sexta-feira, abril 22, 2005

BENTO XVI VERSUS JOSEPH RATZINGER?

Por alguma razão o cardeal patriarca D. José Policarpo sublinhou que “não é justa” a imagem mediatizada do cardeal Joseph Ratzinger à frente da Congregação para a Doutrina da Fé.

Do mesmo modo, esse frade dominicano - que será um dos poucos sinais de uma certa frescura de pensamento que ainda é possível encontrar dentro da Igreja – que escreve no Público, ao Domingo, e que se chama Fr Bento Domingues, teve necessidade de dizer que acreditava que o cardeal Ratzinger “morreu como prefeito da Congregaçã para a Doutrina da Fé e ressuscitou como Papa”.

Ou seja, a própria Igreja sente que a escolha do censor e do “santo” inquisidor do anterior papado, que tantos e tantos teólogos e padres silenciou, foi uma surpresa, exactamente por se tratar dessa radical personagem. Só mesmo quem acredite em milagres pode esperar que alguma suave aura possa soprar do Vaticano, com Bento XVI ocupando a cátedra de Pedro.

Receio bem que o agora iniciado pontificado mais não seja que que uma continuidade sem evolução (lembrei-me de algo semelhante que se passou entre nós nos idos de 68) do anterior. Ou pior: com regressão.

Há, até, certos aspectos a que todos - ou quase – somos mais ou menos sensíveis: o aspecto, o sorriso, a atitude, a maneira de estar. Pois nem aí o novo papa me desperta simpatia. Sorriso contrafeito, maneira de estar denotando equívoca humildade… Não olha de frente para as pessoas!
Esta característica ficou, aliás, extraordinariamente sublinhada numa entrevista que um canal de televisão (não me recordo qual) passou na última Quarta-feira, dia 20, à noite, às 10 e tal.
Era ainda o cardeal Ratzinger que falava com um jornalista, não sei de que nacionalidade, num claustro, sentados cada qual na sua cadeira. (Por razões que não vale a pena explicar, eu tinha a televisão só com imagem. Sem som).
Pois o cardeal só olhava para o jornalista quando ele lhe punha alguma questão. Nunca, mas nunca, mesmo, o olhou enquanto deduzia os seus argumentos: movia sobriamente as mãos, mas olhando sempre para baixo. Nem era, cabeça erguida, olhando em frente, para o incerto, o infinito. Não: para baixo. O que creio ter psicanaliticamente um significado pouco abonatório…

Os índices, os sintomas, o currículo estão aí. São iniludíveis.

Não obstante tudo isso, e como sempre, em circunstâncias tais, não posso, por razões de dignidade intelectual, deixar de conceder o benefício da dúvida ao papa acabado de ser eleito. E expectar – glosando a expressão de Fr Bento Domingues – que o censor-inquisidor tenha morrido para dar lugar a uma diferente personalidade: atenta às novas realidades, ao mundo vivo e concreto, aos reais e humanos problemas que exigem, também, uma humana atenção.

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