terça-feira, janeiro 03, 2006

PRÓS E CONTRAS OU A PROVA DE QUE, POR VEZES, DA DISCUSSÃO PODE NASCER OU AUMENTAR A LUZ


Não sou um desertor absoluto da televisão, porque ainda vai havendo um ou outro programa como alguns dos “Prós e Contras” e uma ou outra interessante entrevista da Ana Sousa Dias, “na dois”. [Não, não é a mesma da “missa do Marcelo”, na expressão do António (não, tu, Barão. O meu irmão). É capaz de ser gémea, isso talvez. Não a mesma]. E mais alguns, sempre menos interessantes que a “1ª companhia”…

Julgo que não resvalei para um certo pseudo-intelectualismo (e sei lá?), mas decididamente não me sinto nada vocacionado para sustentar e engordar certos níveis de audiências.

Já me vou sentindo um bocado cansado. Embora me esqueça e vá estrebuchando.

Ora… (Onde é que eu ia? Já sei.)

Televisão. Isso, essa caixota de que me sinto tão divorciado.

Pois: ontem a discussão (não é figura de estilo: discussão, mesmo) à volta das perspectivas sociológicas dos portugueses foi deveras interessante.

Fico possesso de raiva, porque constato sempre o mesmo: isto, sim, é discutir a sério. Não redundam no óbvio, para onde sempre embico nas minhas domésticas intervenções e nos minúsculos fóruns em que participo, de ora em vez.

(Até costumo terminar com um p****!).

Mas atenção: o óbvio, por vezes, tem de ser recordado, já que as deambulações (lucubrações?) dos intelectuais puros (não tenho a certeza de estar correcta a expressão; mas vá, entendam-me) por vezes se enredem em complicados labirintos…

Não é difícil descrever a cena e os actores. (A matéria, o enredo, é mais complicado).

Tivemos de um lado (é como a história das bruxas… Que há ironias, lá isso há), na panorâmica da grande angular, à nossa esquerda, a Senhora Professora Doutora Filomena Mónica (FM), o Prof Pacheco Pereira (PP – apesar de tudo não confundir com outro PP, irmão de um dos actores em palco). Da banda direita: o sr Miguel Portas (MP) e o sociólogo Boaventura Sousa Santos (SS – não confundir com uma sigla de boa memória para alguns saudosistas).

E então, vejamos: lembram-se da Georgina , a “irmã” de que falava Raul Solnado? (Os mais jovens não fazem a menor ideia. Eu explicava, mas é mais fácil que eles perguntem aos pais ou aos avós). Pois bem, FM era a Georgina da noite: que bem que ela “dizia coisas”… (Recordo-me que fiquei siderado quando lhe ouvi a verdade da noite, na expressão inédita, mas corajosa: “a Europa está numa encruzilhada”!!! E interrogo-me: porque não há mais gente assim, clarividente, arrojada, sem receio que as palavras lhe queimem a língua…? Porquê?). (E recordo-me de mais: “sou professora universitária” tan-tan-tan… – sei que ela disse em maiúsculas, mas eu sou assim, um irreverente – e “no meu instituto” blá-blá-blá… Mas mais importante: “visto-me no Marks & Spencer”. Tudo matéria de relevo).

PP? Mas quem disse que não é um pensador?! Essa agora! Claro que sim. De quando em quando lá vinha: “nós os intelectuais”… (Lê-se-lhe quase sempre na expressão facial uma certa insegurança…!). Bom, mas é um ser pensante como poucos. E de peso. (Que péssimo investimento fez a extrema esquerda lá pelos idos 70! Preparou, e de que maneira, o melhor ideólogo com que a direita nunca sonhara!).

Do outro lado? MP, um rapaz que só ganhou em viver com o pai. Tanto quanto o irmão perdeu em viver com a mãe.

Sei que alguns não gostam de ouvir falar “nesses cucos”.

“Pero” que são “buenos”, são. (Falo dos bloquistas, está claro. Não, obviamente, dos irmãos – que aí só um é cuco). Tenham lá paciência, mas o Miguel esteve muito bem.

A função importante dele, naquele jogo, foi o de pôr os nomes às “coisas”. E a de SS foi a de explicar as “coisas”. E aí (parem lá com a conversa, seus marotos, que bem os oiço, à minha esquerda e à minha direita), chegaram, e muito bem – e sobraram – para os mais. Obviamente, sem favor, clubismos à parte.

Confesso que já várias vezes me senti meio embaraçado com SS. Mas desta vez… Que show! Esteve muito bem.

SS também falou do “meu centro” (como a Georgina do “meu instituto”)? Está bem, mas não foi para se promover (como a Georgina). Foi para explicar melhor.

MP? Não foi só o falar com desenvoltura e conhecimento e propriedade e acerto, mesmo das questões mais difíceis como a política agrícola comum, para que era convocado matreiramente pelo PP… Foi o explicar bem – mas bem mesmo – qual a diferença entre ele e o dito Pacheco.

Dignidade humana, democracia, globalização, burguesia, modelos económicos? Ora vamos lá pôr os pontos nos ii (parecia dizerem daquele lado, onde estavam erradamente, MP e SS, arregaçando as mangas e sem gaguejar).

PP bem queria valer-se da sua ginástica intelectual… E argumentava, e resistia, e contra-argumentava… Mas não convencia a outra bancada, que logo lhe desmontava o discurso. (Georgina, sempre impante, ex-catedra, ia papagueando umas coisas, e algumas próximas de um certo senso. Ficava particularmente “brava” quando SS a questionava… Mas não conseguia impressioná-lo. Muito menos derrubá-lo.)

Digam lá se não foi um bom serão?

E a Fátima Campos Ferreira esteve bem, como de costume. Desta vez, particularmente por deixar que a discussão existisse.

Gostei.

Gostaram?

Sem comentários:

free web counters
New Jersey Dialup