quinta-feira, junho 30, 2005

O RESISTENTE

Emídio Guerreiro foi um militante da liberdade, um resistente à ditadura.

Nasceu em Guimarães aos 06.09.1899. E aí morreu, a dois meses de completar os 106 anos, ontem, 29JUN .

Político e parlamentar, licenciou-se em Matemática, e leccionou na Universidade do Porto.

Com o regime saído do 28 de Maio de 1926, pegou em armas contra a ditadura militar em 1927 e exilou-se em Espanha em 1932. Integrou as hostes republicanas durante a guerra civil espanhola (1936-1939) e, durante o terror nazi (1939-1945), assumiu um posto de comando na resistência francesa da região de Mountauban, Sul de França.

Foi o braço direito de Humberto Delgado na última fase da luta política do general, Presidente da Comissão para a Defesa da Liberdade em Portugal e representante, em Paris, da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem. Tornou-se conhecido com o seu envolvimento na Liga Unificada de Acção Revolucionária (LUAR) e no assalto à delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967, de que foi protagonista outro resistente, Palma Inácio.

Depois do 25 de Abril de 1974, Emídio Guerreiro filiou-se no PPD tendo assumido a direcção do partido quando Sá Carneiro adoeceu. Entretanto entrou em ruptura com aquele, saindo do partido em Dezembro de 1975. Nos anos 80 voltou à política com uma fugaz passagem pelo PRD e com o apoio à candidatura de Salgado Zenha às eleições presidenciais de 1986. (Fonte: BU, da Texto Editores).

O Público dedica-lhe hoje duas páginas. Um trabalho de António Melo é precedido de um excerto de um poema:

«"Et par le pouvoir d"un mot / Je recommence ma vie / Je suis né pour te connaître / Pour te nommer - Liberté"
Paul Éluard, 1942»

Paul Éluard e poema, este, em que Emídio Guerreiro se revia e considerava a síntese da sua vida.

E transcrevo daquele jornalista a seguinte passagem:

«mesmo centenárias, as despedidas são sempre cedo. Para uns, Emídio Guerreiro foi um herói romântico, que pôs a sua vida sob a égide do poema de Éluard, Liberdade, e por ela sacrificou a vida. Para outros, um "guerrilheiro de salão", que esteve "lá", mas sempre escorregadio como uma enguia. Em todo o caso, foram cem anos vividos entre dois séculos, sempre na primeira linha dos acontecimentos. Um privilégio raro.»

A Marcelo Rebelo de Sousa confidenciou a sua vida: as fugas com Aquilino Ribeiro para Espanha, nos anos quentes da I República, a adesão, muito jovem ainda, à maçonaria, as peripécias em França e na Argélia, nos tempos da ditadura, os encontros com Cunhal em Praga e em Argel, a amizade e a aliança com Humberto Delgado… Nos tempos do Estado Novo, não terá andado muito longe do PC, mas após o 25 de Abril “era visceralmente anti-PCP, mas ainda conseguia gostar menos de Soares do que de Cunhal”.

Recordo recentes declarações suas, após as legislativas de Fevereiro, em que aludia à sua empresa têxtil, à testa da qual se encontrava ainda, e, com entusiasmo, referia a nova experiência de deputado para que acabava de ser eleito.

A sua militância da liberdade e a sua resistência à ditadura merecem destaque.

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