quarta-feira, fevereiro 14, 2007

MEMÓRIA DO TEMPO QUE PASSA

Sumário:

- Manuel Fernandes Tomás profere nas Constituintes de 1821 um célebre discurso sobre a liberdade de imprensa

- Salman Rushdie é condenado à morte pelo ayatollah Khomeiny por blasfémia e apostasia

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OUTROS EVENTOS HOJE COMEMORADOS:

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- A morte do compositor italiano Francesco Cavalli

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- O passamento do pintor português Francisco Metrass

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. - O primeiro ensaio do coro Gulbenkian sob a direcção de Olga Violante e de Pierre Salzmann.

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- Primeira lei portuguesa sobre a despenalização do aborto

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Este é o espaço em que,

habitualmente,

faço algumas incursões pelo mundo da História.

Recordo factos, revejo acontecimentos,

visito ou revisito lugares,

encontro ou reencontro personalidades.

Datas que são de boa recordação, umas;

outras, de má memória.

Mas é de todos estes eventos e personagens que a História é feita.

Aqui,

as datas são o pretexto para este mergulho no passado.

Que, por vezes,

ajudam a melhor entender o presente

e a prevenir o futuro.

Respondendo a uma interrogação,

continuo a dar relevo ao papado.

Pela importância que sempre teve para o nosso mundo ocidental.

E não só, nos últimos séculos.

Os papas sempre foram,

para muitos, figuras de referência,

e para a generalidade, figuras de relevo;

por vezes, e em diversas épocas, de decisiva importância.

Alguns

(muitos)

não pelas melhores razões.

Mas foram.

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O ano 2007 [MMVII] do calendário gregoriano corresponde ao:

. ano 1428/1429 dH do calendário islâmico (Hégira)

. ano 2760 Ab urbe condita (da fundação de Roma)

. ano 4703/4704 do calendário chinês

. ano 5767/5768 do calendário hebraico

DE ACORDO COM A TRADIÇÃO, COM O CALENDÁRIO DA ONU OU COM A AGENDA DA UNESCO:

2001/2010 - Década para Redução Gradual da Malária nos Países em Desenvolvimento, especialmente na África.

2001/2010 - Segunda Década Internacional para a Erradicação do Colonialismo.

2001/2010 - Década Internacional para a Cultura da Paz e não Violência para com as Crianças do Mundo.

2003/2012 - Década da Alfabetização: Educação para Todos.

2005/2014 - Década das Nações Unidas para a Educação do Desenvolvimento Sustentável.

2005/2015 - Década Internacional "Água para a Vida".

2007 Ano Internacional da Heliofísica

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Foi há 186 anos, também numa QA, aos 14.02.1821: o jurista constitucionalista Manuel Fernandes Tomás profere um célebre discurso nas Constituintes de 1821.

Reinava D. João VI (27º); era Presidente do Conselho de Regência Manuel António de Sampaio Melo e Castro Moniz e Torres de Lusignano, 2.º conde de Sampaio e 1.º marquês de Sampaio.

Pontificava Pio VII (251º).

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Decorriam as Cortes Constituintes Extraordinárias, de que resultaria a Constituição de 1822, e MFT fez o célebre discurso de defesa da liberdade de imprensa, em que, nomeadamente, afirmaria: “a liberdade de imprensa traz consigo males; mas os que resultam da censura são mais e maiores. Repugna ser livre sem ter meios de observar a liberdade”. E conclui, logo de seguida: “e querer conservar a Liberdade, não escrevendo senão à vontade dos que a podem oprimir ou destruir, é uma pretensão quimérica.”

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23SET1822: é assinada a I Constituição Portuguesa [Constituição de 1822] (elaborada pelas Cortes Constituintes em 1821).

01OUT1822: D. João VI jura a Constituição (D. Carlota Joaquina negou-se sistematicamente a jurá-la).

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O bacharel em Direito Manoel Fernandes Thomaz (1771-1822), que, iniciada a carreira da magistratura, onze anos depois era já juiz desembargador da Relação do Porto, foi, essencialmente, um político. E um político de fibra.

Fez parte da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, criada no Porto, que administrou o Reino após a revolução liberal, sendo encarregue dos negócios do Reino e da Fazenda.

Mas foi, sobretudo, um vigoroso e notável tribuno. Eleito deputado, pela Beira, às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, teve uma decisiva participação na elaboração das Bases da Constituição da Monarquia Portuguesa, que D. João VI jurou em 1821.

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“Os vintistas, cada vez mais radicais, chamavam-se a si próprios constitucionais e patriotas, enquanto os adversários, cada vez mais apostólicos, os iam qualificando como pedreiros-livres, empenados, republicanos e jacobinos. Mas os vintistas replicaram e deram aos adversários os títulos de corcundas, a designação mais habitual, equivalendo aos ultras dos franceses e ao servis dos espanhóis, e de toupeiras.”

(José Adelino Maltez, Centro de Estudos do Pensamento Político/CEPP)

Mas veja o referido discurso, de há 186 anos atrás, que hoje se completam: AQUI.

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Wikipédia


Há 18 anos, na TR 14.02.1989, o escritor britânico, de origem indiana, Salman Rushdie, foi condenado à morte pelo Ayatollah Khomeiny que considera blasfema a obra Os Versículos Satânicos.

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Nesse ano de 1989 já reinava em Inglaterra Isabel II, e na liderança do seu governo estava Margaret Thatcher, do Partido Conservador. Em Portugal, a suprema chefia do Estado cabia, então, a Mário Soares, o primeiro presidente civil após o 25 de Abril, cabendo a liderança do governo (XI Governo Constitucional) a Cavaco Silva.

Aos destinos da igreja católica presidia o papa João Paulo II (264º).

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Foram ainda notícia, nesse mesmo ano de 1989:

- em 23JAN: a morte do pintor surrealista e escultor espanhol Salvador Dali, com 84 anos;

- em 31JAN: a morte, em Lisboa, do escritor Fernando Namora;

- em 21FEV: a morte da poetisa Luísa Neto Jorge;

- em 14ABR: o Prémio de Poesia Jean Malrieu, atribuído em França a livros estrangeiros, é ganho pelo poeta Eugénio de Andrade, com o livro Branco no Branco.

- em 19ABR: Miguel Torga é galardoado com o Prémio Camões;

- em 26MAI: admissão da primeira mulher nos quadros de oficiais do exército português;

- em 16JUL: morre o maestro austríaco Herbert von Karajan.

- em 09NOV: queda do muro de Berlim, depois de 28 anos de existência. Foi um dos maiores símbolos da guerra fria;

Também nesse ano:

- na Polónia é legalizado o sindicato «Solidariedade»;

- na Argentina, Menem vence as eleições para a presidência da República;

- em Pequim, na praça Tiananmen, a repressão contra estudantes contestatários provoca milhares de mortos;

- De Klerk torna-se presidente da África do Sul;

- na RDA, Honecker demite-se da presidência;

- a cimeira da CEE aprova a unificação alemã;

- na Roménia, os revoltosos condenam à morte o casal Ceausescu;

- Vaclav Havel torna-se presidente da Checoslováquia;

- em Portugal é iniciado o processo de privatizações;

- Camilo José Cela recebe o Prémio Nobel da Literatura;

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«NO PASSADO 14 FEVEREIRO 1989

Fatwa do ayatollah Khomeini condena Rushdie à morte

Foi através de uma mensagem radiofónica que o ayatollah Khomeini, líder supremo do Irão, informou o “orgulhoso povo muçulmano que o autor do livro Os Versículos Satânicos, que é contra o Islão, o Profeta e o Corão, e todos os envolvidos na sua publicação, são condenados à morte”.

O ayatollah morreu em 1989, mas só em 1998 é que o Irão declarou que não iria executar a sentença de morte.»

(Publico, QA 14.02.07, Alexandra Prado Coelho)

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Salman Rushdie (1947) é um escritor - ensaísta e ficcionista - que nasceu e cresceu em Mumbai (Bombaim) e estudou na Inglaterra, onde se formou com a distinção with honours, no King's College.

“O seu estilo narrativo, mesclando o mito e a fantasia com a vida real, tem sido descrito como conectado com o realismo mágico” [WIKIPÉDIA].

Rushdie era já um autor consagrado quando venceu o Prémio Booker em 1981 com a obra Os Filhos da Meia-Noite (Midnight's Children, de 1980) - uma metáfora sobre a independência sangrenta da Índia e do Paquistão. Aliás, Rushdie foi o primeiro escritor não-britânico a receber o mais cobiçado e prestigioso prémio literário da Grã-Bretanha, o Booker Prize.

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O Prémio Man Booker, também conhecido como Prémio Booker é um prémio literário criado em 1968, e um dos mais importantes atribuídos anualmente. Começou por ser apenas atribuído a obras de romance e ficção redigidas em língua inglesa por autores vivos que sejam cidadãos de um país membro da Commonwealth ou da República da Irlanda, Paquistão ou África do Sul. Porém, desde 1992 que existe um outro prémio Booker atribuído a obras escritas em língua russa, e em 2005 foi instituído o Prémio Internacional Man Booker dirigido a todos os autores vivos, independentemente da nacionalidade.

Para além da enorme projecção que o prémio assegura, editorialmente, acresce-lhe, ainda, uma recompensa monetária que, inicialmente, era de 21 000 libras esterlinas, e, a partir de 2002, de 50 000 (ou seja, sensivelmente 35 000 e 80 e tal mil euros, respectivamente).

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Rushdie atingiu o auge da fama após a publicação do livro Versículos Satânicos, em 1988, que causou controvérsia no mundo Islâmico, devido à sua “descrição ofensiva” do profeta Maomé. A 14 de Fevereiro de 1989, a fatwa ordenando a sua execuçãoo foi proferida pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, líder do Irão, chamando o seu livro de "blasfémia contra o Islão". Para além disso, Khomeini condenou Rushdie pelo crime de "apostasia" - fomentar o abandono da fé islâmica - o que de acordo com os Hadith (ditos do profeta) é punível com a morte. Khomeini ordenou a todos os "muçulmanos zelosos" o “dever de tentar assassinar o escritor, os editores do livro que soubessem dos conceitos do livro e quem tomasse conhecimento de seu conteúdo, conforme a fatwa”. [WIKIPÉDIA]

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Uma fatwa é uma declaração de autoridade, (um mandato, uma sentença, um acórdão, um édito) no Islão, emitido por um especialista em lei religiosa, sobre um assunto específico, normalmente a pedido de um indivíduo ou juiz de modo a esclarecer uma questão onde a fiqh (a jurisprudência islâmica) é pouco clara.

Uma autoridade (académico islâmico) a quem seja reconhecida competência para interpretar a lei islâmica (charia), e a capacidade para emitir fataawa (“fatwas”) é conhecido por mufti.

Mas porque no Islão não há uma estructura central, também não é unívoco o método de determinar quem pode emitir uma fatwa. [WIKIPÉDIA]

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É condenável criticar ou caricaturar “o sagrado”?

E aqueles para quem o “sagrado” não existe?

Deve-se, de todo o modo, respeitá-lo?

E será necessário voltar ao tempo das trevas (ou nele se manter, se nele se estiver) para o Homem calar a sua inteligência?

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Salman Rushdie esteve em Portugal no primeiro fim de semana de Dezembro de 2006, participando no colóquio "Qual é o Deus do Mediterrâneo", organizado em Santa Maria da Feira pelo Festival Sete Sóis Sete Luas, no dia 01.12. Segundo Leonídio Paulo Ferreira, [Diário de Notícias, SB 02.12.06], Rushdie «recusa aderir a um conceito simplista de choque de civilizações entre o Ocidente e o Islão, pois "dizer que existem dois blocos em conflito é um grande erro"». Pouco depois acrescentava o colunista: «o escritor indo-britânico reafirmou, porém, a tese de que o islão, para ter um lugar no mundo actual, tem que reformar-se, tal como fez o cristianismo há 500 anos».

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OUTROS EVENTOS

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HOJE COMEMORADOS

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que oportunamente serão desenvolvidos

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Há 405 anos, na QI 14.02.1602: nasceu o compositor italiano Francesco Cavalli.

aluno de Monteverdi, nome essencial no desenvolvimento da ópera.

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Foi há 146 anos, na QI 14.02.1861: morreu o pintor português Francisco Metrass

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Completam-se hoje 43 anos – foi na SX 14.02.1964: o coro Gulbenkian faz o primeiro ensaio, sob a direcção de Olga Violante e de Pierre Salzmann.

O primeiro concerto seria no dia 27 de Maio seguinte.

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Passaram-se 23 anos sobre a data – TR 14.02.1984 – em que o texto final da primeira lei sobre a despenalização do aborto foi aprovada na AR com os votos do PS, PCP, UEDS, MDP.

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1 comentário:

Jorge P. Guedes disse...

Meu querido amigo:

por mais que queira, não consigo ler tudo que publica ou para que nos remete. Tarefa impossível, ou pouco mais faria.
Mas deu, hoje, para apreciar o lúcido discurso de um grande tribuno, Fernandes Tomás. E como ele estava certo!
"Ninguém nega que seja melhor prevenir os crimes do que castigá-los; mas nego eu que a Censura prévia previna os abusos que se podem seguir da liberdade de Imprensa. Ou um Escritor teme as penas da Lei que lhe proíbe atacar a Religião e os costumes, ou não teme. No primeiro caso não escreve, e escusa-se portanto Censura prévia; no segundo escreve sempre, e é inútil por isso essa Censura."

TINHA TODA A RAZÃO!

Um abraço.

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