segunda-feira, abril 04, 2005

CARDEAL PATRIARCA DE LISBOA ENTRE OS “PAPÁVEIS”



Desde, pelo menos, Outubro passado, quando a Paris-Match colocou o Cardeal Patriarca de Lisboa entre os “papabili”, que essa hipótese de D. José da Cruz Policarpo suceder a João Paulo II tem sido ventilada pela nossa comunicação social.

Não fora tal eventualidade ser alimentada por alguns media conceituados e diria que estávamos, uma vez mais, a incorrer nas nossas habituais demonstrações de provincianismo.

Como alguém já salientou, tradicionalmente o nome do novo papa constitui uma surpresa. Geralmente é alguém de quem se não tem falado, não é nenhum dos “papabili”.

Os nossos media têm insistido junto do Cardeal Patriarca de Lisboa tentando saber da sua disponibilidade para aceitar tal cargo. E claro que ele, embora avance tratar-se de muito remota e pouco provável hipótese, não declina, de todo, a aceitação do cargo se tal se viesse a concretizar.

E, mais curioso, é avançar mesmo, instado pelo Correio da Manhã, nesse sentido, qual o nome que escolheria se tal eventualidade se concretizasse: Clemente, disse, seria o nome que adoptaria.

Ficamos pois, a saber, que uma das hipóteses que se põem é a de o sucessor de João Paulo II ser Clemente XV.

Probabilidade remota e bem pouco provável, também eu creio – atendendo ao carisma e à mediática projecção de muitos dos seus pares.

D. José Policarpo não revelou o porquê desta sua escolha. Penso que não estará arredada a possibilidade de a escolha ter a ver com a palavra clemência.

E isto, não obstante o nome dos últimos papas Clemente terem o seu nome muito ligado a Portugal e sobretudo a Lisboa e à sua Sé.

Clemente XI (243º), cujo pontificado decorreu durante

os reinados de D. Pedro II e de D. João V, concedeu à

catedral de Lisboa extraordinárias mercês e dignidades,

para satisfazer a D. João V. Atribuiu o título de patriarca ao
capelão-mor do rei e bispo de Lisboa. Assim, o patriarca tinha

precedência sobre todos os outros arcebispos e bispos,

incluindo o primaz (bula de 03.01.1718); tinha a

faculdade de sagrar os reis de Portugal

(bula de 20.09.1720). E foi ainda este papa que

concedeu o título de arcebispo ao vigário geral do

patriarcado de Lisboa (bula de 3.10.1718).

Clemente XII (246º) Pela bula

Inter praecipuas apostolici ministerii”

(17.12.1737) concedeu perpetuamente que

a pessoa nomeada patriarca de Lisboa fosse

elevada à dignidade cardinalícia no consistório

imediatamente seguinte à sua eleição.

"O patriarcado de Lisboa ficou assim transformado

em miniatura da corte pontifícia. Já em 1722 o

papa Inocêncio XIII, aludindo ao esplendor e

privilégios da igreja patriarcal, dizia ser esta a

mais célebre de todo o mundo..." - Vide “História

Eclesiástica de Portugal”, Pe Miguel de Oliveira,

União Gráfica, 1948, p 308.

Ainda Clemente Xiii (248º) não tinha subido ao trono

pontifício e já se desenrolava a luta entre o conde

de Oeiras (depois marquês de Pombal) e os jesuítas.

E o clima chegou ao corte de relações diplomáticas

entre o Governo de Portugal e a Santa Sé, desde

1760 (pontificado de Clemente XIII – reinado de D. José).

A Clemente XIII sucedeu Clemente XIV (249º) quando

em Portugal ainda decorria o reinado de D. José. Foi no

pontificado de Clemente XIV que se restabeleceram

as relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé.

Na verdade, em 21.07.1773 [uma QA], após 4 anos

de luta, o papa publicou o breve

Dominus ac Redemptor”, pelo qual dissolve

a Companhia de Jesus. Sem, contudo, a condenar.

Foi ainda Clemente XIV que erigiu as dioceses de

Beja, Castelo Branco, Penafiel, Pinhel e Aveiro; e

dividiu a diocese de Miranda (Bragança e Miranda).

Mas não creio que sua Eminência esteja a ser movido por tal manifestação nacionalista para a escolha do nome.

Aguardemos mais umas semanas e saberemos, por certo ainda este Mês, quem é o sucessor de João Paulo II, qual o nome do 265º papa.

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