sexta-feira, abril 22, 2005

O ESCÂNDALO DO BANCO AMBROSIANO NÃO CAIU NO ESQUECIMENTO

Este é um dos "posts" que não entraram na Quarta-feira, 20ABR. Vou tentar "postá-lo" hoje.
Na respectiva leitura tenha-se em atenção este facto

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«Quatro suspeitos respondem pela morte do "banqueiro de Deus"» é o título de um artigo de Alexandra Prado Coelho no PÚBLICO de hoje, com o seguinte destaque:

“O italiano Roberto Calvi, próximo do Vaticano, foi encontrado enforcado numa ponte de Londes em 1982. Mais de 20 anos depois o crime vai ser julgado.”

O assunto, já antigo de muitos anos, foi recentemente abordado pelo DN (Diário de Notícias), na sua edição de 2 do corrente mês, com o título “O poderoso Estado da Santa Sé”, artigo de Kátia Catulo, de cujo texto destaquei:

“O seu prestígio [do Vaticano] como Estado sofre, no entanto, um forte abalo, em 1982, quando várias personalidades do clero são envolvidas no escândalo da falência fraudulenta do Banco Ambrosiano. As relações do Vaticano com o Estado italiano pioram em 1987, após a Justiça ordenar a prisão do cardeal Paul Marcinkus, secretário de Estado do Vaticano e director do Instituto de Obras Religiosas - organismo financeiro envolvido no escândalo do banco italiano. Este capítulo negro da História do Vaticano servirá, porém, para mostrar ao mundo a sua influência.”

Recordo que Marcinkus foi também chefe da segurança do papa.

O referido artigo do PÚBLICO faz, portanto, um apanhado do grande escândalo que foi a fraudulenta falência do Banco Ambrosiano que envolvia importantes figuras da Igreja como o referido cardeal. Escândalo a que a referida jornalista do DN aludiu como “capítulo negro da História do Vaticano”.

Veja, pois, o mencionado artigo do PÚBLICO.

«Chamavam-lhe "o banqueiro de Deus" pelas relações estreitas que mantinha com o Vaticano. Na manhã de 18 de Junho de 1982, Roberto Calvi foi encontrado enforcado por baixo da ponte de Blackfriars, em Londres, com os bolsos cheios de pedras, tijolos e dinheiro. Pouco tempo antes o influente Banco Ambrosiano, a que Calvi presidia, tinha falido.
O caso foi durante os últimos 20 anos considerado um dos mais obscuros mistérios da história criminal da Europa, inspirando inúmeras teorias e ocupando detectives amadores. Durante algum tempo pensou-se que o banqueiro se tinha suicidado, mas esta semana, mais de duas décadas depois da sua morte, um tribunal italiano chamou para julgamento quatro pessoas, suspeitas de serem responsáveis pelo crime: o mafioso Giuseppe Pippo Caló, o boss do crime organizado romano Ernesto Diotallevi, um empresário da Sardenha, Flávio Carboni, e a antiga namorada deste, a austríaca Manuela Kleinszig.
Depois de anos de investigação, a acusação concluiu que a Máfia matou Calvi por este ter gerido mal o dinheiro que a Cosa Nostra lhe confiara (e que depois da morte do banqueiro os "padrinhos" terão conseguido recuperar). As investigações centraram-se sobretudo nos milhões de dólares que saíram das contas offshore do Banco Ambrosiano nas semanas que antecederam a morte de Calvi.
Os advogados de Pippo Caló e de Flávio Carboni negaram já as acusações e afirmam que a morte de Calvi foi suicídio. De acordo com esta tese, o banqueiro, devastado pela falência do Banco Ambrosiano, ter-se-ia morto.
Carboni, que era amigo de Calvi, foi, supostamente, uma das últimas duas pessoas a vê-lo com vida. "[A acusação] afirma que Carboni foi para Londres com Calvi para o entregar às pessoas que o assassinaram", explicou Renato Borzone, o advogado que representa Carboni.
Pippo Caló, de 73 anos, preso desde 1985 por crimes ligados à Máfia (mas não à morte de Calvi), participou na audiência preliminar do processo, segunda-feira, através de uma ligação vídeo a partir de uma prisão no centro de Itália. Kleinszig e Diotallevi não estiveram presentes - a primeira está supostamente na Áustria e o paradeiro do segundo é desconhecido.
A estrondosa falência do Banco Ambrosiano foi o maior escândalo financeiro do pós-guerra em Itália. O colapso seguiu-se ao desaparecimento de 1,3 mil milhões de dólares em empréstimos que o banco tinha feito a várias empresas-fantasma na América Latina. O "buraco" não atingiu apenas o Ambrosiano, mas reflectiu-se também nas caixas do Instituto das Obras Religiosas, o banco do Vaticano, que era o principal accionista do Ambrosiano. Quando o escândalo foi descoberto, Calvi foi julgado e condenado, mas enquanto aguardava o resultado de um recurso, conseguiu sair do país - via Áustria - com uma mala que continha documentos cruciais sobre as actividades do banco.
A acusação do processo que agora decorre afirma que o banqueiro foi morto em grande parte porque sabia de mais sobre a forma como os fundos da Máfia estavam a ser "lavados" através do Vaticano e do Banco Ambrosiano. Vários mafiosos "arrependidos", que aceitaram colaborar com a justiça, confirmaram já o envolvimento da Cosa Nostra no crime e deverão ser testemunhas essenciais no julgamento, que terá início a 6 de Outubro.»

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