sexta-feira, junho 24, 2005

E OS POLÍCIAS?

Foi uma manifestação de encenado miserabilismo. A tocar as raias do grotesco e do despudor.

Começava logo pelo realce dado a uma figura patética de polícia (?), bem caracterizado: aparentando mais idade que a real; descomposto na apresentação; descuidado na farda (boné às três pancadas; botão da camisa aberto com a gravata a fugir a caminho do sovaco; camisa meio fora das calças; desalinhado; óculos de lentes grossíssimas, de algumas vinte dioptrias, nítido adereço cedido por uma qualquer produção de espectáculo teatral)…

Uma tristeza. Ridículo. De uma demagogia grosseira e barata. Mas demagógico.

Dizia – e bem – ontem, Sérgio Figueiredo: «se todos os dezanove "regimes especiais" da função pública decidirem convocar uma greve, uma marcha e um protesto de zelo, temos festa até ao Orçamento de Estado 2006.»

E, um pouco adiante: «o emaranhado de subsistemas. Os privilégios injustificados. As regras diferentes. A perversão de valores. A normalidade com que dezenas de ministros e respectivos ajudantes encararam esta situação que todos, incrédulos, estamos a descobrir.»

E logo de seguida: «as forças policiais sujeitam-se a um sistema vergonhoso, típico de um país como o Benim ou o Uganda. Têm de pagar do próprio bolso a farda, a arma, as algemas, o arranjo de um carro que se estraga numa perseguição de rua.

Mas não é isto, esta imbecilidade que deveria ter acabado com a Idade Média, que os incomoda. Nunca fizeram uma marcha de protesto por isso. Nem sequer pela pensão vitalícia, em caso de morte em serviço, que o doutor Barroso criou sob palavra de honra numa campanha eleitoral, mas só agora foi justamente criada.

Se não exigem o óbvio, lutam pelo absurdo. Recusam ir às consultas nos centros médicos, como os outros. Querem a reforma dez anos antes dos outros, como se nada mais houvesse para fazer em toda a Administração Pública. É preservar um sistema de comparticipação, que lhes assegura os remédios para si, para cônjuge, filhos, pais, sogros e periquitos.

É este o filme do absurdo, a razão da conflitualidade social que temos e vai crescer. Um absurdo que não precisa de farda, pois na justiça também se perdeu o sentido dela.»

Bem, mas há mais: do seu, nem tão magro quanto isso, vencimento, descontam uma ridicularia, e, note-se, só para a Acção Social. Nada para o fundo de aposentações, nada para a segurança social – sublinhe-se.

Depois, o argumento tão estafado e ridículo quanto demagógico: “não vão querer um polícia velhote a correr atrás de um meliante…”

Então nós não sabemos como é, srs guardas.

Não estamos fartos de saber: 1º - que se dão alvíssaras a quem encontrar um polícia de giro (com a braçadeira com um T, há muitos. Mas esses até podem ser mais velhotes); 2º - que há muitas outras funções onde podem, a partir da frescura dos anos, passara exercer uma actividade proveitosa para a comunidade e condizente com as suas atribuições…

Todos sabemos, srs agentes.

Como sabemos e todos constatamos (quem estiver atento) que não só (!!??) das benesses que usufruem, dependerão os sinais exteriores de riqueza que alguns (?!), muitos, revelam… Nomeadamente, para referir só dois, os carros que exibem (e não tão modestos quanto a imagem no início referida pode fazer supor…), e as propriedades de que são titulares, sobretudo lá na terra.

É o que muitos constatam e o que consta.

Mas vamos ao certo.

E o certo é que não pode haver justificação – nem direito adquirido que valha – para “sustentar” tais e injustificados privilégios.

O contribuinte “em toda a linha” não está, naturalmente, disposto a “suportar” tal situação.

Vá, que apareceu um primeiro-ministro “teso”, a quem não parece assustar a hipótese de perder o tacho, e que resolveu enfrentar o problema e tentar pôr-lhe cobro.

Vamos ver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tem razão. A ideia de função pública tem que ser reavaliada. Mas não vai ser fácil. São muitos anos de direitos instalados e muitas vezes desproporcionados em relação aos deveres

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