sexta-feira, abril 15, 2005

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


Foi há 536 anos (1469), um SB: nasceu Guru Nanak, fundador e primeiro dirigente da comunidade religiosa sik. Em Portugal reinava D. Afonso V (12º). Aos destinos da Igreja presidia o papa Paulo II (211º).
O templo Sik em Deli/Índia é um local de constante romaria, quer de crentes, quer de turistas. Estes, para terem acesso ao templo, têm de se descalçar e pôr um lenço na cabeça (calçando umas sapatilhas adequadas, postas aí, tal como o lenço, à disposição das pessoas). Os crentes já usam aquele turbante que os caracteriza.
O templo está em festa permanente: ouve-se, ininterruptamente, a sua música “sacra”. A maneira de estar no templo é a de sentado nos calcanhares. O templo têm ainda no seu interior um museu de símbolos e outros objectos ligados à sua fé. Não são apenas observados pelos turistas… Também os crentes por aí passam, mas com outro espírito e outra unção…
No exterior, e num anexo, existe um permanente apoio logístico ao templo, incluindo uma padaria, onde se coze, artesanalmente, o seu especial pão (para o arredondado, baixinho, um pouco para o mole).

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Foi há 489 anos (1516), uma TR: A rainha Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, foi beatificada, a instâncias de D.Manuel I, por breve de Leão X de 15ABR1516 “só para Coimbra e seu bispado”.
Por mera curiosidade, Leão X foi um dos papas da família Médicis (cfr esta rubrica no passado dia 9 deste mês).
A rainha Santa Isabel viria a ser canonizada por Urbano VIII (25MAI1625) no reinado de Filipe III (20º).

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Foi há 241 anos (1764), um DM: morreu Madame de Pompadour, amante do rei francês Luís XV. Em Portugal reinava D. José (25º). Pontificava Clemente XIII (248º).
Luís XV era neto do Rei-sol, Luís XIV, cujo reinado se prolongou por 72 anos, e a quem sucedeu (o único filho legítimo de Luís XIV, morreu jovem). Além do fausto da sua corte (mais tarde inspiradora do nosso D. João V), Luís XIV celebrizou-se, designadamente, pela sua famosa frase, “L’État c’est moi”, e pelo seu primeiro-ministro, o cardeal Richelieu.
Madame Pompadour exerceu decisiva influência na personalidade e na política de Luís XV. Por exemplo, a extravagante ideia de uma aliança entre a França e a Áustria (em 1756), o que contrariava a tradicional política entre as duas grandes rivais, ficou a dever-se, em grande medida, à sua poderosa influência junto do monarca.

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Foi há 159 anos (1846), uma QA: revolta popular da "Maria da Fonte". Reinava D. Maria II (30º). Pontificava Gregório XVI (254º).
A insurreição popular que ficaria conhecida pela revolta da Maria da Fonte, teve início no Minho e foi prelúdio da longa e sangrenta “guerra da patuleia” (contra o autoritarismo do governo do conde de Tomar, Costa Cabral). A agitação popular liderada pela aldeã Maria da Fonte (da Fonte, porque da Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso), “saiu do impulso espontâneo do povo, sem unidade de comando nem programa político, como simples protesto contra duas leis, se bem que lhe desse alentos a atmosfera de descontentamento contra o governo de Costa Cabral. O motivo próximo, imediato, dos levantes, foi a repugnância em obedecer a uma lei tributária e à que proibia os enterramentos nas igrejas, mandando sepultar os cadáveres em cemitérios longe dos templos, o que à credulidade popular parecia vexatório e ofensivo” (GEPB, vol XVI, pg 327). Na verdade, e relativamente, talvez, à referida lei tributária, um dos gritos de guerra, dirigido aos exactores do fisco, era “abaixo o cruzado para as estradas”.
Ao fim e ao cabo a revolta da Maria da Fonte (15ABR) foi o início uma guerra civil (referida guerra da patuleia) que duraria mais de um ano, até à Convenção de Gramido (30JUN1847).
Patuleias eram os seguidores da ala esquerda do liberalismo português – afinal, os “setembristas”, desde o momento em que a revolução de 09SET1836 os levou ao poder e cujo objectivo último era a adopção da Constituição de 1822 que apontava para “um trono rodeado de instituições republicanas”.
Patuleia era o nome por que era conhecido o partido democrático, popular, na revolução de 1846. “De pata ao léu suspeito que deriva o patuleia”, escrevia Camilo Castelo Branco na sua obra Maria da Fonte.

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Foi há 140 anos (1865), um SB: morreu, assassinado, em Washington, Abraham Lincoln, 16º presidente dos EUA. Em Portugal reinava D. Luís (32º). Pio IX (255º) era o Soberano Pontífice.
Lincoln nasceu no Estado de Kentucky, em 1809, de família modesta. “Recebeu fraquíssima educção escolar, mas leu muito”. Conheceu de perto, nas muitas “viagens que fez para ganhar a vida”, a magna questão que era a escravatura. Em 1834 é eleito deputado à assembleia de Illinois. Em 1837 já era advogado de causas cíveis, granjeando numerosa clientela. Membro do Congresso federal, em 1846, opôs-se vivamente à guerra do México e reclamou, a partir de 1849, a abolição da escravidão. Ganha grande popularidade quando empreende uma campanha abolicionista em diversos Estados. Muito elogiado e apontado como bom pretendente às presidenciais do seu país, autorizou, por fim, os seus amigos a proporem e a trabalharem pela sua candidatura. Indicado, sem qualquer contestação como candidato pelo partido republicano, foi eleito presidente em Novembro de 1860, aos 51 anos.
Entretanto, os Estados esclavagistas do Sul preparavam a secessão. Lincoln proclamou, então, que nenhum Estado tinha o direito de sair da União. Para o Norte, foi uma medida aplaudida; para o Sul, uma declaração de guerra. Menos de seis semanas depois, tinha início a guerra civil (guerra da secessão). A sua energia inquebrantável não evitou que, poucos anos volvidos, fosse alvo de um atentado que o vitimaria mortalmente.

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Foi há 93 anos (1912), uma SG: o Titanic, transatlântico britânico, naufraga ao colidir com um iceberg durante a sua viagem inaugural com destino aos EUA, provocando mais de 1500 vítimas. Isto quando em Portugal decorria a presidência de Manuel de Arriaga. Pontificava Pio X (257º).

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Foi há 92 anos (1913), uma TR: nasceu Raul Rêgo, político e jornalista português. Em Portugal tínhamos na presidência Manuel de Arriaga. Pontificava Pio X (257º).
Nascido no concelho de Macedo de Cavaleiros, morreu em Lisboa, em 2002 com cerca de 90 anos.
Foi um republicano confesso e um destacado oposicionista ao regime do Estado Novo, colaborando, designadamente, na Seara Nova, e no Diário de Lisboa. Foi director do República, e, na sequência da ocupação deste jornal por forças da extrema-esquerda, esteve na origem da criação de A Luta, que dirigiu até 1979. Foi deputado à AR pelo partido socialista e foi também grão-mestre da Maçonaria Portuguesa (1989).
Ficou célebre o seu livro “Para um
Diálogo com o Sr Cardeal Patriarca”, de ABR1968. Ao tempo o patriarca de Lisboa era o cardeal Cerejeira.
Em Outubro de 1986 sai “o que deve ser o livro da su vida, pelo escrúpulo e paixão que nele tem posto” (segundo Mário Soares que o prefaciou): História da República, em 5 volumes.

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Foi há 86 anos (1919), um: nasceu, em Condeixa, Fernando Namora, escritor português. Era então PR Canto e Castro. Pontificava Bento XV (258º).
Formado em medicina pela Universidade de Coimbra, o seu pendor literário fê-lo aderir ao grupo dos jovens poetas do Novo Cancioneiro. “Tendo exercido medicina em ambientes rurais e citadinos, soube, a partir desta experiência, recriar os problemas fundamentais da actual sociedade portuguesa, em tonalidades neo-realistas, mas afastando-se do critério ideológico dominante naquela corrente” – A Enciclopédia, Público, vol 14, pg 5963.
Uma das aldeias em que foi médico foi Monsanto, freguesia do concelho de Idanha-a-Nova (Castelo Branco), onde, na casa que aí habitou, existe uma placa recordando o facto.
Morreu aos 70 anos, em 1989, em Lisboa.
Deixou vasta obra, por ex.: As Sete Partidas do Mundo (1938), Minas de S. Francisco (1946), A Noite e a Madrugada (1950), Domingo à Tarde (1961), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), Deuses e Demónios da Medicina (biografias romanceadas, de 1952), e tantos, tantos mais.
Fernando Namora recebeu os prémios literários José Lins do Rego, Ricardo Malheiros, Fialho de Almeida e D. Dinis.

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Foi há 37 anos (1968) uma SG: nasceu Inês de Medeiros, actriz. Era PR Américo Tomás. No Vaticano pontificava o papa Paulo VI (262º).
Filha da muito conhecida figura pública que é o maestro António Vitorino de Almeida. E irmã de Maria de Medeiros (actriz de craveira internacional e relizadora de cinema, mais velha que Inês 3 anos).

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Foi há 25 anos (1980), uma TR: morreu Jean-Paul Sartre, filósofo e escritor (romancista e dramaturgo) francês. Em Portugal er PR o general Ramalho Eanes. O papa reinante era João Paulo II (264º).
No editorial do PÚBLICO, desta data (15ABR2005), o respectivo director traçava assim o perfil deste autor: «Em Sartre é necessário distinguir várias componentes - a do escritor e dramaturgo, cujo valor resiste ao tempo, a do filósofo, cuja influência se desvanece, e a do "intelectual militante" cuja memória assusta. E assusta não porque sejam hoje muitos os que defendem as "causas" em que Sartre, ainda apresentado como o "intelectual dos intelectuais", se empenhou, mas porque se procura recuperar a sua memória em nome de abstracções idealistas que as suas opções políticas contrariaram de forma repetida. (…)Impressiona que ainda hoje, talvez por um inultrapassável sentimento de orfandade, os nostálgicos da tribo que o venerava como um santo repitam que "mais valia estar errado com Sartre do que certo ao lado de Aron". Ora é exactamente essa a tragédia de muitos intelectuais, incapazes de entenderem quando as suas ideias têm consequências trágicas, que mais do que a retórica dos regimes importa julgar as suas práticas, intelectuais que possuem uma espécie de "doença ocupacional", como lhe chamara Aron, que é a de se oporem por sistema à ordem que lhes permite viverem e escreverem em liberdade. Uma tragédia persistente, pois a sua atracção pelos mundos perfeitos criados nas suas cabeças iluminadas, e que gostariam de impor a todos, é um mal duradouro que os impede de se confrontarem com as cruas realidades da natureza humana.»
Em 20JUN2005 celebrar-se-á o centenário do seu nascimento.

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Foi há 24 anos (1981), um: são transferidos para a Biblioteca Nacional os chamados “arquivos de Salazar” e de “Marcelo Caetano”. Ramalho Eanes era, na altura o PR. Pontificava João Paulo II.

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Foi há 18 anos (1987), uma QA: entrega dos Prémios Pen Clube a Maria Alzira Seixo (ensaio), David Mourão-Ferreira (narrativa), Nuno Júdice (poesia) e Luiza Neto Jorge (tradução literária). Era PR o Dr Mário Soares. Sumo pontífice era João Paulo II.
David Mourão-Ferreira, como escritor, distinguiu-se, sobretudo, no conto, na poesia e no ensaio. Em 1986 (um ano antes da atribuição do prémio) escreveu o seu único romance: Um Amor Feliz, logo premiado com o Grande Prémio do Romance da Associação Portuguesa de Escritores. Mourão-Ferreira nasceu em Lisboa em 1927, onde morreu em 1996.
Maria Alzira Seixo escreveu, por exemplo O Essencial sobre José Saramago (1987), Poéticas da Viagem na Literatura (1998) e teve a seu cargo a coordenação do texto do livro recente (2203) de António lobo Antunes, Boa Tarde às Coisas aqui em Baixo.
Nuno Júdice desde A Noção de Poema (1972) que revelou uma atenção particular à matéria do seu trabalho. “A sua poesia assenta numa «textualidade» discursiva que, por vezes, se confunde com a prosa ou que se expande mesmo na prosa (por exemplo, Plâncton, 1981; A Manta Religiosa, 1982; O Tesouro da Rainha do Sabá, 1984; Adágio, 1989…”. “A atmosfera da sua poesia é neo-romântica, por vezes simbólica, abstracta, mas embebida de elementos do real. (…) É um dos poetas mais significativos da poesia portuguesa contemporânea” – A Enciclopédia, Público, vol 12, pg 4910. Nasceu em 1949.
Luiza Neto Jorge foi essencialmente poetisa. Mas foi também uma excelente tradutora.
“Muito discreta, viveu sempre afastada da feira das vaidades literárias. A sua obra poética abrange, por exemplo, A Noite Vertebrada (1960). Nascida em Lisboa em 1939, aí morreu em 1989.
Foi co-tradutora do livro intitulado Leo Ferré, edição da Ulmeiro, de Mar1984.
Foi também tradutora de O Papalagui / Discursos de Tuiavii, chefe de tribo de Tiavea nos mares do Sul (livro interessantíssimo que põe a nu e a “ridículo” os “curiosos” hábitos e vida dos ocidentais – sempre na sua perspectiva), cuja 11ª edição, da Antígona, é de 1989.

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Foi há 15 anos (1990), um DM: morreu Greta Garbo (cujo verdadeiro nome era Greta Gustavson), actriz de cinema sueca, naturalizada americana, com cerca de 85 anos. Em Portugal decorria o mandato presidencial de Mário Soares. Em Roma prosseguia o pontificado de João Paulo II.
Nascida em Estocolmo em 1905, “mais que uma actriz, é um símbolo e um mito”. Estreou-se em 1923 num filme de Stilller, A Saga de Gosta Berling e em 1927 teve o seu primeiro sucesso com Flesh and the Devil, de Clarence Brown (realizador com quem trabalhou bastante). “A sua beleza, o sorriso enigmático, o gelo aparente sob o qual se adivinham as paixões, a sedução da voz, os papéis de “mulher fatal” fizeram dela a actriz mais célebre dos anos 30 e um dos mitos da história do cinema. Retirada no final da década de 1940, em 1955 foi distinguida pela Academia com um Óscar pelo conjunto da sua carreira” – A Enciclopédia, id, vol 10, pg 3988.

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Foi há 9 anos (1996), uma SG: Guterres, primeiro-ministro português, inicia uma visita ao Brasil, a fim de introduzir uma nova dinâmica nas relações entre os dois países. Era presidente da República o Dr Jorge Sampaio. Papa era então João Paulo II.

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Na mesma data (1996): o ensaísta português Eduardo Lourenço recebe o Prémio Pessoa.
Eduardo Lourenço nasceu em 1923. Perscrutador do destino português (com, por exemplo, O Labirinto da Saudade. Psicanálise Mítica do Destino Português, de 1978), “Eduardo Lourenço iniciou a sua obra ensaística sob o signo da Heterodoxia (1949-1967), o que lhe valeu a suspeição das ortodoxias instaladas , na “situação” e na “oposição”. Encontrou no exterior um lugar privilegiado de observação, simultaneamente próximo e distanciado, simultaneamente português e europeu (Nós e a Europa ou as Duas Razões, 1988; A Europa Desencantada, 1994). O seu ensaísmo abrange uma componente política e outra cultural e literária, na qual emergedistintamente como crítico subtil e agudíssimo observador. Renovador dos estudos pessoanos (Pessoa Revisitado, 1973; Fernando, Rei da Nossa Baviera, 1986), a sua capacidade crítica e preparação teórica permitem-lhe uma constante intervenção cultural e uma dimensão especulativa rara entre nós, também porque releva de um pensamento próprio que sabe fixar na escrita com elegância” – A Enciclopédia, id, vol 12, pg5251. Escreveu também: Tempo e Poesia (1974); Os Militares e o Poder (1975); O Fascismo Nunca Existiu (1976); o Complexo de Marx (1979) e Poesia e Metafísica (1983).

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Também na mesma data (1996) a actriz Beatriz Costa morre com 88 anos.
Quer se tenha gostado dela ou não, está na galeria das vedetas nacionais.

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