sexta-feira, fevereiro 02, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês

. ano 5767/5768 do calendário hebraico

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2007 Ano Internacional da Heliofísica

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Bertrand Russell


Decorreram 37 anos: foi na SG, 02.02.1970, que morreu, aos 98 (!) anos, o filósofo e matemático britânico Bertrand Russel.

Em Inglaterra reinava já, de há bastante, a actual monarca, Isabel II; liderando o seu governo Harold Wilson (seu primeiro mandato), do partido Trabalhista.

Em Portugal ainda estávamos sob a Ditadura do Estado Novo, na chamada Primavera (?) marcelista: o vitalício (pensavam eles) Américo Tomás na PR, Marcelo Caetano na condução do Governo.

Pontífice romano reinante era o papa Paulo VI (262º).

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1970 foi ainda o ano em que, designadamente

- JAN: em comunicado ao País, a CNSPP denuncia graves violações dos direitos humanos nas prisões portuguesas.

- 21FEV: a UN, durante o V Congresso, passa a denominar-se ANP (Acção Nacional Popular), mantendo, no entanto, praticamente, as mesmas competências que tinha enquanto UN, que era o partido único do regime.

- FEV: manifestação em Lisboa, em protesto contra a guerra colonial e contra a guerra no Vietname.

- FEV-MAR: movimentos grevistas exigem liberdade de organização sindical, aumentos salariais e melhor segurança social.

- MAR: alguns presos políticos são violentamente espancados, no forte de Peniche, após terem liderado um protesto contra as condições existentes na prisão.

- 22ABR1970: o fim da censura prévia está incluído no projecto de lei de Imprensa apresentado na Assembleia Nacional pelos deputados, da chamada “ala liberal”, Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão.

- ABR: numa clara “operação de charme”, o governo amnistia os estudantes da Universidade de Coimbra penalizados em 1969.

- Ainda em ABR: um inquérito independente à morte de Humberto Delgado é o mobil de uma campanha de opinião promovida em Londres.

- 15JUN: morre o artista plástico e escritor Almada Negreiros.

- 25JUN1970: morre o político e escritor Henrique Galvão.

- JUN-JUL: 177 organizações de 64 países participam, em Roma, na Conferência Internacional de Solidariedade para com os Povos das Colónias Portuguesas.

- 27JUL: Morre Salazar, com 81 anos.

- JUL: contestação dos presos políticos em Caxias inclui greves de fome.

- 21AGO: pela primeira vez na história do Estado Novo, uma mulher ocupa um cargo no governo: Maria Teresa Lobo é nomeada subsecretária de Estado da Saúde e Assistência.

- SET: é criado, em Lisboa, o MRPP, movimento político de extrema-esquerda, maoísta.

- OUT-NOV: é criada, clandestinamente, em Lisboa, a Comissão Organizadora Central da Intersindical.

- 09NOV: morre o estadista francês general Charles de Gaulle.

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"Aquilo que os homens querem, de facto,

não é o conhecimento, mas a certeza."

- Bertrand Russel

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Bertrand Arthur William Russell, em bom rigor, morreu a pouco mais de 3 meses de completar os 98 anos, já que nasceu em 18.05.1872.

Conquanto controverso, foi um respeitado filósofo, por muitos (milhões) considerado “uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade”. Foi também um eminente matemático.

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B. Russel “impôs-se pela sua autoridade moral, tendo sido um aberto e influente crítico do armamento nuclear e da intervenção dos EU no Vietname” [Wikipédia]. "Era inquieto", conclui-se na acabada de citar enciclopédia.

Não admira, pois, que em 1950, Russell tenha recebido o Prémio Nobel da Literatura "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele se bateu por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento" [Idem].

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Era oriundo de uma família aristocrática: seu avô paterno John Russell, 1.º conde Russell (1792-1878), liberal, foi primeiro-ministro de 1846 a 1852 e em 1865-66.

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Órfão de mãe aos 2 anos e de pai, aos 4, Bertrand foi educado por esse avô.

Figura histórica, também, o filósofo utilitarista John Stuart Mill foi seu padrinho.

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“Russell conheceu inicialmente a Quaker americana, Alys Pearsall Smith, quando tinha 17 anos de idade. Apaixonou-se pela sua personalidade puritana e inteligente, ligada a vários activistas educacionais e religiosos, tendo casado com ela em Dezembro de 1894” [ainda cit. enciclop.].

«Quaker é o nome dado a um membro de um grupo religioso de tradição protestante, chamado Sociedade dos Amigos. Criada em 1652, pelo inglês George Fox, a Sociedade dos Amigos reagiu contra os abusos da Igreja Anglicana, colocando-se sob a inspiração directa do Espírito Santo. Os membros desta sociedade, ridicularizados com o nome de quakers, ou tremedores, rejeitam qualquer organização clerical, para viver no recolhimento, na pureza moral e na prática activa do pacifismo, da solidariedade e da filantropia. Perseguidos na Inglaterra por Carlos II, os quakers emigraram em massa para a América, onde, em 1681, criaram sob a égide de William Penn a colónia da Pensilvânia. Em 1947, os comités ingleses e americanos do Auxílio Quaker Internacional receberam o Prémio Nobel da Paz. (...) Organizações como o Greenpeace e a Anistia Internacional foram fundadas pelos quaker e são influenciadas pela ideologia da Sociedade dos Amigos».

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Entre personalidades históricas conhecidas que eram quakers contam-se: Elizabeth Margaret Chandler (1807-1834), uma escritora e poetisa dos Estados Unidos, que se tornou a primeira mulher a abraçar publicamente a causa da abolição da escravatura por meio de seus escritos, antes de falecer aos vinte e seis anos de idade (feminista americana, escritora e poeta abolicionista).

Também Lucretia Mott (1793–1880), que foi a primeira activista americana do século XVII e considerada a primeira feminista.

Igualmente Richard Nixon (1913-1994) o 37° presidente dos Estados Unidos da América (1969-1974).

Por outro lado filho de quakers foi Walt Whitman (1819–1892), poeta norte-americano autor de Leaves of Grass (1855) – que teve 10 edições, a última delas póstuma. Mais: "Introduziu uma nova subjectividade na concepção poética e fez da sua poesia um hino à vida. A técnica inovadora dos seus poemas, nos quais a ideia de totalidade se traduziu no verso livre, influenciou não apenas a literatura americana posterior, mas todo o lirismo moderno, incluindo o poeta e ensaísta português Fernando Pessoa."

Todos devem estar recordados das muitas citações que dele eram feitas nesse extraordinário filme que foi o CLUBE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society) de Peter Weir, com inesquecíveis desempenhos, entre eles de Robin Williams.

[Uma vez mais Wikipédia, a enciclopédia livre]

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NGeographic

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Há três anos, na 02.02.2004, : morreu o general Kaúlza de Arriaga, aos 89 anos.

Kaúlza de Arriaga foi um “ultra” da ditadura do Estado Novo, comandante das Forças Terrestres em Moçambique, responsável pela operação Nó Górdio e criador dos Grupos Especiais (onde havia muitos elementos da PIDE) que levaram aos massacres no Norte da colónia, em 1971-1973.

Decorre o segundo mandato presidencial de Jorge Sampaio. Durão Barroso ainda não tinha trocado a liderança do governo, para benefício próprio, por um lugar ao sol, na EU. Continua o longo – e agora dramático – pontificado do polémico papa João Paulo II.

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Esse foi o ano em que, nomeadamente

- morreu repentinamente, em fim de campanha eleitoral para as Europeias, o Prof Sousa Franco, candidato pelo PS a deputado europeu, como cabeça de lista desse partido (JUN)

- morreu o deputado comunista Lino de Carvalho (JUN)

- morreu em Lisboa, com 84 anos, a escritora e poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (nascida no Porto a 06.11.1919) (02JUL2004)

- morreu a Engª Maria de Lurdes Pintasilgo, primeira (e única, até agora) mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro no nosso País (V Governo Constitucional, que vigorou de 31JUL1979 a 03JAN1980). (10JUL)

- tomou posse o XVI governo Constitucional, constituído e liderado por Santana Lopes, depois de indigitado (como nº 2 do respectivo partido) por Durão Barroso que, a meio da legislatura, se demite para exercer o cargo de presidente da comissão europeia, e depois de o Presidente da República, Jorge Sampaio, que tinha como alternativa dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas antecipadas, ter aceite essa indigitação. (17JUL)

- morreu, com 79 anos, Carlos Paredes, o grande virtuoso e mestre da guitarra portuguesa, que dedilhava como nenhum outro. (23JUL)

- o PR, Jorge Sampaio, dissolveu a AR, “por incapacidade de gerar novos governos”. Como reflexo dessa decisão, o 16º Governo Constitucional, dirigido por Pedro Santana Lopes, desde há quatro meses a atrás, ficará com a sua política diminuída. Aliás, foi a falta de competência e a falta de credibilidade demonstradas pelo referido governo que o levaram a tal decisão. (10DEZ2004)

- o PM, Santana Lopes, apresentou a demissão do 16º Governo Constitucional. (11DEZ) (Disse que ia “andar por aí...”)

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Não é verdade

que a morte transforme todo o mundo em boa gente.

Decidida e comprovadamente.

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De tão conhecida e recente, não é figura que exija grandes apresentações.

Veja-se o seguinte texto, da autoria de José Pedro Castanheira, na revista Única do semanário Expresso, de 07.02.2004, em que o autor traça, em síntese, a trajectória político-militar e o ideário racista do general que planeou e executou a célebre operação Nó Górdio e se tornou célebre com o massacre de Wiriamu. Massacre que trouxe amargos de boca a Marcelo Caetano, aquando da sua visita oficial a Londres, no dia imediato ao da denúncia da carnificina de Wiriamu no jornal Times de 10.07.1973. É quanto basta, por ora. Voltaremos mais tarde.

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Transcrevo-o, com a devida consideração quer pelo semanário quer pelo seu autor, dado não ser livre o seu acesso.

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EDIÇÃO 1632 do semanário EXPRESSO, SB 07.02.2004 / revista ÚNICA

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General Kaúlza de Arriaga 1915-2004
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O general sem vitórias

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Kaúlza de Arriaga foi comandante militar em Moçambique, defendeu teses racistas e quis derrubar Marcelo Caetano, que via como «traidor»

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Faleceu no dia 2, com 89 anos de idade, o general Kaúlza de Arriaga. O seu nome fica associado ao massacre de Wiriamu, ocorrido em 16 de Dezembro de 1972, quando era comandante-chefe das Forças Armadas de Moçambique. Considerado o maior crime de guerra cometido nas antigas colónias, Wiriamu foi denunciado pelo jornal «Times», na véspera da visita de Marcelo Caetano a Londres. Ainda hoje se ignora o número das vítimas civis, causadas pela 6ª Companhia de Comandos. Um relatório da Cruz Vermelha calculou-as em cerca de centena e meia. Os três inquéritos instaurados pelas autoridades portuguesas concluíram por números muitíssimo inferiores. Mas uma investigação feita pelo EXPRESSO, em 1992, apontou para quatro centenas. No rescaldo de Wiriamu, Caetano perdeu a confiança em Kaúlza, que, assim, terminou a sua carreira.

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Kaúlza Oliveira de Arriaga nasceu no Porto em 18 de Janeiro de 1915. O ex-Presidente Costa Gomes lembra, em O Último Marechal: «Foi aluno distintíssimo na Faculdade de Ciências do Porto e na Escola de Engenharia do Exército». Ainda no Porto, «teve uma grande paixão» pela poetisa Sofia de Mello Breyner.

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Ajudante e chefe de gabinete do ministro da Defesa Nacional, Santos Costa, foi nomeado, em 1955, subsecretário de Estado da Aeronáutica, tendo fundado o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas. Já secretário de Estado, foi autor, em 1960, de um relatório premonitório. Em Alvorada em Abril, Otelo Saraiva de Carvalho regista que o documento alertava para o risco que a «proletarização das Forças Armadas» poderia constituir para o regime, quando os jovens cadetes, oriundos das classes sociais baixas, chegassem a oficiais.

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Em 1961, registou aquela que terá sido a sua principal vitória política. Na sua página na Internet (www.cidadevirtual.pt/k-arriaga) lê-se que «contribuiu decisivamente para fazer abortar um golpe de Estado contra o Presidente Salazar e contra o Ultramar português». Foi a «Abrilada», de que resultou a destituição do ministro da Defesa, Botelho Moniz, e do subsecretário de Estado do Exército, Costa Gomes. Seguiu-se uma remodelação governamental, com Salazar a assumir a Defesa e a dirigir um célebre discurso ao país: «Para Angola, rapidamente e em força».

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ARQUIVO EXPRESSO

Kaúlza de Arriaga em
Moçambique,
a operação Nó Górdio envolveu
oito mil militares mas
não alcançou os seus objectivos


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OPERAÇÃO NÓ GÓRDIO

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Encerrada, para seu desgosto, a experiência governativa, foi colocado como professor no Instituto de Altos Estudos Militares (1964/1968). O tomo Problemas Estratégicos Portugueses (um dos 12 livros que escreveu) reúne algumas das suas lições, em que se distinguiu como teórico do racismo branco: «Nós não seremos capazes de manter a dominação branca, que constitui um objectivo nacional, a não ser que o povoamento branco se efectue a um ritmo que acompanhe e ultrapasse, mesmo que ligeiramente, a produção de negros evoluídos».

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Presidente da Junta de Energia Nuclear e da empresa de petróleos Angol, em Junho de 1969, foi colocado em Moçambique, onde, pela primeira e única vez, pôs à prova as suas qualidades e teorias de estratego militar - primeiro como comandante do Exército e, depois, como comandante-chefe das Forças Armadas. A sua acção foi marcada pela operação Nó Górdio.

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Envolvendo um efectivo de oito mil homens, foi a maior operação dos 13 anos de guerras coloniais. Até ao fim da vida, Kaúlza não se cansou de sublinhar que a operação «foi um sucesso». Vaidoso, chegou mesmo a apresentar-se (em Guerra e Política) como «o segundo melhor perito do mundo em guerra subversiva, logo a seguir a Giap - célebre chefe militar nas guerras da Indochina e do Vietname». Ponto de vista diametralmente oposto foi sustentado quer por Costa Gomes, quer por Spínola. Para o historiador António Costa Pinto, em O Fim do Império Português, «a operação foi um falhanço, pois passados poucos meses a Frelimo recuperava o terreno perdido».

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ARQUIVO EXPRESSO

O general passa em revista
as suas tropas.
O massacre de Wiriamu
será a sua perdição


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A Nó Górdio não satisfez Lisboa, que também considerou megalómana e perigosa a proposta de um mesmo comandante-chefe para Angola e Moçambique. Mas o que fez cair Kaúlza foi o escândalo Wiriamu. A 9 de Julho de 1973, Caetano escreveu-lhe a carta fatal: «Reconheço a vantagem, para si, para Moçambique, para todos nós, em outra pessoa rever os conceitos e as tácticas da acção anti-subversiva em Moçambique». Contrafeito, e sempre acompanhado da mulher, regressou à metrópole no mês seguinte. Na sua página na Internet lê-se que «a partir do final do ano de 1973, deixou de crer nas possibilidades em decréscimo do Presidente Caetano, procurando a sua substituição». Com efeito, Kaúlza passou a liderar o que António de Spínola designa (em País sem Rumo) «a revolta dos generais», em ruptura à direita com a política de Caetano.

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Montagem copiada do Blog Arrastão
Conversas em Família


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Posto ao corrente dos planos da extrema-direita militar, os capitães decidiram infiltrar-se. José Manuel Barroso, em Segredos de Abril, refere que Sousa e Castro foi um dos «espiões do MFA». «Reunimo-nos na Pousada de São Filipe, em Setúbal, nos finais de 1973. Explicam-nos que o golpe já tem data marcada, no mês de Dezembro». A 17 de Dezembro, Carlos Fabião denunciou publicamente o golpe de Estado em preparação. Fabião foi punido pela hierarquia militar, mas o golpe foi travado.

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Assédio ao Presidente

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Kaúlza, no entanto, não era homem para desistir e passou a assediar o próprio Presidente da República, Américo Thomaz, com a cumplicidade do cunhado, general Luz Cunha, novo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Nas suas memórias, Últimas Décadas de Portugal, Thomaz transcreve uma última carta de Kaúlza, exortando-o a que tomasse «em tempo útil, as grandes medidas» capazes de «sustar a evolução no sentido do abismo». Certamente informado do golpe em curso, Kaúlza fazia notar que «os prazos de acção são curtos».



ARQUIVO EXPRESSO

O MIRN foi um dos movimentos
mais à direita de que há memória



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Hesitante e sem poder, Thomaz nada fez. A 25 de Abril de 1974, os capitães puseram termo à ditadura. Três semanas depois, Kaúlza foi passado à reserva. Acabou por ser preso na crise de 28 Setembro, ficando detido 16 meses. Sem culpa formada, foi libertado incondicionalmente em Janeiro de 1976 e processou o Estado português. Em 1977, lançou o Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN), uma pequeníssima formação de extrema-direita, a que presidiu.

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O processo judicial arrastou-se durante mais de dez anos e subiu ao Supremo Tribunal Administrativo, que em 1987 reconheceu a razão do general. O Estado foi condenado a uma indemnização de 100 contos e um escudo. O respectivo acórdão inclui um invulgar juízo político: «O general Kaúlza de Arriaga tinha, realmente, capacidade, vontade e prestígio para liderar um movimento que impedisse a descolonização de Angola e Moçambique».

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Vítima de doença de Alzheimer, Kaúlza de Arriaga morreu no Hospital Militar da Estrela. O funeral foi no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

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Texto de José Pedro Castanheira

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Após o referido Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, o General Kaúlza de Arriaga passou a considerar, como a sua maior condecoração, não atribuída pelo Poder Executivo mas sim pelo Poder Judicial, o seguinte trecho – o tal “invulgar juízo político” de que fala ali JPC - desse Acórdão:

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"O General Kaúlza de Arriaga tinha, realmente, capacidade, vontade e prestígio para liderar um movimento que impedisse a descolonização de Angola e Moçambique".

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Na mesma edição daquele semanário, 1º caderno, recorda-se aquele evento, acima referido por JPC, de 1961, em que “registou aquela que terá sido a sua principal vitória política. Na sua página na Internet (www.cidadevirtual.pt/k-arriaga) lê-se que «contribuiu decisivamente para fazer abortar um golpe de Estado contra o Presidente Salazar e contra o Ultramar português».

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Com a devida vénia, transcrevo, de novo:

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«O episódio é recordado 43 anos depois pelo seu amigo e admirador Jaime Nogueira Pinto, também ele um homem da direita.

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O Golpe Botelho Moniz, que visava colocar Marcello Caetano no lugar de Salazar e repensar a questão colonial, falhou também por uma ingenuidade impensável do ministro-conspirador, Botelho Moniz, que contava com o apoio discreto dos americanos, e que cometeu a imprudência de informar previamente Américo Thomaz das suas intenções...

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«Spínola dos ultras»

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Jaime Nogueira Pinto, que não poupa elogios à inteligência política do general, lamenta ainda que também ele tenha cometido a ingenuidade de conspirar com Thomaz para derrubar Caetano, nas vésperas do 25 de Abril, em vez de liderar o golpe que restituísse o regime à pureza do salazarismo.

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«Já todos tínhamos percebido que o trunfo era espadas e que quem tomasse o poder ficava lá», observa o professor universitário.

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Em seu entender, se tivesse actuado pela via armada, em vez de fazer lóbi e acreditar num certo legalismo, Kaúlza de Arriaga «poderia ter sido, num dado momento, a alternativa a Spínola» na conspiração que conduziu ao derrube de Marcello Caetano e à vitória do 25 de Abril.»

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2 comentários:

Anónimo disse...

Kaulza, ¿Condecorado por comentario obiter dicta?

Anónimo disse...

Prof. Nogueira Pinto, amigo del Profesor Velarde Fuertes

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