sexta-feira, julho 08, 2005

OS EXCESSOS NA HISTÓRIA


Na “Idade das trevas”, iluminados que se achavam os seus defensores, eram normais as lutas religiosas.

Um credo, então como hoje, não maioritário, impôs-se pela força e porque associado ao poder dominante.

Império que se seguiria poucos séculos depois com outras demonstrações, com outros métodos.

Na verdade, cruzadas e inquisição não são páginas dignificantes da história do mundo e muito menos da história da igreja católica.

Mas que não podem apagar-se, por mais que se queira enfraquecer e “branquear” a sua memória.

Eram os tempos em que o crime organizado (expressão e conceitos então ignorados, mas já praticados), a barbárie mais desumana fizeram do mundo de então o seu palco. A cruz alçada pelos fanáticos, com a fervorosa unção dos bispos, a paternal bênção pontifícia e o beneplácito régio, conduziram as hordas brutais que dizimaram, primeiro, os “infiéis”, e depois crentes e incrédulos, mas todos “agentes das forças do mal” – geralmente homens de superior cultura ou cientistas de superior inteligência que pretendiam modernizar na sua compreensão, ou punham em causa, verdades “canonicamente correctas”.

E eis que…

Passados séculos – um milénio volvido -, vencidas as ditaduras, implantada a democracia, retomada a liberdade, refreados os ânimos com os avanços do conhecimento e a maior abertura das mentes, aplicadas as novas tecnologias numa aproximação sem precedentes entre todos os países e todos os povos, quando a tolerância está na ordem do dia e é proclamada como passo imprescindível para a manutenção da paz… Uns loucos terroristas, em nome de um Deus que proclama a pacificação, contrariam os preceitos do seu credo, tornando-se nos algozes desapiedados da humanidade, espalhando o terror, a morte indiscriminada, a destruição, condenando vítimas inocentes e indefesas em nome de valores perversos e indefensáveis.

E outros loucos – para quem, num mundo desses, naturalmente, a vida não tem significado nem valor – suicidas destemidos, em busca de uma heroicidade nunca reconhecida, e por prémios mesquinhos que nunca gozarão, obedecem cegamente às ordens dos tiranetes que os subjugam, provocando onzes de setembro, onzes de março, setes de julho e o que mais adiante se verá.

Muito mais de vinte séculos… E o homem ainda não aprendeu a conviver com o homem.

Do mundo desconhecido e inexplorado passámos à “aldeia global”. Mas se antes o homem não conhecia o seu vizinho, e por isso o guerreava e o queria dominar, hoje conhece-o, mas continua a abominá-lo, por minúsculas e insignificantes diferenças, e por isso a persegui-lo.

A religião ligada ao poder foi sempre, e sempre terá de ser, uma “mistura” altamente explosiva.

Urge, pois, que o mundo entenda, de vez, que credo e política têm de confinar-se aos respectivos âmbitos, sem se imiscuírem mutuamente e mutuamente se reforçarem e, perversamente, se apoiarem.

O fundamentalismo, o cego fanatismo religioso, se sempre foi condenável, hoje é-o por redobrados motivos: representa um retrocesso civilizacional. Cada vez mais incompreensível, repugnante e inaceitável.

Desta vez a jihad da Al-Qaeda actuou em quatro pontos de Londres, no dia da abertura da cimeira dos ricos, o G8, em Gleneagles, na Escócia, agora, e enfim, envolta de uma auréola de esperança.

Antes, como hoje, os “terroristas” pretendiam, e pretendem, que os seus valores substituam os dos seus perseguidos.

É a religião exponenciada politicamente ao absurdo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas o fanatismo religioso foi sempre um retrocesso civlizacional. E a própria religião, mesmo sem fanatismos, não será ela própria um retrocesso civilizacional?

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