terça-feira, dezembro 12, 2006

AS PÉROLAS ARQUITECTÓNICAS PERDIDAS NO PORTUGAL PROFUNDO - 2

O portal da Igreja de S. Quintino

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Igreja de S. Quintino

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Sobral de Monte Agraço

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Próximo de Sobral de Monte Agraço, num pequeno lugarejo e num contexto ambiental absolutamente rústico, em lugar ermo, rodeado de hortas e pomares, um casamento levou-me a descobrir, naquele Sábado 14.12.1996, apenas a uns 40 Km de Lisboa, a igreja de S. Quinino, classificada de monumento nacional e um dos mais interessantes da sua época.

A igreja foi construída no primeiro terço do século XVI, em 1520. O portal, datado, na pilastra da direita, de 1530, apresenta uma curiosa simbiose de elementos decorativos, “curiosíssimo exemplar em que os arcos policlínicos e as florescências e cogulos do manuelino se combinam com as pilastras e medalhões do renascimento”.

O interior é de três naves de cinco tramos, com cobertura de madeira, em masseira. Os arcos, de volta perfeita, assentam em colunas cilíndricas, com o fuste decorado a meio por um anel e com capitéis de volutas e palmetas, terminando em ábacos quadrados. A cabeceira é constituída pela capela-mor e duas capelas absidais, todas com coberturas de abóbadas de cruzaria assentes em mísulas e com bocetes lavrados.

As paredes são zulejadas de alto a baixo: silhar alto a azul e branco (golfinhos e vasos), seguido de um revestimento polícromo, de tapete, com oito padrões diferentes e nos mais belos tipos do séc. XVII. Há alguns do séc. XVIII, mais fracos, com molduras rocaille a amarelo, verde e cor de vinho, nas capelas do topo da igreja.

Sobre o arco triunfal, ladeando um nicho manuelino que abriga um grupo escultórico do Calvário, figuram dois painéis de azulejos policromos do século XVIII representando a Anunciação e a Visitação. Se bem que a restauração de 1738 o tivesse desfigurado muito, guarda ainda preciosos elementos arquitectónico e decorativos.

Junto ao guarda-vento os azulejos são do tipo denominado «ponta-de-diamante» ou «joalharia». São ainda revestidos de azulejos os sobre-arcos das naves e das capelas, a cúpula e o interior do baptistério. Nas capelas e na sacristia o azulejamento é feito em painéis historiados, com cenas da vida do padroeiro e outros episódios religiosos. À esquerda da entrada, a imagem do orago, também em azulejos amarelos e azuis, está sobre a seguinte inscrição: San Quintino ora pró nobis, com a data de 1618, emendada depois para 1738. Por baixo, outro dístico em azulejos azuis e brancos refere-se à obra do séc. XVIII e marca-lhe a data de 1738.

Há aqui uma fraude evidente, pois os azulejos de 1738 são os das capelas do topo e dos arcos e da sacristia.

O baptistério, de forma circular e rematado por uma pequena cúpula, forrada de azulejos seiscentistas, sustentada por quatro colunas, foi construído em 1592 por Simão Correia. A pia, de taça octogonal de lavor renascença, assenta numa base de feição gótica. Decora uma das paredes um painel de azulejos do século XVIII representando o Baptismo de Cristo. O púlpito, quinhentista, de pedra, conserva restos de pinturas figurando os Evangelistas. Os arcos do topo da igreja são ogivais, sendo os do arco triunfal e da capela do lado da Epistola inscritos num polilobado manuelino, policromado, com capitéis góticos e tabela cheia de ornatos gótico-manuelinos. As capelas têm abóbadas bem artezoadas, com bocetes manuelinos, todos diferentes. A capela do lado da Epístola, coberta por uma abóbada pintada do século XVII, é inteiramente forrada de azulejos do século XVIII, com passos do martírio de S. Quintino. No altar figura uma imagem do padroeiro datada de 1532. Na capela do lado do Evangelho, decorada com silhares de azulejos figurados, está colocada uma escultura de S. Pedro, quinhentista.

Neste templo há, ainda, quatro belas tábuas atribuídas ao quinhentista Gregório Lopes. Representam o Calvário, a Deposição no Túmulo, a Aparição de Cristo à Virgem e o Encontro de Santa Isabel e S. Joaquim. «As figuras dos homens são um pouco grosseiras, mas as das mulheres delicadas, de mãos desenhadas com tanta finura que por vezes sugerem a influência de Frei Carlos. São os rostos ovais, os cabelos corredios, os olhos exorbitados e os perfis correctos de Gregório Lopes». (Reinaldo dos Santos, in Guia de Portugal, I, p. 543).

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(Texto elaborado a partir de diversas fontes, os vários livros e roteiros do Portugal artístico, e ainda algumas notas colhidas on line)

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1 comentário:

Anónimo disse...

Agradeço o ter-me dado a conhecer esta jóia.
Fiquei com vontade de a ver ao vivo

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