Na sua página de hoje, no PÚBLICO, o Prof Vital Moreira faz um demorado e esclarecido balanço das eleições do último Domingo.
Sob a epígrafe “revolução eleitoral”, começa por esclarecer: “Só os maus perdedores podem pôr em causa a justiça do veredicto popular.”
Depois, avalia os resultados, começando pelos vencedores. E adianta:
“O principal vencedor é obviamente o PS.” Com a sua maior votação de sempre e primeira maioria absoluta, conseguiu um feito na sua história política e até na europeia “(não é vulgar uma maioria parlamentar monopartidária num sistema proporcional como o nosso)”.
Vencedor, também, é José Sócrates: “enfrentou com dignidade e sobriedade a vergonhosa campanha suja contra si, promovida e alimentada pelo PSD. Manteve uma linha de seriedade e determinação sem desfalecimento.”
Mas reconhece haver outros ganhadores. Assim, e nas suas palavras,
“vitoriosos das eleições saem também o PCP e o BE. Em conjunto, os partidos à esquerda obtiveram uma vitória memorável.”
E, naturalmente, não podia esquecer o PR: “embora não sendo um contendor nas eleições, Jorge Sampaio obtém igualmente um triunfo indiscutível” já que, ao “convocar eleições antecipadas”, correu o risco de ser considerado causador de uma “instabilidade governativa.” O Presidente mostrou estar certo, então. (Já acho discutível que tivesse estado certo quando designou SL para “suceder” a Barroso! Na minha opinião aí não esteve bem.)
Como também não esquece que “entre os vencedores conta-se com toda a justiça José Pacheco Pereira. Foi o militante do PSD que desde o princípio se apercebeu claramente do festival de incompetência e de populismo que iria ser o governo de Santana Lopes. (…) É o triunfo da clarividência e da coerência.”
Depois passa em revista os vencidos.
“A maior derrota é naturalmente do PSD”, com o registo do seu pior resultado de sempre. “Recorreu a uma campanha indigna e reles, que os eleitores castigaram justamente.” Averbou uma derrota tão pesada quanto merecida.
“O grande derrotado pessoal é Santana Lopes. É o fim de um mito: uma calamidade como chefe do Governo, um desastre na campanha eleitoral. A sua derrota é o fracasso do populismo, da demagogia, da falta de seriedade, dos golpes baixos, do erratismo político.” “É um castigo eleitoral tão merecido quanto devastador. Mas nem na derrota ele teve grandeza ou dignidade. O PSD não merece tal vexame...”
“A seguir na lista dos vencidos vêm Paulo Portas e CDS. Sendo uma e a mesma coisa, a derrota de um é a perda do outro. Portas pagou pelo desastre da coligação, de que nem a oportunista tentativa de demarcação o salvou. (…) A sua ideia de "roubar" deputados ao PS foi uma das anedotas políticas da campanha eleitoral. (…) O voluntarismo irrealista foi-lhe fatal.” (…)
“Pesadamente derrotada é a direita em geral.”
“Lugar destacado entre os derrotados individuais cabe a A. João Jardim. Depois das perdas nas eleições regionais” vê agora o PS igualar o PSD em número de deputados do arquipélago à AR.
“Surpresa entre os derrotados é Marcelo Rebelo de Sousa. Obviamente desejava o desaire de Lopes mas não podia querer a maioria absoluta do PS. Arriscou nisso o seu prestígio e perdeu.”
Certo. Relativamente a Pacheco Pereira, também lhe reconheci a lucidez e a coragem. Mas a sua declaração quanto ao seu próprio voto surpreendeu-me, pelo “suicídio” que ela significava: Pacheco Pereira sentia que estava à beira do abismo, mas achava que a única solução era dar o passo em frente!!!
Não. Aí acho que foi menos clarividente, menos lúcido, menos coerente.
Não lhe adivinhava tal espírito de kamikaze!
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