quinta-feira, abril 28, 2005

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

2005-2015 - Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.

Ano Internacional do Microcrédito. Ano Internacional da Física (aprovado pela UNESCO) – tudo de acordo com a proclamação da Assembleia-geral da ONU.

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Há 150 anos (1855), que foi num SB: nasceu, nas Caldas da Rainha, o pintor José Malhoa. Decorria a regência de D. Fernando, marido de D. Maria II, já que D. Pedro V ainda era menor (o seu reinado iniciar-se-ia em Setembro seguinte). Pontificava Pio IX (255º).

José Vital Branco Malhoa, de seu nome completo, matriculou-se na Escola de Belas-Artes aos 12 anos. Começou com louvores, prémios e fortes incentivos, ao terminar o seu curso. Mas, habituado que estava a ganhar, logo veio a grande desilusão da sua vida: foi preterido em dois concursos do Estado. Desligou-se, por uns 3 anos da pintura. Mas voltou quando soube que em Madrid se preparava uma exposição de grande envergadura: pintou um quadro destinado a esse certame, Seara Invadida, assim se intitulava. Trabalho que tanto em Madrid como, também, em Lisboa, obteve grande êxito, causando a melhor impressão no meio artístico. Acabaria por se impor como grande pintor romântico (só Outono revela certas características impressionistas). Pintou inúmeros quadros, destacando-se entre os mais conhecidos, Os Bêbados, pertencente ao Museu de Arte Contemporânea, quadro que viria a ser renomeado como Festejando o S. Martinho, e As Promessas, que está exposto no museu com o seu nome na sua cidade natal, onde se encontra mais representada a sua vasta obra. E são ainda muito célebres o seu retábulo, S. João Baptista, da capela-mor da igreja de Figueiró dos Vinhos, como o seu painel Nossa Senhora da Consolação, da igreja de Chão de Couce, outra área da obra do artista: os temas religiosos.
Morreu a 26OUT1933.

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Faz hoje 119 anos (1886), era uma QA: em Lisboa, inauguração do Monumento dos Restauradores. Reinava D. Luís (32º). Pontificava Leão XIII (256º).

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Completam-se hoje 116 anos (1889), era um DM: nasce, em Vimieiro, Santa Comba Dão, o professor universitário e estadista António de Oliveira Salazar. Reinava D. Luís (32º). Pontificava Leão XIII (256º).

Filho de uma modesta família de lavradores, António de Oliveira e Maria do Resgate Salazar. (Curiosamente o seu nome seguiu, não a nossa, mas a tradição espanhola: primeiro o apelido do pai; o da mãe em último lugar). Como então acontecia muito aos filhos de famílias rurais com mais fracos recursos que revelassem maior propensão para estudar, deu entrada num seminário. No de Viseu, que frequentou durante oito anos.

Desistindo da carreira eclesiástica, esforçado e brilhante aluno que era, cedo se formou em direito, cujo curso faz, com altas classificações e nota final de 19 valores, de 1910 a 1914.

Enquanto estudante universitário, a sua actividade não se confina aos estudos, é, antes, também membro activo do CADC (Centro Académico da Democracia Cristã), onde, depressa, se torna destacado orientador. O CADC é, então, “um núcleo de elaboração doutrinária na qual [Salazar] teve parte importantíssima, com a cooperação de elementos que, com ele, viriam, em 1928 e seguidamente, a exercer papel preponderante na governação do País.”

Um dos membros do CADC era, então, o seu colega universitário, mas aluno de História, e seu amigo pessoal, Manuel Gonçalves Cerejeira, futuro cardeal patriarca de Lisboa (05AGO1929-15MAI1971). Em 1917, é assistente na faculdade onde se formou. E no ano seguinte, com 29 anos, é professor catedrático, na mesma faculdade, do grupo de Ciências Económicas.

E a par da sua actividade de docente, escrevia, escrevia sempre, escrevia sobretudo na área da sua formação académica. Mas não só. Escrevia, também, e participava em fóruns de cariz e pendor católico-social. Como, por exemplo, no Congresso Católico de Abril de 1922, cuja tese, aí defendida, muitos consideram como “o seu primeiro grande documento político”. E prossegue, já no seu afã de “mentor” político de muitos discípulos, as suas intervenções em conferências e congressos.

Entrementes, “chega 1926 com a revolução incruenta [“stricto sensu”, não posso deixar passar em branco] de 28 de Maio; estabelece-se no País uma ditadura militar que, logo no início, para uma renovação de objectivos e processos de governo, apela para o Professor Salazar a fim de que este assuma a gerência da pasta das Finanças”. Mas, porque “reinava certa confusão, grande imprecisão de objectivos imediatos, desarmonia entre os dirigentes principais”, desta vez esteve apenas uns dias no Ministério. Demite-se de ministro e regressa à cátedra. Não que se abstivesse “de prosseguir a sua doutrinação pública” – que mantinha através da imprensa, a par da sua actividade docente.

A 15ABR1928 o general Carmona (um dos actores e obreiros do golpe do 28MAI1926) é proclamado presidente da República (sem que então a maioria dos portugueses, os cidadãos comuns, se apercebessem que o era vitaliciamente).

Constituído novo governo, presidido pelo general Vicente de Freitas, este convida Salazar para a pasta das Finanças, de novo. Salazar aceita, mas impondo condições. “Aceitou, sob a condição de lhe caber o direito: a) de fixar para cada Ministério a dotação máxima dos respectivos serviços; b) de examinar previamente todas as iniciativas governamentais que tivessem repercussão directa nas receitas ou despesas; c) de impedir todos os aumentos de despesa; d) de intervir em todas as providências relativas à arrecadação de receitas e à redução de despesas”. E – espantosamente ou nem por isso – o chefe do governo (humildemente) aceitou as condições. A necessidade era grande, mas o respeito (temor reverencial, já então) era muito maior. O programa não era do governo, era dum ministro! A semente do endeusamento da personalidade estava lançada. Foi a 27ABR1928 (recordou-se ontem nesta coluna) que Salazar tomou posse como ministro das Finanças. Data que seria repetida e insistentemente recordada pelos anos fora. Num país já então adiado, era o repetido anúncio do triunfo final.

«A 28 de Agosto de 1931, uma circular chega aos jornais para"evitar que seja utilizada a imprensa como arma política contra a realização do programa de reconstrução nacional, contra as instituições republicanas e contra o bem-estar da nação".
O texto, enviado pela direcção dos Serviços de Censura, dizia como fazer "cortes". Não eram permitidas "referências desprimorosas ao chefe de Estado"; "notícias de atentados de carácter político"; "notícias que originem o alarme e a intranquilidade pública"; "suicídios, com excepção dos cometidos por criminosos conhecidos"; "infanticídios"; "anúncios de astrólogos, bruxas ou videntes"; "crimes cometidos por menores"; "alusões aos serviços de censura" e "espaços em branco", entre outras normas.» Memória do PÚBLICO (entre outras, sobre a matéria e na mesma data), com o título «CALAR PARA O "BEM DA NAÇÃO"», de QA 27ABR 05.

Rendido, o regime (que já então era ele – qual Luís XIV poderia dizer: o Estado, sou eu. O regime, sou eu), pouco depois, designa o seu “salvador providencial” Presidente do Conselho de Ministros. Estávamos em 05JUL1932 quando Salazar toma posse e apresenta o seu governo (presidente do Ministério e Ministro das Finanças, ele mesmo; Ministro das Obras Públicas, Engº Duarte Pacheco; Ministro da Justiça, Prof Manuel Rodrigues; Ministro do Interior, Dr Albino dos Reis; Ministro da Guerra, general Daniel de Sousa; Ministro da Marinha, Com. Mesquita Guimarães; Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr César Mendes; Ministro do Comércio, Engº Sebastião Ramires; Ministro das Colónias, Prof Dr Armindo Monteiro).

Um dos seus primeiros actos, foi um aceno de simpatia ao movimento monárquico: o nosso 34º e último rei, D. Manuel II, morrera, em Inglaterra, dias antes, aos 02JUL1932, e o governo da presidência de Salazar decretava-lhe solenes funerais, em Lisboa, e prestava-lhe as maiores homenagens. Simpatia (monárquica) que se confirmaria no discurso da tomada de posse dos corpos directivos da União Nacional (já então, o partido único do regime), em 23NOV do mesmo ano.

Desde o começo do seu longo consulado que o seu fiel cronista foi António Ferro. Em DEZ1932, A. Ferro publica as suas entrevistas com o novo chefe do governo no Diário de Notícias. E publica-as em volume nos começos de 1933, sob o título Salazar – o Homem e a sua Obra. (Isto – “o Homem” e a “Sua Obra” -, repare-se, nos começos do seu reinado. Imagine-se o que não estaria para vir!).

Desta obra de A. Ferro recorda Luís Graça, no seu site “História da Saúde e do Trabalho (1926-1974)”, o seguinte: «Salazar, o Homem e a Obra (Entrevistas de António Ferro ao ‘chefe’ do Estado Novo): tiragem de 125 mil exemplares (!) na primeira operação de marketing político feita no nosso país».

Mas A. Ferro cedo seria premiado com a direcção Secretariado da Propaganda Nacional (assim, tal e qual!), que numa posterior operação de cosmética (única reacção usual do regime às críticas e “incompreensões” dos seus detractores – sobretudo internacionais) passou a denominar-se SNI/Secretariado Nacional de Informação (já com um pinguinho de pudor).

Agora havia que reflectir, preparar e lançar as pontes para consolidar a obra e o regime – em suma, afinal, para conservar, manter a qualquer preço, a personagem deificada.

Em 19MAR1933 é aprovada, por plebiscito, a “constituição corporativa”, cujos “direitos e garantias individuais” mais não eram que fogos fátuos na interpretação, obtusa e vesga, desses tiranetes do regime, que eram os submissos juízes dos Tribunais Plenários e Tribunais Militares Especiais, criados criteriosa e cautelosamente pelo iluminado legislador do regime.

Em 29AGO1933 o governo extingue a Polícia Internacional Portuguesa e a Polícia de Defesa Política e Social e cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado/PVDE (polícia política e instrumento de repressão do Estado Novo, antepassada da PIDE-DGS). Que ficaria registada na história apenas como PIDE.

Os grandes esteios do edifício do Estado Novo eram o exército, a censura e a polícia política. Eles aí estavam todos, agora. E a Igreja daria também uma nada desprezível contribuição, sobretudo enquanto nela pontificaram preponderantes figuras como o seu ex-colega e sempre amigo cardeal Cerejeira (de 05AGO1929 a 15MAI1971).

Em 23SET1933 era publicado o Estatuto do Trabalho Nacional, o qual, apoiado por um sindicalismo corporativo, tanto ao nível organizativo de base, como ao nível dos princípios, rege as relações laborais.

Simultaneamente – socorro-me de informação constante do site da IGT/Inspecção Geral do Trabalho - «o Decreto-Lei 23035 de 23 de Setembro de 1933, de acordo com os princípios do regime corporativo, cria sob a presidência do Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social (cargo junto da Presidência do Ministério de acordo como Decreto-lei 22428 de 10 de Abril de 1933), o Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP).
Com delegações privativas fora do distrito de Lisboa, dirigidas por um delegado e competindo-lhes “a propaganda da nova ordem social”, cabia-lhes, para além da “inspecção e assistência aos organismos corporativos do distrito”, “inquirir da segurança dos locais de trabalho, do regime dos salários, da observância das leis sobre o trabalho de mulheres e menores e do horário do trabalho...”.»

Depois, e recorrendo à mesma fonte, «o Decreto-lei 24403 de 24 de Agosto de 1934, determina que o INTP organize um serviço de fiscalização do horário de trabalho (FHT) e mais tarde (Decreto-Lei 30022 de 4 de Novembro de 1939), “tendo presente que ao INTP cabe a fiscalização do cumprimento das disposições legais reguladoras da disciplina do trabalho e clausulas dos contratos e acordos colectivos do trabalho”, cria-se o serviço de fiscalização do trabalho (FT)».

Entretanto o INTP passa por reorganizações e reestruturações várias, até que (citando de novo a mesma fonte) «o Decreto-Lei 203/74 de 15 de Maio, da Junta de Salvação Nacional, que criou o Ministério do Trabalho, revogou o Estatuto do Trabalho Nacional e o INTP foi extinto pelo Decreto-Lei 760/74 de 30 de Dezembro».

Em 28MAI1936, Salazar pontifica, em Braga, nas comemorações do 10º aniversário do golpe que o levaria ao poder, onde proferiu o discurso que um filme, já várias vezes já passado na TV, nos recorda: “às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século procurámos restituir [não sei se enfático plural magestático, se simulação de humildade, colocando-se na sombra do movimento] o conforto das grandes certezas [sic!]. Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio [claro!]; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever”. (Repare-se: Deus, Pátria e família – maiúsculas e minúscula a marcar a importância. Mais tarde juntar-se-ia a corporação).

Em 1937 é criada a Legião Portuguesa “destinada especialmente a enfrentar, em colaboração com o Estado e com as Forças Armadas, a ameaça comunista e os perigos que pudessem visar a estrutura da Nação no campo dos princípios que ele [Salazar] considera indiscutíveis ou axiomáticos no discurso de Braga.

No ano anterior havia sido criada a Mocidade Portuguesa, “organização pré-escolar, de função educativa, patriótica e pré-militar”.

Com a morte de Carmona (18ABR1951) chegou a desenhar-se um movimento no sentido de que Salazar “consentisse” em ser eleito para a chefia do Estado. Como era de esperar, e absolutamente certo, Salazar não consentiria em tal. “Consentiu”, antes que se candidatasse o general Craveiro Lopes. Que, claro, foi eleito e o reconduziu nas suas funções.

Não obstante um regime super-vigiado, Salazar foi objecto de alguns atentados. Todos falhados, naturalmente. Um ou outro golpe foi pensado para o destituir, mas a vigilância não desarmava. Nenhum vingou. Mas ele vingar-se-ia.

Uma pequena sacudidela do regime aconteceu em 1958: estavam marcadas eleições presidenciais para 08JUN. À UN foi imposto, por Salazar, o nome do seu ex-ministro da Marinha, o “sempre atento e obrigado” “a bem da Nação” (do regime, queria-se dizer, claro) Américo Tomás. Pela oposição tinha dado brado a candidatura do general Humberto Delgado que - não sendo de forma nenhuma um esquerdista, muito ao contrário – teve no entanto a ousadia de se opor a Salazar (acerca de quem disse a frase que ficou célebre: “obviamente, demito-o”). Rezam as crónicas que Delgado só não ganhou as eleições devido às “costumadas” manobras de bastidores, no manuseamento dos cadernos eleitorais e das urnas…

Aliás, Delgado, em 25OUT1957, aceita candidatar-se, explicitamente, pela “oposição não comunista”. Mas não tinha sentido, para Salazar, tal expressão. Na verdade, para o regime, “quem não fosse por ele, era contra ele”. E esses eram todos – todos, mesmo Delgado – comunistas. Logo, o regime não podia aceitar a candidatura de um comunista, nem quem os representasse. Era dogma. Inquestionável. Estava dito. Acabou. Com fraude ou legalmente, Tomás tinha de ganhar. Ponto final.

O que efectivamente aconteceu, na reviravolta política de Delgado, foi que ele deixou de acreditar - logo de defender - a postura colonialista de Portugal (o que tornou explícito, mais tarde, em declarações proferidas no exílio, no Brasil, em 27FEV1961). Era uma evidência, irrecusável, para todos, menos para os salazaristas. Foi esse o seu crime de lesa-regime: sustentar a necessidade de Portugal abandonar essa postura – como o mundo reclamava e a oposição, em bloco (mesmo os moderados como Delgado) exigia.

O preço desse atrevimento do “general sem medo”, foi a sua perseguição e execução sumária, em Espanha, perto da fronteira portuguesa, por uma brigada da PIDE, chefiada por Rosa Casaco e com o tiro fatal de Casimiro Monteiro. Estávamos, então, em 13FEV1965.

Mas que foi um razoável abanão… Foi. Tanto que, em 29AGO1959, são promulgadas alterações à Constituição de 1933. Como, entre outras: o presidente da República passa a ser eleito por um colégio eleitoral restrito, onde dominam Salazar e a UN. Na base da mudança, o apoio popular a Humberto Delgado, nas presidenciais do ano anterior, em que apenas a fraude eleitoral garantiu a eleição de Américo Tomás.

Um exemplo, entre tantos, da sanha persecutória de Salazar e dos seus seguidores, foi o que ocorreu com a crise académica de 1962: 24MAR, decretado pela “academia” dia do estudante, foi mais um motivo para actuação das forças policiais em defesa do regime férreo da ditadura: várias centenas de estudantes fomos conduzidos em vários autocarros para a parada dum quartel na Parede, para sermos objecto de “registo”. Várias dezenas de outros, com mais pesado “cadastro” , foram conduzidos aos calabouços da PIDE para interrogatório.

A “Primavera marcelista”, afinal, mais não foi que um Outono sombrio.

Marcelo Caetano, só por si, não teria vontade nem poder para tão “ciclópica tarefa” (cito de memória) nas suas próprias palavras de então (referindo-se, porém a outra realidade) Nem os ultras da direita mais radical lhe permitiriam quaisquer veleidades de abrandamento na acção, de desvio nos propósitos.

Em 22ABR1970, o fim da censura prévia está incluído no projecto de lei de Imprensa apresentado na Assembleia Nacional pelos deputados, da chamada “ala liberal”, Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão.

No entanto, em 05MAI1972, mais uma mudança de fachada ocorre: o governo substitui a censura prévia pelo regime de exame prévio.

Ou seja, e na expressão popular bem conhecida: tanto fazia dar-lhe na cabeça, como na cabeça lhe dar.

No site do sociólogo Luís Graça: Textos30: História da Saúde no Trabalho: 1926-1958 (http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos30.html), pode ler-se esta interessante síntese:

«Numa perspectiva de história política e institucional, podemos apontar os seguintes marcos fundamentais deste longo período de quase meio século::

- A Ditadura Militar, de 1926 a 1933, ou seja, antes e depois da entrada de Oliveira Salazar para o ‘Governo da Nação’ (em 1928, como ministro das Finanças, e em 1932 como presidente do Conselho);

- 1933 é porventura o ano mais emblemático do Estado Novo, o ano em que são aprovados a ‘Constituição Corporativa’ e o Estatuto do Trabalho Nacional, e criados a Polícia de Vigilância do Estado (antecessora da PIDE), o Secretariado da Propaganda Nacional e os Tribunais Militares Especiais;

- No âmbito da Igreja e das organizações de leigos católicos, 1933 é também o ano da institucionalização da Acção Católica Portuguesa e da extinção do Centro Católico Português (donde provinham Salazar e Cerejeira);

- 1933-1936 corresponde à fase de consolidação do Estado Novo: em 1936 começa a Guerra Civil de Espanha e, em 1937, Salazar escapa ileso a um atentado à bomba;

- O apogeu do regime fascistas português (até 1940, com o início da Segunda Guerra Mundial; momento alto do regime com a Exposição do Mundo Português e as Comemorações do Duplo Centenário da Fundação da Nacionalidade, em 1140, e da Restauração, em 1640);

- O período de crise e dificuldades resultantes da Segunda Guerra Mundial e, no imediato pós-guerra, do derrube dos principais regimes fascistas europeus (1945-1949);

- A fase de reestabilização através da integração de Portugal no mundo dual da 'Guerra Fria’ (1949-1961) (1958: campanha do general Humberto Delgado; 1959: adesão à EFTA; 1960: adesão ao FMI; 1961: início da guerra colonial em Angola, perda dos territórios de Goa, Damão e Diu);

- A longa agonia do regime salazarista (1961-1968);

- E, por fim, o marcelismo, tentativa tardia e falhada de modernização do regime ditatorial, e a sua desagregação, devido à acumulação de tensões contraditórias de natureza endógena e exógena, terminando com o golpe militar e, depois, com a Revolução de 25 de Abril de 1974.»

(Alguns dos sublinhados, e o reforço de outros, são meus)

Salazar morreu no dia 27JUL1970, com 81 anos. Como já referi antes, no Verão de 1968, Salazar, com 79 anos, que gozava férias no forte de S. João do Estoril, deu uma queda de uma cadeira de que resultou a sua incapacidade física e intelectual.

Internado e agonizante, pensava que ainda era o chefe do governo – já Marcelo Caetano o substituíra. O seu submisso e indefectível amigo, Américo Tomás, sempre o poupou, até ao fim, ao desgosto de saber a verdade.

A bibliografia sobre Salazar é imensa. Mas sempre tem merecido particular destaque o livro de Christine Garnier, Vacances avec Salazar, publicado em Paris, em 1952, e em Lisboa, no mesmo ano (Férias com Salazar).

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Faz hoje 95 anos (1910), era uma QI: nasceu Francisco Keil do Amaral, arquitecto português. Ainda reinava D. Manuel II. Pontificava Pio X (257º).

Foi o autor do pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de Paris, em 1937, da Aerogare de Lisboa e dirigiu as obras do Parque de Monsanto e do jardim do Campo Grande, em Lisboa.

Publicou vários trabalhos, livros e artigos, na sua área profissional. Teve vários prémios, nomeadamente o Prémio Valmor em 1962. E foi destacado membro da oposição ao Estado Novo, com participação activa, por exemplo, nas eleições presidenciais de 1958, pela candidatura de Humberto Delgado, e no Congresso da Oposição em Aveiro, em 1973.
Morreu em Lisboa, aos 19FEV1975, perto de perfazer os 65 anos.

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Faz hoje 87 anos (1918), era um DM: Sidónio Pais é eleito presidente da República Portuguesa. Era ainda PR Bernardino Machado. A Igreja era dirigida por Bento XV (258º).

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Faz hoje 86 anos (1919), foi numa SG: é fundada a Liga das Nações. Em Portugal era PR Canto e Castro. Prosseguia o pontificado de Bento XV.

No dia 28 de Junho de 1919 os alemães viram-se forçados a assinar o Tratado de Versalhes, conjunto de condições de paz a impor pelas potências aliadas (Inglaterra, Estados Unidos, França e Japão) e associadas (entre outros, Portugal, Brasil, Bélgica e Grécia) à Alemanha. Uns dias após a realização deste colóquio, a 28 de Abril de 1919, a Conferência de Paz de Versailles aprovou a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), atendendo a uma proposta do então presidente dos Estados Unidos, Thomas Woodrow Wilson. Sedeada em Genebra, na Suíça, a Liga das Nações deu início às suas actividades em Janeiro de 1920, tendo como missão agir como mediadora no caso de conflitos internacionais, procurando assim, preservar a paz mundial. Mas a Liga das Nações revelou-se inoperante e sem força política, devido à ausência das grandes potências. Seria uma primeira tentativa fracassada de criação da Organização das Nações Unidas, que só viria a vingar em 1945, após a 2ª Guerra Mundial.

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Faz hoje 64 anos (1941), foi numa SG: nesta data em que Salazar faz 52 anos, a União Nacional e as outras estruturas do regime promovem, em Lisboa, no Terreiro do Paço, uma manifestação em sua homenagem. Era Carmona o PR. Pontificava Pio XII (260º).

As crónicas registam algumas interessantes e “espontâneas manifestações” destes tempos.

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Faz hoje 60 anos (1945), era um SB: morreu Benito Mussolini, político italiano. Em Portugal o PR era o general Carmona. Pio XII (260º) era o Sumo Pontífice da Igreja.

Nascido em 1883, começa por ser professor e por se aproximar dos socialistas. A sua intransigente defesa, em 1914, da intervenção da Itália na Guerra ao lado dos aliados, afasta-o definitivamente dos socialistas. Funda o jornal Il Popolo d’Italia, mais tarde órgão do seu partido fascista. Terminada a guerra e considerando, como tantos italianos, a Itália lesada pelo tratado de paz, e ainda levado pela miséria e anarquia reinantes no seu país, cria o célebre Partido Fascista, em 1919. Em 1922 organiza e lidera a célebre Marcha sobre Roma. O rei Vítor Manuel III, designa-o para formar um novo governo. Depressa (1925) passa de primeiro-ministro a chefe absoluto (Il Duce). A sua política interna consolida a sua popularidade, mas a sua política externa não é tão bem sucedida: é com a indignação geral que conquista a Etiópia (1935-36). Aproxima-se da Alemanha de Hitler (Pacto de Aço, de 1939, que cria o Eixo). Entra na guerra (1940) ao lado da Alemanha. A Itália, agora mero instrumento de Hitler, faz decrescer rapidamente a popularidade do Duce. O rei ordena a sua destituição e prisão (1943). Ainda tenta, no norte da Itália fundar uma república corporativa e fascista, mas sem êxito. Tenta, também, a fuga para a Suiça, mas é interceptado por partidários comunistas que o executam sumariamente.

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Faz hoje 46 anos (1959), era uma TR: o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes é condenado ao exílio. Era PR o almirante Américo Tomás. Pontificava o papa João XXIII (261º), o “bom papa João”, como muitos o recordam.

O bispo do Porto pagou o preço da sua “intervenção” nos negócios de Estado:

em 13JUL1958, poucas semanas depois das presidenciais (ainda era PR o general Craveiro Lopes, pois o Almirante Américo Tomás só tomaria posse em 09AGO seguinte), o Bispo do Porto escreve uma carta a Salazar criticando alguns aspectos do regime, o que lhe valeu o desterro donde só regressaria depois da morte do ditador.

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Foi há 43 anos (1962), um SB: greve e manifestação dos mineiros de Aljustrel: 2 mortos e dezenas de feridos foi o resultado da violenta repressão concretizada pela GNR. Era Américo Tomás o PR.
Pontificava João XXIII.

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Faz hoje 36 anos (1969): era uma SG: o presidente francês Charles de Gaulle demite-se. Em Portugal era PR Américo Tomás. No Vaticano pontificava Paulo VI (262º).

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Completam-se hoje 31 anos (1974), foi num DM: Mário Soares, Ramos Costa e Tito de Morais regressam do exílio. Spínola era o PR. Paulo VI (262º), o papa reinante.

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Na mesma data: dissolução da Assembleia Nacional e do Conselho de Estado.

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Faz hoje 30 anos (1975), era uma SG: morreu, em Lisboa, Leopoldo Neves de Almeida, escultor português. Era PR o general Spínola. Pontificava Paulo VI (262º).

Nascido, também em Lisboa, em 1899, foi professor de desenho na Escola Superior de Belas-Artes. Deixou muitas obras monumentais, como, por exemplo, o Padrão dos Descobrimentos, em Belém, Lisboa. Também na área da arte sacra tem muitas obras, como as imagens da Virgem e de S. João Baptista da igreja de Fátima, em Lisboa.

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Faz hoje 24 anos (1981), era uma SG: a escritora Maria Alberta Menéres recebe o Grande Prémio Gulbenkian da Literatura Infantil. Era PR o general Ramalho Eanes. Pontificava João Paulo II (264º).

São seus O Cântico de Barro (1954) e A Palavra Imperceptível (1955). Na área em que aquele prémio a distinguiu, destaco Conversa com Versos (1968), A Lenga-Lenga com Vento (1976) e A Gaveta das Histórias (1995). A sua obra é muito vasta.


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