segunda-feira, abril 11, 2005

LIDO E ANOTADO

«[A propósito do congresso do PSD] embora a referência a Portugal esteja sempre presente, existe uma espécie de nacionalismo partidário que não deixa de impressionar. Acima de tudo, existe o partido. A força do partido é algo que tem uma importância absoluta. Não é Portugal que está primeiro, é o partido que está ao serviço de Portugal. Se, em determinadas circunstâncias, se põe em causa o partido, é porque devemos pensar na realidade complexa do partido, porque é este que conta.»
Eduardo Prado Coelho (Público, SG 11 ABR 05)

«O povo que pela televisão, pela rádio e pela imprensa globais vimos unido em pensamento e coração com o passamento de João Paulo II, excedeu o que se podia imaginar. Na homenagem que livre e espontaneamente tantos e tão diversos homens e mulheres, poderosos e anónimos, velhos e jovens, crentes de tantas religiões e não crentes, lhe quiseram prestar, em Roma e por toda a parte, reuniu-se, como nunca dantes, o mundo todo!
Perante isto, não é possível passar honestamente adiante sem nos sentirmos fortemente interpelados pelo essencial do fenómeno.»

Mário Pinto (id, id)

«Compreendo mais facilmente porque este Papa foi humilde e forte; caloroso e sem respeitos humanos contra o erro; foi corajoso e fez a confissão inteira e pública dos pecados da Igreja, perante o mundo e as outras religiões; foi um homem de oração e de acção; sem receio de mostrar o seu discernimento místico na fé. (…)
Foi conservador porque conservou o que é bom e deve ser conservado, pense o mundo o que quiser. Mas não reteve nada que tivesse que ver com o conservadorismo dos orgulhos ou poderes do passado, os velhos privilégios de poder ou de influência, com a submissão à hegemonia dos países mais fortes. A sua última grande encíclica social, Centesimus annus, contém uma intrépida recapitulação sobre a doutrina do destino universal dos bens, e, como nunca se escreveu antes, a mais extensa, dura e directa crítica ao capitalismo materialista da era pós-comunista»

Id (id, id)

«Todos os partidos têm um lado tribal. E o PSD mais do que todos os outros. Os congressos social-democratas são, de resto, exercícios únicos onde se misturam rituais tribais de amor ao partido - mesmo quando se diz que o maior amor é Portugal... - com aquilo que é próprio dos terrenos onde se confrontam as diferentes famílias que integram as tribos. Com uma particularidade: no PSD muda-se de família muitas vezes, ao sabor das conveniências e sem coerência perceptível.»
José Manuel Fernandes (id, id)

«A herança da mais desastrada e trágica de todas as suas lideranças, a de Santana Lopes, é pesada. O partido revelou-se mais tribalizado do que nunca, com grupos e grupinhos a federarem-se para conseguirem migalhas de poder interno. (…)A prova disso é a permanência da pulsão populista, indisfarçável quando um candidato como Luís Filipe Menezes recebe quase 44 por cento dos votos dos delegados.»
Id (id, id)

«Marques Mendes venceu o Congresso do PSD, em Pombal. Uma vitória anunciada, mas bem menor do que a que a maioria previa. O populismo nas hostes do PSD ainda vai vingando. Foi uma vitória de Pirro. Que fazer com esta vitória que lhe não dá forças para a ruptura e lhe exige muita força para a negociação? Marques Mendes sempre foi considerado um hábil negociador, sobretudo na sua vertente parlamentar. Sendo um homem mais lógico do que emotivo, vai ter de estabelecer equilíbrios no Conselho Nacional, onde tem 19 votos, contra 11 de Menezes e 22 das outras listas. Vai ser um exercício de diplomacia, de corredor e de cedências. Uma estratégia para fazer oposição ao Governo será talvez possível. Não parece é ser possível uma estratégia para alterar o PSD, regenerá-lo, desejo expresso por tantas vozes.»
Rogério Rodrigues (A Capital, SG 11 ABR 05)

«O PSD tem uma característica muito própria não gosta de dizer mal dos seus líderes partidários, mesmo que estes tenham conduzido o partido a uma catástrofe eleitoral. Fiel à tradição, o Congresso de Pombal não só não discutiu a deriva populista recente, como deu quase metade dos votos ao candidato à liderança que só se perfilou por, nas suas palavras, Santana Lopes não querer continuar à frente do partido. Como se tudo isto não bastasse, conhecida a votação, verificou-se que boa parte dos 56 por cento que deram a vitória a Marques Mendes apoiou a moção de António Borges, que não deixara de frisar ser o novo líder uma segunda escolha para os subscritores dessa moção.»
António Perez Metelo (DN, SG 11 ABR 05)

«Como todas as leis, esta [limitação dos mandatos políticos] também não terá efeitos retroactivos, pelo que os dinossauros do poder – central, regional e local – vão chegar até ao final dos respectivos mandatos, mesmo que tenham manifestamente dado provas de ter ultrapassado os prazos de validade. O que não quer dizer que não vão estrebuchar numa derradeira tentativa de sobrevivência.
Os verdadeiros dinossauros também teriam resistido se os astros lhes tivessem dado tal oportunidade.
Mas a lei, do que já se conhece, não vai constituir um cataclismo semelhante ao que varreu da face do planeta os portentosos sáurios. Portugal é um país civilizado, de brandos costumes e hábitos contemporizadores. (…)

A lei valerá daqui para o futuro mas o passado fica a zeros. O que daria, por exemplo, para que Alberto João Jardim ou Carlos César não pudessem habilitar-se a mais de três novos mandatos, não entrando nas contas os que já cumpriram. No caso do governador da Madeira, isto significaria que Alberto João Jardim se poderia, na prática, abalançar a disputar o recorde de permanência no poder ainda detido pelo Dr. Salazar.»
João Paulo Guerra (Diário Económico, SG 11 ABR 05)

«Depois de se ter transformado num Peter Pan político, devido à acção Ideológica de Santana Lopes, o PSD quer passar à fase adulta. É sensato e é útil para o país. Sem oposição, qualquer Governo torna-se escravo das guloseimas do poder e sabe-se como tudo isso termina: com a degradação do Império e dos costumes espartanos. Mas, cortando de alguma maneira com o passado, o PSD ainda parece estar perdido no meio de um deserto. (…)O PSD continua à espera de um beduíno que lhe dê boleia. Tendo apagado o passado recente e construído um presente carregado de interrogações, o PSD ainda está à espera de um nevoeiro cheio de cores laranjas.» Fernando Sobral (Jornal de Negócios On Line, SG 11 ABR 05)

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