nota prévia
Lamento mas não consegui tornar esta memória mais
curta.
Mas a verdade é que recordo muita coisa relacionada
com a dificuldade que o Portugal de Salazar estava a encontrar nesses alvores
dos movimentos de libertação das nossas colónias de então… E das respectivas
guerras de independência.
E trago vários documentos menos conhecidos. E vária
matéria interessante, Suponho.
É uma síntese, conquanto não pareça.
Que não terá de ser lida de uma vez.
Como diria o outro, não é para ler… É para ir
lendo.
Aliás, esta memória já vai aparecer não num, mas em
três dias sucessivos. O primeiro dos segmentos é o maior, pois achei melhor
não interromper a súmula cronológica do terrível (para o regime salazarista)
ano de 1962. Os restantes já são menos extensos (uns 5 minutos de leitura).
|
.
DECORRE O 12º ANO DO 3º
MILÉNIO
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA
DIA 25 DE JUNHO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO
Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4708-4709 do
calendário chinês
Ano 5772-5773 do
calendário hebraico
Ano 1433-1434 da Hégira
(calendário islâmico)
Ano 1461 do calendário
arménio
Ano 1390-1391 do
calendário Persa
e relativamente aos
calendários hindus:
- Ano 2067-2068 do
calendário Vikram Samvat
- Ano 1934-1935 do
calendário Shaka Samvat
- Ano 5113-5114 do
calendário Kali Yuga
Mais:
DE ACORDO COM A
TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a
2012 - Década da
Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a
2014 - Década das Nações
Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a
2015 - Década Internacional
"Água para a Vida".
Por outro lado
2012 é o
ANO EUROPEU DO
ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA
SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA
AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS
COOPERATIVAS
DIA MUNDIAL DA
MULTIMÉDIA
DIA NACIONAL DA CROÁCIA
Não estamos a lutar
contra o Povo Português,
mas sim contra o sistema
colonial em Moçambique.
Eduardo Mondlane
Chegada de Eduardo
Mondlane (o mais alto e careca, ao meio)
e dos dirigentes da
FRELIMO a Dar-Es-Salaam em 1962
Na SG 25.06.1962, faz hoje 50 anos, foi fundada, em
Dar-Es-Salaam, na (actual) Tanzânia, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique),
liderada por Eduardo Mondlane.
Assassinado este, consta que pela PIDE, na SG 03FEV1969,
a poucos meses de completar os 49 anos, segue-se-lhe na liderança, em 1970,
Samora Machel, na presidência, e Marcelino dos Santos, na vice-presidência.
Em Portugal, ainda que a
dupla Américo Tomás e Oliveira Salazar se mostrasse firme como uma rocha, a
verdade é que a falência do regime salazarista se iniciara nos finais dos anos
50 e, qual fruto apodrecido, cairia daí a alguns anos.
Em Espanha decorria o
consulado do ditador Francisco Franco.
Havia-se completado em
Fevereiro anterior o décimo ano do longo reinado da actual rainha de Inglaterra,
Isabel II (66), e primeiro-ministro era o Conservador Harold Macmillan.
Era presidente da França
(2º da Quinta República) o general Charles de Gaulle e primeiro-ministro
Georges Pompidou, desde Abril anterior.
Nos Estados Unidos era
(35) presidente o Democrata John F. Kennedy, desde 20 de Janeiro do ano
anterior até ao seu assassinato em 22.11.63
Era presidente da República
Italiana Antonio Segni, do Partido da Democracia Cristã, e decorria o 4º dos 6
mandatos não consecutivos de Amintore Fanfani, como primeiro-ministro.
O (2º) presidente da
República Federal da Alemanha era Karl Heinrich Lübke e chanceler era (1º desde
a II Grande Guerra) Konrad Adenauer, da Democracia Cristã (CDU).
Rei da Grécia (dos
Helenos, era a designação formal) era, na altura, Paulo I, irmão do seu
antecessor Jorge II, e pai do seu sucessor, Constantino II (último monarca do
país), todos da Casa Real dos Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, sendo
primeiro-ministro, no seu 4º de 5 mandatos não consecutivos, Konstantínos G.
Karamanlís que, nos anos 80 e 90 do séc. anterior, viria a ser presidente da
Grécia por duas vezes não consecutivas. Constantino II (nasceu em 1940), que vive
em Londres, é irmão da rainha Sofia de Espanha (nascida em 1938).
Na Bélgica reinava
Balduíno I, enquanto que primeiro-ministro era Théodore Lefèvre.
Líder máximo da União
Soviética era Nikita Khrushchev, na altura primeiro-secretário do Comité
Central do PCUS e Presidente do Conselho de Ministros.
No Vaticano pontificava o
papa João XXIII (261º).
O ano de 1962 foi um annus horribilis para o regime, como a
seguinte síntese diacrónica revela, para além do que
a História regista mas a memória, de momento, não alcança. Anos que deram água
pela barba ao ditador e seus acólitos, da mesma maneira que os outros daí em
diante, até à sua queda:
01JAN
|
Na noite da passagem do
ano foi assaltado o quartel de Infantaria 3 em Beja. A revolta foi comandada
pelo capitão Varela Gomes. Morto, durante os acontecimentos o tenente-coronel
Jaime Filipe da Fonseca, então sub-secretário de Estado do exército. Outro
dos organizadores foi o civil Manuel Serra, participando o major Francisco
Vasconcelos Pestana, o capitão Pedroso Marques e o tenente Brissos de
Carvalho, bem como o civil Fernando Piteira Santos. Depois de um tiroteio com
o major Calapez, comandante do quartel que consegue evadir-se e avisar as
autoridades, Varela Gomes é gravemente ferido.
|
Na
madrugada de 1 de Janeiro de 1962, um grupo de militares e civis tentou tomar
de assalto o quartel de Beja, dando assim início a uma revolta que deveria
ter sido liderada por Humberto Delgado, que tinha entrado clandestinamente no
país em meados de Dezembro de 1961. Um tiro disparado involuntariamente por
um dos revoltosos e um infeliz desencontro de Delgado com um colaborador dos
invasores impediu o chamado "golpe de Beja" de ter o desfecho
ambicionado pelos revoltosos: derrubar António de Oliveira Salazar.
Alguns participantes foram mortos, outros feridos e outros ainda presos, como aconteceu com João Varela Gomes, dirigente militar do golpe, e com Edmundo Pedro (este último esteve encarcerado em Caxias de 1962 a 1965). Humberto Delgado, depois de alguns dias escondido em Beja, viajou para o Porto e dali para Espanha, conseguindo a proeza de nunca ter sido identificado pela PIDE.
[In Público SB 31.12.2011, Por Maria José
Oliveira]
|
03JAN
|
Discurso
de Salazar na Assembleia Nacional sobre o caso de Goa, lido por Mário de
Figueiredo, dada a afonia do Presidente do Conselho.
Mário
de Figueiredo era desde 1961 presidente da Assembleia Nacional, cargo que
exerceu até à morte, em 1969 (prémio com que o ditador distinguia os “bem
comportados”: os cargos eram vitalícios. Foi um dos opositores à nomeação de
Marcelo Caetano como sucessor de Salazar na Presidência do Conselho de
Ministros).
|
15JAN
|
Portugal
abandona a Assembleia-geral da ONU, por causa do debate sobre Angola
Na
mesma data, Portugal tem de negociar com a União Indiana o repatriamento de
mais de 3 000 prisioneiros portugueses
|
30JAN
|
Resolução
da Assembleia-geral da ONU, reprovando a repressão e acção armada
desencadeada por Portugal contra o povo angolano, reafirmando o direito deste
à autodeterminação e independência
|
31JAN
|
Manifestação
no Porto com palavras de ordem como Liberdade e Amnistia e contra a guerra
colonial, o que acontece pela primeira vez
|
02FEV
|
Memorial
confidencial de Marcello Caetano para o governo preconiza uma modificação
constitucional com vista a transformar o Estado unitário em Estado Federal
|
Março
|
Constituição,
por intelectuais portugueses naturais ou residentes em Angola, da Frente
Unida Angolana (FUA), de apoio ao MPLA.
No
mesmo mês, crise académica que, iniciada em Lisboa, se repercutiu por todo o
País e na sequência da qual resultou a prisão de cerca de mil estudantes e a
demissão voluntária ou imposta de vários professores. O próprio Reitor,
Marcelo Caetano, se demitiu desse cargo
|
02MAR
|
Criação
de uma organização de voluntários de carácter permanente em cada um dos
territórios coloniais
|
09MAR
|
Realiza-se
em Coimbra o I Encontro Nacional de Estudantes que constitui o Secretariado
Nacional dos Estudantes Portugueses, que decide a comemoração do Dia do
Estudante em Lisboa entre 23 e 25 de Março
|
12MAR
|
A
Rádio Nacional Livre, da responsabilidade da FPLN (Frente Patriótica de
Libertação Nacional), inicia as suas emissões a partir de Argel, na Argélia
|
13MAR
|
Carta
do Comité dos Sete da ONU ao Governo português solicitando informação sobre
as condições de uma visita do Comité aos territórios sob administração
portuguesa.
Na
mesma data, Prisão, em Bissau, pela PIDE, dos dirigentes do PAIGC, Rafael
Barbosa e Fernando Fortes
|
18MAR
|
Deslocação
a Lisboa do governador-geral de Moçambique, almirante Sarmento Rodrigues, por
causa de actividades secessionistas de colonos da Beira (claro que a direita
radical também atirava achas para a fogueira)
|
21MAR
|
O
Ministro da Educação, Lopes de Almeida, proíbe as comemorações do Dia do
Estudante
|
23MAR
|
Resposta
do Governo português à carta do Comité dos Sete da ONU, de dez dias antes,
recusando a visita do Comité aos territórios sobre administração portuguesa
|
24MAR
|
A
Cidade Universitária é ocupada pela polícia para impedir as comemorações do Dia
do Estudante, organizado pelas associações de estudantes e pró-associações. A
polícia tenta entrar na Faculdade de Direito, mas é impedida pelo Director da
Faculdade, Galvão Teles. Uma delegação de estudantes, incluindo da AAFDL,
dirige-se a casa do Reitor, Marcello Caetano, o qual contacta o Ministro do
Interior, pedindo a retirada da polícia. Contudo, verifica-se apenas um
afastamento. O Governo marca então, para essa tarde, uma reunião com os
estudantes, mas acaba por não comparecer. Surgem entretanto as primeiras
cargas policiais, com os estudantes reunidos no Estádio Universitário, nas
actividades do Dia do Estudante. O Reitor, Marcello Caetano, depois de
dialogar com a polícia, pede a desmobilização dos estudantes e convida-os
para jantar no "Castanheira de Moura", ao invés da Cantina, como
previsto no programa do Dia. Aos vivas à "unidade" e ao "Dia
ao Estudante", a polícia responde novamente, ferindo e detendo dezenas
de estudantes. [AAFDL]
|
25MAR
|
Os
estudantes reúnem-se pela manhã na sala de alunos da FMUL[/Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa], a qual é depois invadida pela polícia.
Surge entretanto a notícia de que Marcello Caetano tinha pedido a exoneração
do cargo de Reitor.
À
noite, a RIA (Reunião Inter-Associações) aprova o luto académico, pela defesa
dos valores corporativos da Universidade e pela sua autonomia. São criados
piquetes de greve. Ao movimento estudantil juntam-se alguns professores. [AAFDL]
|
27MAR
|
Constituição
da FNLA/ Frente Nacional de Libertação de Angola, a partir da UPA/União dos
Povos de Angola e do PDA/Partido Democrático de Angola.
O
Ministério da Educação divulga uma nota onde apresenta as razões para a
proibição do Dia do Estudante, o qual merece resposta da massa estudantil,
através da RIA, que geria e conciliava as diversas posições. Pela pressão
causada pela paralisação universitária, o Ministro Lopes de Almeida é
obrigado a dialogar com os estudantes, recebendo, assim, o Presidente da
AAFDL, José Vasconcelos Abreu, e o Presidente da pró-associação de Medicina. À
noite, pela abertura demonstrada ao diálogo, é levantado o luto académico,
são libertados os estudantes presos e realiza-se um jantar de
confraternização na Cantina. [AAFDL]
|
28MAR
|
Numa
reunião com o Ministro, o Dia do Estudante é recalendarizado para os dias 7 e
8 de Abril. Logo nesse dia é entregue aos Reitores o programa das
celebrações. [AAFDL]
|
31MAR
|
Marcello
Caetano aceita permanecer no cargo de Reitor, após reunião com o Ministro
Lopes de Almeida. [AAFDL]
|
05ABR
|
Formação
do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) pela FNLA.
Numa
nota divulgada nos jornais, o Governo declara "não autorizado o Dia do
Estudante", uma vez que, segundo ele, não haviam sido cumpridas as
condições fixadas, designadamente a prévia comunicação do programa aos Reitores.
Marcello Caetano demite-se, secundado pelos Directores das Faculdades da
Universidade de Lisboa. A RIA decide retomar o luto académico, "pedindo
aos estudantes que se abstenham de comparecer nas aulas". [AAFDL]
|
06ABR
|
A Direcção da AAFDL emite um
comunicado em que reafirma a confiança que deposita no espírito académico,
apelando ao luto e a à união dos estudantes. Mobilização de milhares de
estudantes em frente à Reitoria da UL, rumando depois para o Ministério da
Educação.
[AAFDL].
O processo estende-se a Coimbra.
Era o mais importante movimento de protesto
estudantil depois das greves de 1927 e de 1930.
|
07ABR
|
Após
plenário no Estádio Universitário, os estudantes rumam silenciosamente ao
Ministério, no Campo Mártires da Pátria, mas são impedidos pela polícia,
verificando-se confrontos e prisões. [AAFDL]
|
08
e 09ABR
|
Sucedem-se
os plenários de estudantes, que têm como principais oradores Jorge Sampaio
(então Secretário-Geral da RIA, no ano seguinte a presidir à AAFDL), Victor
Wengorovius (AAFDL), Eurico de Figueiredo e Abílio Mendes [AAFDL], estes últimos da
Faculdade de Medicina
|
10ABR
|
A
greve é interrompida após o Professor Decano da FDL, Costa Leite [Lumbrales],
antigo Ministro [e ex-presidente da Junta Central da Legião Portuguesa e da
União Nacional, como foi o principal expoente da teoria corporativa
portuguesa], ter prometido usar a sua influência para a relevação das faltas
dos alunos em greve. Consegue ainda para os estudantes uma audiência com o
Ministro de Estado, Dr. Correia de Oliveira. [AAFDL]
|
12ABR
|
Agitação
nas universidades: as Academias de Lisboa e de Coimbra
decretam luto académico.
Remodelação
ministerial, com Gomes de Araújo a substituir Salazar na Defesa Nacional,
Joaquim da Luz Cunha a substituir Mário Silva no Exército e Peixoto Correia a
substituir Adriano Moreira no Ultramar
|
14ABR
|
Audiência
dada pelo ministro Correia de Oliveira: mas infrutífero e com o descarte do
costume: o ministro competente é o da Educação.
Na
residência de Oliveira Salazar, Jorge Sampaio (RIA), José Vasconcelos Abreu
(AAFDL), José António Tavares da Cruz, Manuel Magalhães e Medeiros Ferreira
encontram-se então com o Ministro, Correia de Oliveira, que se limita a
proferir um discurso, no qual refere que "o poder não pode ser desafiado
porque o poder não pode ser vencido". Diz ainda que a competência para
os assuntos que os estudantes querem ver tratados é do Ministro da Educação,
Lopes de Almeida. [id]
|
16ABR
|
Num
dos mais concorridos plenários, com a presença de agentes infiltrados da
PIDE, os estudantes decidem retomar o luto e a greve às aulas. O Ministério
da Educação decide então suspende as direcções das AEs de Lisboa. [id]
|
27ABR
|
É
revogado o Código do Trabalho Indígena, numa tentativa de diminuir a
contestação ao domínio colonial português e promulgado, em sua substituição o
Código de Trabalho Rural do “Ultramar”.
|
30ABR
|
Novo
plenário de estudantes no Estádio Universitário, que decide pela suspensão da
greve, aceitando uma proposta do Senado da Universidade para que existam
negociações na resolução dos problemas académicos. [id]
|
28
a 30ABR
|
Greve
e manifestação dos mineiros de Aljustrel: 2 mortos e quatro feridos foi o
resultado da violenta repressão concretizada pela GNR
|
Maio
|
Evasão
de Lisboa, onde tinha residência fixa, de Agostinho Neto
|
01MAI
|
Grande
manifestação em Lisboa em que milhares de pessoas, com palavras de ordem
contra a guerra colonial, fazem frente à polícia de choque, de cujo confronto
resulta a morte de duas pessoas e várias dezenas de feridos.
Tumultos
também noutros pontos do país, com no Porto e em Almada e greves no
Ribatejo e no Alentejo.
|
05MAI
|
Na sequência da suspensão da greve, o Senado Universitário solicita do
Ministro da Educação para que autorize o normal funcionamento das associações
de estudantes. [AAFDL]
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08MAI
|
Incidentes na Baixa de Lisboa, com uma manifestação de
milhares de pessoas no aniversário da rendição incondicional do III Reich,
numa clara demonstração de contestação ao regime. A repressão
faz um morto e quatro feridos.
No final do mês, bombas no ministério das Corporações e no SNI/Secretariado
Nacional de Informação.
|
09MAI
|
O plenário, com seis mil estudantes, aprova a greve de fome. As dezenas
de grevistas reúnem-se na Cantina, barricando-se. [id]
|
10MAI
|
Persistindo a suspensão dos dirigentes estudantis, é decretada a greve
geral, que inclui a falta às aulas, às frequências e aos exames finais. O
Vice-Reitor pede a presença de um representante estudantil no Senado
Universitário, comunicando-lhe que quer acabar com a greve e pretende a
desocupação da Cantina. Perante a impossibilidade de o fazerem no tempo
fixado, os estudantes são informados de que o Senado havia aprovado uma
resolução devolvendo as instalações académicas ao Governo. [id]
|
10
e 11MAI
|
A polícia assalta a sede da Associação Académica de Coimbra, seguindo-se
novo luto académico, decretando-se a greve aos exames. Por seu lado, em
Lisboa, estudantes, acompanhados por alguns professores, decidem ocupar as
instalações da cantina universitária, com nova intervenção policial.
|
11MAI
|
Adriano
Moreira na Casa do Infante no Porto profere a conferência Geração traída.
Na
madrugada do dia 11, a Cantina é cercada pela polícia, estando no interior
cerca de 1200 de estudantes e alguns professores. Os estudantes são então
presos e enviados em autocarros da Carris para diversos estabelecimentos
prisionais. Entre os estudantes, encontrava-se cerca de uma centena de
raparigas, quase todas sem autorização para sair à noite, que são
transportadas para o Governo Civil. [AAFDL] (Uma centena! Incrível! Sem autorização para sair
à noite! Um desaforo! [Como o terão descoberto?] Uma centena de
desavergonhadas, está visto. Duplo crime!)
|
22MAI
|
Chegada
a Lisboa dos primeiros 1 200 prisioneiros portugueses da índia, a bordo do
navio Vera Cruz
|
25MAI
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Os líderes estudantis decidem a criação do MAR/Movimento de Acção
Revolucionária, onde dominam socialistas e católicos progressistas.
|
28MAI
|
Com
várias sessões comemorativas o Governo tenta reabilitar a sua imagem. Salazar
proclama: “quase seria uma traição aos
mortos se houvesse o mais pequeno dissídio”. Frase retumbante para
esconder as preocupações que o tolhiam.
|
Junho
|
Apresentação,
por Amílcar Cabral, perante a Comissão da ONU para os territórios
administrados por Portugal, de um relatório intitulado «O Nosso Povo, o
Governo Português e a ONU»
|
11JUN
|
Incansável
e apreensivo, Adriano Moreira profere conferência no Instituto de Estudos
Políticos de Madrid.
|
14JUN
|
Num
plenário no IST, é suspensa a falta aos exames e são aprovadas duas
manifestações para com Eurico de Figueiredo (Presidente da pró-associação de
Medicina, entretanto detido). [AAFDL]
|
25JUN
|
Fundação
da FRELIMO em Dar-es-Salaam, na Tanzânia
|
Julho
|
Entrada
em funcionamento da base de Kinkusu, atribuída pelo Governo do
Congo-Leopoldville à UPA.
No
mesmo mês, condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António
Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por «actividades
contra a segurança exterior do Estado».
Ainda
no mesmo mês, nova medida para estrangeiro impressionar: Criados os Estudos
Gerais de Angola e Moçambique. Serão reitores: de Angola, André Navarro, e de
Moçambique, Veiga Simão.
|
Agosto
|
Recomendação
da Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros da OUA reunida em Dacar
para o reconhecimento do GRAE de Holden Roberto.
No
mesmo mês, Adriano Moreira visita a Guiné e Cabo Verde. (O
“caixeiro-viajante” do Governo não descansa)
|
Setembro
|
Fundada,
em Dacar, a Frente de Libertação Nacional da Guiné/FLING
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01SET
|
Petição
ao presidente da República, por um grupo de personalidades da oposição, reclamando
a demissão de Salazar e uma modificação na política ultramarina
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18SET
|
Outro
“braço” de Salazar (este mais radical), Franco Nogueira, discursa na
Assembleia-geral da ONU. Em vão e no deserto.
|
23SET
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Início
do I Congresso da Frelimo em Dar-es-Salaam, na altura capital da Tanzânia.
Na
mesma data, Depoimento de Eduardo Mondlane, em nome da Frelìmo, perante o
Comité Especial da ONU para os territórios administrados por Portugal
|
24SET
|
Demissão
de Venâncio Deslandes dos cargos de governador-geral e comandante-chefe de
Angola, na sequência de divergências com o ministro do Ultramar, Adriano
Moreira, por questões de autonomia política e administrativa do território
|
15OUT
|
Publicação
do Decreto-Lei n.º 44 632, que revoga o Decreto-Lei n.º 40 900. [AAFDL] “Diploma que veio
estabelecer a estrutura jurídica e legal a que deveria obedecer a criação de
organizações circum-escolares, pressupostos de vida e actividade
correspondentes aos fins da Universidade”.
|
17OUT
|
Prisão
de Agostinho Neto
|
31OUT
|
Numa
reunião extraordinária do Conselho Ultramarino, Sarmento Rodrigues sustentou
o reforço da descentralização ultramarina, dentro da sua concepção
federalista, mediante o fortalecimento das competências dos
Governadores-gerais das nossas grandes colónias”
|
25NOV
|
Há uma concentração insurreccional no Instituto Superior Técnico contra o Ministro da
Educação Lopes de Almeida, contra o decreto nº 44 632 de 15
de Outubro que condiciona a eleição das associações de estudantes. Entre os
líderes da revolta, destaca-se o estudante de direito, Jorge Sampaio, bem
como Medeiros Ferreira, secretário-geral da Reunião Inter-Associações e
Eurico Figueiredo, líder do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses.
Quarenta e sete professores de Lisboa apoiam formalmente os estudantes em
carta ao Presidente da República. Magalhães Godinho é então demitido de
professor do ISCSPU pelo governo.
No
mesmo dia, a OIT condena a legislação corporativa portuguesa.
|
Dezembro
|
Declarações
de David Mabunda, secretário-geral da Frelimo, no Cairo, segundo as quais
seria inevitável nova guerra, como em Angola, se Portugal não tomasse medidas
imediatas para garantir a autodeterminação de Moçambique.
A
primeira vaga de infiltração guerrilheira na Guiné, comandada pelo PAIGC
ocorre neste mês. Uma segunda ocorre em 22 de Janeiro de 1963. A acção
sistemática começa em Setembro de 1963. Por isso é que em 25 de Julho havia
sido nomeado o guineense James Pinto Bull, futuro deputado da União Nacional,
para o cargo de secretário-geral da Guiné.
|
01DEZ
|
Negociações,
em Paris, de Sócrates Deskalos, presidente da Frente Unida Angolana (FUA),
para abrir um novo quartel-general no Congo e para colaborar com a UPA e
MPLA.
Na
mesma data, Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville, com Agostinho Neto
na presidência e Mário de Andrade na vice-presidência, sendo elementos da
Comissão Governativa P. Domingos da Silva, Matias Miguéis, Manuel Lima e
Sócrates Daskalos
|
04DEZ
|
Remodelação
ministerial: saem Adriano Moreira, Lopes de Almeida, Kaúlza e Ferreira Dias.
Gomes de Araújo, ligado a Santos Costa, assume a pasta da Defesa. Luz Cunha
(cunhado de Kaúlza) no Exército. Peixoto Correia no Ultramar. Inocêncio
Galvão Teles na Educação Nacional. Soares Martinez na Saúde. Francisco Chagas
para secretário de Estado da Aeronáutica.
Segundo
Marcelo Rebelo de Sousa (afilhado de Marcelo), Com esta remodelação importava
“parar a ascensão notória de Adriano
Moreira, manter as Forças Armadas sob seu controlo directo, travar os
marcelistas e alargar, um pouco, à direita e à esquerda, o campo de gestão do
Governo” [Maltez].
(Imagine-se
os sapos que Salazar tinha de ir engolindo…)
|
12DEZ
|
Aprovação
de uma moção na ONU recomendando um programa especial de assistência técnica
para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração
portuguesa
|
13DEZ
|
Apresentação
de Amílcar Cabral na Comissão de Curadorias da ONU como representante do
PAIGC
|
14DEZ
|
Resolução
da Assembleia-geral da ONU sobre Angola, condenando a atitude de Portugal,
pedindo o reconhecimento imediato do direito dos povos não autónomos à
autodeterminação e independência e a cessação imediata de todos os actos de
repressão
|
18DEZ
|
Resolução
da Assembleia-geral da ONU, reafirmando o inalienável direito do povo de
Angola à autodeterminação e independência, condenando a guerra colonial
conduzida por Portugal e requerendo ao Conselho de Segurança as medidas
adequadas
|
19
a 21DEZ
|
Conferência
da oposição em Praga. Realiza-se em Praga a Conferência das Forças
Antifascistas Portuguesas que dão origem à Frente Patriótica de Libertação
nacional (FPLN). Nessa reunião estão presentes o Movimento Nacional
Independente de Delgado, representado por Manuel Sertório; a Resistência
Republicana e Socialista, de Mário Soares; o PCP e o MAR. Assenta no
movimento das Juntas Patrióticas, nascidas em 1959, antes de assentar em
Argel, em 1960. Em 9 de Novembro de 1970, a FPLN, instalada em Argel, afasta
o representante do PCP, Pedro Soares, e trata de afirmar-se revolucionária.
Deste grupo se destacam as Brigadas Revolucionárias, em 1971, e os militantes
fundadores do Partido Revolucionário do Proletariado, em 1973. Em 6 de Junho
de 1974, os militantes remanescentes, com destaque para Manuel Alegre e
Fernando Piteira Santos dissolvem a frente, integrando-a nos efémeros Centros
Populares 25 de Abril.
O
acima referido MAR/Movimento de Acção Revolucionária, de João
Cravinho, Nuno Bragança, Trigo de Abreu, Vítor Wengorovius, Manuel Lucena,
Jorge Sampaio (alguns deles, aliás, estariam na CDE) [Cardina], e ainda de Medeiros
Ferreira, Nuno Brederode Santos e
Vasco Pulido Valente, é um movimento que nasceu do diálogo intenso e da união
entre a vanguarda do movimento estudantil de 62 e o grupo de O Tempo e O Modo, revista
cristã-humanista ela própria alargada na sua colaboração a não-crentes, pelo
que o movimento era constituído entre crentes e agnósticos ou ateus, e o
traço de união que os agregava no mesmo grupo era o combate à ditadura
salazarista até à sua queda. Movimento muito activo entre 63 e 65, pretendeu assumir-se
como uma espécie de partido socialista revolucionário, conforme observação de
Mário Soares.
Através
de Lopes Cardoso e Rui Cabeçadas, participam na FPLN, igualmente mencionada
acima.
A
propósito do MAR v/ acima 25MAI.
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O Tempo e o Modo (1963)
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Revista
fundada em 29 de Janeiro de 1963, tendo como primeiro director António Alçada
Baptista. Ligada à Editora Moraes e à colecção do Círculo do Humanismo
Cristão. Mobiliza, na sua primeira fase, uma série de intelectuais católicos
críticos do salazarismo, como Nuno de Bragança, Pedro Tamen, João Bénard da
Costa, Alberto Vaz da Silva, Mário Murteira, Adérito Sedas Nunes, Francisco
Lino Neto, Orlando de Carvalho, Mário Brochado Coelho. Alarga-se a outros
sectores da esquerda, como a Mário Soares e a Salgado Zenha, vindos do MUD,
ao então comunista Mário Sottomayor Cardia, e à jovem geração de líderes
estudantis, como Manuel Lucena, Vítor Wengorovius e Medeiros Ferreira. Esta
última [jovem geração…] acaba por preponderar na revista, mobilizando Vasco
Pulido Valente. Em 1967-1968, a revista perde as raízes personalistas e
católicas e vira ainda mais à esquerda, iluminada pelos fulgores do Maio de
1968, sob a direcção de Bénard da Costa e de Helena Vaz da Silva e com a
entrada de Luís Salgado Matos e Júlio Castro Caldas. Colaboram então futuros
socialistas e comunistas como Alfredo Barroso, Jaime Gama, José Luís Nunes,
António Reis, Luís Miguel Cintra, Jorge Silva e Melo, Nuno Júdice e Manuel
Gusmão. Em 1970, numa maior guinada à esquerda, a revista passa a ser
porta-voz do maoísmo lusitano, com a entrada de Arnaldo Matos e Amadeu Lopes
Sabino.
[Antologia]
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27DEZ
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Paulo
Cunha reitor da Universidade Clássica de Lisboa
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28DEZ
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Depoimento
de Holden Roberto (suspeito para a esquerda), líder da UPA, perante a
comissão especial da ONU
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O quadro acabado de apresentar
revela bem as preocupações do chefe do governo que nesse ano não teve descanso
e cujos colaboradores, numa rara azáfama, se desmultiplicaram em reuniões,
conferências e declarações. Aliás, e como em qualquer situação de crise
indisfarçável, as remodelações ministeriais sucederam-se, nesse e nos anos
seguintes. O ditador (manhoso como qualquer provinciano que se preze, na sua
ascensão social, venha ele de Santa Comba, Boliqueime ou Arranhóis do Meio) não
conseguia já esconder a ânsia que o dominava. A degradação e a lenta agonia da
Ditadura não eram mais escamoteáveis. A oposição iniciou uma fase mais dura sem
dar tréguas ao governo e ao ditador. A vitória adivinhava-se já, como certa.
… continua amanhã, TR 26.06.2012…
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