sábado, abril 16, 2005

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Foi há 424 anos (1581), um DM: Filipe I (18º), com 54 anos, é aclamado rei de Portugal. Pontificava Gregório XIII (226º).
Filipe I (que era Felipe II de Espanha, desde 1556) nasceu a 21 MAI 1527. Era filho de Carlos V, imperador da Alemanha e rei de Espanha, e da imperatriz D. Isabel, filha do nosso rei D. Manuel. O seu primeiro casamento (aos 16 anos) foi com uma sua tia materna, D. Maria Manuela (irmã de sua mãe [melhor, e se estou certo: meia irmã - irmã consanguínea - porque filha doutro casamento de D. Manuel], logo, também ela filha do seu avô, o monarca português D. Manuel). Mas D. Maria morreria (de parto: príncipe D. Carlos) passados dois anos.
Foi reconhecido e aclamado pelas Cortes de Tomar, em 1581.04.16 [DM].
Foi ele que mandou fazer a compilação das leis portuguesas - que ficaram para a História como Ordenações Filipinas (trabalho que só ficou concluído e foi publicado em 1603 - já no reinado de Filipe II).
De 1580 a 1640: domínio filipino: os reis Felipe II, Felipe III e Felipe IV de Espanha (respectivamente, em Portugal: Filipe I, Filipe II e Filipe III) "cingiram a Coroa portuguesa em regime de monarquia dual". O próprio Filipe I estimulou nas Cortes de Tomar de 1581 o pacto que jurava respeitar: a legislação e a moeda eram matéria da exclusiva competência das Cortes portuguesas; todo o funcionalismo seria formado por portugueses, como na mão dos portugueses ficariam "as pastas" do comércio com a África e com a Índia. Além de que a língua seria, necessariamente, a portuguesa.
As coisas até nem funcionavam mal: a acalmia política e o bem-estar económico eram uma realidade que se constatava.
Por sinal, foi durante esse período que alguns dos mais vastos edifícios portugueses foram construídos: S. Vicente de Fora, a Sé Nova de Coimbra, o palácio ducal de Vila Viçosa (dos duques de Bragança)...
Mas a partir de 1620 instalou-se a crise em Espanha. E a cada vez mais acelerada queda (de domínio, de poder, de posições) da Espanha, arrastava a queda de Portugal. O que havia que evitar a todo o custo.
.. Em 1640, um secreto golpe, preparado sem qualquer ligação com os representantes do povo, resultou da melhor forma, obtendo o imediato empenho, e entusiasmo e apoio de todo o país: é a restauração da independência de Portugal e o início da dinastia (4ª), de Bragança ou brigantina.
A 3ª dinastia ficou conhecida como dinastia da Casa de Áustria ou Filipina.
D. Sebastião era filho de D. João (o 7º filho – de 8 – de D. João III e de D. Catarina), que morreu prematuramente, com 16 anos, mas que tinha casado aos 15 com Joana, filha de Carlos V e de D. Isabel, (esta, filha de D. Manuel). Também o nosso Filipe I (Felipe II de Espanha) era igualmente filho do Imperador Carlos V e da Imperatriz D. Isabel, filha de D. Manuel. Ou seja: Filipe I era tio de D. Sebastião, porque irmão de sua mãe, Joana.
É de justiça sublinhar que Felipe II (que depois viria a ser o nosso Filipe I) se esforçou por dissuadir o sobrinho, o nosso rei D. Sebastião, de levar por diante o tresloucado projecto de conquistar Marrocos, não obstante a morte de D. Sebastião facilitar o seu sonho de união ibérica. D. Sebastião, porém, não deu ouvidos aos bons conselhos que lhe davam, “respondendo a tudo disparatadamente e chegando a perguntar ao duque de Alba [seu conselheiro militar] de que cor era o medo”. Foi no Escorial, aos 13 AGO 1578, que Felipe II soube da catástrofe de Álcacer-Quibir.
Seguiu-se o curto reinado (17 meses) do Cardeal D. Henrique. Por mais porfiados esforços que Portugal fizesse junto da Cúria Romana, para que o rei-cardeal pudesse ser objecto de especial dispensa para que pudesse casar e dar um sucessor ao reino, tal desiderato não foi conseguido, e o fim da dinastia estava à vista.
Perfilava-se, no horizonte, portanto, a possibilidade segura de o monarca espanhol, Felipe II, ser o próximo rei português, e poder, finalmente, cingir as duas coroas da península.
Nesta conjuntura eram quatro os principais pretendentes que se apresentavam à sucessão do trono: a) D. António, Prior do Crato - que era filho natural do culto príncipe D. Luís, irmão de D. João III, logo, também filho de D. Manuel; b) D. Catarina, duquesa de Bragança, igualmente neta de D. Manuel, porque filha do (também ele culto, como seu irmão D. Luís) infante D. Duarte; c) Felipe II de Espanha, ainda ele, neto de D. Manuel, já que filho da infanta D. Isabel (que casou com o imperador Carlos V); d) D. Manuel Felisberto, duque de Sabóia, por sua vez também neto de D. Manuel, pois que era filho da infanta D. Beatriz (que casou com Carlos III, duque de Sabóia).
Numa perspectiva - parece que o critério mais seguido - dos quatro pretendentes, o que tinha mais direito à sucessão, era D. Catarina de Bragança: por ser a única sucessora na linha masculina, numa linha legítima de ascendência. (D. António também era sucessor na linha masculina... mas era filho natural [não legítimo, portanto] do infante D. Luís.
Todos eles, como vimos, netos de D. Manuel. E também todos sobrinhos de D. João III.
Contudo, “os mais sérios rivais do espanhol, como pretendentes à coroa, eram a duquesa de Bragança, que tinha a preferência de D. Henrique, e o Prior do Crato, D. António, para quem se dirigiam as simpatias populares”. “D. Henrique, que de princípio era adverso a Felipe II, acabou por se lhe mostrar favorável, graças ao ódio que o animava contra o Prior do Crato”. Considerava, na realidade, o castelhano como o pretendente mais capaz de enfrentar e vencer D. António.
Uma vez falecido D. Henrique (31 JAN 1580). Felipe II tudo fez para não enfrentar Portugal pela força das armas. Contudo, o tempo ia passando, e os decisores lusitanos não o designavam herdeiro da coroa portuguesa. Felipe II reúne, então, uma força militar que venceu facilmente o improvisado e mal armado exército do Prior do Crato (25 AGO 1580). A 05 DEZ 1580 parte Felipe II para Elvas, acompanhado do seu sobrinho, o cardeal-arquiduque Alberto de Áustria, filho do imperador Maximiliano II e de Maria de Áustria, filha de Carlos V. Felipe II convoca Cortes para Tomar, dado que em Lisboa grassava a peste, sendo aí reconhecido e aclamado rei de Portugal, aos 16 ABR 1581.

.

Foi há 793 anos (1212), uma SG: bula “Manifestis probatum”, de Inocêncio III (que foi eleito papa aos 37 anos), de 16ABR1212, "em que recebia sob sua protecção o monarca, o reino e todas as terras que fossem libertadas, do jugo dos infiéis, terras sobre as quais nenhum direito podiam alegar príncipes cristãos circunvizinhos". Isto na sequência do pedido de D. Afonso II ao Papa da confirmação do reino.
D. Afonso II era filho de D. Sancho I e da rainha D. Dulce. Casou com uma filha de Afonso VIII de Castela, D. Urraca (que viria a morrer a 03NOV1220) de quem teve, além do seu sucessor, D. Sancho II, pelo menos mais um filho: D. Fernando (que ficou conhecido por infante de Serpa). Quando D. Afonso II (cognominado o “Gordo”) sobe ao trono (26MAR1211), logo convoca as Cortes de Coimbra, para esse mesmo ano. Foram as primeiras Cortes de que há notícia.
"Nessa assembleia foi decretada a primeira colecção de leis escritas de aplicação geral, e a leitura desses textos não deixa dúvidas sobre a orientação política do monarca. Eis o preâmbulo de uma das primeiras leis nacionais: «porque a nós pertence de fazermos mercê aos mesquinhos e de os defendermos contra os poderosos...» " (José Hermano Saraiva, Breve História de Portugal, ilustrada; Bertrand, MAR1981, pg 34)
Nas Cortes de Coimbra, “as mais antigas de que há notícia exacta, tomaram-se providências tendentes à protecção da coroa e das classes populares, e a regularizaras rela ções com o clero.
Com o fim de auxiliar o sogro, Afonso VIII de Castela, que andava em guerra com os mouros, mandou o rei de Portugal àquele país um corpo de tropas a combater os infiéis; estes sofreram uma grande derrota na batalha de Navas de Tolosa (1212).
Em 1217, auxiliado pelos cruzados, D. Afonso II reconquistou aos mouros a praça de Alcácer do Sal” – segundo o livro de História da minha 4ª classe: Sumário da História de Portugal, de Tomás de Barros, Editora Educação Nacional, de Adolfo Machado, Porto, 1948, págs 23 e 24.

.

Foi há 177 anos (1828), uma QA: morre, em Bordéus, França, Francisco de Goya (Francisco de Goya y Lucientes), pintor espanhol. Em Portugal reinava D. Miguel (29º). Em Roma pontificava Leão XII (252º).
Nasceu em 30MAR1746. Em 1789 é designado pintor da Corte. Executou vários cartões de tapeçaria, pintou numerosos retratos. Muito célebres ficaram os seus quadros da Maja Despida e da Maja Vestida, pintados por volta de 1800.

.


Foi há 161 anos (1844), uma TR: nasce, em Paris, Anatole France, pseudónimo de Anatole François Thibault, escritor francês. Em Portugal reinava D. Maria II (30º). Pontificava no Vaticano Gregório XVI (254º).
“Mestre da língua francesa, ficcionista delicado e impregnado da cultura clássica, possuía uma notável erudição”. Foi durante sete anos cronista literário de Temps. Eleito para a Academia Francesa em 1896, o autor de Les Dieux ont soif foi prémio Nobel em 1921. “Diletante e céptico, não aderiu a nenhum credo religioso, filosófico ou político”.

.

Foi há 155 anos (1850), uma TR: morre Marie Tussaud, nome de casada de Marie Grosholz, escultora francesa. Em Portugal continuava o reinado de D. Maria II. Na altura o papa era Pio IX (255º).
A escultora fundou o famoso museu de Londres, Madame Tussaud em 1835.
«O grupo que detém o famosos Museu de cera da Madame Tussaud, em Londres, foi vendido a uma holding privada propriedade do governo do Dubai. A Dubai International Capital comprou o Tuddaus Group por 1,5 mil milhões de libras – cerca de 2,2 mil milhões de euros.
O Tussaud Group inclui actualmente vários museus de cera, em cidades como Nova Iorque, Las Vegas, Amesterdão e Hong Kong, a par da sede, em Londres» - noticiava o Diário Digital de 24.03.2005

.

Foi há 116 anos (1889), uma TR: nasce Charlie Chaplin, cineasta e actor de origem inglesa. Em Portugal reinava, na época, D. Luís (32º). E o chefe da Igreja era Leão XIII (256º).
Charlie Spencer Chaplin (este o seu nome completo), nasceu no bairro de Remington, em Londres. “Filho de artistas de feira, conheceu, desde a infância, dias da mais negra miséria, com seus irmãos Wheler e Sidney, este também, mais tarde, comediante notório na cinematografia. Viviam na sórdida mansarda que Chaplin fez reproduzir integralmente para o seu celebérrimo filme The Kid (em português, “O Garoto de Charlot”, uma das suas obras notáveis”. Órfão de pai, muito cedo, foi a mãe que o iniciou na pantomima. Aos oito anos trabalhava num grupo de dançarinos em tamancos que lhe sugeriram a sua tão célebre e característica maneira de andar, atirando os pés para fora.
Nos começos do séc. XX entrou (assim como o irmão, Sidney) para célebre companhia excêntrica de Fred Karno, onde Charlie logo criou o seu tipo universal de Charlot.

.

“silhueta tragi-cómica de pobre diabo sentimental,
ridículo e comovedor a um tempo, conservando traços de elegância nas suas maneiras
dentro do trajo pretencioso mas esfarrapado, generoso e sempre infeliz,
passa-culpas de todos, bode expiatório eterno, ludibriado, escarnecido, moído de pancadas,
mas inalteravelmente bom e sem ódios,
Charlot (forma francesa de Charlie […])
é a maior e mais singular criação do cinema,
a personagem que a maior parte tem como cómica
e alguns como profundamente dramática,
mais ainda, trágica, como como as figuras do teatro grego,
e que, como estas,
conquistou foros de eternidade.”

.

[Aqui está um caso em que se perde a verdadeira e expectante identidade de alguém
– preço da colaboração numa enciclopédia.
Cfr GEPB, vol 6, pág 616].

.

Com esta companhia correu o mundo inteiro e em 1910 (tinha 21 anos) apareceu nos EUA num elenco do mesmo Karno, onde era cabeça de cartaz, com Stan Laurel. Em 1912 volta a Londres, mas para logo de seguida regressar à América e dar o impulso final à sua extraordinária carreira.
Muitos filmes – hoje clássicos do cinema – foram produzidos, dirigidos e interpretados por Chaplin. Primeiro em Charlot Boxeur e Charlot no Music-hall. Depois seguiu-se uma série de pequenas obras-primas: O Emigrante e O Vagabundo são dois exemplos entre vários desta fase.
De 1918 a 1922 fez oito grandes filmes, entre eles Vida de Cão, Nas Trincheiras, Os Vadios, e, finalmente, O Peregrino e O Garoto de Charlot, com a sua pequena descoberta, Jackie Coogan.
Depois realiza um grande filme por ano, em que intervém como protagonista, autor e director: A Quimera do Ouro, O Circo, As Luzes da Cidade, Tempos Modernos, outras tantas obras-primas. As duas primeiras em cinema mudo, as outras em sonoro, mas sem que Charlot fale. Aliás, Charlot foi adversário do sonoro até ao limite extremo, anunciando ao mundo que a sua personagem seria sempre muda, uma silhueta apenas.
Mas a sua intransigência teve de ceder perante a invencível voga do cinema falado.
É então que realiza, em 1939 (comemorando os seus 50 anos) O Grande Ditador, feroz sátira política, violento libelo anti nazi, em que, finalmente, fala diante de um microfone. Filme estreado, com enorme sucesso, em Nova Iorque, no “Astor”, em Outubro de 1940.
Quando, em 1952, se deslocava a Londres para a estreia do seu filme Luzes da Ribalta, foi-lhe proibido o regresso aos EU. Fixou então residência na Suiça.
Em 1956 realiza, em Londres, Um Rei em Nova Iorque.
Em 1972 regressa, finalmente aos EU, onde é aclamado como verdadeiro mago do cinema.
Em 1924 tinha recebido o Óscar “pela versatilidade e pelo génio em escrever, interpretar, dirigir e produzir O Circo”.
Mas muitas outras menções honrosas o distinguiram: condecorações, prémios internacionais, doutoramentos honoris causa. Foi alvo de muitas e muitas homenagens.
Chaplin morre na Suiça aos 24DEZ1977.

.

Foi há 97 anos (1908), uma QI: nasce António Lopes Ribeiro, cineasta português. Ainda reinava D. Carlos (33º). Pio X (257º) era o papa.
Há dias atrás (14ABR), quando se referiu a morte deste cineasta, mencionei alguns dos seus trabalhos e actividades na área do cinema. Ver, pois, “A memória do tempo que passa” dessa data.

.

Foi há 84 anos (1921), um SB: nasce Peter Ustinov, escritor (dramaturgo) e actor inglês, de origem franco-russa. Em Portugal o PR era António José de Almeida. O soberano pontífice era Bento XV (258º).
O êxito da sua peça Romanoff and Juliet (1961) levou-o ao cinema, onde realiza e interpreta os seus filmes. Celebrizou-se na interpretação da personagem criada por Agatha Christie, Poirot.

.

Foi há 33 anos (1972), um DM: lançamento da nave espacial Apollo 16. Em Portugal na chefia do Estado estava Américo Tomás. O papa era Paulo VI (262º).
O grande objectivo do projecto Apolo era o envio de um homem à superfície da Lua e o seu regresso à Terra em segurança, nessa década de 60 – anunciado pelo presidente dos EU, John Fitzgerald Kennedy, em 25 de Maio de 1961. Esse feito foi conseguido com a Apolo 11 que partiu da Terra em 16JUL1969, tripulada por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. Em 20 do mesmo mês, Neil Armstrong pisou o solo lunar, no Mar da Tranquilidade, afirmando: “é um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade”. Vinte minutos depois Aldrin seguiu-o. É então que todo o mundo os vê aos saltinhos (efeitos da gravidade, melhor, da sua falta) na superfície da lua, aí colocando a bandeira dos EU. O regresso à Terra aconteceu a 24JUL seguinte.
Já o objectivo da Apolo 16, tripulada por Young, Mattingly e Duke, foi o de colocarem o primeiro observatório astronómico noutro corpo celeste, o que foi conseguido aí. Regressaram à Terra a 27ABR seguinte.

.

Foi há 15 anos (1990), uma SG: Rosa Mota, atleta olímpica portuguesa, vence, pela terceira vez, a maratona de Boston, EUA. O PR na altura era o Dr Mário Soares. A Igreja tinha à sua frente João Paulo II (264º).
A atleta, que nasceu na Foz do Douro, Porto, aos 29JUN1958, iniciou a prática do atletismo aos 14 anos de idade. Além de ter somado muitos recordes nacionais, e de ter sido oito vezes campeã nacional de crosse, ao longo da sua carreira, ainda reuniu no seu palmarés os seguites títulos: vencedora, por seis anos consecutivos (1981-1986) da muito conhecida corrida de S. Silvestre, de S. Paulo, Brasil; medalha de bronze na maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984); medalha de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Seul (1988), o Campeonato Europeu da Maratona (1982, 1986, 1990), o Campeonato do Mundo da Maratona (1987) e finalmente venceu a maratona da Taça do Mundo, corrida em Londres (1991).

.

Foi há 7 anos (1998), uma QI: o corpo do ditador e líder dos kmehrs vermelhos, Pol Pot, é apresentado ao mundo no Cambodja. Em Portugal o PR era o Dr Jorge Sampaio. Continuava o pontificado de João Paulo II (264º).
No Cambodja há uma realidade que ultrapassa todas as vicissitudes: as fabulosas ruínas de Angkor: “talvez o mais rico e espectacular conjunto arquitectónico de todo o mundo”. A pérola arquitectónica, a glória da cultura khmer. Já li e ouvi esta opinião repetidamente, e é um dos “santuários” que ainda espero, um dia, poder visitar.
Mas as famosas ruínas não conseguem fazer esquecer ou iludir os acontecimentos trágicos que se abateram sobre os martirizados khmeres.
Os khmers vermelhos e o regime sanguinário do criminoso Pol Pot, que se instalaram no país em 1974, após a destituição do príncipe Sihanouk, tomaram o poder em Abril de 1975. Dois a três milhãoes depessoas foram executadas ou expulsas do país.
Em entrevista ao EXPRESSO, em 22JUN2002, conduzida por Clara Ferreira Alves, dizia George Steiner, esse nome de perfil tal que impõe um respeito imediato (talentoso e conceituado ensaísta, professor e escritor, de ascendência judaica, nascido em 1929, em Paris, mas a viver nos EU desde 1940):
«Em todas as vidas existe um dia que muda todas as coisas. Você ainda é demasiado jovem mas esse dia há-de chegar. Para mim, chegou quando eu percebi que o sr. Pol Pot no Camboja tinha enterrado vivos cem mil homens, mulheres e crianças. Eu aceito que sobre Auschwitz muito pouca gente sabia, embora Elie Wiesel diga que se sabia, mas eu acho que muito poucos sabiam. As notícias sobre Pol Pot estavam em todas as televisões, chamavam-se os “killing fields”. E nada fizemos!»
Numa outra entrevista, apanhada casualmente na NET, pude ler:
«Adolescente ainda, Luon foi retirado da família. Com muitos outros rapazes e raparigas da sua idade. 'Amontoaram-nos nuns barracões, recorda. 'Todas as noites vinham buscar alguns de nós para serem executados'.
Tuol Sleng, a tristemente célebre escola secundária tornada no cárcere mais temido do regime maoísta. Hoje, chamam-lhe o museu 'dos horrores praticados pela clique de Pol Pot'. Daí, milhares de prisioneiros, depois de torturados, foram conduzidos para os campos de extermínio - os tristemente famosos killing fields. Meras valas comuns abertas a uma dezena de quilómetros da capital, onde se ergue hoje um memorial com centenas de caveiras e vestuário de vítimas.»
É, de facto impressionante. Mas Luon (o entrevistado) vive nos EU e aí trabalha como padeiro, suponho. E diz maravilhas desse país, que considera um exemplo de democracia... Só que li também, igualmente na NET, num comentário ao filme ‘O Americano Tranquilo’, (com Michael Caine, filme que se confirmou ser uma belíssima adaptação do romance de Graham Green) cuja acção se passa no Vietname, em 1952, na guerra pela sua independência da França: “quanto ao Cambodja, foi muito conveniente para os EUA que o resto do mundo tivesse outro Hitler a quem apontar o dedo por causa do genocídio: Pol Pot. Mas até Pol Pot, pelas piores estatísticas, é um menino de coro comparado à barbárie dos EUA”.
As opiniões dividem-se, claro.
Mas um facto que parece ser consensual é que Pol Pot é um nome que deve figurar na galeria dos facínoras e sanguinários déspotas que o mundo já conheceu: a par de Hitler, Stalin, Osama Bin Laden e outros…

Sem comentários:

free web counters
New Jersey Dialup