Mas uma coisa são as entrelinhas, outra as insinuações vis, rasteiras, que ganham maior dimensão quando vindas de quem tem (ou seria suposto ter) acrescidas responsabilidades a outro nível: como, ultimamente, a de Louça a Paulo Portas e a de Santana Lopes a Sócrates; e, de certo modo, em tempos mais recuados (mas em circunstâncias equivalentes àquela que vivemos neste momento), a de Mário Soares a Sá Carneiro, a propósito da relação deste com Snu Abecassis!
No que respeita aos primeiros, um não redondo, um cartão vermelho. Quanto ao último: um cartão amarelo.
É que nestas matérias não há insinuações inocentes. Há o puro jogo baixo e sujo que a ética condena e um bom carácter não admite - relativamente aos primeiros. E uma atitude intolerante e reprovável - no último caso.
É claro que a recorrente atitude farisaica de Paulo Portas de persistentemente apelidar de assassinos os defensores da despenalização do aborto, quando praticado em determinadas circunstâncias… Provoca a crispação do mais controlado.
Mas a Louçã não se lhe concede que seja vulgar.
Vicente Jorge Silva, dizia há dias: “em abstracto, não me parece lógico nem consequente que um dirigente de um partido que perfilha ostensivamente uma ideologia hiperconservadora no plano moral se ache dispensado de ser coerente com ela em todos os domínios da sua vida privada”.
Ao que – e bem, no meu entender – Vital Moreira contrapôs que o argumento só seria válido se a hipótese fosse a de uma dirigente política (ou uma sua fervorosa defensora, acrescento) «contrária à despenalização do aborto em nome do “direito à vida”», de quem se viesse a saber que ela própria o praticara.
« Portas pode ser ultrademagógico e até pouco ou nada sincero na sua cruzada contra a despenalização do aborto, como são muitos políticos de direita para cativar o voto religioso e conservador. Ele deve ser politicamente combatido por essas posições. Mas, a meu ver, a sua real ou presumida orientação sexual não é relevante nessa matéria».
E tudo isto porque Francisco Louçã foi criando acerca de si, entre muita gente, uma imagem de sensatez, de seriedade e de responsabilidade (esteja-se muito, pouco ou nada sintonizado com ele – excluindo os radicalistas de qualquer quadrante).
Claro que ele nem precisava de nos dizer os colos de que gosta. A imprensa cor de rosa tem-no revelado incessantemente – não o sei por experiência própria, confesso, mas pela alheia, transmitida, inclusivamente, pela de cores mais exigentes.
Sabemos que gosta desses colos, muito e de muitos.
No que toca à questão que Mário Soares trouxe à liça, quanto à relação de Sá Carneiro com Snu Abecassis, a polémica foi menor e o problema não é tão grave, se tivermos em conta que Sá Carneiro representava, então, um partido conservador, com todas as correspondentes posições, nomeadamente no que ao modelo de família respeita. Nessa matéria tinha telhados de vidro…
Para Mário Soares essa união de facto não teria a menor relevância; mas ser-lhe-ia lícito chamar a atenção para a incoerência entre as posições públicas do PPD e a vida privada do seu líder…
De todo o modo, a atitude foi feia e reprovável.
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