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Era uma vez, dois países pobres. Situados em dois mundos quase opostos. Muito longe um do outro. No espaço. Quase só.
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Num dos países pobres, o chefe, os ajudantes e as respectivas tribos, faziam de conta que viviam num país rico. Esses viviam muito bem.
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O seu povo era generoso e sabia sorrir. Era, em geral, muito pobre, esse povo. Mas havia, entre ele, umas “ilhas” de muito ricos. Nesse país, emergiam, como cogumelos, alguns, derepentemente, ricos. Que fingiam sê-lo, tanto, como os das “ilhas”.
Os “cogumelos” alimentavam o chefe e os seus ajudantes e, por sua vez, alimentavam-se todos deles. Pontualmente. (E pontualmente). Eram todos amigos uns dos outros. E de recíproca, mas duvidosa, solidariedade.
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O chefe e os respectivos ajudantes desse país pobre faziam de conta que se respeitavam e que respeitavam os direitos de todos, mesmo dos mais pobres.
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Um dia, o chefe do país pobre, que fazia de conta que respeitava o seu povo pobre, resolveu abalar, com alguns ajudantes, para uma visita a outro país pobre, lá muito longe, cujos chefes e ajudantes já nem faziam de conta que respeitavam o seu povo pobre.
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O chefe, e ajudantes, do país pobre que fazia de conta respeitar os direitos deste, lá partiram para o outro longíquo país pobre.
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A jornada foi longa, mas confortável, porque o generoso povo pobre desse país permite ao chefe e ajudantes (e amigos) fazerem o papel de ricos, de viverem e se deslocarem como tal.
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Lá foram o chefe e ajudantes (e alguns amigos), com as suas sacas, vazias, às costas. E cheias de vazios projectos.
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Nesse longínquo país pobre, onde nem chefes nem ajudantes já fazem de conta, o chefe do país pobre visitante ofereceu ao chefe do país visitado os seus préstimos. Ou vazios ou pobres, já se vê.
Um ajudante do chefe visitante confessou, mesmo, que, lá na sua terra distante, os pobres também oferecem o seu trabalho com grande vontade e muita barateza.
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Ofereciam isto tudo, os do país pobre de cá, com um apertado sorriso.
Mas os de lá – chefes, ajudantes, amigos e súbditos – não conhecem o sorriso.
E por isso não o ensaiam. E, secamente, disseram que não precisavam da ajuda dum país pobre. O seu povo – disse o chefe visitado – só precisa de saber sobreviver. Não conhece o consumo. Nem para ele tem tempo.
E mais, disse, oferecem tudo, mas mesmo tudo, ao resto dos mundos por uma bagatela.
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O povo do país pobre de cá é que não gostou muito da franqueza (!) do ajudante do seu chefe.
E manifestou-se. Ordeiramente, como por velha tradição só é possível nessa terra.
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O chefe do país pobre de cá, e ajudantes, vieram de volta, cabisbaixos. De mãos a abanar. Com os mesmos sonhos e as mesmas sacas cheias de vazio, às costas, como haviam partido. Sacas que, mal cá chegaram, se apressaram a encher de novo, de promessas e miragens. A única coisa que podem oferecer aos pobres da sua terra.
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Moral da história: dois países pobres, para os pobres dos seus habitantes e um para o outro, são como duas mãos: uma vazia; a outra... Cheia de coisa nenhuma.
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CONCLUSÃO FINAL:
Os chefes do mundo, seus ajudantes e alguns amigos, vivem felizes.
Logo: há felicidade no Mundo.
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POSFÁCIO:
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FÁBULA???!!!...
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6 comentários:
Essa lenda tem um final "comovente".
Se eu fosse o autor,terminaria mais ou menos assim:
O chefe dos pobres de cá,numa manifestação de solidariedade com os pobres de lá,deu três voltas à Praça da Liberdade,aguentando quatro graus negativos e demonstrou a sua supremacia ao entrar "fresquinho" para a limousine.
Agora,nós os pobres de cá,é que temos que o aturar mais ao Dr.Pinho.
NÃO! RÁBULA!
Um abraço.
Jorge,
Rábula?
Mesmo?
???!!!
jl
Ora , porque não será uma fábula?
Numa fábula, é suposto que os animais falem. E os animais são muito respeitados por mim.Os animais que não fazem equilíbrio em duas patas, está a ver?
Ora, como esta história nos fala de outros "animais", as "bestas", só pode ser uma rábula...
Entende agora o meu comentário ou fui algo estulto?
Um grande abraço e parabéns pela historieta.
Claro que entendi. Se falávamos de fábula, e eu próprio punha em causa que o fosse... É evidente que o Jorge quereria dizer UMA RÁBULA...
Sabe que há termos que – em princípio e à partida - ou sou levado a entender muito ao pé da letra, da etimologia. E sabe o Jorge muito bem que RABULA, em latim, quer dizer “mau advogado”. O que diz “coisas”... Parlapatices...
Por deformação d’ofício, habituei-me a ponderar as hipóteses “levantáveis”...
Também não me parecia que quisesse dizer UM RÁBULA... Mas sim UMA RÁBULA.
Claro que entendi, Jorge.
Não se zangue. Nem se preocupe.
Abraço
JL
PS: claro que a minha inbterrogação final aconteceu por me terem assaltado dúvidas idênticas às suas... Quanto à justeza, o rigor, da classificação...
Ciao
JL
Já não há direito à brincadeira?!
É obrigatório entrar num debate TLEBS?!
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