segunda-feira, fevereiro 21, 2005

A ANÁLISE DE JOSÉ MANUEL FERNANDES

Parece-me uma análise lúcida a do Director do PÚBLICO, acerca das eleições de ontem, no seu bastante longo editorial de hoje - apenas disponível na edição impressa.

Uma síntese possível, na minha perspectiva, é a seguinte (necessariamente um pouco extensa):

«Há bem menos de um ano (…) todos faziam contas a 2006.
Depois veio o terramoto. (…) Esse terramoto foi corporizado pelo homem a quem Barroso entregou o até então maior partido português e, por inerência, o lugar de primeiro-ministro: Santana Lopes.

(…) A instabilidade mudou-se para São Bento e os sinais de ingovernabilidade passaram a ser dados pelo chefe do Governo. Tanto que o imperturbável Sampaio acabou por fazer o que ninguém pensou que alguma vez faria e convocou eleições. (…)

Ao receber o poder com todas as condições para o exercer, o PS herda uma enorme responsabilidade e terá de enfrentar numerosas dificuldades. O país não mudou porque mudou a maioria e os problemas não desapareceram ontem.(…)

Santana Lopes é o principal responsável pelo desastre do centro-direita, que tem nestas eleições o pior resultado de sempre em eleições legislativas. Para essa área política e para todos os partidos democráticos a experiência do populismo desbragado do santanismo deve funcionar como uma vacina. A irresponsabilidade, a falta de rumo, a ausência de qualquer visão para o país, a redução da política ao seu ego, a ilusão de que tudo se resolve com o verbo fácil e malabarismo circenses, tudo o que Santana protagonizou foi ontem fortemente penalizado pelos eleitores.

Todo o país o entendeu – menos o próprio, que proferiu uma declaração de derrota patética (o que não surpreende) e não soube tirar as devidas consequências. Como muitos adivinharam, não teve a hombridade de se demitir: convocou um congresso e deixou no ar que vai dar luta. Agarra-se ao poder sem vergonha nem grandeza – antes com o autismo próprio de quem não conhece outro modo de vida. (…)

Paulo Portas, que sofreu, por comparação, uma derrota muito menos pesada, teve a dignidade elementar: demitiu-se. Santana não: prefere levar consigo o partido para o fundo, (…) mesmo que para tal destrua tudo à sua volta. (…)

O PCP subiu, mostrando que não está morto. Subiu porque foi autêntico (…)

O BE transporta consigo uma agenda que, culturalmente, cavalga a onda dos tempos (…)»

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