terça-feira, julho 03, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA - II




Foi na TR 02.07.1867, fez ontem 145 anos: o grande escritor francês, Victor Hugo, enviou uma carta de felicitação a Eduardo Coelho, acerca da abolição da pena de morte em Portugal, posteriormente publicada, a 10 de Julho do mesmo ano, no jornal Diário de Notícias de que Eduardo Coelho era director.

Continuação…


Personagem multifacetada, Victor-Marie Hugo era uma estrela de outra Galáxia: poeta, romancista e dramaturgo francês, era filho de um dos generais de Napoleão. Ainda que originariamente monárquico, aderiu aos ideais republicanos na década de 1840, chegando mesmo a opor-se ao golpe de Estado de Luís Napoleão, irmão de Bonaparte, o que o levou a ser expulso em 1852.
Em 1820, recebeu do rei Luís XVIII uma pensão de dois mil francos pelo livro Ode sur la Mort du Duc de Berry.
 “Embora a França só a partir de 1830 se abrisse definitivamente ao Romantismo, não há dúvida de que Rousseau pode considerar-se o seu primeiro ensaio na escola.” [Romantismo] Depois temos, entre outros Victor Hugo, que, já antes, em 1827, escrevera o prefácio do drama Cromwell que, embora não tenha sido um êxito teatral acabou por ser um verdadeiro manifesto a proclamar a liberdade na arte, em guerra aberta com as normas do Classicismo. E é com essa publicação que adere ao Romantismo.
Les Feuilles d'Automne (1831), Les Chants du Crépuscule (1835) e Les voix Intérieures (1837) revelam uma evolução para uma sinceridade mais recolhida e uma poesia motivada pelo desgosto causado pela infidelidade da esposa”. [Hugo]
Foi com a peça em verso Hernâni de 1830, que ele se tornou líder do romantismo francês, desencadeando, assim, uma batalha contra os últimos redutos do classicismo. “Tornou-se depois partidário de uma literatura como "arte pela arte", cuja procura da beleza estética ilustrou na recolha de poemas Émaux et Camées (1852)”.
Em 1931, publicou o seu primeiro romance Notre-Dame de Paris, onde aproveita como pano de fundo e como personagem viva, Paris. A polémica peça Le Roi s'amuse foi levada a cena, em 1832, e o escândalo instalou-se, levando à suspensão da peça. Esta suspensão obrigou-o a defender-se num processo memorável em favor da liberdade de expressão.
Em 1848, foi eleito deputado, tornando-se apoiante de Carlos Louis-Napoléon Bonaparte à Presidência da República, (sobrinho de Bonaparte, filho de seu irmão Luís Bonaparte) mas um ano mais tarde, provocou o escândalo na Assembleia, ao discursar sobre a miséria e opôs-se a Louis-Napoléon (mais tarde imperador Luís Napoleão III, por plebiscito de 1852, mas deposto em 1870, pela Assembleia Nacional, quando se proclamou a Terceira República Francesa) que considerou um tirano.
Nos anos 1850 e 1851 discursou na Assembleia sobre a liberdade de ensino, o sufrágio universal, a liberdade de imprensa e sobre a sua oposição aos projectos Louis-Napoléon e, em 1852, foi assinado o decreto de expulsão de Victor Hugo.
Os poemas Les Châtiments, publicados em 1853 descrevem a sua cólera, indignação e oposição ao golpe de Estado de Louis-Napoléon. Durante quinze anos, permaneceu exilado em Guernsey, altura em que escreveu as sátiras contra Napoléon le petit (1852), assim como as suas grandes obras: Les Contemplations, La Légende des Siècles e Les Misérables/Os Miseráveis.
Em 1861, abandonou Guernsey pela primeira vez, onde se exilara, e voltou para a Bélgica, altura em que terminou Les Misérables.
Em 1870, aquando da proclamação da República, Victor Hugo foi recebido como herói nacional em Paris. Em 1871, foi cabeça de lista dos republicanos em Paris e eleito deputado, tornou-se, posteriormente, senador sob a Terceira República.
Em 1885, morreu vítima de uma congestão pulmonar. Encontra-se sepultado no Panthéon, em Paris.


Eduardo Coelho
caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro

Na referida carta ao director do Diário de Notícias, Eduardo Coelho, cujo evento hoje se comemora, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo), diz Victor Hugo, nomeadamente, e contextualizando a frase em destaque, acima, no intróito desta memória: "Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos".


E porque vem a talhe de foice: Portugal foi praticamente o primeiro país da Europa e do Mundo a abolir a pena capital por qualquer modo, tendo sido o primeiro Estado do Mundo a prever a abolição da pena de morte na Lei Constitucional, após a reforma penal de 1867.

Relativamente à matéria da pena de morte, veja-se esta cronologia:
Abolida para crimes políticos em 1852 (artigo 16º do Acto Adicional à Carta Constitucional de 5 de Julho, sancionado por D. Maria II).
Abolida para crimes civis em 1867 no reinado de D. Luís.
Abolida para todos os crimes, excepto por traição durante a guerra, em Julho em 1867 (Lei de 1 de Julho de 1867).

A proposta partiu do ministro da Justiça Augusto César Barjona de Freitas, sendo submetida à discussão na Câmara dos Deputados. Transitou depois para a Câmara dos Pares, onde foi aprovada. Mas a pena de morte continuava no Código de Justiça Militar.  Acabando abolida para todos os crimes, incluindo os militares, em 1911.
Readmitida em 1916 a pena de morte para crimes de traição em tempo de guerra.
Abolição total em 1976.

De forma extra-oficial, a PIDE executou (deliberadamente ou na sequência de torturas) alguns activistas anti-regime e, de forma praticamente sistemática, os elementos capturados na guerra contra os movimentos emancipalistas de três colónias portuguesas (Guiné-Bissau, Angola e Moçambique) entre 1961 e 1974. Actualmente, a pena de morte é um acto proibido e ilegal segundo o artigo 24º, nº 2, da Constituição Portuguesa [wiki: pena de morte].






[BU]: Biblioteca/Enciclopédia Universal, da Texto Editora: Diário de Notícias
[INFO]: Infopédia, a enciclopédia online da Porto Editora: DN/Diário de Notícias
[GEPB]: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 30, pág 458
[Hugo]: Infopédia a Enciclopédia online da Porto Editora
[Maltez]: Página profissional do prof José Adelino Maltez
[Maltez: ISCSP]: ISCSP, UTL; Ligações: A Ciência Política no Mundo
[Romantismo]: Infopédia, a enciclopédia online
[wiki]: Wikipèdia, a enciclopédia Livre: pena de morte]





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