terça-feira, janeiro 30, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Sumário: as antíteses

- iniciado o terror, com Hitler como ministro, é agora nomeado chanceler, para pouco depois passar a Reichführer

- No campo oposto: Mahatma Gandhi, o líder pacifista.

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Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês

. ano 5767/5768 do calendário hebraico

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2007 Ano Internacional da Heliofísica

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AUSCHWITZ: memória que não se apaga
(a chegada, às “carradas”, nos “confortáveis” vagões de
mercadorias; “prémio” para todas as idades)




AUSCHWITZ: memória que não se apaga
(antes de mais: a “farda” e o cabelo rapado)






AUSCHWITZ: memória que não se apaga
(de novo “a preparação”: a “farda” e o cabelo rapado)

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Há 74 anos, na SG 30.01.1933, o presidente Paul von Hindenburg demite von Papen e convoca Hitler para constituir governo. Assim, Adolfo Hitler é nomeado Chanceler.

Em Portugal... Ora, em Portugal estávamos muito mais bem servidos: tínhamos à frente dos destinos da Nação, o catolicíssimo e humaníssimo Oliveira Salazar. Para estrangeiro impressionar, o supremo magistrado da Nação era o general Carmona.

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Até então, Hitler era “apenas” um membro da chancelaria (ministro) da Alemanha, nomeado pelo presidente, marechal Hindenburg, por indicação do chanceler von Papen. Mas já o chefe incontestado de uma organização que crescia avassaladoramente.

E, com a morte de Paul von Hindenburg, em 02.08.1934, Hitler chega à presidência e torna-se no senhor absoluto da Alemanha (Reichführer), depois de ter consolidado o seu poder, eliminado adversários e colaboradores inconvenientes ou menos submissos.

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Mal assumiu o poder Hitler imediatamente instaurou a ditadura, mediante a repressão de todos os que escapassem à sua ideologia anti-semita e aos seus intuitos de expansionismo militar e territorial.

Mas recuemos um pouco:

O movimento nazi não surgiu por um mero acaso. Resultou, nomeadamente, e viu aumentar a sua importância, a partir de 1930, com o crescente descontentamento popular face às crises económica e política.

Com slogans e repetidas intervenções pseudo-revolucionárias e demagogas, o Partido Nacional-Socialista (NSDAP), que era antidemocrático, anti-semita e de um nacionalismo exacerbado, facilmente se alcandorou à maior força política em 1932. Até que chegou a hora do derradeiro passo para o abismo: demitido Franz von Papen, o último chanceler da República de Weimar, o presidente Hindenburg chamou Hitler para constituir o novo governo.

Como faria qualquer tiranete aspirante a ditador, (aliás, e ainda em estágio, já com uma excelente folha de serviços, aos seu país e ao mundo) Adolfo Hitler desenvencilhou-se muito rapidamente dos que permitiram ou ajudaram à sua ascensão e atribuiu-se plenos poderes.

Apoiado pela burguesia melhor instalada, onde não faltariam xenófobos e racistas, fez aprovar uma lei que proibia todos os agrupamentos, associações, movimentos e partidos políticos à excepção do seu Partido Nacional-Socialista. O Partido Social Democrata e o Partido Comunista, em concreto, foram expressamente dissolvidos e os demais, forçados à auto dissolução.

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Fala-se no parentesco próximo dos regimes nazi e salazarista. E na verdade é oportuno recordar que esse mesmo ano de 1933 foi o ano em que, em Portugal:

- a Empresa Nacional de Publicidade lança uma edição de 125 mil exemplares do livro Salazar, o Homem e a Obra (e a procissão ainda nem do adro passara!);

- é plebiscitada, promulgada e entra em vigor a nova Constituição, cujo artº 8º (onde se tacteavam, a contragosto, e se garantiam apenas teoricamente – para estrangeiro impressionar - o exercício dos direitos cívicos) foi constantemente considerado letra morta e preceito inútil e inaplicável. Com o novo texto constitucional se consagra oficialmente o Estado Novo, que vigoraria até 25 de Abril de 1974;

- na mesma data em que entra em vigor a Constituição de 33, e por mor das dúvidas, é legalizada a censura;

- o governo (de Salazar) extingue a Polícia Internacional Portuguesa e a Polícia de Defesa Política e Social e cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado/PVDE, igualmente para que não restassem quaisquer dúvidas (polícia política e instrumento de repressão do Estado Novo, antepassada da PIDE-DGS);

- o governo decide suspender o jornal Revolução, órgão do Movimento Nacional-Sindicalista;

- é promulgado o Estatuto do Trabalho Nacional (“Liberdade sindical e direitos laborais e sociais efectivos era coisa inexistente, graças ao "Estatuto do Trabalho Nacional" que protegia os trabalhadores e o país dos usos e costumes mais perversos que as democracias tinham adoptado”).

- é criado, por iniciativa e sob a directa supervisão de Salazar, o Secretariado da Propaganda Nacional, cuja direcção foi entregue a António Ferro (um dos bonzos do salazarismo que mais contribuiu para a divulgação da imagem e da obra do idolatrado líder do regime);

- o governo (de novo, por via das dúvidas) cria o Tribunal Militar Especial para o julgamento dos “crimes contra a segurança do Estado” (recorde-se que crime contra a segurança do Estado era, por exemplo, e pelo menos, alguém manifestar-se contra o regime!...)

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Não violência

é a lei da nossa espécie,

assim como a violência é a lei do bruto.

O espírito, dormente no bruto, não conhece outra lei que a do poder físico.

A dignidade de homem requer obediência a uma lei mais alta

- a força do espírito ".

(Mahatma Gandhi)

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Nessa SX 30.01.1948 - completam-se hoje 59 anos - Mahatma Ghandi, político, pacifista e líder da luta pela independência da Índia é assassinado, aos 78 anos, em Nova Deli, por um hindu.

Reinava, no RU, Jorge VI, pai da actual soberana, irmão do seu antecessor, Eduardo VII; ambos filhos de Jorge VI. O governo era liderado pelo Trabalhista Clement Attlee.

Em Portugal, a Ditadura “estava para lavar e durar”... De vento em popa. Com Salazar como “benfeitor” e “salvador da Pátria”... Aparentemente no topo da hierarquia – só na aparência – estava, vitaliciamente, o general Óscar Carmona.

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O mundo impressionou-se com a trágica e violenta morte de um pacifista. E na Índia, um milhão de indianos, acompanhados pelo último Vice-Rei e pela sua mulher, acompanharam o funeral.

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Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido popular e honorificamente por Mahatma Gandhi (Mahatma, do sânscrito "grande alma"), nasceu a 02OUT1869, na Índia.

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A sua actividade política assentava em dois valores essenciais: verdade (satya) e não-violência (ahimsa). Criou, pois, o princípio de satyagraha ou de resistência pacífica: política de não violência.

De facto, quem aconselha "faz da tua vida um reflexo da sociedade que desejas", ou quem alerta que "o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente” e ao mesmo tempo previne que "de olho por olho o mundo acabará cego", que dúvidas pode deixar acerca dos meios que defende para prosseguir o seu objectivo?

Como pode ser perseguido, preso, ameaçado e assassinado?

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Não era um desordeiro ou terrorista que praticava e desencadeava actos de desobediência civil, embora o ideário de anarquismo cristão de Leon Tolstoi tivesse tido uma grande influência em Mahatma Gandhi, que trocou cartas com ele até sua morte, em 1910. Era o nacionalista lúcido e o político e humanista esclarecido que lutava com denodo e persistência contra o jugo colonial sobre a sua terra e os seus conterrâneos e pela sua autonomia e independência. Era o condutor de um povo sedento de liberdade e dignidade humana.

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“A força de um destemor inflexível” é que torna possível “a verdadeira não-violência”, como defendia Mahatma Gandhi, esse agitador de consciências - adormecidas, umas, outras empedernidas - em prol dos oprimidos.

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Em 18.03.1922 Mahatma Gandhi é preso durante seis anos por sedição (alteração da ordem pública, insurreição).

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Em 08.03.1930 dá-se o início de uma campanha de desobediência civil liderada por Mahatma Gandhi.

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Em 12.03.1930 inicia a sua marcha conhecida por Marcha pelo Sal, como protesto contra os impostos do governo britânico sobre o sal e contra o monopólio de comércio deste produto na Índia.

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Em 1914, na África do Sul, onde exercia advocacia, liderava a comunidade indiana contra a discriminação racial. Pouco depois, e ainda durante a I Guerra Mundial, já assumia, na sua terra, a liderança do congresso nacional indiano, promovendo campanhas a favor de reformas sociais, da tolerância religiosa e do fim da discriminação das castas.

Gandhi nunca recebeu o prémio Nobel da Paz, apesar de para ele ter sido indicado cinco vezes entre 1937 e 1948.

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Já decorria uma época

em que a atribuição dos Nobel,

sobretudo o da Paz e o da Literatura,

estava fortemente politizada.

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Décadas depois, no entanto, o erro foi explicitamente reconhecido pelo comité organizador do Nobel: quando o Dalai Lama Tenzin Gyatso recebeu o Nobel da Paz em 1989, o presidente do comité disse que o prémio era "em parte um tributo à memória de Mahatma Gandhi".

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Na Índia - em Nova Deli, e não só - sente-se (testemunhei-o em ABR de 2001) um profundo respeito por esta ímpar figura da história mundial e pela sua corajosa atitude.

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Claro que para o Estado Novo, qualquer líder de um movimento nacionalista de libertação não passava de um terrorista. Daí que Salazar não encarasse com bons olhos que o papa Paulo VI tivesse recebido em audiência, em 01.07.1970, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos – os líderes dos movimentos nacionalistas de libertação da Guiné e Cabo Verde, de Angola e de Moçambique.

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De igual modo a Ditadura também considerava Gandhi um “perigoso comunista”, um terrorista. Tal como rotulava de energúmenos bandoleiros os famosos "Satiagrais" (satyagrahis), os seus seguidores (de Gandhi) dentro do espírito de satyagraha ou de resistência pacífica (política de não violência) acima referido.

Pelas razões que abaixo se descortinam.

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«A imensa União Indiana é um vulcão de fervor nacionalista. Independente da Inglaterra desde 1947, antes ainda da libertação já os seus principais dirigentes haviam reclamado a integração dos territórios do Estado Português da Índia: Goa, Damão e Diu. Mahatma Gandhi, o pai da grande nação indiana, fora significativamente o primeiro a declarar que Goa não poderia ficar separada. Esta será uma constante da política do primeiro-ministro Pandit Jawaharlal Nehru, que, em 1950, reivindica formalmente os territórios administrados por Portugal, a quem propõe a abertura de negociações. O governo presidido por Oliveira Salazar recusa, com o argumento de que Goa e os demais territórios fazem parte do todo nacional. Em Goa, Damão e Diu, as manifestações de desobediência civil ou a favor do direito à autonomia ou hindus, são compelidos ao exílio. têm como resposta a prisão, a deportação e a censura.»

«Ao diálogo de surdos, segue-se uma nova táctica: a da pressão, através do bloqueio económico e do recurso aos famosos "satyagrahis", que invadem pacificamente os territórios portugueses. Significando literalmente "força da verdade", os "satyagrahis" haviam sido criados por Gandhi e revelaram-se um elemento decisivo na sua estratégia de resistência não-violenta. Vagas sucessivas destes "satyagrahis", enquadrados por militares, invadem, em 1954, os enclaves portugueses de Dadrá e Nagar-Aveli, perto de Damão. O primeiro cai em 22 de Julho, o segundo onze dias depois. Nos confrontos em Dadrá, são mortos dois polícias portugueses. "Mortos pela Pátria", como assinala uma lápide, que ainda se mantém num jardim de uma das fortalezas de Damão. A anexação destes enclaves é o prenúncio de que, a seguir, será a vez de Goa, Damão e Diu» - cfr “PASSAGEM PARA A ÍNDIA”, adaptação dum texto de O EXPRESSO, de 12 de Dezembro de 2001, apud Sites Teia Portuguesa e Lusógrafo.

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Veja mais informação acerca do grande timoneiro e fundador do estado indiano.

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