sexta-feira, junho 13, 2008

PRESIDENCIAIS NOS EUA - 8




Tenho tido algum (pouco) feedback sobre estas reportagens de alguém, nosso compatriota, que está por dentro desta campanha, que a vive, pensa e com ela vibra, e que nos transmite essa vivência.

Espero que estejam a constituir um bom complemento ao que por cá se lê, ouve e vê, sobre essa dura caminhada que é a eleição do presidente dos EU.

Não estou a falar da bondade, ou não, do processo de eleição.
Estou a constatar uma realidade: uma dura prova para um candidato que se empenhe. E, é evidente, um espectáculo – como tudo o que acontece por lá, em matéria de grandes eventos.

Desta vez, sem mais delongas, a palavra ao nosso cronista.




Obama News - 20080610 –
Florida


Caros amigos,
A propósito do Estado onde vivo aqui vão algumas notas que talvez considerem com interesse.
1. A IMPORTÂNCIA NOS ÚLTIMOS ACTOS ELEITORAIS
A Florida tem sido, em termos eleitorais, um dos pontos chave das últimas eleições presidenciais.
Em 2000, foi declarada a vitória de Al Gore (sobre Bush) e, pouco depois, a de Bush (sobre Al Gore). Depois de uma disputa que meteu recontagem de votos (nunca chegaram a ser recontados 1 milhão e meio de votos) e muita jogada suja por parte do governo de então, liderado pelo irmão de Bush, na altura Governador, Bush foi declarado vencedor com uma vantagem de cerca de 500 votos (o que lhe deu os 27 votos da Florida no Colégio Eleitoral). Esta vitória permitiu-lhe atingir a maioria no Colégio Eleitoral. Como sabem, a vitória num Estado permite que o candidato aí vencedor conte com todos os delegados desse Estado. Nesse ano, Al Gore, a nível nacional teve mais cerca de 500 mil votos populares do que Bush, mas não foi eleito porque, no Colégio Eleitoral teve 260 votos (contra 279 de Bush). Se tivesse ganho a Florida, Al Gore teria sido eleito com 287 (contra 252 de Bush).
Em 2004, Kerry perdeu as eleições na Florida. Uma vez mais, se as tivesse ganho, teria conseguido ser eleito Presidente.
2. O PRIVILÉGIO DE ESTAR A PARTICIPAR
Como tenho escrito, estar a viver estas eleições ao vivo é um privilégio que vocês não têm. Eu tenho aproveitado a ocasião para estudar e aprender e para vos enviar algumas notas, que, porventura, não receberiam através dos habituais meios de comunicação.
Estar a viver na Florida permite-me, para além disso, participar num processo que, também desta vez, pode ser decisivo para a eleição do futuro Presidente dos EUA.
Durante dezenas de anos afirmei, erradamente, que ganhar este ou aquele nestas eleições não alteraria muito o decurso da história. Mas Bush ultrapassou tudo o que é admissível. Há 4 e há 8 atrás foi eleito o que é, quase unanimemente, considerado o pior Presidente da história deste país.
Penso que sabem que não sou membro do Partido Democrático e, muito provavelmente, nunca o serei. Penso que sabem que apoio Obama, não porque esteja de acordo a 100% com tudo o que diz e faz, mas por ser o único Político que me faz revisitar a Política com o gosto com que o tenho feito. E, também eu, sou, desde a primeira hora, um opositor declarado da invasão criminosa do Iraque, a que se chama erradamente "a
guerra do Iraque".
Decidi fazê-lo porque não gosto que a História me passe ao lado. Mais uma vez sou voluntário.
3. A ALTERAÇÃO DO MAPA ELEITORAL
A candidatura Obama anunciou hoje que, pela primeira vez na história de todas as candidaturas de todas as eleições presidenciais nos EUA, irá fazer campanha nos 50 Estados Americanos e terá equipas especializadas permanentes em todos eles.
Este é um facto muito interessante porque, tradicionalmente, há Estados que são considerados Democratas ou Republicanos e em que os candidatos não gastam recursos nem utilizam tempo porque, antecipadamente, já se sabe quem ganha e perde.
Tudo isto tem a ver com alguma coisa de muito importante que poderá vir a acontecer com estas eleições: uma alteração, mais ou menos profunda, do mapa eleitoral americano. Provocada por vários factores, entre os quais assinalo os seguintes: a) as candidaturas (elas próprias); b) o aumento substancial de novos eleitores (por força da inscrição, nos cadernos eleitorais, de milhões de pessoas que, embora com capacidade eleitoral, nunca tiveram direito a voto por não estarem sequer inscritas para votar); c) a alteração qualitativa do próprio eleitorado americano, com relevância para a juventude; d) uma guerra com custos elevadíssimos que foi justificada com mentiras e que agravou os conflitos já existentes no Médio Oriente; e) uma crise económica à beira da recessão; f) o aparecimento de dois candidatos que permitiram acreditar na possibilidade de, pela primeira vez, haver um Presidente dos EUA afro-americano ou mulher; g) umas Primárias Democráticas que motivaram o maior número de pessoas de sempre.
A fraca participação de eleitores e cidadãos nos actos eleitorais americanos é um dos aspectos que tem mitigado o processo democrático neste país. Pense-se no seguinte: se a abstenção é de 50% e se os inscritos são, por exemplo, 75% dos que têm capacidade eleitoral, então, relativamente a todo o universo de potenciais eleitores, têm votado menos de 40% dos cidadãos deste país! Se o Presidente é eleito por pouco mais de metade destes, estamos a falar de alguém que é eleito por cerca de 20% dos cidadãos com capacidade eleitoral e que, a partir daí, diz representá-los a todos!!!
4. ALGUMAS NOVIDADES DA CANDIDATURA OBAMA
Outra questão interessante tem a ver com o facto de não ter havido Primárias do Partido Democrático na Florida (e em Michigan, como se sabe).
Isto tem sido uma vantagem para McCain que desenvolve a sua campanha aqui há mais de um ano e que virá a este Estado pela 19ª vez (desde que a iniciou) na próxima 6ª feira. Segundo as últimas sondagens sobre a intenção de voto, McCain está com uma vantagem, relativamente a Obama, que oscila entre os 10 e os 4 pontos percentuais.
Obama não fez campanha aqui, veio cá duas vezes e virá cá na próxima semana.
Uma das razões da vitória de Bush/Cheney em 2004 foi a campanha porta-a-porta que o seu Partido realizou. Uma das razões da derrota de Kerry/Edwards, nesse mesmo ano, foi a de terem iniciado esse tipo de campanha muito tarde.
A campanha de Obama já arrancou mas, de uma forma decisiva, irá sentir-se a partir do próximo fim-de-semana.
Inscreveram-se como voluntários 150 mil apoiantes. 400 terão formação específica e participarão a tempo inteiro na campanha. A maioria destes é constituída por estudantes e reformados. 61 mil pessoas contribuíram já com pequenas verbas (menos de 200 dólares) e constituem uma sólida e segura base de apoio financeiro. Dezenas de voluntários (staff da campanha), que veem de outros Estados para ajudar, estão a ser instalados em casas de pessoas que contribuem desta forma.
A partir de agora há que recuperar o tempo perdido, procurar inscrever o maior número de pessoas nos cadernos eleitorais, chamar os apoiantes de Hillary Clinton para este trabalho, falar com o maior número possível de pessoas de todos os extractos sociais e profissionais, participar.
5. ALGUNS DADOS SOBRE A FLORIDA
O número de habitantes por km quadrado é, curiosamente, igual à de Portugal: 114.
A população é de cerca de 18 milhões de pessoas.
A taxa de crescimento populacional é a 5ª maior dos EUA.
É o 4º maior Estado em número de habitantes, prevendo-se que, no final da corrente década, ultrapasse o Estado de New York e chegue a 3º (atrás da Califórnia e do Texas).
A principal actividade económica é o turismo (fundamentalmente interno), seguindo-se a agricultura (laranja, principalmente), o sector financeiro e a indústria aeroespacial.
A composição racial da população é a seguinte: 65% brancos; 17% hispânicos; 15% afro-americanos (eram 50% no tempo da escravatura); 2% asiáticos; menos de 0,5% americanos nativos (índios).
Os principais grupos étnicos são: alemães (12%), irlandeses (11%), ingleses (9%), americanos (8%) e italianos (6%).
Em matéria religiosa há 82% de cristãos (54% protestantes e 26% católicos), 4% de judeus, 1% de outras religiões e 13% não-religiosos.
6. UM CHEIRINHO DE HISTÓRIA
O nome teve origem na chegada de Juan Ponce de Léon, em 2 de Abril de 1513, uns dias depois da chamada sexta-feira santa. Pascua Florida é o nome dado pelos espanhóis à celebração cristâ do domingo de Ramos. Ponce de Léon chamou-lhe Florida e assim ficou.
Até 1819 foi colónia espanhola, altura em que foi comprada e anexada aos EUA.
Tornou-se o 27º Estado americano em 3 de Março de 1845.
Em 1861 separou-se dos EUA e juntou-se aos Estados Confederados da América (que defendiam a continuação da escravatura). A principal actividade económica de então era a produção de algodão, completamente dependente do trabalho escravo.
Após a derrota da Confederação na Guerra Civil, em 1865, a Florida foi readmitida nos EUA em 1868, não sem que antes (1866) fosse forçada a abolir oficialmente a escravatura.
Hoje os "novos escravos" são os imigrantes clandestinos que, fundamentalmente, trabalham na agricultura.
...

Um abraço para todos.
Boa noite e boa sorte.
fernando

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