Reporto-me ao artigo de hoje, de Sarsfield Cabral, no DN.
E ao texto que transcrevo: «É permitido roubar em caso de necessidade extrema? É. Quando damos aos miseráveis as coisas que lhes são indispensáveis, não lhes fazemos qualquer favor; devolvemos-lhes aquilo que lhes pertence. Afirmações de algum revolucionário contemporâneo? Não. A primeira é de S. Tomás de Aquino, no séc. XIII. A segunda afirmação é ainda mais antiga, do séc. VI, e pertence ao papa S. Gregório Magno. Doutrina confirmada pelo Concílio Vaticano II "Aquele que se encontrar em extrema necessidade tem direito de tomar, dos bens dos outros, o que necessita" (Gaudium et Spes).»
A expressão de S. Gregório Magno - (o papa Gregório I - 64º da sucessão, contando com S. Pedro) de cujo passamento se comemorou há dias (dia 12 deste mês: v/ abaixo Memória do tempo que passa) o 1401º aniversário (foi em 604), que por alguma razão foi cognominado “Grande” e foi elevado à dignidade de santo – essa, sim é arrojada (?!), verdadeira, sem contornos, sem cúmplices rodeios.
Nele não há o sofisma que se encontra
Claro: no “extrema” está o sofisma.
É como quem diz: em remotíssima instância podes invocar o teu “direito”, a excepção que te pode valer.
Até lá… Tem paciência. Conforma-te. “É a vontade insondável de Deus”, como dizem sobretudo certos padres, mas também bispos e doutores da Igreja.
O acento tónico, em tal matéria, nos discursos e nas homilias da igreja, é a caridade, essa parente da sobranceria, do paternalismo, da posição cómoda de quem se sente acima… Não é a caridade-amor, é a caridade-comiseração de quem reconhece ter mais que o outro e lhe pode dar umas migalhas…
Diferente é a solidariedade. Essa passa-se de igual para igual.
Mas a solidariedade não é “pregada”! Ou não é muito “pregada” pelos pastores de almas.
Não será, antes esta, a voz do profeta?
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