segunda-feira, abril 18, 2005

AS ORIGENS DO CONCLAVE


Uma curiosidade, mas não só. Os dois artigos seguintes ajudam-nos a entender o ritual agora utilizado para eleger o Papa. Ambos do Público. O primeiro da edição de hoje; o seguinte (que em bom rigor é um excerto dum mais extenso artigo) de Sábado passado.

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«QUEM PODE SER PAPA»

«Apesar da escolha do Papa ser há séculos feita entre os cardeais da Igreja Católica, não é teoricamente impossível que ela recaia sobre um não bispo. É o que diz a lei canónica. O Código de Direito Canónico (CDC), no seu artigo 332, parágrafo 1, prevê explicitamente que o "Romano Pontífice" possa não ter "carácter episcopal". Mas o mais curioso é que a eleição pode recair, isto também em teoria, sobre qualquer católico, adulto, do sexo masculino, segundo uma interpretação do Instituto Superior de Direito Canónico da Universidade Católica Portuguesa da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, as normas que regulam a escolha. Bastaria apenas que não fosse casado, por a qualidade de bispo implicar o celibato. A possibilidade vem aliás admitida na nota de rodapé que acompanha o artigo 332 do CDC. Aí se diz que durante séculos o ordinário era que a eleição do Papa recaísse sobre um presbítero, e não raramente sobre um diácono, o caso de Adriano V (1276), que nem padre era.»
Fernando Sousa

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«HÁ 900 ANOS QUE SE REALIZAM CONCLAVES»

«A escolha do Papa já foi feita pelo povo, mas também já deu origem a guerras e cisões. Há 900 anos que se realizam conclaves»

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«Primeiro conclave em 1216
As primeiras regras que dão origem ao conclave moderno são ditadas por Nicolau II, em 1059, cinco anos depois da ruptura com os cristãos do Oriente. O Papa promulga o decreto In Nomine Domini, em que confia a eleição do pontífice aos cardeais. As instruções são: estes devem falar entre si, depois o restante clero e o povo darão o seu aval à nova eleição. Nicolau II estabeleceu ainda que o Papa deveria pertencer à igreja de Roma e, caso não fosse encontrado ninguém à altura, procurar-se-ía outro candidato.
O problema das votações é resolvido por Alexandre III, em 1179, ao definir a maioria de dois terços para que se torne válida uma escolha. Embora tenha solucionado um problema, esta regra criou outro: a dificuldade de chegar a acordo rapidamente.
Em 1216 realiza-se o primeiro conclave, com este nome. Depois da morte de Inocêncio III, a população de Perúgia fecha os cardeais à chave (do latim, cum clave), quase dois meses, para que estes nomeiem o sucessor de Pedro.
Em 1268, em Viterbo, o povo repete o gesto, por sugestão de São Boaventura, superior dos franciscanos, depois de um ano à espera de novo Papa. A indecisão foi tanta que, na fase final do processo, dois anos depois, os cardeais já só se alimentavam a pão e água.
Três anos depois, Gregório X, o Papa eleito em Viterbo, apresenta a constituição Ubi Periculum, que regula todos os aspectos do conclave.
Gregório X define prazos para a eleição, que ainda hoje estão em vigor. Depois de dez dias da morte do Papa, os cardeais devem juntar-se na cidade onde ele morreu; devem ser fechados, isolados, tendo como único ponto da agenda a eleição do próximo Papa.
Outra instrução prende-se com a alimentação: depois dos primeiros três dias, a dieta dos cardeais deve ser reduzida para uma refeição de manhã e outra à tarde. Cinco dias depois, devem ficar a pão, água e vinho.
A lei teve efeitos imediatos: o sucessor de Gregório X foi escolhido num dia. Um século depois, as disposições relativamente à dieta dos cardeais foram suavizadas. A partir de segunda-feira, os cardeais vão reunir-se na Capela Sistina de onde sairão para a Casa de Santa Marta, onde têm todo o conforto.»
Bárbara Wong

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