segunda-feira, janeiro 22, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês

. ano 5767/5768 do calendário hebraico

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DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2007 Ano Internacional da Heliofísica

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D. Manuel I

Há 507 anos, naquela distante QA 22.01.1500, D. Manuel determina que “não se pague moradia aos moços fidalgos” sem terem dado provas do domínio da língua, com certidão do mestre de Gramática.

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Em Inglaterra reinava Henrique VII, da Casa de Lancaster, já que derrotou, na Guerra das Rosas, Ricardo III, da anterior dinastia de York, a que pertencia a sobrinha deste, Isabel, filha de Eduardo IV, que casou com Henrique VII, fundador da dinastia de Tudor.

Em França, no trono estava Luís XII, o único rei da Dinastia de Valois-Orléans.

Em Espanha (mais exactamente em Castela) ocupavam o trono os reis Católicos, Isabel e Fernando.

No Vaticano pontificava Alexandre VI (214º), o célebre valenciano Rodrigo Bórgia, pai, de entre outros, os perversos César e Lucrécia Bórgia.

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Moço fidalgo, era, então, a mais baixa condição (graduação) dos fidalgos assentados nos livros do rei.

O moço fidalgo ascendia, primeiro, a fidalgo escudeiro e depois a fidalgo cavaleiro.

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“A sociedade portuguesa do princípio do século XV caracteriza-se, sobretudo, por uma forte estratificação social. A divisão da sociedade em ordens, cujo topo era ocupado pela nobreza, gerava uma acentuada desigualdade social pela diferenciação entre estes (os grandes, os fidalgos e os cavaleiros) e os que não possuíam cavalo e meios de combate na guerra, ou que exerciam uma profissão mecânica (escudeiros que surgem no limiar do grupo da aristocracia sendo condição mais baixa que a de cidadão, oficiais mecânicos, lavradores e gente baixa, ou seja, os peões)” – [INFOPÉDIA, Porto Editora].

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“Durante o governo de D. Manuel, o filhamento da Casa Real estava já perfeitamente estabelecido com o acrescento de mais duas ordens de nobreza relativamente ao reinado de D. Afonso V: moço fidalgo, com possibilidades de ascender a fidalgo cavaleiro; moço de câmara, que poderia ascender a cavaleiro fidalgo; e, por último, moço de estribeira, que se poderia tornar cavaleiro raso ou escudeiro.” – [id]. Ou seja, no reinado do Venturoso, “os fidalgos jovens eram moços de câmara, pajens ou donzéis e, mais tarde, escudeiros-fidalgos” – [BU/Biblioteca Universal, Texto Editores].

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Filhamento: acto pelo qual se concedia a distinção do título de fidalgo a filho de fidalgo. Segundo o regimento de 3-VI-1572 [de D. Sebastião] e o alvará de 15-XII-1589 [sob Filipe I], os filhamentos concedidos pelo soberano expediam-se todos por consulta verbal do mordomo-mor”.

“Livro de filhamentos: aquele em que se lançam os nomes dos que têm foros [privilégios, regalias] de fidalgos...”

[GEPB, entrada “filhamento”]

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Os tempos eram de prosperidade e o governo de D. Manuel podia permitir-se pagar moradia à fidalguia (protecção de elites, como logo se vê), mesmo ao primeiro e mais baixo nível dessa “ordem” (o que acentua o carácter eventualmente injusto desta mordomia em relação à grande maioria dos cidadãos, seus súbditos...)

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Moradia: pensão equivalente ao subsídio de renda

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Porém, mesmo em era de “vacas gordas”, tal subsídio não era atribuído, neste caso, atendendo apenas à qualidade do beneficiário, ao contrário do que hoje, em tempo de vacas escanzeladas, acontece. Não. D. Manuel exigia que os moços fidalgos dominassem a língua pátria, o que tinha de ser atestado pela autoridade competente: o professor de Gramática, o equivalente, hoje, ao professor de Português.

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Foi há 102 anos, a 22.01.1905: Domingo sangrento em São Petersburgo: dois mil operários são massacrados pela Guarda do czar. O acontecimento marca o princípio da Revolução.

Na Rússia imperava o czar Nicolau II.

No Reino Unido reinava Eduardo VII, filho da rainha Vitória.

Em França vigorava a Terceira República e na presidência, perto do termo do mandato, Émile Loubet.

Na Alemanha reinava o imperador Guilherme II e era chanceler o Príncipe Bernhard von Bülow.

Em Portugal, agonizava a monarquia, com D. Carlos (33º e penúltimo).

No Vaticano pontificava Pio X (257º).

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A Rússia foi abalada, nesse ano de 1905, por dois acontecimentos que a marcaram profundamente: a derrota na guerra contra o Japão e um movimento popular contra o poder instalado que chegou a colocar o trono em perigo.

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Semanas antes, em 1 de Janeiro, dera-se a rendição russa em Porto Artur, pondo termo à Guerra Russo-Japonesa (pretensões da Rússia ao domínio da Manchúria), quando decorria o período (dinastia) Meiji, da História do Japão, e reinava o imperador Mutsuhito.

(E na mesma data, a linha transiberiana - a mais extensa do mundo - chegava ao fim dos seus 7500 quilómetros, em Vladivostok, e era inaugurada, após 12 anos de obras.

[INFOPÉDIA e Wikipédia]

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“A Revolução Russa de 1905 foi um espasmo nacional de violência contra o governo” – [Wikipédia].

Essa revolução não foi mais que um sinal e um sério aviso às mudanças sociais que fermentavam na Rússia dos czares e que culminaria na Revolução de 1917.

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Nesse Domingo 22 de Janeiro de 1905 (9 de Janeiro, segundo o calendário juliano – que antecedera o actual, gregoriano – então ainda seguido na Rússia) “foi organizada uma manifestação pacífica e em marcha lenta, liderada pelo padre ortodoxo Gregori Gapone, com destino ao Palácio de Inverno do czar Nicolau II, em São Petersburgo, com o objectivo de entregar uma petição, assinada por cerca de 135 mil trabalhadores, reivindicando direitos do povo, como reforma agrária, tolerância religiosa, fim da censura, e a presença de representantes do povo no governo” – [Wikipédia, a enciclopédia livre].


Imagem copiada da Wikipédia

Manifestantes marchando em direcção ao Palácio de Inverno, em São Petersburgo


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O comandante da guarda imperial, o grão-duque Sergei Alexandrovitch, ordenou que a guarnição impedisse o povo, desarmado, de aproximar-se do palácio e que os soldados (cossacos) dispersassem a manifestação.

“O povo não se mexeu. Então, a guarda, ao ver que não seria obedecida, disparou contra a multidão. A manifestação rapidamente se dispersou deixando centenas de mortos” – [id].

Imagem copiada da Wikipédia

O massacre do Domingo Sangrento
em São Petersburgo


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Este evento de São Petersburgo (a partir de 1914, Petrogrado; Leninegrado, desde 1924, e, de novo São Petersburgo, por referendo de 1991) não foi mais que a gota de água que conduziria à Revolução Russa de 1917. Nessa manifestação, “os principais descontentes eram os camponeses (com a economia), os trabalhadores urbanos (economia e desigualdade), intelectuais e liberais (direitos civis), as forças armadas (economia), e nacionalidades minoritárias (liberdade cultural e política)” – [id].

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Meses depois, em Junho, é a tripulação do Couraçado Potemkin (da frota do Mar Negro) que se revolta, devido às más condições em que operavam.

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Acontecimento que o realizador Sergei Eisenstein perpetuou em filme de 1925, filme que teve o nome daquele vaso de guerra.

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Depois deste massacre, que a história regista como “Domingo Sangrento”, “a revolução ganhou força, culminando numa greve geral que paralisou todo o país em Outubro de 1905”[cit BU].

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“Apesar do ímpeto revolucionário de que se revestiu e da crescente impopularidade da família reinante e do sistema monárquico, a revolução não conseguiu triunfar”- [cit INFOPÉDIA].

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Henrique Galvão

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Há 46 anos, no DM 22.01.1961, iniciou-se a “Operação Dulcineia”: o capitão Henrique Galvão desvia o paquete Santa Maria para o Brasil, num apelo da atenção da opinião pública internacional para a ditadura em Portugal.

Em Portugal, nada de novo, desde há 35 anos atrás: mantém-se a ditadura do Estado Novo sob a liderança de Oliveira Salazar. Mas são mais visíveis os sinais de rompimento com o regime, que, desde então começaram a suceder-se e a avolumar-se. Na presidência da República (uma função efectivamente subalterna no regime salazarista), estava o indefectível e submisso admirador do ditador, Américo Tomás.

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De facto, nesse ano de 1961, «o regime Salazarista começava a tremer. A oposição tornava-se mais audaz, a agitação instalava-se no seio das Forças Armadas, a guerrilha eclodia nas colónias africanas. O ano que começara com o massacre de plantadores de algodão, em greve na zona de Malange (Angola), viria a revelar-se como uma cadeia de acontecimentos nefastos para a tranquilidade da Ditadura, há 35 anos implantada em Portugal. Em Janeiro de 1961, o capitão Henrique Galvão, à frente de um grupo de exilados políticos, desviava o paquete "Santa Maria". Em Fevereiro, estalava a insurreição angolana. Em Abril, o general Botelho Moniz, ministro da Defesa Nacional, via gorar-se a sua tentativa de golpe de estado palaciano. Em Agosto, o PAIGC proclamava a passagem à insurreição, na Guiné. No fim do ano, a Índia tomava o chamado Estado da Índia portuguesa. A Oposição estava particularmente activa: um grupo afim do que desviara o "Santa Maria" desvia um avião da TAP. Dirigentes comunistas fogem da cadeia de Caxias, a Oposição Democrática desiste das "eleições" à boca das urnas. Em Dezembro, a PIDE assassina, numa rua de Lisboa, o pintor e escultor comunista José Dias Coelho. No mesmo mês, o general Humberto Delgado entra, clandestinamente, em Portugal; no dia seguinte, frustra-se o assalto ao quartel de Beja. O ano de 1961 foi, de tal modo fértil em acontecimentos, que bastaria debruçar-nos sobre um só deles para que ficasse elaborado um trabalho, pleno de interesse e significado» - [Site Arteflow].

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Dois dias antes da operação se iniciar, 20.01, John Kennedy toma posse como Presidente dos Estados Unidos.

Dias depois, a 31.01, é a tomada de posse de Jânio Quadros como Presidente do Brasil.

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«Henrique Galvão escolheu "Operação Dulcineia" para nome de código porque Cervantes é um autor de língua castelhana, e foi em terras de expressão espanhola que encontrou asilo político e apoios - Argentina e Venezuela. Boa parte dos homens que comandou eram espanhóis. Foi a partir da América de raiz espanhola que a operação se desencadeou. E foi Jânio Quadros quem o recebeu no Brasil finda a aventura.

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D. Quixote morreu pouco antes de ver a sua Dulcineia, sem saber que estava tão perto a Desejada - a liberdade para a qual contribuiu fortemente. O objectivo do assalto foi o de provocar aquilo que mais aterrava Salazar: que o mundo falasse de nós. Falou, a imprensa de todo o mundo voltou os olhos para Portugal, por isso a "Operação Dulcineia" alcançou o sucesso, e D. Quixote não arriscou a vida a combater contra moinhos de vento.» [Maria Estela Guedes, no site TriploV]

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Henrique Galvão (1895-1971) foi “militar, político e escritor, com obra apreciável sobretudo de temas africanos. Depois de ter sido adepto fervoroso da ditadura salazarista aderiu à oposição democrática e celebrizou-se pela "Operação Dulcineia" - assalto e ocupação do paquete Santa Maria (1961) - como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica e política em Portugal. Morreu exilado no Brasil” -

[Centro de documentação 25 de Abril - Universidade de Coimbra]

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Perfil mais sintético, mas mais detalhado é o da Sociedade Portuguesa de Autores: «Galvão, homem de mil ofícios, inteligente, dinâmico, polémico, amado e detestado, servidor e logo depois pertinaz opositor do regime, afamado nos media pela "Operação Dulcineia"»

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Henrique Galvão foi administrador nas colónias e deputado à Assembleia Nacional durante o Estado Novo.

Além disso, foi um dos cadetes Aderiu ao golpe que, em 1917, conduziu Sidónio Pais (de quem era amigo pessoal) ao poder, e também se viria a envolver no golpe militar de 28 de Maio de 1926.

Por volta de 1950, porém, afastou-se do regime. Foi preso em 1952, acusado de acções conspirativas. Em 1958 foi condenado a 18 anos de prisão, mas evadiu-se, em 15.01.1959, do HSM, onde estava internado sob vigilância policial... Ousada fuga que deu brado.

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Ele e um grupo de militantes do DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação) - treze portugueses, onze espanhóis e dois venezuelanos - embarcaram em La Guaira, na Venezuela, no dia 21, no Santa Maria, que fazia um cruzeiro pelo Atlântico Sul e pelo mar das Antilhas, onde seguiam 607 turistas e 360 tripulantes, apoderando-se do paquete a 22, entre Curaçao e Miami.

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Seguem-se os “catorze dias que abalaram Salazar e surpreenderam o Mundo”, como escreveu um autor.

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«A 02.02, o navio entra no Porto do Recife. Humberto Delgado e Henrique Galvão conferenciam, a bordo.

No dia 4, o "Santa Maria" é entregue ao adido naval português. É imediatamente ocupado por elementos da Legião Portuguesa, de propósito deslocados para o Brasil.

O governo brasileiro concede asilo político aos participantes da operação» - [cit. site Arteflow].

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«O objectivo último, um levantamento contra as ditaduras ibéricas, fracassa, mas a “Operação Dulcineia” acabaria por ter grande projecção internacional desfavorável ao regime de Salazar» - [Site oficial do MNE].

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