É claro que com o outro era diferente: convocava os media para lhes dizer coisa nenhuma.
Os holofotes apontados, a bateria de microfones em frente, um ar de seriedade, uma “pose” de Estado, um olhar percorrendo a sala, “suspense” q.b., uma mão na boca para uma discreta tossidela, enfim o ajeitar dum microfone: “meus senhores, convoquei-os para lhes dizer que não tenho nada para lhes dizer” – domina de novo a sala num olhar abrangente, e conclui – “se os senhores jornalistas tiverem alguma pergunta a fazer, alguma questão a pôr, relativamente à minha declaração… Façam o favor. Estou à vossa disposição.”
Os jornalistas ficaram estupefactos, mudos e quedos.
Não estávamos numa sala de imprensa, mas num cemitério. Silêncio tumular.
Todos se entreolham. Ninguém avança. Mas… Timidamente, alguém levanta a mão:
“Sou Luís Delgado, um dos patrões da Lusomundo: Sr. Primeiro-ministro, Vossa Excelência blá…blá…blá…blá…blá…………………..blá…blaaaaaa. Já o grande Vasco [Graça Moura, pois então] diz que Vossa Excelência e o seu governo… E blá…blá…bláááá…”
Acabado o blá-blá de um começa o do outro: “como o Sr jornalista sabe, este governo é presidido por uma pessoa responsável e competente… blá…blá…blá…blá…bláááá…”
As mesmas redundâncias, as mesmas inanidades…
(claro que estão numa de formal… Se eles se topam!... Se calhar até se tratam por tu…É só mesmo para um dizer coisas, e para dar oportunidade que o outro coisas diga… Um jogo, claro)
Não. Agora não é assim. Pelo menos nisso. E noutra formas de estar e de actuar. E de ver.
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