segunda-feira, junho 04, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA - I




Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

.
ESTÁ EM CURSO O 12º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 04 DE JUNHO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4709 do calendário chinês
Ano 5772 do calendário hebraico
Ano 1434 da Hégira (calendário islâmico)

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS

E HOJE É O
DIA INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS VÍTIMAS INOCENTES DE AGRESSÃO

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Jorge de Sena, Fidelidade

Jorge de Sena

Completam-se hoje 34 anos, foi no DM 04.06.1978: morreu em Santa Bárbara, Califórnia, Jorge de Sena, engenheiro civil, escritor, poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta, crítico, tradutor e professor universitário português, a cinco meses de completar os 59 anos.

Em Portugal o general Ramalho Eanes (um dos oficiais do Grupo dos Nove) cumpria o seu 1º mandato (de dois consecutivos) como Presidente da República, tendo sido o primeiro constitucionalmente eleito, por sufrágio directo, ao abrigo da Constituição de 1976. E estava em funções o II Governo Constitucional, desde 23 de Janeiro de 1978, liderado por Mário Soares, o seu 2º de três governos constitucionais a que presidiu. A sua formação resultou de um acordo de incidência parlamentar entre o PS e o CDS, tendo, para isso, Mário Soares “metido o socialismo na gaveta”. Governo que caiu aos 29 de Agosto de 1978 dado que o CDS rompeu o acordo com o PS. Seguiram-se 3 governos constitucionais de iniciativa presidencial (III, de Nobre da Costa; IV, de Mota Pinto e V, de Maria de Lurdes Pintasilgo).
Nos EUA, onde Jorge de Sena morreu, decorria o 1º e único mandato do 39º Presidente, o Democrata Jimmy Carter.
Em Espanha reinava já o actual monarca, Juan Carlos, filho do Conde de Barcelona e neto de Afonso XIII, da Casa de Bourbon, e Presidente do Governo era Adolfo Suárez.
No Reino Unido decorria já o longo reinado (desde 06.02.52) da actual monarca, Isabel II (66) da Casa de Windsor, e primeiro-ministro era James Callaghan do Partido Trabalhista.
Em França governava o presidente Valéry Giscard d'Estaing, da V República e primeiro-ministro era Raymond Barre.
O presidente da Itália era Giovanni Leone, da Democracia Cristã, que se demitiria nove dias depois (15.06.1978) e primeiro-ministro era o democrata cristão Giulio Andreotti, no segundo dos seus três governos sucessivos e um dos 5 não consecutivos.
Presidente da então República Federal da Alemanha era Walter Scheel, do Partido Liberal Democrático (FDP), hoje o ex-chefe de Estado da Alemanha mais velho de todos os tempos, e chanceler era o social-democrata Helmut Schmidt (do SPD).
Derrubada a ditadura e restaurada a democracia, em 1974, um segundo referendo, desse mesmo ano, confirmou a abolição da monarquia e o estabelecimento da actual república parlamentar, a Terceira República Helénica, com, nesta altura, Constantino Tsatsos como seu segundo presidente, apoiado pelo partido Nova Democracia, e primeiro-ministro era Konstantínos G. Karamanlís, do Partido Nova Democracia.
Na Bélgica reinava Balduíno I, irmão mais velho e antecessor do actual monarca, o rei Alberto II, ambos da Casa de Saxe-Coburgo-Gota e primeiro-ministro era Leo Tindemans.
Na, então, União Soviética o dirigente máximo era Leonid Brezhnev, Secretário-geral do PCUS.
Pontificava Paulo VI (262º).

O ano de 1978 é o ano em que, designadamente:
11JAN: o presidente da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral, inicia uma visita oficial a Portugal.
28JAN: decorre, em Lisboa, a Convenção Nacional da UEDS (União de Esquerda Democrática e Socialista).
30JAN: caído o I Governo Constitucional, por ter sido rejeitada pela AR uma moção de confiança que lhe apresentara, é empossado o II Governo Constitucional, também presidido por Mário Soares. Este governo resultou de um acordo de incidência parlamentar entre o PS e o CDS, e manteve-se em funções até 28AGO1978.
20FEV: morre Vitorino Nemésio, açoriano, escritor e professor universitário, autor de “Mau Tempo no Canal”.
21FEV: o rei Olavo, da Noruega, inicia uma visita oficial a Portugal.
17MAR: um violento incêndio destrói a Faculdade de Ciências de Lisboa, incluindo o Museu de História Natural, bibliotecas e laboratórios.
31MAR: o presidente da AR, Vasco da Gama Fernandes, participa, em Madrid, no congresso de deputados que aprova o novo Tratado de Amizade e Cooperação entre Portugal e Espanha.
03MAI: o rei de Espanha, Juan Carlos, inicia uma visita oficial a Portugal procedendo à ratificação do Tratado de Amizade e Cooperação entre os dois países ibéricos.
17MAI1978: feita a tradução de Os Bichos, de Miguel Torga, para francês, a obra é premiada em França.
26JUN: os presidentes da República de Portugal e Angola, Ramalho Eanes e Agostinho Neto, e os respectivos ministros dos Negócios Estrangeiros, participam na cerimónia da assinatura do Acordo Geral de Cooperação entre os dois países.
06AGO: morre Paulo VI, aos 80 anos.
10AGO: Ramalho Eanes assiste, no Vaticano, às solenes exéquias do Papa Paulo VI.
26AGO: o cardeal Albino Luciani foi eleito Papa, com 65 anos. João Paulo I foi o nome que adoptou, em homenagem aos seus imediatos antecessores.
Italiano, como todos os papas nos últimos séculos, nasceu na região de Veneza em 17OUT1912. E morreu trinta e três dias depois da sua eleição, a 28SET1978, perto de fazer 66 anos.

O ano de 1978 foi um ano em que houve três papas: Paulo VI (262º), João Paulo I (263º) e João Paulo II (264º).
João Paulo I foi nomeado bispo por João XXIII em 1958, foi designado patriarca de Veneza em 1969, por Paulo VI, que o fez cardeal em 1973.
"Do seu pontificado de um mês [em bom rigor: 33 dias] ficou-nos o seu belo sorriso, mas alguns afirmam que "em nome de Deus este papa tinha de morrer". Oficialmente morreu de um enfarte do miocárdio quando lia deitado no seu leito" [Canaveira].

Poucos duvidam: foi assassinado! (Quanta unção e beatitude de algumas reverências não têm sido mais que a miserável máscara de seres repugnantes! Quantos solidéus não cobriram uns cérebros demoníacos e perversos! Quantas batinas [pretas, roxas, vermelhas ou brancas] não serviram para disfarçar uns monstros desprezíveis!).

28AGO1978: uma vez que o CDS rompeu o acordo com o PS, o presidente da República demitiu Mário Soares e apresentou à AR um governo de sua iniciativa: é o III Governo Constitucional, presidido pelo Engº Nobre da Costa, que toma posse no dia 29AGO. Mas este governo não viu ratificado o seu programa pela AR, e assim só dura 3 meses, até 22NOV1978.
27SET: é criado o curso superior de jornalismo na Universidade de Évora.
28SET: morre o Papa João Paulo I, com 65 anos.
16OUT: O cardeal polaco, que o século conheceu como Karol Josef Wojtyla foi eleito Papa, aos 58 anos, e adoptou o nome João Paulo II. Visitou todos os continentes e inúmeros países (alguns mais que uma vez, como Portugal). Nasceu a 18.05.1920 e morreu aos 02ABR2005, às 21:37 locais (em Lisboa: 20:37). É o 1º papa polaco e o primeiro não italiano desde há mais de 400 anos, desde 1522.
28OUT: nasce a UGT (União Geral de Trabalhadores), constituída por 43 sindicatos e 3 federações, de influência socialista e social-democrata.
30OUT: Teófilo Carvalho dos Santos é eleito presidente da AR.
31OUT: nasce o PSR (Partido Socialista Revolucionário), de formação trotskista.
06NOV: inaugurada, em Toronto, Canadá, uma exposição sobre Alexandre Herculano.
22NOV: o presidente da República convida o Prof Mota Pinto para formar o IV Governo Constitucional, que durou até 31JUL1979.
08DEZ1978: morre a política israelita Golda Meir.
10DEZ: comemora-se o 30º aniversário da adopção da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU.


Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e historiador da cultura, Jorge de Sena (Jorge Cândido de Sena, de seu nome completo), nascido no DM 2 de Novembro de 1919 (1) e falecido no DM 4 de Junho de 1978, foi autor de uma obra marcada sobretudo pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem. "Pensador que sente e sentidor que pensa" (Eugénio Lisboa), os seus poemas partem geralmente de um objecto para fixar uma meditação sobre o "eu" e o seu lugar no mundo. [Info: Sena]
É um dos grandes nomes da poesia e do ensaísmo português da segunda metade do século XX.
[BU: Sena]

A partir de finais dos anos 30 iniciou uma actividade de crítico de arte, colaborando, designadamente, nas publicações Presença, Cadernos de Poesia (que dirigiu de 1951 a 1953), Portvcale, Seara Nova e Vértice, mantendo ainda colaboração regular no Diário Popular. Exerceu a par da sua actividade literária a de tradutor de poesia, divulgando, assim, em Portugal, poetas surrealistas e outros grandes nomes da cultura britânica, aos quais dedicou muitos estudos, assim como os dedicou a autores portugueses entre eles Fernando Pessoa e sobretudo Camões (A Poesia de Camões, Ensaio de Revelação da Dialéctica Camoniana, 1951; Uma Canção de Camões, 1956; Camões e os Maneiristas, 1961; A Estrutura de Os Lusíadas, 1971). [BU: Sena]

Nos seus verdes anos de aprendizagem de um “ofício”, Sena alimentava o íntimo sonho de seguir as pisadas do pai tornando-se oficial da marinha. Mas as coisas não lhe correram bem, e então formou-se em engenharia civil, na Universidade do Porto, em 1944.

Mas a sua paixão era a escrita e a literatura. É assim que ainda  estudante “publicou, sob o pseudónimo Teles de Abreu, as suas primeiras composições poéticas em periódicos como Presença e travou conhecimento com o grupo de poetas que viria a reunir-se em torno dos Cadernos de Poesia, convivendo, entre outros, com José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti, Alberto Serpa e Casais Monteiro.” [Info: Sena] E com Sophia de Mello Breyner, que aí fez amizades com Jorge de Sena e com Cinatti, que os apresentou.

Cadernos de Poesia são uma revista literária, editada em Lisboa, de orientação eclética, que teve 3 séries, sendo a primeira (de 40 a 42) dirigida por Tomás Kim, José Blanc de Portugal e Ruy Cinatti.
Sob o lema "Poesia é só uma", o seu objectivo é "arquivar a actividade da poesia actual sem dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas ou programas". [Info: Cadernos]
Aos Cadernos, Sena aparece associado em 1940. E é também nos anos 40 que ele colabora noutras publicações, como a Seara Nova. E é ainda nos Cadernos de Poesia, que ele publica (em 1942) a sua primeira obra poética, Peregrinação. [Info: Sena]

A meio da década de 40 deparamos com um Jorge de Sena a um tempo engenheiro e conferencista literário.
Sem filiação em quaisquer escolas literárias, delas recebeu, contudo, influências, designadamente – como era mais notório – do surrealismo, mormente em aspectos técnicos. E conjugou, com particular mestria, “aspectos modernos da sua poesia” com “recursos da tradição medieval e renascentista, tornando a sua obra, simultaneamente, clássica e revolucionária.” [BU: Sena]

Além de que aderiu a um conceito de poesia que "com todos os seus ingredientes, recursos, apelos aos sentidos, resulta de um compromisso firmado entre um ser humano e o seu tempo, entre uma personalidade e uma sua consciência sensível do mundo, que mutuamente se definem". [Info: Sena]

Não raro levava a cabo, nos seus poemas, uma, por vezes corrosiva, outras vezes dorida sátira da realidade.
Aliás, numa entrevista de José Carlos de Vasconcelos/JCV a Sophia de Mello Breyner, acerca Sena, JCV define-o como «“um homem muito amargo, como se vê pela “correspondência”»

Entre os seus temas mais recorrentes contam-se os da morte, do amor e da experiência erótica, da relação entre o Homem e Deus, ou os deuses, da própria criação estética pela linguagem e, finalmente, de Portugal, nos seus mitos culturais, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do entendimento do país e do seu povo no mundo. [BU: Sena]

… continua amanhã, TR 05.06.2012…





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