quinta-feira, abril 14, 2005

LIDO E DESTACADO


«Para as crianças, é a altura de sonhar alto e, por isso mesmo, de querer ser simultaneamente (ou diversamente) bombeiro, cientista, astronauta, jogador de futebol, mas "quase" sempre (simplesmente...) "o maior da minha rua"»
Pedro Strecht (PÚBLICO, QI 14 ABR 05)

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«Nós, portugueses, continuamos a delirar com o cortar das fitas. Até os antifascistas, que contavam anedotas sobre implacável tesoura de Américo Tomás, se converteram a este nosso costume típico. (…)
Não há senhor presidente da câmara (SPC) que resista a prometê-las, que não se esforce por dar à luz alguma obra, antes de arriscar a sua reeleição. (…)
As obras orgulham-nos e sentimo-las como um carinho que nos reconforta, mesmo que nos pareçam agressivas, feias, inúteis ou caras. (…)
Como a gratidão é uma qualidade, é normal que o SPC aproveite esta época para agradecer aos apoiantes, a que os jornalistas, essa corja, ousam chamar de clientelas. É natural, justo e desculpável que lhes aprove alguns mamarrachos. (…)Pior, só mesmo os tipos do Ippar que apareceram a chatear por o senhor abade ter mandado substituir os azulejos da igreja matriz. O que vale é que o SPC foi avisado e apressou-se a despachar os velhos para a lixeira. (…)
O que nós queremos e aplaudimos é muita obra e tudo novo, porque é isso o progresso, valha-nos Deus.»

Rui Moreira (id, id)

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«O último congresso do PSD demonstrou à saciedade todos os perigos de implosão do partido (…)
Luís Filipe Menezes representou a continuidade da experiência Santana Lopes, sem nenhuma mudança significativa. Os votos que recebeu e a recepção que o congresso lhe propiciou são um bom exemplo para a reflexão sobre o que está mal no PSD. (…)
Menezes, que como Santana Lopes é intuitivo, percebeu-o [“o país e os eleitores, a começar pelos eleitores do PSD, não valorizam por aí além os arroubos sentimentais desses dirigentes”] quando gastou todo o seu último discurso a falar da questão da "credibilidade". (…)
Marques Mendes foi censurado pelo único momento em que no congresso um candidato esteve coerente com a tradição de ruptura do passado, ou seja quando criticou o estado do partido e a responsabilidade primacial de Santana Lopes. (Deixou de lado a de Durão Barroso, cuja fuga a meio de mandato e condicionamento da sucessão o torna co-responsável.) Era isto que era habitual num partido que não costumava ter palavras mansas consigo próprio. Até agora. Aqui os media atacaram Marques Mendes por criticar Santana Lopes, porque, ao fazê-lo, "ia perdendo o congresso". Ainda bem que não perdeu, mas se o perdesse teria feito a sua obrigação. (…)
O papel de Santana Lopes só não foi absurdo porque é mais do que isso: reprovável até ao limite. Não assumiu uma única responsabilidade do que se passou, atirou as culpas para um título de jornal, (…)para um comentador de um programa de debate que passa à noite num canal de cabo, e para um ministro que se propôs como candidato, caso ele perdesse. (…)
Santana Lopes foi ao congresso para se vingar, para apoiar Menezes, para fazer chantagem sobre os que o queriam criticar e para, pela sua presença, condicionar o congresso e o partido. Não me surpreendeu, como não me surpreende nada, que force a candidatura de Lisboa, que force a candidatura presidencial, que faça tudo para que Cavaco perca e Marques Mendes falhe. É isto que significa o "vou andar por aí". (…)
Neste contexto, penso que se percebe as minhas objecções ao modo como actuou o "grupo" à volta de António Borges, cujo efeito prático foi bloquear a mais que necessária crítica ao passado imediato, favorecer Menezes e enfraquecer Marques Mendes. (…)
Se, e este "se" é importante, este "grupo" (e a verdade, minha querida Manuela, é que se actuou como grupo...) tivesse apresentado uma alternativa política ao programa de Marques Mendes, se contribuísse para identificar o que está mal no partido, não teriam qualquer estado de graça e isso talvez os levasse a compreender os problemas que Marques Mendes tem que defrontar quase sozinho e fragilizado pela sua actuação.»

José Pacheco Pereira (id, id)

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«O Presidente da República em França. (…)
[Os emigrantes] sentem-se orgulhosos, porque Jorge Sampaio está em França, porque se desloca a diversos lugares importantes, e porque as instituições francesas, a começar por Jacques Chirac, lhe dão a importância que eles acham que lhes é devida. Anos de humilhação enquanto país de porteiras, de motoristas de táxi, de operários da construção civil, são agora compensados porque um Presidente - um homem simples, simpático, emotivo, caloroso - está em terras francesas. Afinal eles existem e são tão europeus como os outros. (…)
O Presidente veio, falou em francês e em português, assumiu decididamente a causa europeia, foi aos liceus, conversou com professores, esteve com emigrantes. E a todos deu idêntica dignidade e importância. Soube evocar a memória francesa. nalgumas das suas maiores figuras progressistas. E soube sobretudo fazer com a maior elegância e diplomacia aquilo que era fundamental neste momento: libertar a imagem portuguesa do ónus de um presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, de quem os franceses gostam manifestamente pouco.»

Eduardo Prado Coelho (id, id)

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«Há dois dias, a França aprovou uma lei que abre as portas à eutanásia. A partir de agora, se uma pessoa estiver consciente, mas num estado terminal de uma doença incurável, pode decidir parar o tratamento. Nesses casos, os médicos têm a obrigação de respeitar o desejo do paciente. Em Portugal, a discussão não está agendada, mas é inevitável. Qual dos dois deve prevalecer? O direito à morte e liberdade individual ou o de viver até ao esgotar completo das nossas forças? Nesta edição lançamos a discussão e recordamos uma entrevista de Ramón Sampedro, o galego que lutou anos a fio pelo seu direito de morrer. Uma vida que foi imortalizada no premiado filme Mar adentro»
Chamada da primeira página de A Capital, numa edição em que o grande tema (editorial e vários artigos) é a eutanásia, QI 14 ABR 05

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«As pessoas podem e devem, não só nos casos de doenças terminais, mas também nos de sofrimento visível e continuado, querer morrer sem que o Estado as possa impedir de exercer a mais elementar de todas as faculdades: o direito de sermos nós a decidir se queremos ou não sofrer.
Se um dia estiver numa situação-limite, mesmo que não tenha uma doença incurável, não sei o que decidirei. A vontade de sobrevivência e o amor pelo olhar dos que amo podem ser determinantes para aceitar a dor mais profunda; mas quero poder decidir sobre isso e em consciência, se for essa a minha decisão, dizer ao Estado que o meu papel enquanto cidadão terminou por motivos de força maior.»

Luís Osório (A Capital, QI 14 ABR 05)

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«A modernidade dos países faz-se de passos corajosos, passos que são inevitáveis no futuro. A eutanásia é uma prova de respeito por todos e não me suscita qualquer dúvida por mais metódica que seja. Ao contrário da interrupção voluntária da gravidez.»
Id (id, id)

«A questão fundamental: com um partido socialista que, afinal, é cada vez mais social-democrata, sabendo-se que o centro não é um espaço político de per si, mas um espaço onde, à direita e à esquerda, se vão buscar maiorias absolutas, que é que distingue, verdadeiramente, o PSD?»
Maria José Nogueira Pinto (id, id)

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«Se tudo correr como previsto, hoje vai fazer-se silêncio. Não para o fado, mas para toda a música. Abre a Casa da Música do Porto e começam as desfilar os elogios à monumental obra do arquitecto Rem Koolhaas, sem dúvida uma chave da modernidade que marcará a capital do Norte nos próximos anos. O caos que rodeia o edifício - das obras exteriores às "interiores" indefinições sobre financiamentos, administração e direcção artística - será abafado pelo som de Lou Reed. No entanto, o silêncio que hoje se fará, e a música que no seu lugar se ouvirá, não é de ouro. Nem fica bem. É um silêncio de culpa, um silêncio feito de negligência, demagogia, promessas e irresponsabilidades. Foram seis anos de "Portugal no seu pior" quatro datas de abertura prometidas e não cumpridas, uma brutal derrapagem nos custos (de 40 para 100 milhões de euros!), intrigas, polémicas, demissões, administrações sucessivas. Numa obra privada - ou numa obra pública de um país civilizado... - tinham rolado cabeças e tinham sido penalizados responsáveis. Na Casa da Música do Porto, os danos foram suaves demissões que resultaram em novos empregos, ou regressos a antigos empregos. Ou seja, não aconteceu nada àqueles que permitiram gastar três vezes mais do que o previsto e caucionaram um atraso na obra que poderia ter sido evitado se não se lançassem promessas gratuitas para conquistar apoios e simpatias.»
Pedro Rolo Duarte (DN, QI 14 ABR 05)

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«Seria irrealista esperar da nossa débil sociedade civil qualquer impulso significativo de modernização mental. Basta olhar para as universidades. Ou para as chamadas elites. E o Estado português não só é fraco, ineficiente e corrupto, como dá maus exemplos - vejam-se os atrasos nos seus pagamentos. Os partidos convivem bem com a degradação do Estado, porque esta lhes convém para darem empregos e negócios às clientelas. O apego ao populismo manifestado no último congresso do PSD tira, aliás, quaisquer ilusões sobre o papel modernizador dos partidos.»
Francisco Sarsfield Cabral (id, id)


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