quarta-feira, agosto 01, 2007

OUTRO MONSTRO DO CINEMA EUROPEU QUE DESAPARECE: ANTONIONI (1912-2007)

Michelangelo Antonioni


Outro mago, outra figura cimeira do cinema desaparecida anteontem, na trágica (chamemos-lhe assim) SG 30JUL07: Michelangelo Antonioni.
Antonioni, é quanto basta para o identificar.
E vejam-se os tantos pontos comuns que existiam entre estas duas figuras maiores do cinema, antes d’ontem desaparecidas do mundo dos vivos.

Antonioni e Bergman – dois gigantes, duas figuras ímpares do cinema.
Já, desde há bastante, dois mitos da Sétima Arte.

É o que muito adequadamente se poderá chamar o crepúsculo dos deuses.
Nem mais.

Não será o apocalipse, mas é uma perda irreparável no cinema mundial. Particularmente no europeu. Duas das suas maiores referências apagam-se, no mesmo dia, com escassas horas de intervalo uma da outra.

Hoje, o corpo de Antonioni está em câmara ardente na Câmara Municipal de Roma, realizando-se, amanhã, o seu funeral na cidade que o viu nascer, Ferrara.
«Com Antonioni morre não só um dos maiores realizadores, mas também um mestre da modernidade», declarava ontem Walter Veltroni, exactamente o presidente do município de Roma, num comunicado.

O primeiro nome (de filme) que logo me assalta, ao falar de Antonioni, é O Deserto Vermelho, porque ele me traz à memória um outro talento, o de Mónica Vitti.

O autor de alguns dos mais influentes filmes do neo-realismo italiano, e da estética do cinema, em geral, nasceu em Ferrara, aos 29 de Setembro de 1912. Ou seja, Antonioni deixou-nos aos 94 anos, a cerca de dois meses de completar os 95.
Foi em Roma que viveu o seu ocaso.

Provavelmente porque, nesses idos, a actividade cinematográfica não era considerada uma actividade tão nobre, ou porque a família o influenciasse noutro sentido, ou porque ele próprio sentisse maior segurança com essa opção, fez uma licenciatura em economia na Universidade de Bolonha.
Pouco se sabe da sua actividade na área da profissão que primeiro escolhera. O que se sabe é que, poucos anos depois, em 1940, ele estudava cinema na Cinecittà, onde conheceu e conviveu com conhecidas personagens do mundo do cinema, artistas – que mais tarde viriam a integrar os seus castings – e realizadores, como Roberto Rossellini, outro monstro cinema europeu, como ele neo-realista, também já desaparecido.

«Cineasta da incomunicabilidade ou da dificuldade de viver e amar, dirigiu duas dezenas de filmes, entre os quais «Escândalo de Amor» (1950) e «O Grito» (1957), a trilogia constituída por «A Aventura» (1960), «A Noite» (1961) e «O Eclipse» (1962), e ainda «O Grito» (1957), «O Deserto Vermelho» (1964), «Blow-up» (1966), ou «Identificação de uma Mulher» (1982).
Consagrado internacionalmente, ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 1964, com «O Deserto Vermelho», a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1967 com «Blow-up», o Prémio Especial do Júri de Cannes com «Identificação de uma Mulher» em 1982, um Óscar de Hollywood pelo conjunto da sua carreira em 1955 e também um Leão de Ouro pela carreira em Veneza, em 1997.
Tinha dificuldade em deslocar-se e em falar devido a um acidente vascular cerebral que sofreu em 1985
» - informava, ontem, um comunicado Diário Digital / Lusa

Foi na década de 60 – sem dúvida a década de ouro, a era esplendorosa do séc. XX (salvo, em muitos aspectos, para Portugal), que Antonioni ganhou maior prestígio e consagração.


O realizador em acção, nos anos 1960 (Foto: AFP)

«Cineasta da incomunicabilidade ou da dificuldade de viver e amar» … Na verdade, o tema da ruptura nas relações humanas, o rompimento com determinados valores e conceitos, a alienação da sociedade moderna, estão entre os temas e os assuntos preferidos do realizador.

A sua consagração, como nome maior do cinema, começou logo no ano de 1961, quando, com o filme A NOITE, ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim. E em 1967, no Festival de Cannes, o seu primeiro filme em língua inglesa, BLOW-UP, foi premiado com a Palma de Ouro.

Outro dos seus “monumentos” – para muitos o maior – foi O DESERTO VERMELHO, filme que, designadamente, costuma ser especialmente mencionado por nele Antonioni ter utilizado, originalmente e com artístico intento, a cor.

Mas a sua projecção começou antes: em 1955 tem o seu primeiro sucesso com LE AMICHE. E em 1959 realizou a sua primeira obra-prima: L’ AVVENTURA (apresentado em 1960), que seria o primeiro da sua conhecida "trilogia da incomunicabilidade".
A NOITE (1961), que é igualmente por muitos considerado um dos marcos do cinema moderno, foi a segunda obra daquela trilogia, sendo a terceira O ECLIPSE.

Destaca o blogger Bruno Sá, um entendido na matéria, ao que me parece: “um pormenor marcante é o de que em praticamente todas as sequências, se não todas, de L’avventura, estas demoram no filme exactamente o mesmo tempo que demorariam na realidade o que, em conjunto com o uso de uma focagem profunda, de modo a ligar as personagens ao opressivo meio ambiente, fazem com que facilmente nos identifiquemos nas situações apresentadas”.

Entre suas estrelas e seus estros inspiradores, destaca-se Mónica Vitti (Maria Luísa Ceciarelli, de seu nome verdadeiro), "mocinha" que anda hoje nos 75 anos (76 em 3NOV) e que nessa época rondava os trinta, trinta e poucos anos. Um dos ídolos da moçarada do meu tempo, a par de outras nada menos sensuais e brilhantes constelações que nos empolgavam.

Foram, sobretudo, exactamente os filmes de Antonioni que lhe valeram os seus tempos de justo glamour.

Mónica Vitti fez parte do elenco de “A AVENTURA” (1960), “A NOITE” (1961) e “O ECLIPSE” (1962) e O DESERTO VERMELHO” (1964) – a tetralogia da alienação de que alguns também falam.

Mónica Vitti (em A Aventura, como Cláudia)

Em “O ECLIPSE” contracenou com um dos ídolos das moças de então, Alain Delon.

A artista entrou em cerca de 55 produções, incluindo aquela por ela própria escrita e dirigida, em 1989 (perto dos 60 anos): “Scandalo Segreto

Voltemos a Antonioni.
No seu período americano, depois de “BLOW UP”, (1966), Antonioni fez ZABRISKIE POINT (1970), de cuja banda sonora fazem parte, entre outros, os Pink Floyd; e ainda “PROFISSÃO: REPÓRTER” (1974).
De realçar que BLOW UP “trouxe ao mundo a primeira cena de nudez frontal feminina (Jane Birkin) num filme não-erótico e dirigido ao grande público.”

Uma das principais características das realizações do “poeta do tédio” – como alguém lhe chamou - é a frequente utilização de planos muito longos e fixos. O que se pode constatar neste plano-sequência, de 6 minutos, tirado de “Profissão: Repórter

Acerca deste filme, e de outros de Antonioni, é de grande proveito a leitura dos comentários de Luiz Carlos Oliveira Jr, aqui

O cineasta, que descobriu a incomunicabilidade e influenciou toda uma geração”, foi crítico, assistente de realização de Carné e Enrico Fulchignoni e guionista de Fellini.
Porque de índole anticomercial, teve um começo difícil. Porém, claro que Antonioni acabou por ser alvo de muitas homenagens e de muitos troféus.
Recebeu, entre outros prémios, o Leão de Prata em Veneza, com ''Amigas''; o dos críticos em Locarno, com ''O Grito''; especial do júri em Cannes, com ''Aventura''; Urso de Ouro em Berlim, com ''Noite''; especial do júri em Cannes, com ''Eclipse''; Leão de Ouro em Veneza, com ''Deserto Vermelho''; Palma de Ouro em Cannes, com ''Blow-up''.

Morreram os homens (Bergman e Antonioni). Ficaram os nomes, as obras e as respectivas memórias. Que durarão o tempo que o mundo durar, estou em crer.




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