segunda-feira, junho 25, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA



nota prévia
Lamento mas não consegui tornar esta memória mais curta.
Mas a verdade é que recordo muita coisa relacionada com a dificuldade que o Portugal de Salazar estava a encontrar nesses alvores dos movimentos de libertação das nossas colónias de então… E das respectivas guerras de independência.
E trago vários documentos menos conhecidos. E vária matéria interessante, Suponho.
É uma síntese, conquanto não pareça.
Que não terá de ser lida de uma vez.
Como diria o outro, não é para ler… É para ir lendo.

Aliás, esta memória já vai aparecer não num, mas em três dias sucessivos. O primeiro dos segmentos é o maior, pois achei melhor não interromper a súmula cronológica do terrível (para o regime salazarista) ano de 1962. Os restantes já são menos extensos (uns 5 minutos de leitura).

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DECORRE O 12º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 25 DE JUNHO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4708-4709 do calendário chinês
Ano 5772-5773 do calendário hebraico
Ano 1433-1434 da Hégira (calendário islâmico)
Ano 1461 do calendário arménio
Ano 1390-1391 do calendário Persa
e relativamente aos calendários hindus:
- Ano 2067-2068 do calendário Vikram Samvat
- Ano 1934-1935 do calendário Shaka Samvat
- Ano 5113-5114 do calendário Kali Yuga

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado
2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS


DIA MUNDIAL DA MULTIMÉDIA
DIA NACIONAL DA CROÁCIA


Não estamos a lutar contra o Povo Português,
mas sim contra o sistema colonial em Moçambique.
Eduardo Mondlane

Chegada de Eduardo Mondlane (o mais alto e careca, ao meio)
e dos dirigentes da FRELIMO a Dar-Es-Salaam em 1962

Na SG 25.06.1962, faz hoje 50 anos, foi fundada, em Dar-Es-Salaam, na (actual) Tanzânia, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), liderada por Eduardo Mondlane.
Assassinado este, consta que pela PIDE, na SG 03FEV1969, a poucos meses de completar os 49 anos, segue-se-lhe na liderança, em 1970, Samora Machel, na presidência, e Marcelino dos Santos, na vice-presidência.

Em Portugal, ainda que a dupla Américo Tomás e Oliveira Salazar se mostrasse firme como uma rocha, a verdade é que a falência do regime salazarista se iniciara nos finais dos anos 50 e, qual fruto apodrecido, cairia daí a alguns anos.
Em Espanha decorria o consulado do ditador Francisco Franco.
Havia-se completado em Fevereiro anterior o décimo ano do longo reinado da actual rainha de Inglaterra, Isabel II (66), e primeiro-ministro era o Conservador Harold Macmillan.
Era presidente da França (2º da Quinta República) o general Charles de Gaulle e primeiro-ministro Georges Pompidou, desde Abril anterior.
Nos Estados Unidos era (35) presidente o Democrata John F. Kennedy, desde 20 de Janeiro do ano anterior até ao seu assassinato em 22.11.63
Era presidente da República Italiana Antonio Segni, do Partido da Democracia Cristã, e decorria o 4º dos 6 mandatos não consecutivos de Amintore Fanfani, como primeiro-ministro.
O (2º) presidente da República Federal da Alemanha era Karl Heinrich Lübke e chanceler era (1º desde a II Grande Guerra) Konrad Adenauer, da Democracia Cristã (CDU).
Rei da Grécia (dos Helenos, era a designação formal) era, na altura, Paulo I, irmão do seu antecessor Jorge II, e pai do seu sucessor, Constantino II (último monarca do país), todos da Casa Real dos Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, sendo primeiro-ministro, no seu 4º de 5 mandatos não consecutivos, Konstantínos G. Karamanlís que, nos anos 80 e 90 do séc. anterior, viria a ser presidente da Grécia por duas vezes não consecutivas. Constantino II (nasceu em 1940), que vive em Londres, é irmão da rainha Sofia de Espanha (nascida em 1938).
Na Bélgica reinava Balduíno I, enquanto que primeiro-ministro era Théodore Lefèvre.
Líder máximo da União Soviética era Nikita Khrushchev, na altura primeiro-secretário do Comité Central do PCUS e Presidente do Conselho de Ministros.
No Vaticano pontificava o papa João XXIII (261º).


O ano de 1962 foi um annus horribilis para o regime, como a seguinte síntese diacrónica revela, para além do que a História regista mas a memória, de momento, não alcança. Anos que deram água pela barba ao ditador e seus acólitos, da mesma maneira que os outros daí em diante, até à sua queda:

01JAN
Na noite da passagem do ano foi assaltado o quartel de Infantaria 3 em Beja. A revolta foi comandada pelo capitão Varela Gomes. Morto, durante os acontecimentos o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então sub-secretário de Estado do exército. Outro dos organizadores foi o civil Manuel Serra, participando o major Francisco Vasconcelos Pestana, o capitão Pedroso Marques e o tenente Brissos de Carvalho, bem como o civil Fernando Piteira Santos. Depois de um tiroteio com o major Calapez, comandante do quartel que consegue evadir-se e avisar as autoridades, Varela Gomes é gravemente ferido.



Na madrugada de 1 de Janeiro de 1962, um grupo de militares e civis tentou tomar de assalto o quartel de Beja, dando assim início a uma revolta que deveria ter sido liderada por Humberto Delgado, que tinha entrado clandestinamente no país em meados de Dezembro de 1961. Um tiro disparado involuntariamente por um dos revoltosos e um infeliz desencontro de Delgado com um colaborador dos invasores impediu o chamado "golpe de Beja" de ter o desfecho ambicionado pelos revoltosos: derrubar António de Oliveira Salazar.
Alguns participantes foram mortos, outros feridos e outros ainda presos, como aconteceu com João Varela Gomes, dirigente militar do golpe, e com Edmundo Pedro (este último esteve encarcerado em Caxias de 1962 a 1965). Humberto Delgado, depois de alguns dias escondido em Beja, viajou para o Porto e dali para Espanha, conseguindo a proeza de nunca ter sido identificado pela PIDE.

[In Público SB 31.12.2011, Por Maria José Oliveira]



03JAN
Discurso de Salazar na Assembleia Nacional sobre o caso de Goa, lido por Mário de Figueiredo, dada a afonia do Presidente do Conselho.
Mário de Figueiredo era desde 1961 presidente da Assembleia Nacional, cargo que exerceu até à morte, em 1969 (prémio com que o ditador distinguia os “bem comportados”: os cargos eram vitalícios. Foi um dos opositores à nomeação de Marcelo Caetano como sucessor de Salazar na Presidência do Conselho de Ministros).
15JAN
Portugal abandona a Assembleia-geral da ONU, por causa do debate sobre Angola
Na mesma data, Portugal tem de negociar com a União Indiana o repatriamento de mais de 3 000 prisioneiros portugueses
30JAN
Resolução da Assembleia-geral da ONU, reprovando a repressão e acção armada desencadeada por Portugal contra o povo angolano, reafirmando o direito deste à autodeterminação e independência
31JAN
Manifestação no Porto com palavras de ordem como Liberdade e Amnistia e contra a guerra colonial, o que acontece pela primeira vez
02FEV
Memorial confidencial de Marcello Caetano para o governo preconiza uma modificação constitucional com vista a transformar o Estado unitário em Estado Federal
Março
Constituição, por intelectuais portugueses naturais ou residentes em Angola, da Frente Unida Angolana (FUA), de apoio ao MPLA.
No mesmo mês, crise académica que, iniciada em Lisboa, se repercutiu por todo o País e na sequência da qual resultou a prisão de cerca de mil estudantes e a demissão voluntária ou imposta de vários professores. O próprio Reitor, Marcelo Caetano, se demitiu desse cargo
02MAR
Criação de uma organização de voluntários de carácter permanente em cada um dos territórios coloniais
09MAR
Realiza-se em Coimbra o I Encontro Nacional de Estudantes que constitui o Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses, que decide a comemoração do Dia do Estudante em Lisboa entre 23 e 25 de Março
12MAR
A Rádio Nacional Livre, da responsabilidade da FPLN (Frente Patriótica de Libertação Nacional), inicia as suas emissões a partir de Argel, na Argélia
13MAR
Carta do Comité dos Sete da ONU ao Governo português solicitando informação sobre as condições de uma visita do Comité aos territórios sob administração portuguesa.
Na mesma data, Prisão, em Bissau, pela PIDE, dos dirigentes do PAIGC, Rafael Barbosa e Fernando Fortes
18MAR
Deslocação a Lisboa do governador-geral de Moçambique, almirante Sarmento Rodrigues, por causa de actividades secessionistas de colonos da Beira (claro que a direita radical também atirava achas para a fogueira)
21MAR
O Ministro da Educação, Lopes de Almeida, proíbe as comemorações do Dia do Estudante
23MAR
Resposta do Governo português à carta do Comité dos Sete da ONU, de dez dias antes, recusando a visita do Comité aos territórios sobre administração portuguesa
24MAR
A Cidade Universitária é ocupada pela polícia para impedir as comemorações do Dia do Estudante, organizado pelas associações de estudantes e pró-associações. A polícia tenta entrar na Faculdade de Direito, mas é impedida pelo Director da Faculdade, Galvão Teles. Uma delegação de estudantes, incluindo da AAFDL, dirige-se a casa do Reitor, Marcello Caetano, o qual contacta o Ministro do Interior, pedindo a retirada da polícia. Contudo, verifica-se apenas um afastamento. O Governo marca então, para essa tarde, uma reunião com os estudantes, mas acaba por não comparecer. Surgem entretanto as primeiras cargas policiais, com os estudantes reunidos no Estádio Universitário, nas actividades do Dia do Estudante. O Reitor, Marcello Caetano, depois de dialogar com a polícia, pede a desmobilização dos estudantes e convida-os para jantar no "Castanheira de Moura", ao invés da Cantina, como previsto no programa do Dia. Aos vivas à "unidade" e ao "Dia ao Estudante", a polícia responde novamente, ferindo e detendo dezenas de estudantes. [AAFDL]
25MAR
Os estudantes reúnem-se pela manhã na sala de alunos da FMUL[/Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa], a qual é depois invadida pela polícia. Surge entretanto a notícia de que Marcello Caetano tinha pedido a exoneração do cargo de Reitor.
À noite, a RIA (Reunião Inter-Associações) aprova o luto académico, pela defesa dos valores corporativos da Universidade e pela sua autonomia. São criados piquetes de greve. Ao movimento estudantil juntam-se alguns professores. [AAFDL]
27MAR
Constituição da FNLA/ Frente Nacional de Libertação de Angola, a partir da UPA/União dos Povos de Angola e do PDA/Partido Democrático de Angola.
O Ministério da Educação divulga uma nota onde apresenta as razões para a proibição do Dia do Estudante, o qual merece resposta da massa estudantil, através da RIA, que geria e conciliava as diversas posições. Pela pressão causada pela paralisação universitária, o Ministro Lopes de Almeida é obrigado a dialogar com os estudantes, recebendo, assim, o Presidente da AAFDL, José Vasconcelos Abreu, e o Presidente da pró-associação de Medicina. À noite, pela abertura demonstrada ao diálogo, é levantado o luto académico, são libertados os estudantes presos e realiza-se um jantar de confraternização na Cantina. [AAFDL]
28MAR
Numa reunião com o Ministro, o Dia do Estudante é recalendarizado para os dias 7 e 8 de Abril. Logo nesse dia é entregue aos Reitores o programa das celebrações. [AAFDL]
31MAR
Marcello Caetano aceita permanecer no cargo de Reitor, após reunião com o Ministro Lopes de Almeida. [AAFDL]
05ABR
Formação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) pela FNLA.
Numa nota divulgada nos jornais, o Governo declara "não autorizado o Dia do Estudante", uma vez que, segundo ele, não haviam sido cumpridas as condições fixadas, designadamente a prévia comunicação do programa aos Reitores. Marcello Caetano demite-se, secundado pelos Directores das Faculdades da Universidade de Lisboa. A RIA decide retomar o luto académico, "pedindo aos estudantes que se abstenham de comparecer nas aulas". [AAFDL]
06ABR
A Direcção da AAFDL emite um comunicado em que reafirma a confiança que deposita no espírito académico, apelando ao luto e a à união dos estudantes. Mobilização de milhares de estudantes em frente à Reitoria da UL, rumando depois para o Ministério da Educação. [AAFDL].
O processo estende-se a Coimbra.
Era o mais importante movimento de protesto estudantil depois das greves de 1927 e de 1930.
07ABR
Após plenário no Estádio Universitário, os estudantes rumam silenciosamente ao Ministério, no Campo Mártires da Pátria, mas são impedidos pela polícia, verificando-se confrontos e prisões. [AAFDL]
08 e 09ABR
Sucedem-se os plenários de estudantes, que têm como principais oradores Jorge Sampaio (então Secretário-Geral da RIA, no ano seguinte a presidir à AAFDL), Victor Wengorovius (AAFDL), Eurico de Figueiredo e Abílio Mendes [AAFDL], estes últimos da Faculdade de Medicina
10ABR
A greve é interrompida após o Professor Decano da FDL, Costa Leite [Lumbrales], antigo Ministro [e ex-presidente da Junta Central da Legião Portuguesa e da União Nacional, como foi o principal expoente da teoria corporativa portuguesa], ter prometido usar a sua influência para a relevação das faltas dos alunos em greve. Consegue ainda para os estudantes uma audiência com o Ministro de Estado, Dr. Correia de Oliveira. [AAFDL]
12ABR
Agitação nas universidades: as Academias de Lisboa e de Coimbra decretam luto académico.
Remodelação ministerial, com Gomes de Araújo a substituir Salazar na Defesa Nacional, Joaquim da Luz Cunha a substituir Mário Silva no Exército e Peixoto Correia a substituir Adriano Moreira no Ultramar
14ABR
Audiência dada pelo ministro Correia de Oliveira: mas infrutífero e com o descarte do costume: o ministro competente é o da Educação.
Na residência de Oliveira Salazar, Jorge Sampaio (RIA), José Vasconcelos Abreu (AAFDL), José António Tavares da Cruz, Manuel Magalhães e Medeiros Ferreira encontram-se então com o Ministro, Correia de Oliveira, que se limita a proferir um discurso, no qual refere que "o poder não pode ser desafiado porque o poder não pode ser vencido". Diz ainda que a competência para os assuntos que os estudantes querem ver tratados é do Ministro da Educação, Lopes de Almeida. [id]
16ABR
Num dos mais concorridos plenários, com a presença de agentes infiltrados da PIDE, os estudantes decidem retomar o luto e a greve às aulas. O Ministério da Educação decide então suspende as direcções das AEs de Lisboa. [id]
27ABR
É revogado o Código do Trabalho Indígena, numa tentativa de diminuir a contestação ao domínio colonial português e promulgado, em sua substituição o Código de Trabalho Rural do “Ultramar”.
30ABR
Novo plenário de estudantes no Estádio Universitário, que decide pela suspensão da greve, aceitando uma proposta do Senado da Universidade para que existam negociações na resolução dos problemas académicos. [id]
28 a 30ABR
Greve e manifestação dos mineiros de Aljustrel: 2 mortos e quatro feridos foi o resultado da violenta repressão concretizada pela GNR
Maio
Evasão de Lisboa, onde tinha residência fixa, de Agostinho Neto
01MAI
Grande manifestação em Lisboa em que milhares de pessoas, com palavras de ordem contra a guerra colonial, fazem frente à polícia de choque, de cujo confronto resulta a morte de duas pessoas e várias dezenas de feridos.
Tumultos também noutros pontos do país, com no Porto e em Almada e greves no Ribatejo e no Alentejo.
05MAI
Na sequência da suspensão da greve, o Senado Universitário solicita do Ministro da Educação para que autorize o normal funcionamento das associações de estudantes. [AAFDL]
08MAI
Incidentes na Baixa de Lisboa, com uma manifestação de milhares de pessoas no aniversário da rendição incondicional do III Reich, numa clara demonstração de contestação ao regime. A repressão faz um morto e quatro feridos.
No final do mês, bombas no ministério das Corporações e no SNI/Secretariado Nacional de Informação.
09MAI
O plenário, com seis mil estudantes, aprova a greve de fome. As dezenas de grevistas reúnem-se na Cantina, barricando-se. [id]
10MAI
Persistindo a suspensão dos dirigentes estudantis, é decretada a greve geral, que inclui a falta às aulas, às frequências e aos exames finais. O Vice-Reitor pede a presença de um representante estudantil no Senado Universitário, comunicando-lhe que quer acabar com a greve e pretende a desocupação da Cantina. Perante a impossibilidade de o fazerem no tempo fixado, os estudantes são informados de que o Senado havia aprovado uma resolução devolvendo as instalações académicas ao Governo. [id]
10 e 11MAI
A polícia assalta a sede da Associação Académica de Coimbra, seguindo-se novo luto académico, decretando-se a greve aos exames. Por seu lado, em Lisboa, estudantes, acompanhados por alguns professores, decidem ocupar as instalações da cantina universitária, com nova intervenção policial.
11MAI
Adriano Moreira na Casa do Infante no Porto profere a conferência Geração traída.
Na madrugada do dia 11, a Cantina é cercada pela polícia, estando no interior cerca de 1200 de estudantes e alguns professores. Os estudantes são então presos e enviados em autocarros da Carris para diversos estabelecimentos prisionais. Entre os estudantes, encontrava-se cerca de uma centena de raparigas, quase todas sem autorização para sair à noite, que são transportadas para o Governo Civil. [AAFDL] (Uma centena! Incrível! Sem autorização para sair à noite! Um desaforo! [Como o terão descoberto?] Uma centena de desavergonhadas, está visto. Duplo crime!)
22MAI
Chegada a Lisboa dos primeiros 1 200 prisioneiros portugueses da índia, a bordo do navio Vera Cruz
25MAI
Os líderes estudantis decidem a criação do MAR/Movimento de Acção Revolucionária, onde dominam socialistas e católicos progressistas.
28MAI
Com várias sessões comemorativas o Governo tenta reabilitar a sua imagem. Salazar proclama: “quase seria uma traição aos mortos se houvesse o mais pequeno dissídio”. Frase retumbante para esconder as preocupações que o tolhiam.
Junho
Apresentação, por Amílcar Cabral, perante a Comissão da ONU para os territórios administrados por Portugal, de um relatório intitulado «O Nosso Povo, o Governo Português e a ONU»
11JUN
Incansável e apreensivo, Adriano Moreira profere conferência no Instituto de Estudos Políticos de Madrid.
14JUN
Num plenário no IST, é suspensa a falta aos exames e são aprovadas duas manifestações para com Eurico de Figueiredo (Presidente da pró-associação de Medicina, entretanto detido). [AAFDL]
25JUN
Fundação da FRELIMO em Dar-es-Salaam, na Tanzânia
Julho
Entrada em funcionamento da base de Kinkusu, atribuída pelo Governo do Congo-Leopoldville à UPA.
No mesmo mês, condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por «actividades contra a segurança exterior do Estado».
Ainda no mesmo mês, nova medida para estrangeiro impressionar: Criados os Estudos Gerais de Angola e Moçambique. Serão reitores: de Angola, André Navarro, e de Moçambique, Veiga Simão.
Agosto
Recomendação da Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros da OUA reunida em Dacar para o reconhecimento do GRAE de Holden Roberto.
No mesmo mês, Adriano Moreira visita a Guiné e Cabo Verde. (O “caixeiro-viajante” do Governo não descansa)
Setembro
Fundada, em Dacar, a Frente de Libertação Nacional da Guiné/FLING
01SET
Petição ao presidente da República, por um grupo de personalidades da oposição, reclamando a demissão de Salazar e uma modificação na política ultramarina
18SET
Outro “braço” de Salazar (este mais radical), Franco Nogueira, discursa na Assembleia-geral da ONU. Em vão e no deserto.
23SET
Início do I Congresso da Frelimo em Dar-es-Salaam, na altura capital da Tanzânia.
Na mesma data, Depoimento de Eduardo Mondlane, em nome da Frelìmo, perante o Comité Especial da ONU para os territórios administrados por Portugal
24SET
Demissão de Venâncio Deslandes dos cargos de governador-geral e comandante-chefe de Angola, na sequência de divergências com o ministro do Ultramar, Adriano Moreira, por questões de autonomia política e administrativa do território
15OUT
Publicação do Decreto-Lei n.º 44 632, que revoga o Decreto-Lei n.º 40 900. [AAFDL] “Diploma que veio estabelecer a estrutura jurídica e legal a que deveria obedecer a criação de organizações circum-escolares, pressupostos de vida e actividade correspondentes aos fins da Universidade”.
17OUT
Prisão de Agostinho Neto
31OUT
Numa reunião extraordinária do Conselho Ultramarino, Sarmento Rodrigues sustentou o reforço da descentralização ultramarina, dentro da sua concepção federalista, mediante o fortalecimento das competências dos Governadores-gerais das nossas grandes colónias”
25NOV
Há uma concentração insurreccional no Instituto Superior Técnico contra o Ministro da Educação Lopes de Almeida, contra o decreto nº 44 632 de 15 de Outubro que condiciona a eleição das associações de estudantes. Entre os líderes da revolta, destaca-se o estudante de direito, Jorge Sampaio, bem como Medeiros Ferreira, secretário-geral da Reunião Inter-Associações e Eurico Figueiredo, líder do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses. Quarenta e sete professores de Lisboa apoiam formalmente os estudantes em carta ao Presidente da República. Magalhães Godinho é então demitido de professor do ISCSPU pelo governo.
No mesmo dia, a OIT condena a legislação corporativa portuguesa.
Dezembro
Declarações de David Mabunda, secretário-geral da Frelimo, no Cairo, segundo as quais seria inevitável nova guerra, como em Angola, se Portugal não tomasse medidas imediatas para garantir a autodeterminação de Moçambique.
A primeira vaga de infiltração guerrilheira na Guiné, comandada pelo PAIGC ocorre neste mês. Uma segunda ocorre em 22 de Janeiro de 1963. A acção sistemática começa em Setembro de 1963. Por isso é que em 25 de Julho havia sido nomeado o guineense James Pinto Bull, futuro deputado da União Nacional, para o cargo de secretário-geral da Guiné.
01DEZ
Negociações, em Paris, de Sócrates Deskalos, presidente da Frente Unida Angolana (FUA), para abrir um novo quartel-general no Congo e para colaborar com a UPA e MPLA.
Na mesma data, Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville, com Agostinho Neto na presidência e Mário de Andrade na vice-presidência, sendo elementos da Comissão Governativa P. Domingos da Silva, Matias Miguéis, Manuel Lima e Sócrates Daskalos
04DEZ
Remodelação ministerial: saem Adriano Moreira, Lopes de Almeida, Kaúlza e Ferreira Dias. Gomes de Araújo, ligado a Santos Costa, assume a pasta da Defesa. Luz Cunha (cunhado de Kaúlza) no Exército. Peixoto Correia no Ultramar. Inocêncio Galvão Teles na Educação Nacional. Soares Martinez na Saúde. Francisco Chagas para secretário de Estado da Aeronáutica.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa (afilhado de Marcelo), Com esta remodelação importava “parar a ascensão notória de Adriano Moreira, manter as Forças Armadas sob seu controlo directo, travar os marcelistas e alargar, um pouco, à direita e à esquerda, o campo de gestão do Governo” [Maltez].
(Imagine-se os sapos que Salazar tinha de ir engolindo…)
12DEZ
Aprovação de uma moção na ONU recomendando um programa especial de assistência técnica para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração portuguesa
13DEZ
Apresentação de Amílcar Cabral na Comissão de Curadorias da ONU como representante do PAIGC
14DEZ
Resolução da Assembleia-geral da ONU sobre Angola, condenando a atitude de Portugal, pedindo o reconhecimento imediato do direito dos povos não autónomos à autodeterminação e independência e a cessação imediata de todos os actos de repressão
18DEZ
Resolução da Assembleia-geral da ONU, reafirmando o inalienável direito do povo de Angola à autodeterminação e independência, condenando a guerra colonial conduzida por Portugal e requerendo ao Conselho de Segurança as medidas adequadas
19 a 21DEZ
Conferência da oposição em Praga. Realiza-se em Praga a Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas que dão origem à Frente Patriótica de Libertação nacional (FPLN). Nessa reunião estão presentes o Movimento Nacional Independente de Delgado, representado por Manuel Sertório; a Resistência Republicana e Socialista, de Mário Soares; o PCP e o MAR. Assenta no movimento das Juntas Patrióticas, nascidas em 1959, antes de assentar em Argel, em 1960. Em 9 de Novembro de 1970, a FPLN, instalada em Argel, afasta o representante do PCP, Pedro Soares, e trata de afirmar-se revolucionária. Deste grupo se destacam as Brigadas Revolucionárias, em 1971, e os militantes fundadores do Partido Revolucionário do Proletariado, em 1973. Em 6 de Junho de 1974, os militantes remanescentes, com destaque para Manuel Alegre e Fernando Piteira Santos dissolvem a frente, integrando-a nos efémeros Centros Populares 25 de Abril.
O acima referido MAR/Movimento de Acção Revolucionária, de João Cravinho, Nuno Bragança, Trigo de Abreu, Vítor Wengorovius, Manuel Lucena, Jorge Sampaio (alguns deles, aliás, estariam na CDE) [Cardina], e ainda de Medeiros Ferreira, Nuno Brederode  Santos e Vasco Pulido Valente, é um movimento que nasceu do diálogo intenso e da união entre a vanguarda do movimento estudantil de 62 e o grupo de O Tempo e O Modo, revista cristã-humanista ela própria alargada na sua colaboração a não-crentes, pelo que o movimento era constituído entre crentes e agnósticos ou ateus, e o traço de união que os agregava no mesmo grupo era o combate à ditadura salazarista até à sua queda. Movimento muito activo entre 63 e 65, pretendeu assumir-se como uma espécie de partido socialista revolucionário, conforme observação de Mário Soares.
Através de Lopes Cardoso e Rui Cabeçadas, participam na FPLN, igualmente mencionada acima.
A propósito do MAR v/ acima 25MAI.


O Tempo e o Modo (1963)
Revista fundada em 29 de Janeiro de 1963, tendo como primeiro director António Alçada Baptista. Ligada à Editora Moraes e à colecção do Círculo do Humanismo Cristão. Mobiliza, na sua primeira fase, uma série de intelectuais católicos críticos do salazarismo, como Nuno de Bragança, Pedro Tamen, João Bénard da Costa, Alberto Vaz da Silva, Mário Murteira, Adérito Sedas Nunes, Francisco Lino Neto, Orlando de Carvalho, Mário Brochado Coelho. Alarga-se a outros sectores da esquerda, como a Mário Soares e a Salgado Zenha, vindos do MUD, ao então comunista Mário Sottomayor Cardia, e à jovem geração de líderes estudantis, como Manuel Lucena, Vítor Wengorovius e Medeiros Ferreira. Esta última [jovem geração…] acaba por preponderar na revista, mobilizando Vasco Pulido Valente. Em 1967-1968, a revista perde as raízes personalistas e católicas e vira ainda mais à esquerda, iluminada pelos fulgores do Maio de 1968, sob a direcção de Bénard da Costa e de Helena Vaz da Silva e com a entrada de Luís Salgado Matos e Júlio Castro Caldas. Colaboram então futuros socialistas e comunistas como Alfredo Barroso, Jaime Gama, José Luís Nunes, António Reis, Luís Miguel Cintra, Jorge Silva e Melo, Nuno Júdice e Manuel Gusmão. Em 1970, numa maior guinada à esquerda, a revista passa a ser porta-voz do maoísmo lusitano, com a entrada de Arnaldo Matos e Amadeu Lopes Sabino.
[Antologia]


27DEZ
Paulo Cunha reitor da Universidade Clássica de Lisboa
28DEZ
Depoimento de Holden Roberto (suspeito para a esquerda), líder da UPA, perante a comissão especial da ONU

O quadro acabado de apresentar revela bem as preocupações do chefe do governo que nesse ano não teve descanso e cujos colaboradores, numa rara azáfama, se desmultiplicaram em reuniões, conferências e declarações. Aliás, e como em qualquer situação de crise indisfarçável, as remodelações ministeriais sucederam-se, nesse e nos anos seguintes. O ditador (manhoso como qualquer provinciano que se preze, na sua ascensão social, venha ele de Santa Comba, Boliqueime ou Arranhóis do Meio) não conseguia já esconder a ânsia que o dominava. A degradação e a lenta agonia da Ditadura não eram mais escamoteáveis. A oposição iniciou uma fase mais dura sem dar tréguas ao governo e ao ditador. A vitória adivinhava-se já, como certa.

… continua amanhã, TR 26.06.2012…






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