segunda-feira, abril 25, 2005

CONTRIBUTO PARA UM DEBATE

O PÚBLICO trazia no Sábado, 23ABR05, um extenso artigo de George Weigel, “O catolicismo e o Ocidente”, trabalho que é a um tempo uma defesa de Joseph Ratzinger e uma apologia do novo Papa.

George Weigel é Professor no Centro de Ética e Política Pública em Washington. Biógrafo de João Paulo II e autor de “The Cube and the Cathedral” (Basic Books, 2004).

Como o actual sistema de consulta, mediante assinatura, do mencionado diário, não permite a remissão para o respectivo conteúdo dos artigos, faço uma transcrição de diversos excertos do mesmo trabalho.

Na minha perspectiva – como na de tantos – é preciso conhecer os argumentos dos críticos e dos apologistas de alguém, para, por nós, podermos traçar o perfil de uma personalidade.

Então, leia-se.

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«Bento XVI: o nome é o programa, e o nome é o homem.
S. Bento nasceu em 480, numa pequena aldeia da Úmbria. Em 529, quando estava a ser construída uma pequena cidade monástica para Bento e para os seus monges à sombra de Monte Cassino, fechava em Atenas a Academia de Platão. A coincidência ilustra bem uma convicção do falecido João Paulo II: "Nos desígnios da Providência não existem meras coincidências." Enquanto uma grande instituição da cultura clássica fechava as portas, estava a ser criada a "academia do cristianismo", como o novo Papa em tempos lhe chamou.»

«Os seus monges [de S. Bento] não se limitaram a preservar elementos cruciais da civilização de Atenas e Roma durante a Idade das Trevas; transformaram a civilização com a introdução de um entendimento bíblico do humano - pessoa, comunidade, origens e destino - na cultura clássica que preservaram para futuras gerações nos seus escritos e bibliotecas.»

«Bento XVI tem desde há muito tempo a preocupação de que o Ocidente corre o risco de atravessar uma nova Idade das Trevas. Aquilo que ele descreveu num sermão, no dia anterior à sua eleição, como uma nova "ditadura do relativismo" é uma dimensão do problema. Se só existem "a vossa verdade" e "a minha verdade" e nada que entendamos como "a verdade", então a partir de que princípios básicos poderá o Ocidente defender as suas maiores realizações: igualdade perante a lei, tolerância e civilidade, liberdade religiosa e os direitos de consciência, de governo democrático? Se a única medida de nós for "nós", não ficará o horizonte das nossas aspirações largamente encurtado?»

«(E se querem ver o que esse tipo de aborrecimento metafísico e espiritual pode causar a uma civilização em tempos grande, olhe-se a Europa Ocidental, onde o egoísmo e uma resistência teimosa a afirmar que qualquer coisa é "verdade" pôs um continente à beira do suicídio demográfico.)»

«O Papa Bento também pressente que uma nova Idade das Trevas pode estar a fermentar nesses laboratórios onde a concepção humana se transforma em manufactura humana - a Idade das Trevas do Admirável Mundo Novo de Huxley.»

«Acontece com o homem o que acontece com o programa: ele é um Bento no mais profundo da sua vida interior e na sua realização intelectual. Bento XVI tem um conhecimento enciclopédico de dois milénios de teologia, e na realidade de toda a história cultural do Ocidente. É um académico tímido, monástico, sem a esfusiante personalidade pública do seu antecessor; e, no entanto, mostrou uma impressionante capacidade para um tipo diferente de "presença" pública com a homilia de um brilhantismo simples que fez no funeral de João Paulo II e na sua primeira aparição como Papa.»

«Tem conhecido dificuldades: sabe das tentações modernas do totalitarismo (o paganismo casado com a tecnologia) a partir do interior do Terceiro Reich; foi traído por antigos estudantes (como o teólogo da libertação Leonardo Boff) e ex-colegas (como Hans Küng, um homem de muito menor estatura académica e de caridade infinitamente menor). Os seus críticos afirmam que ele é aborrecido e pessimista.»

«No entanto, considero uma lei infalível da personalidade humana que um homem se conhece pelas suas preferências musicais: e Bento XVI é um homem de Mozart, que sabe que Mozart é aquilo que os anjos tocam quando tocam só pelo prazer de o fazer.»

«Na verdade, e apesar da imagem feita de Joseph Ratzinger, o novo Papa é um homem de felicidade cristã que há muito tempo pergunta por que é que, na sequência do Concílio Vaticano II, convocado para ser um "novo Pentecostes" para a Igreja Católica, tanta alegria desapareceu do catolicismo. Em perto de 17 anos de conversas com ele, conheço-o como um homem que gosta de rir e que é capaz de rir por estar convencido de que o drama humano é, em análise final, uma comédia divina.»

«Quando Joseph Ratzinger chegou à varanda de S. Pedro para iniciar um trabalho que nunca procurou, fui incapaz de não pensar na conclusão do penetrante estudo de Aladair MacIntyre sobre as confusões morais do Ocidente, After Virtue. Num tempo em que a falta de vontade e o relativismo conduziram a um clima cultural frígido e sem alegria, escreveu MacIntyre, o mundo não está à espera de Godot, "mas de outro - e sem dúvida muito diferente - S. Bento". O mundo tem agora um novo Bento.»

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Assunto não “postado” antes pelas conhecidas razões de problemas com o blogue. Problemas já ultrapassados, assim o espero.

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