quinta-feira, junho 09, 2005

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A propósito de uma aparente repetição do artigo que se segue, convido a que se leia a nota que antece o mesmo título na rubrica “Sítio” do sim…”

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"Bater forte neles" e a lógica dos populismos

Augusto M. Seabra / id /id

Os moldes em que foi sumariamente "julgada" na praça pública a reforma do ministro Campos e Cunha pouco
ou nada teve de discussão política sobre regimes privilegiados de reformas e quase tudo teve de uma outra manifestação desta propagação larvar e alarmante dos populismos
em Portugal e na Europa

Com a perfeita noção de que o que a seguir escrevo poderá sempre ser treslido como defesa de privilégios (eu?!), ainda assim o farei: os moldes em que foi colocada e sumariamente "julgada" na praça pública a reforma do ministro Luís Campos e Cunha pouco ou nada teve de discussão política sobre regimes privilegiados de reformas e quase tudo teve de uma outra manifestação da propagação larvar e alarmante dos populismos em Portugal e na Europa. Como se pode, por exemplo, comparar o facto de ele usufruir de um regime genérico para ex-administradores do Banco de Portugal, muito discutível é certo, com uma reforma de Jardim aproveitando-se de um regime de excepção para si próprio?! Como, se não misturando tudo, à cata de serem todos "políticos"?
À falta de um verdadeiro jornalismo "tablóide" antes do 24 Horas e das inúmeras publicações "rosa-rasca" e de "telefofoquices", já que o do Correio da Manhã era soft, essa "espécie" surgiu em Portugal com o Independente. "Populismo chique", british e tudo, mas "populismo", a que deram a sua legitimação intelectuais como Vasco Pulido Valente (o "mestre" para os dois fundadores, Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas), Filomena Mónica, João Bénard da Costa e outros. Era "muito giro", "muito fresco", e até "anticavaquista" - e sem princípios e noção de honorabilidade!
Era, e é, um jornal de escândalos e "denúncia", claramente instrumental de um projecto político de direita, ora yuppie, ora de "populismo de feiras", como se viu com resultados patentes. Mas deixou marcas e é nos títulos do Independente que se formulou a "lei do post", do "título do post", que é da regra em tantos blogues. Como se verificou agora: a "lebre" foi levantada por dois órgãos de populismo exponencial, a TVI e o Independente, e logo vários blogues concorreram a ver quem fazia o título mais despudorado e sensacional.
Na crónica de segunda-feira do crítico de televisão do Diário de Notícias Miguel Gaspar, li esta coisa inaudita a propósito do caso Watergate: "Uma geração de jornalistas assimilou esse paradigma vendo e revendo All The President"s Men de Alan J. Pakula. A partir de finais de anos 80, Portugal, em grande devido a O Independente, entrava também na idade da "caça ao político"". Da "caça ao político"?!!!
Na Política, Aristóteles fazia notar no "demagogo" o uso da capacidade oratória no sentido da lisonja. Mas no espaço público das democracias modernas, os que usam a "oratória" não são apenas os políticos, mas também os comentaristas (bloggers agora incluídos) e jornalistas, como Max Weber notou. Se este não fosse mais outro exemplo desta gravíssima propagação da lógica populista de "Bater forte neles!", talvez pudesse dizer que me sensibiliza tanto moralismo de tantos requintados demagogos.
Crítico

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