quinta-feira, novembro 02, 2006

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA


liberdade

(V/ abaixo 02.11.1927)

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Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2006 do calendário gregoriano corresponde ao:

ano 5767 do calendário judaico

ano 1427 dH do calendário islâmico (Hégira)

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DE ACORDO COM O CALENDÁRIO DA ONU:

1997/2006 - Década Internacional para a Erradicação da Pobreza.

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Semana do Desarmamento/Semana Mundial da Paz.

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Dia de Finados.

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Estão decorridos 129 anos, foi na SX 02.11.1877, nasceu, em Gatão, Amarante, o poeta e escritor Teixeira de Pascoais.

Reinava D. Luís (32º), sendo o presidente do Conselho de Ministros o Duque d'Ávila, António José de Ávila, do Partido Reformista, pela 3ª vez. Pio IX (255º) é o papa reinante.

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Teixeira de Pascoaes (de seu verdadeiro nome Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos) foi advogado em Amarante e no Porto, mas foram as letras que celebrizaram o seu nome.

Foi um dos fundadores da revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa, “onde largamente defendeu o Saudosismo como estética literária”

[Projecto Vercial da Univ. do Minho - Site apoiado por um outro, Alfarrábio - Cooperativa Cultural, da Universidade do Minho].

Que diferença enorme existiu entre a Renascença Portuguesa impulsionada por um Jaime Cortesão, em Agosto e Setembro de 1911, e a que restaria em finais dos anos 20 da anterior centúria!...

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“Renascença Portuguesa

Associação que, na 2ª década do séc.XX,

desenvolveu notável acção cultural, com aspectos originais,

obedecendo ao propósito de

"dar conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana"

(Jaime Cortesão).

As bases foram lançadas em reuniões em Coimbra (27.8.1911)

e Lisboa (17.9.1911):

"promover a maior cultura do povo português, por meio da conferência,

do manifesto, da revista, do livro, da biblioteca, da escola, etc.(...)

Revelar a alma lusitana, integrá-la nas suas qualidades

essenciais e originárias".

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[Cfr CITI/

Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas,

da Univ. Nova de Lisboa]

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«Embora congregasse personalidades e tendências diferentes,

tinha subjacente um ideal nacionalista comum ligado,

no plano literário, ao neo-garrettismo e,

filosoficamente, a um sebastianismo messiânico.

Dissidências internas levaram, em 1912, à saída de Pessoa e de Sá-Carneiro,

cujas personalidades se adequavam mais ao movimento da revista Orpheu,

que viriam a fundar.

Desligaram-se também do grupo António Sérgio,

que se opunha ao lusitanismo tradicionalista e improdutivo de Pascoaes (1913-14), e Jaime Cortesão e Raul Proença,

atentos igualmente às modernas correntes do pensamento europeu.

Estes fundaram, com António Sérgio, a Seara Nova (1921)».

[Cfr BU, da Texto Editores,

História da Literatura Portuguesa]

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Ou seja

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« (...) F. Pessoa e Sá Carneiro afastam-se,

insatisfeitos com o Saudosismo que,

chefiado por Pascoaes,

dominava no grupo (...);

António Sérgio e Raul Proença,

mais "realistas",

incompatibilizam-se com o idealismo poético,

o tradicionalismo e o ruralismo de Pascoaes (...).

(...) Não deixará de actuar o magistério de Pascoaes e Leonardo Coimbra,

(...) não cessando e esforço de autodefinição nacionalista.

[cit CITI]

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Ao fim e ao cabo, a escola em que se distinguiram nomes como Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro e Teixeira Pascoaes são, ainda, a fonte ideo-filosófica doméstica duma direita ultra-conservadora nacional.

Da extensa obra de Teixeira de Pascoaes destaco o seu primeiro poema, e um dos mais conhecidos e citados, Sempre (1898) e ainda, dentro do mesmo género literário, À Minha Alma (1898), Terra Proibida (1899), Vida Etérea (1906), Regresso ao Paraíso (1912), Elegias (1912) e O Doido e a Morte (1913). Já das suas obras em prosa, refiro: O Espírito Lusitano ou o Saudosismo (1912), O Génio Português na sua Expressão Filosófica, Política e Religiosa (1913), A Era Lusíada (1914), S. Paulo (biografia romanceada, 1934), S. Jerónimo e a Trovoada (biografia romanceada, 1936), Napoleão (biografia romanceada, 1940), O Penitente (1942) e Santo Agostinho (biografia romanceada, 1944).

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Teixeira de Pascoaes morreu aos 14.12.1952.

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Foi há 87 anos, no DM 02.11.1919: nasceu, em Lisboa, Jorge de Sena.

Vigorava ainda a (debilitada, sobretudo por força de factores exógenos) 1ª República, - a chamada Nova República Velha (depois de Sidónio, até ao golpe do 28 de Maio), com António José de Almeida na chefia do Estado, sendo primeiro-ministro (Presidente do Ministério) Sá Cardoso (no primeiro dos seus dois governos praticamente consecutivos, separados por breves minutos, pelo Governo dos Cinco Minutos (!!) de F. Fernandes da Costa, no dia 15.01.1920). A igreja romana era dirigida por Bento XV (258º).

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Conheço o Sal
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Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.
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Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.
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Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.
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Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
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Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.
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A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.

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Jorge de Sena

(da compilação de Luís Rodrigues,

no site As Tormentas)

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O professor, escritor e investigador, autor de “Sinais de Fogo”, nasceu em Lisboa. Tornou-se brasileiro e foi morrer nos EU, em Santa Bárbara.

“Filho tardio e único de seus pais (...) Jorge de Sena teve uma infância retirada e infeliz.”

Feito o liceu, onde teve como professor António Gedeão (Rómulo de Carvalho), “entra na Faculdade de Ciências de Lisboa [onde] efectua os estudos preparatórios para entrada na Escola Naval, com altíssimas classificações, sendo a ela admitido em 1937, portanto com 17 anos feitos, como nº 1 do seu curso. Após uma "viagem de instrução" no navio-escola Sagres, é-lhe recusado o acesso a Oficial de Marinha, por falta de perfil necessário. Dessa ferida jamais se curará, visto o mar e o que este supõe de "andanças" ter-lhe sempre sido uma profunda atracção.”

Conclui, em alternativa, o curso de engenharia civil, no Porto em 1944. "Mas, antes, publicara já poemas nos Cadernos de Poesia (revista que, posteriormente, co-dirigirá) e, em 1942, dera à luz o seu primeiro livro de poesia, Perseguição, que passou quase despercebido”. “A poesia de Sena chocava menos pelo que era do que por aquilo que não era: não era um lirismo ortodoxo, não era de fácil leitura, não era prolixa; mas era, em contrapartida, densa, concisa, difícil, pouco musical, onírica, agreste, inteligente e culta."

Um certo desencanto profissional "e o ter participado num golpe revolucionário abortado [de que Bénard da Costa nos dá conta mais abaixo] que poderia vir a ter, eventualmente, consequências, levou-o a fixar-se, em 1959, no Brasil, primeiro, como catedrático contratado de Teoria da Literatura", depois como catedrático de Literatura Portuguesa. Faz o doutoramento em Letras. Em 1965 a situação política do Brasil fê-lo emigrar para os EU. Mas antes adquirira nacionalidade brasileira que manteria até ao fim dos seus dias. Nos EU é ainda ao ensino que se dedica, até que a morte o surpreende, em Santa Bárbara, aos 04.06.1978, com, apenas, 59 anos. “A obra de Jorge de Sena é monumental em volume, em variedade (poesia, ficção, teatro, crítica, ensaio, história, história literária, organização de antologias, tradução) e, frequentemente, de qualidade excepcional. Dando razão, em todos os pelouros, ao mot de Flaubert: "La poésie n'est point une débilité de l'esprit", Jorge de Sena imprimiu a tudo o que escreveu um vigor, uma ironia corrosiva, uma energia ácida, um ousar quase, por vezes, à beira da loucura, um gosto (e uma capacidade) de subversão, um poder intelectual e espiritual, um apetite omnívoro de outras e diversas fontes culturais capazes de o alimentarem e excitarem, que dão ao corpus da sua obra uma força e uma monumentalidade quase monstruosas. Na ficção, citaríamos tudo: três colectâneas de contos, Andanças do Demónio (1960), Novas Andanças do Demónio (1966); Os Grão-Capitães (1976); uma novela, O Físico Prodigioso (1977) e um romance, fortemente autobiográfico, Sinais de Fogo (1979). Na poesia muitos dos poemas de As Evidências (1955), Fidelidade (1958), Metamorfoses (1963), Peregrinatio ad Loca Infecta (1969) e Exorcismos (1972) ficarão, por certo, a fazer parte do nosso património poético."

[Apud IPLB/Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, Ministério da Cultura] e [Site do Instituto Camões, Figuras da Cultura Portuguesa, texto de Jorge Fazenda Lourenço]

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Era um dos dez poetas favoritos e “ditos” por Mário Viegas.

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Duma personagem desta dimensão não se fala em meia dúzia de linhas.

E se transcrevo mais os entendidos, é porque a mim me falta o saber e a arte que eles, sim, possuem.

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Deixo, pois, mais o testemunho que constitui este belo excerto da coluna semanal de João Bénard da Costa no Público do DM 23.04.2006

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«[O que aqui me trouxe:] O volume editado pela Guerra & Paz (nova editora) reunindo as cartas trocadas entre Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, de 1959 a 1978. Cartas que começam no ano em que Jorge de Sena se fixou no Brasil e acabam meses antes da morte dele. "Espero ver-te quando o Verão vier", diz Sophia, num dia em que esteve em Arezzo e Siena. Quando o Verão veio, foi "preciso compreender plenamente que o Jorge não voltaria a Lisboa em nenhuma viagem". Sophia ficou em Lisboa, na Graça, mais vinte e seis anos, ela que nascera quatro dias depois de Sena, ambos Escorpiões de Novembro de 1919. Conheceram-se em 1945, tinham 26 anos e só conviveram, no país em que nasceram, cerca de 14 anos. Em carta a Mécia de Sena, poucos dias depois da morte de Jorge, Sophia diz tudo sobre essa ausência presença vivida pelos dois:
"Sei que dificilmente existirá alguém que seja seu igual. E não me consolo destes dezoito anos de ausência que poderiam ter sido dezoito anos de convívio, de encontros, conversas, riso comum, aflições e alegrias comunicadas.
Comecei por ser amiga do Jorge pela profunda admiração pela sua poesia. Depois descobri a sua lealdade, a sua simpatia, o seu calor humano, e uma grandeza humana que estava inscrita na grandeza da sua poesia.
Agora passou-se tudo tão longe e tão depressa. O Jorge era ainda novo e em plena força de criação e de combate. Há uma violência difícil de aceitar".
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Esses dezoito anos de ausência foram determinados por este "país perdido", em que ambos viram a luz em anos mais de trevas do que nunca (Sena exilou-se depois das eleições roubadas a Delgado e da frustrada revolta da Sé, traída por dentro, por aqueles que a fingiram desejar). E foi neste volume que encontrei a fórmula exacta de uma passagem de Jorge de Sena que sempre citei, ensinado pela Sophia, e que é das coisas mais terríveis que um de nós sobre nós escreveu: "Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo, porque estará sempre perdido. Nós é que precisamos que nos salvem dele. Mas sabe que não há maneira fácil?" (op.cit pg. 52, carta de 1962). Não há maneira fácil. E tanto a não houve, que mil vezes Sophia e Jorge de Sena, sem ilusões sobre "este país que nos mata lentamente" (Sophia) acreditaram nele e na ressurreição dele. Leiam-lhes os poemas de 1974, entre Abril e o Verão, os poemas à "madrugada que eu esperava" (Sophia) os poemas do "vamos ao que importa: refazer / um Portugal possível em que o povo / realmente mande sem que só o manejem" (Sena). Mas logo depois, em ambos, (sintomaticamente não há cartas desse período no volume) a decepção terrível. "Ah, povo, quanto te enganaram / sonhando os sonhos que desaprenderas" (Sena). Nem para um nem para outro, um no exílio, outra nos dédalos da floresta de enganos, houve maneira fácil. Na homenagem a Jorge de Sena, após a sua morte, Sophia citou-o nesses versos irridentes:
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"Não me arrependo de ter tido palavras
de esperança eterna
Não me arrependo de ter tido essas palavras
Tive-as, não as tenho mais, elas me têm a mim"
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E acrescenta: "Essa esperança que nos tem, mesmo quando já não a temos, não é propriamente confiança numa ordem imanente cuja justiça emergirá, mas confiança naquela pequena luz cujo brilho entre distância e treva resiste".
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(3.) Jorge de Sena escreveu muito. Escreveu imensas cartas. Tudo guardou e tudo guardou Mécia de Sena que, com admirável e fidelíssima pertinácia, tem conseguido publicar, nestes vinte e oito anos decorridos sobre a morte, boa parte delas (correspondência com Régio, com Vergílio Ferreira, com Casais, com Eduardo Lourenço, etc). Sophia, logo em Janeiro de 1960, escreveu a Jorge: "você sabe que tenho a maior vocação para falar ao telefone e nenhuma vocação para escrever cartas". Além disso, muitas se perderam porque Sophia as não guardou ou porque a Pide lhas roubou de casa. Mas, apesar dessas duas diferentes "vocações", neste livro nem se dá pela desigualdade (maior peso quantitativo de Jorge de Sena) nem se dá pela falta de vocação de Sophia. (...)»
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«...Uma carta em que Sophia evoca como conheceu Jorge de Sena, num corredor de São Carlos, deserto, apresentados por Ruy Cinatti e ao som da leitura de um poema de Pierre Jean Jouve. E é Sophia quem usa o termo "magia" para definir o que aconteceu nessa tarde. Essa magia atravessa todas estas cartas, mesmo quando tantas vezes discordam, mesmo quando os sentimos referidos a províncias diferentes.
Quem ler o livro com atenção, encontrará essa magia num poema de Sena, de 1950, e que é, verdadeiramente, a abertura da correspondência. Intitula-se: "A Sophia de Mello Breyner Andresen enviando-lhe um exemplar de "Pedra Filosofal"":
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"Filhos e versos como os dás ao mundo?
Como na praia te conversam sombra
de corais?
Como de angustia anoitecer profundo?
Como quem se reparte?
Como quem pode matar-te?
Ou como quem a ti não volta mais?
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Só dezoito anos depois deste poema - tantos quantos os anos que separaram geograficamente Jorge e Sophia - eles se voltaram a tratar por tu. Magia. Pedra Filosofal. Anoitecer profundo. Filhos e versos. Assim, como de angustia, o capitão das tempestades e a grega que tinha por Roma - "Roma é doirada e cor de rosa e vermelha" - "uma espécie de fome" - se corresponderam nestas cartas mágicas. "E agora chega a noticia que morreste / a morte vem como nenhuma carta.
Todos aqui sentimos a vossa falta. Todos? É bem certo que não. Mas deixem-me dizer todos, quando, para mim, só existem os todos que a sentem. Ainda e aqui. Com essa "veemência apaixonada e sagrada" que foi dos dois, que é dos dois, e que Sophia, um dia, evocou de Delphos "o lugar mais espantoso que vi na minha vida", pensando, com desespero, em todas as pessoas, como eles, a quem são para sempre roubadas maravilhas como essa.»

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Na QA 02.11.1927, já lá vão 79 anos, foi encerrada a sede da CGT/Confederação Geral dos Trabalhadores, na Calçada do Combro.

A ditadura estava instalada e avançava firme, com Carmona a dirigir e Salazar a estagiar... O papa pontificante era Pio XI (259º), por certo imbuído do mesmo espírito dum seu antecessor, Leão XIII, “o papa dos trabalhadores” (já que recorda a Rerum Novarum)... Porém, não consta que reagisse aos “desmandos” do novo luso poder, como o que hoje se comemora.

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Tudo o que pudesse “perturbar” a “felicidade” do povo português (uma certa vacuidade mental), na perspectiva da nascente ditadura, era eliminado. Uma vontade sobrepunha-se a todos os quereres. Uma posição política “tornada” “dominante”, abafava todas as opiniões, cujos ousados defensores eram perseguidos, presos, quando não mesmo eliminados.

Os direitos individuais são uma expressão que deixa de fazer parte do glossário oficial.

Como em todas as ditaduras, pretende-se transformar os cidadãos numa “carneirada cega, surda e muda”, abúlica, amorfa, inane. A BEM DA NAÇÃO.

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«Em Portugal o Decreto de 9 de Maio de 1891 autoriza a criação de associações operárias sindicais e, logo, se constituíram inúmeros sindicatos nos mais variados sectores económicos que se congregaram, mais tarde, à volta da CGT ( Confederação Geral do Trabalho), de orientação anarco-sindicalista, com vista à defesa dos interesses dos trabalhadores.»
[Centro de Media Independente - Portugal (pt.indymedia.org)]

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«Durante os 48 anos do Regime Ditatorial e Corporativo do «Estado Novo» ( 1926-1974) os sindicatos foram impedidos de desenvolver livremente a sua acção de defesa dos interesses dos trabalhadores.
Recorde-se que o Regime Político implantado pela Constituição de 1933, cujo mentor foi Oliveira Salazar, era inspirado na ideologia corporativa, impôs em Portugal uma organização política da sociedade segundo os moldes do corporativismo.
O corporativismo é uma ideologia ultra-conservadora e tradicionalista, inspirada na Itália Fascista de Mussolini, que preconiza o regresso às instituições corporativas que caracterizavam a sociedade pré-capitalista medieval. Trata-se pois de uma ideologia reaccionária anti-liberal, e anti-democrática que negava a existência de interesses sociais específicos dos trabalhadores, objectivamente conflituantes com os interesses dos empresários e capitalistas-empregadores. Em consequência, o Regime Salazarista sempre se mostrou contrário à criação e existência de associações sindicais e patronais. No seu lugar, propunha a instituição de corporações.»

[id]

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A ofensiva contra o sindicalismo de esquerda iniciara-se num dia bem adequado: 01.05.1927. Data em que todos os comícios são proibidos. Dias depois, a 7, dissolvida a CGT.

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Na QI 02.11.1950, há 56 anos, morreu, com a provecta idade de 94 anos, o escritor e dramaturgo George Bernard Shaw.

A Irlanda, tornada independente do Reino Unido em 1921, acabava de abandonar também, no ano anterior, a Comunidade Britânica e proclamou a República em Abril de 1949. Em Portugal, ainda vogava, sem grandes tormentas, a nau da Ditadura do Estado Novo, com a “eterna dupla” na chefia das “operações”: o vitalício timoneiro, Salazar, e o seu conivente, o igualmente vitalício general Carmona.

Bernard Shaw nasceu no SB 26.07.1856, em Dublin, quando toda a Irlanda era ainda do domínio britânico.

Bernard Shaw mudou-se para Londres, em 1876, trabalhando como crítico (dramático e musical) e romancista. O irreverente e inconformista autor, contudo, e por mais de 10 anos, não encontra editor para os seus romances, nem imprensa que publique seus artigos.

Foram anos difíceis e de desespero esses até finais da década de 80, pelo menos.

Entretanto tornara-se socialista e ganhou foros de orador brilhante e grande polemista. Assim como se iniciara como dramaturgo.

“Em 1885 conseguiu um trabalho fixo na imprensa e, durante quase uma década, escreveu resenhas literárias, crítica de arte e brilhantes colunas musicais. A partir de então sua actividade literária e sua produção teatral foi uma sequência de sucessos, destacando-se também como crítico literário, teatral e musical, defensor do socialismo, autor de panfletos, pródigo ensaísta em assuntos políticos, económicos e sociais e prolífico epistológrafo”.

É de 1892 a sua primeira peça. E pouco depois publica Arms and the Man (1894).

Ficou célebre uma disputa de H. G. Wells (Herbert George Wells) com o irreverente e inconformista George Bernard Shaw, quando ambos eram sócios da famosa Fabian Society, fundada (por Shaw, nomeadamente) no último quartel do séc. XIX, onde militaram importantes e destacados nomes da intelectualidade de então e que foi berço, por exemplo, do trabalhismo (a terceira via) britânico.

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Recordo, de novo:

Fabian Society:

organização socialista do Reino Unido

dedicada à investigação, discussão e publicação de temas contemporâneos,

fundada em Londres em 1884.

Propõe como via para o socialismo os métodos evolutivos,

por meio de uma sucessão de reformas graduais.

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“Durante a primeira guerra mundial, interrompeu sua produção teatral e publicou um polémico panfleto, Common Sense About the War, no qual considerava o Reino Unido, os aliados e os alemães igualmente culpados e reivindicava negociações de paz”.

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Proclamado Prémio Nobel de Literatura em 1925, recusa o prémio.

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Pygmalion (1913), é sua peça mais conhecida, até porque inspirou o filme My Fair Lady (1938), o musical homónimo (1956) e um novo filme (1964).

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No entanto os autores referem-se a Caesar and Cleopatra (1901) como a sua primeira grande obra.

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Destaque, por fim, e ainda, para outras obras suas: Devil's Disciple (1897), Heartbreak House (1920), Back to Methuselah (1922) e St Joan (1923).

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As suas últimas peças, ficaram ainda mais marcadas por uma linguagem não-realista, simbolista e tragicómica.

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O dramaturgo, de origem irlandesa, foi, consequentemente, um defensor do movimento trabalhista.

[Adaptado da Wikipédia, a enciclopédia livre, e da BU, da Texto Editores]

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Há dois anos atrás, na TR 02.11.2004, George W. Bush vence as eleições presidenciais contra John Kerry, sendo re-eleito.

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“Bush tomou posse como presidente [pela primeira vez] em 20 de Janeiro de 2001, saindo vitorioso em uma das mais acirradas eleições gerais da história dos Estados Unidos, derrotando o Vice presidente dos Estados Unidos Al Gore, do partido Democrata, por apenas 5 votos do colégio eleitoral norte-americano. Gore venceu no voto popular com uma vantagem de mais de 500.000 votos. O resultado foi definido por uma maioria de apenas centenas de votos populares na Florida, estado governado na época por Jeb Bush, irmão de George W., e até a validade de votos foi centro de disputas judiciais. Até então, a última eleição que o voto popular apontou um candidato diferente do colégio eleitoral foi em 1888”.

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Do escândalo que constituiu a eleição de 07.11.2000, não merece a pena falar-se mais. Todo o mundo “assistiu”.

Vitória discutível, todo o mundo comentou. Mas em casa deles (e não só?!), os americanos é que mandam.

Depois, claro que se seguiram outros sucessos, como o Iraque.
Mas, por ora, vamos ficar por aqui na novela. Pela génese do brilhante político.

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Estranhamente (ou não) os norte-americanos caucionaram e avalizaram a polémica política do, talvez, segundo muitos, mais impreparado, inidóneo e controverso presidente do país.

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Mas os grandes cérebros moldam-se é durante a adolescência e a juventude... E aí...

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Bem quiseram talhar-lhe o talento. Seguindo a tradição familiar, Bush foi enviado para um colégio interno destinado aos membros da alta elite norte-americana, a Academia Phillips, em Andover, Massachusetts.

Onde foi um aluno medíocre.

A Universidade do Texas recusou a sua candidatura mas os conhecimentos do pai, bem como o facto de tanto ele como o avô a terem frequentado, abriram-lhe as portas desta universidade.

Onde continuou sendo um aluno medíocre.

No entanto não perdeu tempo em ingressar na fraternidade (dos endinheirados) DKE/Delta Kappa Epsilon (da qual foi presidente desde Outubro de 1965 até sua formatura), e no seu último ano à sociedade secreta Skull and Bones (ou Caveira e Ossos). Que alguns referem como a máfia skull&bones.

Em 1978, seguindo as pisadas do pai, George W. Bush dedicou-se à prospecção de petróleo e criou uma empresa petrolífera, um desaire em termos económicos, só atenuado pela sua absorção num processo de fusão com outra empresa. Bush foi então escolhido para a presidência da nova empresa que, quatro anos depois, já lidava com sérias dificuldades financeiras.

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«Depois da dispensa do serviço militar, Bush fez pós-graduação em Harvard e iniciou sua carreira de empresário - na qual jamais obteve sucesso. Executivo do sector energético (1976-1987), foi fundador e presidente das empresas Arbusto (posteriormente Bush Exploration) e Spectrum 7 e director da Harken Oil, além de sócio e gerente da equipa de basebol Texas Rangers (1989-1998). Em nenhum dos cargos Bush se destacou ou teve sucesso.» [Revista VEJA, de 03.11.2004]

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Assim, de insucesso em insucesso, desiste de lides mais exigentes para se dedicar ao negócio desportivo.

Pelos vistos, não é só neste canto “à beira mar plantado” que o desporto e a política vivem em promíscuas relações.

Para o agora presidente Bush poder concretizar o seu sonho – a presidência da Federação de Basebol, o desporto rei nas terras do tio Sam – foi-lhe sugerido que se tornasse, primeiro, governador do Texas. Certo que já antes, em 1978, sofrera um desaire na candidatura a um cargo político, mas homem decidido que é (sobretudo para o erro e para o fracasso) avançou mesmo com a candidatura, e “desta vez tornou-se governador do Texas, em 1994, cargo para o qual foi reeleito em Novembro de 1998 (um feito inédito)”.

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«Com uma imagem francamente negativa perante os americanos, Bush alterou a sua conduta tanto profissional como pessoal, abandonando o álcool completamente, pouco tempo depois do seu 40.º aniversário. Tornou-se mais religioso direccionando-se para a fé metodista. Tornou-se igualmente mais sério profissionalmente, uma mudança provocada pela decisão do seu pai em concorrer às eleições presidenciais de 1988».

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O governo Bush tem sido marcado por polémicas e por uma acção que (se praticada pelo inimigo) ele chamaria terrorismo.

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Dizendo-se enviado de Deus (estamos no séc. XXI, no Ocidente), transforma-se em paladino da “liberdade” e da “democracia”, exactamente não respeitando liberdades e a democracia. Impondo-se (com o conivente silêncio e por vezes com a expressa adesão da EU) como o Intendente do mundo, um super-xerife.

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E é desta massa que se faz um presidente duma super-potência.

Afinal, o títere dos títeres?

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