sábado, abril 23, 2005

SOLTAS DE ONTEM

Por mais tentativas que fizesse, ontem não consegui “postar” as “soltas” do dia. Daí a tentativa de o fazer hoje.

Ora ontem, entre outras citações, “desfiei”, essencialmente, dois grandes artigos (grandes, em extensão e em qualidade), dados à estampa no PÚBLICO:
“Europa, de S. Bento a Bento XVI”, de Timothi Garton Ash, e “Sim, tudo é relativo”, de Miguel Sousa Tavares.

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«Os ateus devem saudar a eleição do Papa Bento XVI. Porque este teólogo da Baviera, idoso, académico, conservador, sem carisma, de certeza que apressará precisamente a descristianização da Europa que procura contrariar. No termo do seu papado, a Europa pode outra vez ser tão não-cristã como era quando S. Bento, um dos santos patronos da Europa, fundou a sua pioneira ordem monástica, os beneditinos, há quinze séculos. Europa Cristã: de Bento a Bento. R.I.P. - descansa em paz.»
Timothy Garton Ash (Público, SX 22 ABR 05)

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«A Europa é hoje o mais secular dos continentes. O fenómeno do último Papa disfarçou a tendência.»
Id (id, id)

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«Uma ironia do pontificado de João Paulo II foi que, ao apressar o fim do comunismo, ele ajudou a libertar as forças da modernização capitalista que contribuíram para a secularização da Europa Ocidental.»
Id (id, id)

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«O autor católico Daniel Johnson sugere no Times que Bento XVI tem os conhecimentos e o intelecto para fazer chegar aos jovens as excitantes reinterpretações de doutrinas antigas do último papa. "Em especial," escreveu, "a Teologia do Corpo, que vê a sexualidade como uma emanação do amor divino, tem um enorme potencial por concretizar para entusiasmar os jovens."»
Id (id, id)

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«Os seus princípios são muito semelhantes aos do seu predecessor. Não seria razoável esperar que os mudasse. A Igreja Católica não é um partido político, a mudar para conseguir votos. A força de uma rocha é não ser areia.»
Id (id, id)

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«João Paulo II era um Papa ecuménico, abrangente. Na visão de Bento XVI, se ficar mais pequena é o preço que a Igreja Católica tem de pagar para ficar fiel aos seus princípios básicos, então que seja assim. A Igreja será mais pequena, mas mais pura.»
Id (id, id)

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«Deixou claro que tenciona confrontar de frente o secularismo, o laxismo moral e o consumismo da Europa contemporânea. Descreveu a homossexualidade como a tender para "um mal moral intrínseco". Ficou ao que se diz chocado pela rejeição do devoto católico Rocco Buttiglione como comissário europeu. É um adversário da "ditadura do relativismo".»
Id (id, id)

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«Poderá muito bem viver mais dez anos. Isso quer dizer que pode viver para ver como será a UE em 2015. Esta Europa será provavelmente mais islâmica do que agora nas suas regiões mais pobres e mais secular do que nunca nas mais ricas.»
Id (id, id)

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«Anda para aí uma teoria sobre a relatividade da importância de escolher as pessoas menos indicadas para os cargos mais importantes que, levada às últimas consequências, acabaria a sugerir a irrelevância das escolhas - entre pessoas, entre ideias, entre valores.»
Miguel Sousa Tavares (id, id)

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«George W. Bush demonstrou que o Presidente da nação mais poderosa do mundo se permitia invadir um país estrangeiro com recurso a pretextos forjados e a mentiras, defendidas como verdades, perante o seu país, os aliados e as Nações Unidas. Mostrou também que era possível governar beneficiando os ricos e desprotegendo os pobres, sacrificando o ambiente a benefício de poderosas empresas, misturando os negócios de energia e de armamento com as missões de guerra e impondo a vontade soberana dos Estados Unidos contra convenções, acordos, fóruns multilaterais ou simples concertação de interesses com outras nações. Foi reeleito e, perante o desânimo geral, logo houve quem, apesar de não conseguir subscrever o grosso da "doutrina Bush" para o mundo, tenha vindo explicar que o seu segundo mandato iria ser diferente: aberto ao multilateralismo, ao diálogo, à cooperação. Continuamos à espera.»
Id (id, id)

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«Sejamos directos: a escolha do cardeal Ratzinger para Papa foi a pior escolha possível dos cardeais. Foi, como alguém escreveu, a extrema-direita do Espírito Santo quem escolheu este homem que prega o valor absoluto da fé contra, imagine-se..., "a ditadura do relativismo". Conhecendo-se as suas ideias e o seu percurso dentro da Igreja (em particular, a sua transformação de teólogo do Vaticano II em perseguidor dos teólogos não-alinhados), só uma transformação radical impedirá que ele seja um Papa para dividir e não para unir - católicos e não-católicos. Não acrescentará o rebanho pela força da palavra e do Evangelho, como João XXIII, nem pelo carisma pessoal, como João Paulo II.»
Id (id, id)

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«Já aí está quem nos explique que uma e outra pessoa não são a mesma: morreu o cardeal Ratzinger, o guardião da fé, o príncipe da intransigência e ressuscitou nele o Papa Bento XVI, um espírito novo, tolerante e aberto. E, para princípio de demonstração, aí está a sua comunicação do primeiro dia de papado, defendendo "a causa fundamental do ecumenismo", em absoluto contraste com o seu anterior personagem que defendia que "fora da Igreja Católica não há salvação".»
Id (id, id)

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«Está dado o sinal para a transformação. Em breve haverá quem queira acreditar que Ratzinger-Papa irá restabelecer a importância das dioceses e das conferências episcopais, ou seja, da autonomia das igrejas nacionais, que, sob o papado de João Paulo II e sob directa influência de Ratzinger-cardeal e ao arrepio do Vaticano II, foram transformados em meros executores do pensamento e da orientação do Papa e da Cúria. E depois iremos ainda ver o novo Papa, contrariando tudo o que sempre foi o seu pensamento, abrir o diálogo nas questões fechadas: as questões da bioética, o controlo da natalidade, o celibato dos padres, o sacerdócio das mulheres. Porquê? Justamente porque ninguém o espera. Deve ser a isto que chamam milagres.»
Id (id, id)

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«Este não será um Papa de transição, nem sequer de continuação: será um Papa de consolidação daquilo que de mais conservador e fechado existe na Santa Madre Igreja. Passados os primeiros tempos da diplomacia e da simpatia, Bento XVI dedicar-se-á, tão subtilmente quanto a sua brilhante inteligência augura, a deixar a Igreja amarrada à mais estrita ortodoxia, por longos e bons anos, desejadamente por séculos, até ao final dos tempos.»
Id (id, id)

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«Entre outros males, os intelectuais pensam. E, ao pensarem, eles podem fazer com que essa gente simples se deixe arrastar "por aqui e por ali, por qualquer vento ou doutrina", acabando-se numa "ditadura do relativismo, em que nada é definitivo", como no tempo de Galileu, que ousou pensar que era a Terra que girava em volta do Sol.»
Id (id, id)

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«A este "relativismo", que, segundo ele, não reconhece nada como valor absoluto, Ratzinger contrapõe o único valor absoluto: a fé. A fé de que não há salvação fora dos mandamentos da Igreja Católica. Mas os mandamentos, tal como ele os impõe, e não como os daqueles teólogos desviantes a cuja perseguição o novo Papa dedicou os últimos 25 anos da sua vida.»
Id (id, id)

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«Sublinha José Gil, na Visão, que na criação da ideia de cidadania esta "identificou-se ao carácter singular de cada nacionalidade". E "o território identitário (material e mental) da nova comunidade ainda está por definir".»
Eduardo Prado Coelho (id, id)

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«Nas conversas recentes que tive com os franceses, percebi que havia uma brecha que se tinha aberto. Até aqui não era politicamente correcto dizer "não" à Constituição europeia. Mas bastou que alguém o assumisse para que muitos se sentissem autorizados a ter a mesma posição. Só estavam à espera que algo deste tipo acontecesse. A partir daí precipitaram-se. E o grande problema da Europa de hoje está na teoria dos dominós. Basta um para desencadear o processo. É por isso que basta um "não" para que se torne natural que o "não" vença.»
Id (id, id)

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«Paulo Portas abandonou o CDS-PP porque percebeu que o partido que utilizou para servir os seus fins e objectivos não lhe podia assegurar, a médio prazo, qualquer retorno significativo. Nos últimos anos, depois de ter matado politicamente Manuel Monteiro, transformou o partido fundado por Freitas do Amaral e Amaro da Costa num prolongamento da sua personalidade.»
Luís Osório (A Capital, SX 22 ABR 05)

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«Portas vestiu o papel de estadista, e, quando viu Santana Lopes chegar a primeiro-ministro, achou que chegara a oportunidade de começar a fazer história. Na teoria fazia todo o sentido, mas na prática os portugueses derrotaram os objectivos que a si próprio tinha imposto.
Na noite das eleições bateu com a porta. Fê-lo de forma fria. Não se podia conformar com voltar a ser o “Paulinho das Feiras”. Quem almoça na mesa de Bush, Rumsfeldt e de tantos outros patrões do mundo não pode voltar a batalhar pelos votos e pela atenção das mais poderosas entre as varinas.
Portas matou o PP para os próximos anos. Ele sabe isso, como Maria José Nogueira Pinto, Pires de Lima ou Nuno Melo o sabem. Matou o PP e saiu rumo à próxima aventura.»

Id (id, id)

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«Fala-se do novo Papa, com suspeições, epítetos, anedotas, conotações e perplexidades. Do futuro da Igreja, do seu passado e dos seus erros. Mas muito me tarda Abril.»
Rogério Rodrigues (id, id)

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«Só me falta ver os capitães de Abril, míopes e gordos, encostados a uma bengala, a verterem as últimas lágrimas frente ao soldado desconhecido. Muito me tarda mesmo Abril. Mas, mesmo pelo seu tardar, hei-de lá chegar. Não sei como, mas sei porquê.»
Id (id, id)

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«Foi um conclave curto para uma sucessão difícil. João Paulo II foi o ausente presente, porque votaram os seus cardeais com a sua constituição apostólica (a Universi Dominici Gregis, de 1996). O colégio escolheu um intelectual para liderar a Igreja. Não um pastor, não um missionário, mas um intelectual; e como todos os intelectuais, uma figura fria, polémica, escassamente conciliadora.»
Pedro Lomba (DN, SX 22 ABR 05)

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