segunda-feira, maio 28, 2012

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA - I




Como sempre, recordo:

Este é o espaço em que,
habitualmente,
faço algumas incursões pelo mundo da História.
Recordo factos, revejo acontecimentos,
visito ou revisito lugares,
encontro ou reencontro personalidades e lembro datas.
Datas que são de boa recordação, umas;
outras, de má memória.
Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.
Aqui,
as datas são o pretexto para este mergulho no passado.
Que, por vezes,
ajudam a melhor entender o presente
e a prevenir o futuro.

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ESTAMOS NO 12º ANO DO 3º MILÉNIO
ESTAMOS NA SEGUNDA-FEIRA DIA 28 DE MAIO DE 2012 (MMXII) DO CALENDÁRIO GREGORIANO

Que corresponde ao
Ano de 2765 Ab Urbe Condita (da fundação de Roma)
Ano 4709 do calendário chinês
Ano 5772 do calendário hebraico
Ano 1434 da Hégira (calendário islâmico)

Mais:
DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:
De 2003 a 2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.
de 2005 a 2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.
de 2005 a 2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

Por outro lado, 2012 é o
ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES
ANO INTERNACIONAL DA ENERGIA SUSTENTÁVEL PARA TODOS
ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
ANO INTERNACIONAL DAS COOPERATIVAS

HOJE É O DIA MUNDIAL DO BOMBEIRO



“Afirmamo-nos por um lado anticomunistas e por outro antidemocratas e antiliberais, autoritários e intervencionistas (...)”
Salazar. Discurso de 25 de Maio de 1940



O Ditador quando jovem

Foi na SX 28.05.1926, completam-se hoje 86 anos: deu-se o golpe de Estado liderado pelo general Gomes da Costa, com Mendes Cabeçadas e Óscar Carmona.

Presidente da República era Bernardino Machado e Primeiro-Ministro António Maria da Silva, do Partido Democrático.
Em Espanha reinava Afonso XIII (15), da Dinastia de Bourbon e presidente do Governo era Primo de Rivera (Miguel Primo de Rivera y Orbaneja), general e ditador espanhol, fundador do Directório Militar e da organização fascista Unión Patriótica, inspiradora da União Nacional portuguesa. Desautorizado pelos altos comandos militares e pelo rei Afonso XIII, em 1930, Primo de Rivera demitiu-se e auto-exilou-se em Paris. Mas deixou um “digno” sucessor, o seu filho José António Primo de Rivera, celebrada e grada figura da implantação do franquismo e o mítico fundador da Falange espanhola.
No Reino Unido decorria o reinado de Jorge V (63º), avô de Isabel II (66º), da Casa de Windsor (em bom rigor da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, nome deixado cair em 1917 apenas atendendo ao sentimento antigermânico que se vivia durante a I Guerra Mundial) e primeiro-ministro era Stanley Baldwin, Conservador, quando decorria o segundo dos seus três mandatos não consecutivos.
Em França estava instalada a Terceira Reública (1870-1940) e presidente era Gaston Doumergue, sendo primeiro-ministro Aristide Briand.
Os EUA tinham então como presidente Calvin Coolidge (30), do Partido Republicano.
Em Itália decorria o reinado do seu penúltimo monarca, Vítor Emanuel III (25), sendo o governo, na altura, liderado pelo Il Duce Benito Mussolini, fundador e líder do Partido Nacional Fascista. O criador da ideologia fascista reuniu no partido elementos do nacionalismo, corporativismo, sindicalismo nacional, expansionismo, progresso social e anticomunismo, uma mistura realmente de ingredientes altamente explosivos do radicalismo extremo de direita, onde a retrógrada direita portuguesa também se inspirou.
Paul von Hindenburg era o presidente da Alemanha, o último da República de Weimar (e que viria a ser o primeiro do Terceiro Reich quando nomeou Hitler chanceler, pelo qual viria a ser sucedido). Mas na data que hoje lembramos chanceler era Wilhelm Marx, do Partido do Centro.
Decorria, então, a II República Helénica e a ditadura do General Theodoros Pangalos, que cumulava com a presidência do Governo.
O rei da Bélgica era Alberto I, que casou com uma neta de D. Miguel de Portugal e era avô do actual rei dos belgas, Alberto II, e de seu irmão e antecessor, Balduíno, sendo primeiro-ministro Henri Jaspar.
Na União Soviética era secretário-geral do PCUS Josef Stalin; presidente do Conselho de Ministros, Aleksei Rykov; presidente do Presidium do Soviete Supremo (Chefe de Estado) Mikhail Ivanovich Kalinin.
Pio XI (259º) era o pontífice romano. Pio XI, que sucedeu a Bento XV, em 06.02.1922, era ainda o visitador apostólico Aquiles Ratti (o Visitador Apostólico é, pelo que depreendo, um bispo designado pela Santa Sé para averiguar qualquer facto, situação ou realidade controversa ou que aguarde decisão superior do papa) quando se deu a queda dos impérios centrais, no fim da I Grande Guerra, quando estalou a revolução bolchevique e quando ressurgiu o Estado livre da Polónia. De entre os assuntos sobre que mais debruçou a sua atenção, conta-se a regulação da questão romana com o governo italiano fascista, por meio do tratado de 1929, que concedeu a soberania temporal ao papa na "cidade do Vaticano".

Os chefes militares da Revolução do 28 de Maio

Desencadeado o movimento do 28.05.1926, dirigido pelo general Gomes da Costa, no dia seguinte o presidente da República em exercício, Bernardino Machado, aceita a demissão colectiva do governo de António Maria da Silva. E no dia imediato (30.05) entra em funções o primeiro governo da Ditadura, presidido por Mendes Cabeçadas, que era também o presidente da República, por renúncia de Bernardino Machado. Governo este em que entrou também o general Carmona, na pasta dos Estrangeiros. Simultaneamente, as duas câmaras do Parlamento são encerradas.
Este Governo esteve em funções de 31.05.1926 até 16.06 seguinte e era liderado por Mendes Cabeçadas, que era, simultaneamente Chefe de Estado, seguindo-se-lhe, num contra-golpe, Gomes da Costa.

O almirante Mendes Cabeçadas, afastado do poder em consequência da estabilização do regime à direita e do salazarismo, transformou-se num violento “opositor da autocracia de Óscar Carmona e de Oliveira Salazar, conspirando em, pelo menos, duas tentativas insurreccionais (1946 e 1947). Como derradeiro gesto político, subscreveu o Programa para a Democratização da República (1961).” [Wiki: Cabeçadas]

Afastado Gomes da Costa da chefia do governo, por novo contra-golpe, Carmona assumiu essa função, em 09.07.1926.

Em Agosto desse ano o governo decreta a criação da polícia especial de Lisboa, polícia política para que são recrutados agentes da extinta Polícia Preventiva de Segurança do Estado. E em 23.10 seguinte promulga o estatuto político, civil e criminal dos indígenas de Angola e Moçambique, onde se define tanto o estatuto de “especificidade e menoridade civilizacional” dos habitantes “não civilizados”, como também os direitos e “responsabilidades históricas” de orientação, educação e tutela que “Estado e Nação” portugueses teriam perante os mesmos.

Por decreto de 16.11.1926 Carmona é nomeado presidente da República interino. E em 29NOV seguinte, acumularia as funções de chefe do governo e de Chefe do Estado. Esta função seria confirmada, em definitivo, com a sua eleição nas presidenciais de 25.03.1928. É nesse mandato que ele convida, de novo, Salazar para a pasta das Finanças.

Ao aderir à tendência totalitária, Carmona desiludiu a facção republicana que pensava num regime transitório. Com as reacções republicanas recrudesceu a violência das forças governamentais, com a deportação daqueles para as colónias, a instauração da censura militar da imprensa e a proibição da actividade de partidos políticos, dos sindicatos e das organizações político-sociais.

Sinal iniludível dos novos tempos desencadeados pelo regime autoritário emergente: em Dezembro de 1926 é fundada a revista Ordem Nova, que, orgulhosamente, se intitula “antimoderna, antiliberal, antidemocrática, contra-revolucionária, católica, apostólica e romana, monárquica e intolerante; insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da imprensa”.
Ah! E um dos seus principais fundadores foi Marcelo Caetano, futuro dirigente do Estado Novo, sucessor de Salazar.

O golpe de estado ocorrido a 28 de Maio de 1926 promoveu, pois, a instauração da ditadura militar em Portugal, a que a revolução de 25 de Abril de 1974 pôs fim.


«O 28 de Maio foi feito contra a "balbúrdia" da República, não para criar o Estado Novo», era o título dum artigo do Público, no DM 28 de Maio de 2006, de Isabel Braga, que de seguida, e em destaque, esclarecia: [em 1926] “deu-se mais um golpe militar na I República, o último e definitivo que ficaria para a história como a Revolução do 28 de Maio. O objectivo dos vários grupos envolvidos no movimento resumia-se a tirar do poder o Partido Republicano Português. Os beneficiários finais do golpe de Estado não foram contudo aqueles que o planearam e protagonizaram, mas mesmo assim o Estado Novo só chegaria em 1930 e Salazar só assumiria formalmente o poder em 1932”.

Retomando o desencadear da Ditadura Militar, do que se tratou, ao cabo e ao resto, foi de remover das cadeiras do poder o último governo do Partido Republicano (PRP) vulgarmente designado por Partido Democrático, então liderado por António Maria da Silva, partido que, desde a implantação da República, “monopolizava o sistema político”.

"Havia uma crise de legitimidade dos governos do PRP, que se conjuga com a crise económica e social que o país vivia desde o início dos anos 20, agudizada pela crise internacional de 1921 e pela crise de revalorização do escudo, a qual teve um preço económico e social muito alto, em termos de falências, de desemprego", afirmou ao PÚBLICO Fernando Rosas, citado pela mencionada jornalista.

Mas a queda do Governo não se ficou a dever à acção de um único partido. Bem pelo contrário, "desde o movimento operário de hegemonia anarquista, passando pela esquerda democrática [uma dissidência do PRP], pela direita republicana, pela direita nacionalista, até à extrema-direita parlamentar, há um consenso: acabar com a demagogia, com a ditadura dos "democráticos" [do PRP]. O 28 de Maio é uma coligação máxima com um consenso mínimo. Mal eclodiu, começou a ver-se que era uma conjugação de várias conspirações", acrescenta aquele especialista em história portuguesa do século XX, segundo Isabel Braga. [Público]

Gomes da Costa, que seria afastado do poder pouco depois, desempenhou um papel determinante na queda do governo dando início a um movimento militar, embora sem um projecto político coerente nem um programa político definido.

… continua amanhã, TR 29.05.2012…
  




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