sábado, abril 09, 2005

TRANSCRIÇÕES

«Nada há mais difícil do que apurar a verdade. Ou, para ser exacta, a Verdade, com maiúscula, tal como é entendida na tradição jurídica nacional. Guardiães do processo, os juízes portugueses tendem a pensar que há algo superior, vivendo numa zona etérea a que só eles (e não os advogados, muito menos os jurados) podem ter acesso. Ao negar, na prática, a existência da falibilidade humana, esta ideia tem consequências devastadoras. Ao contrário da concepção anglo-saxónica, baseada na apreciação da prova por jurados, a quem não é pedido que encontrem a Verdade, mas tão-só que determinem se um arguido é culpado "para além da dúvida razoável", em Portugal presume-se que a inteligência humana, materializada no colectivo de juízes, é capaz de chegar à Verdade. Uma vez acusado, compete ao arguido provar a sua inocência. O mundo fica de pernas para o ar.»
Maria Filomena Mónica (Público, SB 09 ABR 05)

«O "intelectual", mesmo o de esquerda, já desapareceu de cena, com a falência pública do marxismo e a pobreza ideológica do "politicamente correcto". De qualquer maneira, era mesmo assim de esperar que da Igreja, no sentido lato da palavra, saísse alguém [durante a doença e a morte do Papa]com uma opinião nova e pertinente. Não saiu ninguém.»
Vasco Pulido Valente (id, id)

«Nunca como agora seria razoável que se ouvisse a voz do "intelectual católico", num mundo em que se discute com paixão (e com violência) o direito de morrer e a eutanásia, o aborto e o papel da mulher na sociedade e na Igreja.
Só que o "intelectual católico", abafado pela autoridade e rigorismo que o último pontificado impôs, não pode falar. E, não podendo falar, desapareceu pouco a pouco de cena. Os velhos desistiram e os novos nem quiseram começar. Ficou o vazio. E, claro, João Bénard da Costa, que resiste a tudo.»

Id (id, id)

«[Marques Mendes] herda um partido falido após a passagem devastadora de Pedro Santana Lopes, o maior predador do PSD de que há memória.»
Luís Osório (A Capital, SB 09 ABR 05)

« Só um grande golpe de asa, um gesto entre o suicidário e o heróico poderia fazer regressar o PSD aos seus antigos tempos, de agitação de bandeiras, de apetite voraz pelo Poder. Mas não é todos os dias que surge um homem obstinado e com o sentido de missão como Sá Carneiro; nem todos os dias um homem, um tecnocrata que despreza as mundanidades e o tempo mundano, como Cavaco Silva. Pombal fica no único distrito do País continental que, nas últimas eleições, votou maioritariamente PSD. Se é um símbolo não é uma consequência. O PSD escolheu o único feudo que lhe resta. Foi também um lugar de exílio do Marquês. De um longo exílio. Pombal, um espaço revisitado, noutro tempo e noutro contexto, e mais a precisar de um Marquês do que de um D. Sebastião.»
Id (id, id)

«Nunca as ruas de Roma viram afluir tanta gente para dizer adeus a um Papa e, no entanto, ao longo do pontificado de João Paulo II os templos católicos continuaram a esvaziar-se de fiéis um pouco por todo o mundo. Nunca um Papa conquistou uma dimensão equiparável à escala universal e, todavia, isso não impediu que a Igreja registasse uma tão profunda crise de vocações e participação nos actos litúrgicos. Nunca um chefe religioso recebeu homenagens tão fervorosas dos não crentes ou dos crentes de outros credos, celebrando a sua paixão humanitária, o seu empenho nas causas da paz e da justiça social, o papel decisivo que teve na queda do comunismo ou ainda esse espírito ecuménico que, entre outras coisas relevantes, conduziu a Igreja Católica a uma reconciliação histórica com o judaísmo. Mas nunca também um Papa moderno terá suscitado tantas perplexidades, dramas e divisões dentro da Igreja, com o intransigente dogmatismo que o levou, por exemplo, a impedir as mulheres de aceder ao sacerdócio, os padres de casarem ou os fiéis de recorrer à contracepção.»
Vicente Jorge Silva (DN, SB 09 ABR 05)

«Vasco Pulido Valente não é, consabidamente, um comentador excessivamente convencional zangadíssimo a título permanente com a esquerda, a verdade é que não manifesta especial simpatia pela direita ou, para sermos mais exactos, pela direita que temos. Mas a sua generalizada antipatia pelo que nos rodeia, à esquerda e à direita, faz dele inquestionavelmente um homem de direita.»
Ruben de Carvalho (id, id)

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