terça-feira, janeiro 02, 2007

A SORTE DO GÉNERO HUMANO


Na sua mensagem do dia da paz do ano passado, Bento XVI aludia “a intervenção providencial de Deus que jamais se esquece da sorte do género humano.”

Não esqueçamos: “a sorte do género humano” é, para muitos e muitos, a fome, a miséria, a completa ausência de condições de vida humana, minimamente digna, de muitos milhões de cidadãos do mundo, que vivem num autêntico inferno, para que uns tantos vivam, na terra, verdadeiras delícias paradisíacas...

Considerará o Sumo Pontífice – como os seus ancestrais predecessores – que é uma fatalidade esta “sorte do género humano”, este profundo abismo que separa tais pessoas, que elas devem aceitar como sendo da vontade de Deus?

E este desequilíbrio que se está acentuando cada vez mais será fruto dessa providencial intervenção, sobre que serenamente se pronunciava o bispo de Roma?

Será para melhor fomentar e favorecer essa “intervenção providencial de Deus” que o seu representante na Terra, e seus directos colaboradores, sempre estiveram do lado dos ricos e dos poderosos (salvo raríssimas excepções, e à margem da hierarquia)?

Nós, pobres viajantes de passagem por este mundo, crentes ou não crentes, que comentário poderemos fazer a esta “constatação” (?) feita, da sua cátedra, pelo supremo pontífice da igreja de Roma?

Nós, gente com fé, uns (talvez adormecida, nalguns; talvez actuante, mas intelectualmente inquiridora, noutros; quiçá desiludidos e desesperados com o conhecimento directo e vivido da realidade, muitos mais), ateus ou indiferentes, tantos mais, como avaliamos, que motivos encontramos para confirmar a “constatação” do papa?

Mesmo para um crente, por tradição e por comodidade, dos que submissamente acatam os ensinamentos e declarações da hierarquia sem nelas ponderar nem as pôr em causa – esses mesmos (bastando estar vivos, de inteligência actuante, serena e realisticamente observadores) poderão, em boa verdade, confirmar que “Deus jamais se esquece da sorte do género humano”, como afirmou Bento XVI?

É que é bom não esquecer a grande máxima de Galileu: "Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de sentidos, razão e intelecto, pretenda que não os utilizemos."

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2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, mas Galileu esqueceu-se de "Galileu" quando depois abjurou, perante o "Santo Ofício", de toda sua teoria...

Quanto à hierarquia da "Igreja"... Mas ela sempre enganou, apenas, os pobres, os indefesos, os fracos e os marginalizados...!

Anónimo disse...
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