sexta-feira, abril 22, 2005

AS ORIGENS DO CONCLAVE - 2

«Dezenas de homens fechados numa sala, voto secreto, fumo branco ou negro, o escolhido que surge à varanda para ser ovacionado pelo povo. Nem sempre foi assim a eleição do chefe da Igreja Católica. No princípio, os leigos também participavam, a nomeação chegou a ser feita por imperadores e reis e deu origem a cisões e guerras. Só há 900 anos é que o conclave foi criado.
Embora São Pedro dê nome à Basílica e à Praça no Vaticano, Pedro não foi o primeiro bispo de Roma (não exerceu essas funções tal como hoje são entendidas), nem foi ele que fundou a Igreja romana. A sua ligação à cidade é muito ténue, embora tenha sido na capital do Império Romano que o apóstolo foi crucificado.
Segundo os historiadores, a figura do bispo só surge no século II e o primeiro a centralizar o poder e a ser considerado Papa é Leão Magno, que governou entre 440 e 461. Foi ele que conseguiu concretizar uma tendência que vinha de trás: os bispos de Roma deveriam ter primazia sobre todos os outros.
Segundo a crença católica, Pedro foi escolhido por Jesus Cristo. Depois, escolheu o seu sucessor. Nos primeiros séculos, eram as comunidades que elegiam os seus pastores. Os primeiros Papas eram eleitos de igual modo: pelo clero e pelo povo, por aclamação.
A escolha nem sempre era fácil e, muitas vezes, procuravam-se sinais divinos para confirmar a decisão. Conta o historiador Eusebio de Cesareia, na História Eclesiástica, citado pelo jornal espanhol El País, que no ano 236, durante a eleição do bispo de Roma, um dos candidatos, Fabiano, foi escolhido porque lhe pousara uma pomba na cabeça. "Todo o povo, como que guiado por um único espírito, pôs-se a gritar com todo o entusiasmo e colocaram-no no trono episcopal", escreve o historiador.
Mas a participação do povo foi-se tornando cada vez menos importante e, no século IV, os bispos começaram a ser escolhidos só pelo clero. Com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo, as cátedras episcopais transformaram-se em cargos muito apetecíveis e as lutas por chegar a esses lugares tornaram-se mais renhidas.
Os problemas surgiam sempre que não havia unanimidade entre os eleitores, o que muitas vezes levava a guerras e divisões. Por vezes, as facções escolhiam e elegiam dois Papas.»

Bárbara Wong (excerto do artigo «Em 900 anos de conclaves, a escolha nem sempre foi pacífica», Público, SB 16 ABR 05)

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