocarmos na relva, em frente da nossa casa. Na nossa rua há mais de uma dúzia de cartazes do McCain e quatro do Obama.
Quando chegámos ontem à noite a casa tínhamos a seguinte carta anónima na caixa do correio: "Do you realize when you vote for Obama you are supporting his first order of business which will be PRO CHOICE? He will sign into law... Abortion on Demand, using our tax dollars...
Thousands of unborn children's blood will be on the hands of all who support Obama. And yes someday you will stand before God and give an account of why you would support murder of unborn children. Mr. Obama will also take away all parents rights of children under 18 to sign for such a procedure. He will also make it illegal for a healthcare worker not to participate in abortion. Is this the CHANGE you want???"
Traduzo. "Você compreende que ao votar em Obama está a apoiar a sua primeira decisão: PRO CHOICE? (Nota pessoal: Cá, como aí, há dois movimentos, PRO LIFE, encabeçado pela igreja católica, que é contra a despenalização do aborto, etc, e a PRO CHOICE, que é pela despenalização do aborto, etc). Ele transformará essa opção em lei...
Aborto livre, usando os nossos impostos... O sangue de milhares de crianças por nascer estará nas mãos de todos os que apoiam Obama. E, um dia, você estará perante Deus e terá de justificar porque apoiou o assassinato de crianças por nascer. O Sr. Obama também retirará todos os poderes aos pais de menores de 18 anos, para permitir o livre acesso ao aborto. Ele também tornará ilegal a recusa de qualquer profissional de saúde em participar num aborto. É esta MUDANÇA que você quer???"

4. CONVERSA TELEFÓNICA ENTRE SARAH PALIN O "PRESIDENTE FRANCÊS"...
Dois conhecidos actores canadianos do Quebec decidiram telefonar a Sarah Palin e fingir que se tratava de uma chamada do Presidente Sarkozy.
Envio o link para o youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=JV_IphAIGPg
Apetece comentar, mas, como prometi, não o farei. Limito-me a chamar a atenção para o "conselheiro" do Presidente (chamado Johnny Halliday), para a caça às focas bébés do Alaska e para o John the Plumber (João, o soldador) que tem vindo a ser utilizado pela campanha do McCain para fingir que apoiam a classe média...
...
Por hoje chega.
Na próxima Obama News falarei do que se poderá passar na noite do dia 4 para o dia 5.
Um abração para todos,
fernando
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