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Com o devido respeito, quer pelo jornal, quer pelo autor, transcrevo, na íntegra, o (como sempre) excelente trabalho do jovem historiador Rui Tavares, no Público de hoje.
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Esperteza parva
14.02.2007, Rui Tavares
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Que numa campanha se desrespeite o adversário surpreende pouco. Agora mais indigno é que numa campanha alguém se desrespeite a si mesmo. É o que sucede quando se chega à conclusão de que só se ganha uma contenda fazendo com que ninguém perceba nada do que se está a passar, e que para tal há que fazer-se passar por pouco inteligente. Fatalmente, este método é mais nocivo aos próprios do que aos adversários.
Recentemente, vimo-lo levado à glória pela táctica linguístico--jurídico-escaganifobética do psd no referendo da despenalização: que a pergunta que o próprio psd votara era capciosa, que o referendo não tratava do que dizia que tratava, que sim queria dizer não e não queria dizer sim, que talvez queria dizer com certeza e sempre queria dizer jamais. o psd ainda vai demorar para sair deste labirinto. O arrependimento será amargo.
Marques Mendes achou que era óbvio fazer o contrário do sócrates, que se declarara pelo "sim" dando liberdade aos deputados que quisessem defender o "não". O resultado foi Marques Mendes repetir durante meses que dava liberdade de consciência e depois fazer, encapotadamente, unicamente, dispendiosamente, campanha pelo "não". Querendo contentar a todos, não ganhou o respeito de ninguém.
Mas há pior: Luís Filipe Menezes, o principal rival assumido de Marques Mendes, veio declarar que o resultado do referendo foi uma enorme derrota para sócrates, explicando tal absurdo com a ideia macaca de juntar a abstenção aos votos do "não". Uma sugestão para este aprendiz de alquimista seria tentar convencer os árbitros dos jogos da selecção a considerar como golo as bolas que não introduzimos na baliza. E, já agora, contar a nosso favor os remates do adversário.
Depois, temos ainda o principal rival não-assumido de Marques Mendes. Marcelo Rebelo de Sousa partia para esta estratégia com uma enorme experiência em silogismos, e, com um sorriso nos lábios, demonstrou ao eleitorado que indubitavelmente as curvas eram direitas e que ser contra a despenalização é que era mesmo ser a favor da despenalização.
Teoricamente, trata-se de três homens espertos. Mas nesta campanha não conseguiram passar daquilo a que, num golpe de génio, os portugueses chamam de "esperteza parva". O excesso de experiência política fê-los acreditar que era possível ser em simultâneo pelos valores do "sim" e do "não", modernos e conservadores, representar a internet e a igreja, mostrar a cara e esconder a opinião. Alimentados por anos de menosprezo fingido pelas causas culturais, e de sistemática rejeição de tudo o que lhes cheire a esquerda, as cabeças do psd acharam que a confusão compensava.
Ora, se a demografia do "não" poderia chegar e sobrar para um cds em vias de inanição, para o psd significa um encurralamento social, cultural e geracional. As consequências vão muito para lá da peculiaridade da figura de marcelo na cultura de entretenimento nacional, que Helena Matos aqui dissecou ontem. é todo um partido que, salvo raríssimas excepções, não sabe para quem falar. e, se soubesse, não saberia o que dizer.
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Que mais poderia eu, pobre de mim, acrescentar.
Nada.
A não ser um BRAVO!
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Subscrevo.
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2 comentários:
O artigo tem,a meu ver,um muito pequenino senão:
LFM ainda não conseguiu o QI mínimo,para ser comparado com Marcelo ou,mesmo,com Marques Mendes.
O jornalista deve estar ávido de um candidato a PM,que dê o mesmo gozo que PSL.
Com o PSD entregue a estes bichos, arriscamo-nos a ficar com Sócrates até que caia de uma cadeira...
Um abraço.
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