domingo, fevereiro 06, 2005

BLOGUES, MAILS E OUTRAS FORMAS DE COMUNICAR…

A propósito de piadas, recortes da imprensa, cartazes, etc., que correm nos emails, diziam-me duas ou três pessoas, nas suas mensagens, que há sempre que estar atento às insinuações e à leitura das entrelinhas.

Ora, quanto às entrelinhas, claro! Mas às vezes aí é que está o interessante! Não é não dizer tudo por medo ou tartufice… É reconhecer que o outro é inteligente… E vai lá por si, sem necessidade de se lhe confirmar o óbvio. Claro que, por vezes – e sem que seja intelectualmente diminuído – o outro não quer chegar lá! (É com ele).

Mas uma coisa são as entrelinhas, outra as insinuações vis, rasteiras, que ganham maior dimensão quando vindas de quem tem (ou seria suposto ter) acrescidas responsabilidades a outro nível: como, ultimamente, a de Louça a Paulo Portas e a de Santana Lopes a Sócrates; e, de certo modo, em tempos mais recuados (mas em circunstâncias equivalentes àquela que vivemos neste momento), a de Mário Soares a Sá Carneiro, a propósito da relação deste com Snu Abecassis!

No que respeita aos primeiros, um não redondo, um cartão vermelho. Quanto ao último: um cartão amarelo.

É que nestas matérias não há insinuações inocentes. Há o puro jogo baixo e sujo que a ética condena e um bom carácter não admite - relativamente aos primeiros. E uma atitude intolerante e reprovável - no último caso.

É claro que a recorrente atitude farisaica de Paulo Portas de persistentemente apelidar de assassinos os defensores da despenalização do aborto, quando praticado em determinadas circunstâncias… Provoca a crispação do mais controlado.

Ou seja: quando Louçã ouve de Paulo Portas, uma vez mais, a “defesa da vida”, a propósito desta questão, insinuando, ou claramente referindo que o seu opositor é defensor da morte de “inocentinhos” – Louçã resvala, e é capaz de lhe dizer aquilo que o vulgo pensa e gostaria de lhe dizer.

Mas a Louçã não se lhe concede que seja vulgar.

Vicente Jorge Silva, dizia há dias: “em abstracto, não me parece lógico nem consequente que um dirigente de um partido que perfilha ostensivamente uma ideologia hiperconservadora no plano moral se ache dispensado de ser coerente com ela em todos os domínios da sua vida privada”.

Ao que – e bem, no meu entender – Vital Moreira contrapôs que o argumento só seria válido se a hipótese fosse a de uma dirigente política (ou uma sua fervorosa defensora, acrescento) «contrária à despenalização do aborto em nome do “direito à vida”», de quem se viesse a saber que ela própria o praticara.

E adianta, ainda, VM – de novo, bem, quanto a mim – que as inclinações sexuais dum declarado opositor àquela despenalização não têm nada a ver com a tese em debate.

E, acertadamente, conclui VM, no mesmo post:

« Portas pode ser ultrademagógico e até pouco ou nada sincero na sua cruzada contra a despenalização do aborto, como são muitos políticos de direita para cativar o voto religioso e conservador. Ele deve ser politicamente combatido por essas posições. Mas, a meu ver, a sua real ou presumida orientação sexual não é relevante nessa matéria».

Ou então, e parafraseando Vasco Pulido Valente, na sua crónica de ontem, no Público, direi: não discutir a sexualidade de cada um, não significa estabelecer um pacto de silêncio quanto a tudo o mais. Se a direita conservadora (representada pelo seu líder máximo) é hipócrita, não se deve adoçar a pílula. Tem de se afirmar com clareza que é hi-pó-cri-ta!

Como digo noutro lugar, mais abaixo, a atitude de Louçã foi eticamente reprovável, além de estar em contradição com a apregoada tolerância do Bloco relativamente a certas minorias, inclusive aquela a que o mesmo opositor alegadamente pertencerá.

Isto quanto ao incidente Louçã-Portas.

E tudo isto porque Francisco Louçã foi criando acerca de si, entre muita gente, uma imagem de sensatez, de seriedade e de responsabilidade (esteja-se muito, pouco ou nada sintonizado com ele – excluindo os radicalistas de qualquer quadrante).

Porque, quanto ao incidente Santana Lopes-José Sócrates, além do jogo baixo e reles em que se traduziu a sua alusão, o problema, além de ser praticamente o mesmo que o anterior – mutatis mutandis – arrasta um outro não menos grave: SL tem sublinhado, cada vez mais – como todos os dias se constata e se confirma nos media – o seu carácter insensato e irresponsável.

Claro que ele nem precisava de nos dizer os colos de que gosta. A imprensa cor de rosa tem-no revelado incessantemente – não o sei por experiência própria, confesso, mas pela alheia, transmitida, inclusivamente, pela de cores mais exigentes.
Sabemos que gosta desses colos, muito e de muitos.


No que toca à questão que Mário Soares trouxe à liça, quanto à relação de Sá Carneiro com Snu Abecassis, a polémica foi menor e o problema não é tão grave, se tivermos em conta que Sá Carneiro representava, então, um partido conservador, com todas as correspondentes posições, nomeadamente no que ao modelo de família respeita. Nessa matéria tinha telhados de vidro…

Para Mário Soares essa união de facto não teria a menor relevância; mas ser-lhe-ia lícito chamar a atenção para a incoerência entre as posições públicas do PPD e a vida privada do seu líder…

De todo o modo, a atitude foi feia e reprovável.

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